Conexão Fiotec-Fiocruz | Edição 29

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Benefícios para os pesquisadores

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Entrevista com Paulo

Basta traz foco em povos indígenas

Página 17

Dia Mundial do Meio

Ambiente

Como a Fiotec, por meio do apoio aos projetos da Fiocruz, tem atuado em prol da proteção ambiental e da sustentabilidade

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Rio de Janeiro

Junho 2023

CONSELHO CURADOR

Ricardo de Godoi Mattos Ferreira

Presidente do Conselho Curador

Alex Santos Príncipe

Ana Paula Morgado Carneiro

Fernando Otavio de Freitas Peregrino

Roberto Pierre Chagnon

Solange Siqueira Duarte dos Santos

Valdeyer Galvão dos Reis

CONSELHO FISCAL

Fábio Rodrigues Lamin

Presidente do Conselho Fiscal

José Orbílio de Souza Abreu

Vânia Conceição Dornellas Buchmuller

DIRETORIA EXECUTIVA

Hayne Felipe da Silva

Diretor executivo

Mansur Ferreira Campos

Diretor financeiro

Marcelo do Amaral Wendeling

Diretor administrativo

Cristiane Sendim

Diretora técnica

CONEXÃO FIOTEC-FIOCRUZ

Informativo institucional da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec).

Todo o conteúdo pode ser reproduzido, desde que citada a fonte.

EDIÇÃO E REPORTAGEM

Janaina Campos

REVISÃO E REPORTAGEM

Gustavo Amaral

REPORTAGEM Clara Tavares

REPORTAGEM Rosa Andrade

DIAGRAMAÇÃO

Francisco Tebet

FOTOS

Fiocruz Imagens, Adobe Stock, Equipe OTSS, Freepik

DÚVIDAS OU SUGESTÕES? ENTRE EM CONTATO CONOSCO

comunicacao@fiotec.fiocruz.br

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/ fiotecfiocruz

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Caros leitores,

Mais uma edição do Conexão Fiotec-Fiocruz, dessa vez o tema principal é o meio ambiente, afinal, em junho celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. E o que a Fiotec tem feito, por meio do apoio aos projetos da Fiocruz, pela preservação e a relação sustentável com a natureza?

Ainda na pegada do meio ambiente, o Diálogo com entrevistou Paulo Basta, coordenador do projeto Proteção dos Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, que tem quatro frentes de atuação e, algumas delas, totalmente focadas na proteção ambiental.

Nesta edição você também conhecerá um pouco mais da Assessoria Jurídica da Fiotec, os benefícios para pesquisadores com projetos geridos junto à instituição, além dos principais acontecimentos dos últimos meses no tradicional Giro.

Boa leitura!

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SUMÁ RIO

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NOSSOS NÚMEROS 5 MATÉRIA DE CAPA 6 POR DENTRO DA FIOTEC 10 VOCÊ SABIA? 12 GIRO DE NOTÍCIAS 14 DIÁLOGO COM 17

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O QUE FIOCRUZ E FIOTEC TÊM FEITO PELO MEIO AMBIENTE?

No mês em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, conheça alguns projetos voltados à preservação e relação sustentável com a natureza

por Gustavo Amaral

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O Brasil perdeu em 2022 mais de 10.500 km² de cobertura vegetal na Amazônia, desmatamento recorde nos últimos 15 anos. Segundo relatório divulgado em janeiro deste ano pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a devastação em 2022 foi equivalente a quase 3 mil campos de futebol por dia.

Nos últimos quatro anos, ainda de acordo com o Imazon, a perda florestal na Amazônia foi de 35.193 km². Para se ter ideia, a área é maior que a dos estados de Sergipe (21 mil km²) e Alagoas (27 mil km²).

A destruição de nossas florestas é apenas uma das faces do ataque ao meio ambiente, que em escala global atinge diferentes ecossistemas e espécies.

O Dia Mundial do Meio Ambiente em 2023 deixa clara essa preocupação e volta atenções para a urgência de se encontrar soluções para a poluição plástica. A cada ano, em todo o mundo, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas, metade dele projetado para ser usado apenas uma vez. Estima-se que 19 a 23 milhões de toneladas sejam descartadas anualmente em lagos, rios e mares. Apenas 10% de todo esse plástico é reciclado.

A Fiotec realiza a gestão compartilhada de importantes projetos desenvolvidos pela Fiocruz com foco na preservação do meio ambiente e na promoção de práticas sustentáveis. Uma dessas iniciativas acontece no Rio de Janeiro, em região vizinha às sedes das instituições. O projeto Tecnologias sociais em saúde na bacia hidrográfica do Canal do Cunha, no Complexo do Lins, trabalha em formas inovadoras de implementação de saneamento básico em comunidades, especialmente em áreas de difícil acesso e isoladas. A ideia é construir filtros biológicos para pre servação das nascentes de rios que ali mentam a bacia, e em outra frente ca pacitar e conscientizar os moradores para se tornarem multiplicadores de conhecimento.

Já o Programa de Desenvolvimento de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina atua na promoção do desenvolvimento sustentável de comunidades tradicionais em Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela. A Fiotec realiza sua gestão

Foto Equipe OTSS

desde 2009, ainda como Observatório. Recentemente, em 2021, o projeto foi institucionalizado pela Fiocruz, tornando-se um programa permanente.

O programa é desenvolvido lado a lado com as populações tradicionais dos municípios, promovendo meios de subsistência sustentáveis e fortalecendo a cultura dessas comunidades. Hoje, a iniciativa aposta no desenvolvimento de quintais agroecológicos para garantia da soberania alimentar dos moradores da região, realiza ações de saneamento ecológico e gestão sustentável da água, além de promover a geração de empregos investindo no turismo ecológico e de base comunitária.

Luta contra a mineração ilegal no Norte do País

Ao lado da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), a Fiotec integra um consórcio pela Proteção dos Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, que atua no Acre, Rondônia e na região do Rio Tapajós, no estado do Pará. São, ao todo, quatro frentes de atuação: monitoramento e proteção territorial; gestão de cadeias de valor locais sustentáveis; mitigação da contaminação por mercúrio proveniente da mineração ilegal de ouro; e fortalecimento da participação pública e política.

Recentemente, representantes da Fiotec estiveram no Pará e acompanharam o curso Vigilância e Monitoramento de Populações Expostas ao Mercúrio: Aspectos Práticos, voltado a indígenas e profissionais de saúde da região de Itaituba. O objetivo é que eles atuem junto à equipe do projeto no acompanhamento de mulheres indígenas durante a gestação e ao longo dos dois primeiros anos de vida dos filhos, avaliando como a exposição ao mercúrio pode influenciar no desenvolvimento dessas crianças. O projeto é coordenado por Paulo Basta, nosso entrevistado na coluna Diálogo com desta edição.

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Foto Equipe OTSS

Sustentabilidade como diretriz institucional

Aqui na Fiotec a preservação ao meio ambiente á assunto recorrente em comunicações e campanhas de conscientização. Mas a diferença se faz mesmo na prática. Por isso, desde 2014 a instituição adere ao programa de coleta seletiva da Coordenação Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz) e no ano passado atingiu a marca de quase uma tonelada de lixo encaminhado para reciclagem.

Quem visita a Fiotec encontra coletores de lixo reciclável espalhados pelo prédio, em sua maioria destinados a papel e papelão. Mas a instituição conta ainda com um EcoPonto, em que seus profissionais podem descartar óleo vegetal usado, pilhas e baterias, resíduos tecnológicos, instrumentos de escrita, tonners e cartuchos de impressora.

Em 2019, a instituição extinguiu os copos plásticos descartáveis de sua sede. Todos os colaboradores têm seu kit sustentável, com copo e garrafa reutilizáveis, e os convidados que chegam ao prédio podem solicitar copos biodegradáveis na recepção, produzidos a partir do amido de milho. Mas se vier à Fiotec, lembre-se: traga seu copo ou garrafa.

Outra importante iniciativa é o Programa ESG Fiotec, que vem sendo desenvolvido com o objetivo de implementar práticas que diminuam o impacto do nosso trabalho no meio ambiente. A iniciativa foi lançada com forte apelo a participação dos profissionais e tem relação direta com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Por dentro da

Conheça a Assessoria Jurídica

O Por Dentro da Fiotec chegou à Assessoria Jurídica para esclarecer sobre suas funções e responsabilidades, além de mencionar a importância do trabalho realizado cotidianamente por toda a equipe, com impacto direto no funcionamento e desenvolvimento da Fiotec.

A Assessoria Jurídica da Fiotec é composta por nove profissionais. Além de Liz Mônica, gerente da área, compõem a equipe as advogadas Cláudia Peixoto, Marianna Magalhães, Ana Beatriz Soares, Cintia Lemos e Monique Amaral, e os assistentes Anderson Pereira e Nathany Prado. Em relação às responsabilidades da área, a gerente sintetiza: “de uma forma geral, somos responsáveis por desenvolver soluções jurídicas com o menor risco para a Fiotec”. Assim, para cumprir com esta responsabilidade, a área realiza atividades como estudos sobre a legislação vigente, análises de contratos e análises de risco.

Uma outra atribuição inerente à Assessoria Jurídica é atuar no contencioso cível e trabalhista da instituição. Dentro do meio jurídico, o termo “contencioso” faz referência a tudo que possa ser passível de contestação, disputa ou conflito de interesses. No entanto, em todo o contencioso existem questões que necessariamente dependem de uma solução de âmbito judicial, como algumas que envolvem especificamente a relação de trabalho entre empregador e empregado.

Para Liz, o trabalho desenvolvido pela área é importante para que a instituição possa cumprir com seus objetivos e obrigações. Desta forma, para que tudo ocorra da melhor maneira é necessária uma boa conexão entre as

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partes. “Entendo que o ponto fundamental é alinhar os objetivos operacionais da instituição com os dispositivos legais existentes, a fim de atender ao nível máximo de conformidade legal e possibilitar à Fiotec executar sua missão com o menor risco possível”, ressalta.

A gerente chama atenção também para a importância de uma boa comunicação e de um bom relacionamento com as outras áreas da instituição. Segundo ela, esse é um aspecto necessário para que seja entregue o melhor resultado possível para a Fiotec. “Posso afirmar que uma boa interlocução com os demais setores é outro ponto crucial. Eles são os nossos clientes internos e também nossos parceiros, e nos fornecem informações e dados necessários para encontrar e entregar a melhor solução jurídica”, conclui.

você

A Fiotec, como fundação de apoio, serve como elo entre a Fiocruz e seus parceiros. O objetivo do trabalho executado pela instituição é viabilizar o desenvolvimento dos projetos em saúde, nas áreas de Pesquisa, Ensino e Extensão, Estímulo à Inovação, Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e Desenvolvimento Institucional.

Como facilitadora, a Fiotec cuida dos processos administrativos, logísticos e financeiros, para que o pesquisador seja responsável apenas pela parte técnica do projeto, minimizando os impactos da burocracia. Neste contexto, é oferecido um apoio especializado nas regras e premissas exigidas pelos pesquisadores nacionais e internacionais, com uma equipe bilíngue e suporte jurídico.

A execução de um projeto só acontece após a apresentação prévia da proposta e escopo dele, a fim de facilitar o acompanhamento de todas as fases. Entre as atribuições da Fiotec, estão:

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1 Avaliação da complexidade dos projetos nos aspectos jurídico e financeiro;

2 Suporte administrativo na submissão de propostas para instituições de fomento nacionais e internacionais;

3 Apoio na construção, no acompanhamento e na gestão do orçamento do projeto;

4 Flexibilidade e agilidade nos processos de negociação e compra de insumos e equipamentos, além da contratação de serviços;

5 Mapeamento de impactos e projeção de gastos na contratação de recursos humanos;

6 Expertise em importação e exportação, inclusive na busca por melhores condições financeiras em transações cambiais;

7 Negociação e aquisição de insumos e equipamentos nacionais e importados;

8 Prestação de contas: mapeamento de riscos e impactos durante o planejamento e execução do projeto;

9 Soluções inovadoras: desenvolvimento de ferramentas de tecnologia da informação customizadas;

10 Cartão Pesquisa: é um benefício pessoa física concedido pelo CNPq aos pesquisadores. A Fiotec pode ser contratada através desse recurso disponibilizado pelo cartão e, com isso, intermediar a contratação de pessoas para atuar no projeto.

Você pode conhecer um pouco mais do trabalho para os pesquisadores em nosso vídeo institucional.

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de notícias

Defesa dos povos indígenas e tradicionais

Profissionais da Fiotec participaram, entre os dias 7 e 9 de fevereiro, do 2º Encontro de Parceiros do projeto Proteção dos Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, em Rio Branco/AC. A instituição, ao lado da Fiocruz, compõe o consórcio que é liderado pela WWF Brasil. A iniciativa enxerga a necessidade de se garantir a proteção física desses grupos, contra a invasão ilegal, para que assim eles consigam cumprir suas importantes funções de garantir a subsistência de seu próprio povo.

Cobertura vacinal na Amazônia

O projeto Ciência, Saúde e Solidariedade no Enfrentamento à Covid-19, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), objetiva diminuir as barreiras de vacinação em comunidades ribeirinhas, quilombolas e migrantes da região amazônica. A Fiotec teve como principal papel a execução das atividades de apoio logístico, administrativo e gestão financeira dos projetos.

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Saiba mais Confira

A Fiotec recebeu o Certificado de Determinação de Equivalência (Equivalency Determination, em inglês) da Rockefeller Foundation, financiador que promove o estímulo à saúde pública, ensino e pesquisa no exterior. A submissão aconteceu em dezembro do ano passado e o processo foi analisado e finalizado em janeiro deste ano, sendo válido até dezembro de 2023. O certificado é um processo pelo qual um financiador dos EUA avalia se um beneficiário estrangeiro é equivalente a uma instituição pública estadunidense.

Populações expostas ao mercúrio

Entre os dias 6 e 10 de março, a equipe do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil promoveu o curso Vigilância e Monitoramento de Populações Expostas ao Mercúrio: Aspectos Práticos, que teve como objetivo capacitar indígenas e profissionais de saúde da região de Itaituba (Pará) para atuar em conjunto aos pesquisadores da Fiocruz. Profissionais da Fiotec estiveram presentes para a cobertura e cadastro dos bolsistas.

Oficina sobre lei de licitações

No dia 14 de março, as profissionais da Assessoria Jurídica da Fiotec, Marianna Camargo e Monique Amaral, promoveram a Oficina Lei nº 14.133/2021 para membros do Colégio de Procuradores do Confies (Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica). O evento aconteceu de forma on-line e serviu para debater os impactos da legislação para as fundações de apoio.

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Certificado internacional
Veja Fique por dentro

25 anos de Fiotec

Um evento no dia 23 de março, data em que a instituição foi fundada, reuniu todos os profissionais da administração da Fiotec, além de representantes e convidados da Fiocruz. Os diretores Hayne Felipe, Marcelo Amaral e Mansur Campos, receberam no palco a diretora executiva da Fiocruz, Priscila Ferraz. Em sua fala, a gestora lembrou da importante parceria entre Fiotec e Fiocruz, principalmente durante o período de emergência causado pela pandemia de Covid-19.

Parceria com o Ballet Manguinhos

A Fiotec é a mais nova patrocinadora do Ballet Manguinhos, projeto que transforma a vida de meninas e mulheres por meio do acesso à cultura, educação e esporte. A iniciativa existe há 11 anos no complexo de favelas de Manguinhos, região que possui um dos menores IDH do Rio de Janeiro. Recentemente, a Fiotec fez um repasse de R$ 50 mil para o Ballet, que beneficia hoje mais de 5 mil pessoas.

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Leia
Veja como foi

O Diálogo com desta edição apresenta Paulo Basta, coordenador do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz

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A conversa aconteceu em março durante uma viagem para Itaituba (Pará) para a capacitação de indígenas e profissionais de saúde da região, que irão atuar em conjunto aos pesquisadores da Fiocruz no pilar Estudo Longitudinal de Gestantes e Recém-Nascidos Indígenas Expostos ao Mercúrio na Amazônia, que acompanha mulheres dessas comunidades durante a gestação, e ao longo dos dois primeiros anos de vida de seus filhos.

Além de Fiotec, Fiocruz e WWF Brasil, o consórcio é composto pela Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), o Comitê Chico Mendes, o Pacto das Águas, o Projeto Saúde e Alegria, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal (Imaflora), e outras dezenas de associações parceiras.

O que é o projeto e qual o objetivo da visita a Itaituba?

Esse projeto maior se desenvolve em três paisagens do Brasil, sendo elas o Acre, Rondônia e a paisagem chamada Tapajós, que inclui parte do Mato Grosso e parte do Pará. São quatro grandes eixos: o de proteção territorial, que visa garantir a integridade dos povos indígenas e a demarcação de suas terras, desenvolvido basicamente em Rondônia e no Acre; de produção sustentável, que gera alternativas econômicas para as comunidades tradicionais, como a produção de castanhas e outros produtos das florestas; o impacto do garimpo nas paisagens; e o eixo quatro, de engajamento comunitário dessas questões.

Dentro desse grande projeto, nós da Fiocruz temos três missões principais. Uma é o curso de Vigilância e Monitoramento de Populações Expostas ao Mercúrio, para preparar os profissionais de saúde do local para atuarem como pesquisadores vinculados ao nosso grupo de pesquisa nesse estudo longitudinal. Serão monitoradas, em dez aldeias do Munduruku, todas as gestantes que surgirem. Ela estando de acordo, já com o termo de consentimento assinado, inicia-se a entrevista, coleta de dados – amostra de cabelo – para acompanhar o nível de exposição ao mercúrio e essa gestante é acompanhada durante o pré-natal até o momento do parto.

Quando a criança nascer, são registradas as condições do nascimento e vai ser coletada amostra do cordão umbilical da mãe. Depois, a criança é monitorada até completar dois anos de idade. A proposta desse estudo é avaliar se a exposição pré-natal ao mercúrio provoca algum efeito negativo no neurodesenvolvimento da criança. Terão avaliações clínicas com pediatras, avaliação neurológica e serão aplicados testes em momentos específicos para avaliar o desenvolvimento motor, sensitivo e cognitivo até ela completar

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a idade. Ao verificar se há alguma alteração, vamos tentar estabelecer a relação dessas alterações com os níveis de mercúrio durante o período pré-natal.

O terceiro eixo, também vinculado aos impactos do garimpo, é o estudo transversal na terra indígena Sete de Setembro, que fica em Rondônia, onde vive o povo Paiter Surui. É o estudo Diagnóstico Situacional de Saúde, que vai ser feito em três comunidades da região em que toda a população será avaliada clinicamente, para fazer um diagnóstico de saúde, mas com foco no mercúrio.

Qual o impacto do projeto para a população dessas áreas?

A gente começou a trabalhar com essas temáticas especificas por conta de um pedido que recebemos da Associação Indígena Pariri Munduruku, que por intermédio de sua presidente elaborou uma carta destinada à Fundação Oswaldo Cruz solicitando apoio dos pesquisadores para ajudar a população a entender quais são os impactos decorrentes do garimpo ilegal. Quando recebemos essa carta em 2018, o grupo de pesquisa se organizou internamente elaborando o projeto, submetemos ele a avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa. Quando aprovado, começamos a captar os recursos.

Entre outubro e novembro de 2019, nós fizemos uma pesquisa em três comunidades indígenas do Pará, indicadas pela Associação. Fizemos visitas a 35 domicílios e examinamos cerca de 200 pessoas, além de coletar 88 amostras de peixes que são consumidos pela população normalmente, para serem examinadas com amostras de cabelo das pessoas. Esse material foi encaminhado para os laboratórios do Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará, e os resultados revelaram que todas as pessoas estavam contaminadas e todos os pescados tinham um nível de mercúrio.

Foi produzido um conjunto de seis estudos e todos esses resultados foram concentrados em um relatório técnico, que foi entregue para os caciques em forma de devolutiva de resultados. Essa devolutiva foi entregue, também, para as 200 pessoas que participaram do estudo, em formato de laudos individuais para eles poderem interpretar seus resultados. Com base nesse relatório, o próprio Ministério Público Federal montou um inquérito civil para cobrar providência das autoridades para o enfrentamento do problema.

Na época, a Defensoria fez uma ação de cidadania levando documento para essas pessoas. Eram muitas crianças sem certidão de nascimento, pessoas que perdiam entes da

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família e não obtinham a certidão de óbito, havia jovens sem identidade. Foram cerca de 180 documentos emitidos. Isso tudo faz parte da devolutiva do nosso trabalho.

Paralelamente a esse processo, no campo de orientação clínica, construímos informações voltadas ao consumo nutricional de peixes. A gente tem trabalhado, também, com outras estratégias de comunicação com a sociedade: preparamos um livro didático para professores indígenas usarem no ensino fundamental com crianças do 6º ao 9º ano, com conteúdo sobre a temática. Ele terá como primeira língua o Munduruku e será traduzido para o português, como segunda língua.

Ainda temos mais duas estratégias de comunicação. Uma é um desenho animado em que todos os personagens são indígenas, falando sobre a chegada do garimpo ilegal na comunidade e a chegada dos pesquisadores para a resolução do problema. Veja aqui.

O último é um álbum de dois volumes, chamado Amazônia Sem Garimpo, com canções compostas pelo grupo e baseadas na temática. O Volume 1 foi feito durante a pandemia, com os brancos, e o Volume 2 foi gravado na aldeia, por meio de uma oficina de música. Tudo isso é uma forma de darmos retorno à comunidade, para que eles possam se engajar cada vez mais no tema, se empoderarem com informações e evidências científicas para cobrarem providências das autoridades.

Quais os maiores desafios que esses povos enfrentam hoje? Como a Fiocruz colabora para diminuí-los ou extingui-los?

Os desafios são muitos. Chegar com a equipe no território é um deles. Além disso, na gestão anterior do Governo Federal, havia um incentivo para esses criminosos entrarem nas áreas e devastarem com o garimpo e fazer qualquer atividade ilegal. Então, criou-se um clima de hostilidade e animosidade com as pessoas que são contra esse movimento, então há um certo receio e precisam ser tomados alguns cuidados, como manter o sigilo em certas operações. E para executar o trabalho efetivamente tem o desafio do deslocamento e da composição das equipes.

Eu trabalho com saúde indígena há 25 anos, mas só há seis anos conseguimos montar um grupo de pesquisadores especialistas engajados e realmente envolvidos com a temática. Ano passado, fomos para a terra Yanomami e levamos 11 médicos em um só grupo. Esses profissionais são raros na Amazônia, sobretudo em territórios indígenas. Então, é

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um grupo de especialistas que estão aqui voluntariamente reservando um espaço na agenda para trabalhar conosco. A equipe vem se aperfeiçoando e, com esse debate amplo, os protocolos de pesquisa e as estratégias de abordagem também vão crescendo. São desafios que fazem parte da construção do conhecimento.

E, até o ano passado, tínhamos dificuldade de divulgar nossos resultados, por conta das fake news e desqualificação dos nossos achados. Eu fui ameaçado publicamente algumas vezes em lives e eventos que aconteceram pelas pessoas pró-garimpo. Agora, temos um cenário mais favorável, mas a semente da desinformação ainda está plantada aqui no território.

Qual o papel que a Fiotec desempenha para o desenvolvimento desse projeto?

O papel institucional da Fiotec é ser esse agente financeiro que faz a intermediação entre a Fiocruz, os pesquisadores e as agências de financiamento internacionais e nacionais. Nesse caso particular - do financiamento do Governo da Alemanha - chegou até a Fiocruz por intermédio da Fiotec. Ela é a instituição que nos ajuda a fazer a execução desses recursos, além de prestar contas e garantir a lisura do projeto para que passe em auditorias.

Sou pesquisador da Fiocruz desde 2006, então são 17 anos de interação com a Fiotec de diferentes modos. Ao longo de todos esses anos de trabalho, eu nunca tinha tido uma relação tão estreita com as equipes da Fiotec e, por conta de uma exigência do financiador, a instituição passou a ser integrada como parte do projeto, não só dando apoio financeiro, mas estando envolvida. Essa aproximação está sendo muito positiva, porque as pessoas que antes ficavam trancafiadas em seus escritórios, distantes de tudo e só recebendo demandas por e-mail, estão hoje nos territórios com a gente. Isso colocou nossa relação em um outro patamar, só estreitou nossos laços.

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NE CO XÃO

/ fiotecfiocruz

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