10 | Forum Estudante | abr’22 /30 anos
Há 30 anos… Como é que se falava com os amigos? A nova rubrica da FORUM dá-te a conhecer como viviam os estudantes, há três décadas, na altura do lançamento do seu primeiro número. Há 30 anos, os telemóveis não só não eram smart como podiam chegar a pesar meio quilo. Não existiam aplicações de chat, nem aplicações, nem chats. O que levanta a questão: como fazer se queremos comunicar com amigos ou amigas? O primeiro anúncio de telemóveis em Portugal foi transmitido em 1991. Era a bordo de um barco que se experimentava a tecnologia inovadora. “Não acreditas quando te disser de onde estou a telefonar”, afirma uma das personagens que explica estar a falar de “um telefone diferente”. No início da década de 90, esta tecnologia era novidade e estava ao alcance de muito poucos. O que nos leva a perguntar – como é que os estudantes comunicavam entre si? Enviar cartas era uma opção sempre a disposição, mas ficava sobretudo reservada para as férias, onde havia mais novidades para partilhar. Neste tempo analógico, em que se andava na rua sem nenhuma forma de ser contactado, o principal recurso de adultos e adolescentes era mesmo “marcar um encontro”, definindo um sítio e uma hora. A partir daí, o objetivo passava a ser fazer tudo possível para cumprir o acordado, esperando não ter de enfrentar improvisos e deixar a companhia “pendurada”. Contudo, se o encontro fosse num café ou restaurante, por exemplo, poderia sempre ligar-se para o telefone fixo do local a avisar. No caso dos estudantes, de resto, os telefones fixos eram os aliados mais utilizados para comunicar à distância. Era habitual ligar para casa de amigos e amigas, pedindo aos pais e mães
para falar com os respetivos filhos. Mas engane-se quem pense que tudo era um mar de rosas. Por um lado, o tempo de conversa poderia ser monitorizado (para não gastar muitos “impulsos”). Por outro, a própria conversa poderia ser escutada, caso existissem mais telefones em cada uma das casas.
Bater à porta e à janela
Entre amigos e amigas, era também prática comum ter um ponto de encontro habitual. No caso de alguém surpreendentemente “não aparecer”, era altura de nomear, dentro do grupo, um detetive, a quem era dada a missão de saber mais sobre o paradeiro do amigo ou amiga. Neste ponto, a abor-
dagem tática poderia ser diversificada. Bater à porta era sempre uma possibilidade, contudo, caso se suspeitasse da existência de um castigo, poderia ser sensato contornar a entidade parental e “chamar à janela” (nomeadamente utilizando um assobio previamente combinado). No caso de amigos e amigas que eram vizinhos, os códigos sonoros podiam até tomar a forma de pancadinhas na parede. Através de combinações dignas de um filme de espiões, era possível enviar e receber mensagens tão complexas como “vai à janela/varanda” ou “podes sair?”. Apenas alguns anos mais tarde, com a massificação dos primeiros telemóveis, chegariam frases tão complexas como “owa k faxes? lol”.