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Nova análise ao ciclo de curto prazo

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Viagem ao Japão

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O CFA Institute atualizou o trabalho realizado em 2006, no qual se constatou que os mercados estavam demasiado focados no curto prazo. Analisámos as conclusões e recomendações.

Em 2006, o CFA Institute publicou o relatório Romper o ciclo de curto prazo, cuja finalidade era perceber melhor a forma como os investidores e emitentes corporativos poderiam investir e gerir melhor a longo prazo.

Ficámos preocupados ao constatarmos que quase três quartos dos executivos de topo estariam dispostos a renunciar a investimentos de longo prazo nas suas empresas para poderem cumprir os objetivos estabelecidos em termos de lucros trimestrais. Nessa altura, reunimos um painel de profissionais de renome para analisarmos que verdades e mitos relacionados com o curto prazo circulavam nos mercados e, assim, podermos fazer recomendações. Chegámos à conclusão de que, efetivamente, os mercados estavam demasiado concentrados no curto prazo em alguns casos e propusemos as seguintes recomendações:

• Atualizar as recomendações relativas às práticas de obtenção de lucro. • Desenvolver incentivos a longo prazo que estejam em linha com metas estratégicas e de criação de valor a longo prazo. • Incentivar os líderes da indústria a passar do curto prazo para a criação de valor a longo prazo. • Melhorar a comunicação e a transparência. • Promover a formação de todos os players do mercado, para os ajudar a entender o impacto de uma estratégia a longo prazo em relação às de curto prazo.

Desde a publicação do primeiro relatório, as preocupações com o curto prazo evoluíram. Algumas das recomendações dadas foram implementadas por emitentes e investidores e a integração de dados ESG no processo de investimento ajudou os gestores de ativos e as empresas a centrarem-se nas métricas e estratégias a longo prazo.

Desde 2006, um número significativo de empresas seguiu a nossa recomendação e deixou de publicar dados sobre os lucros trimestrais. De acordo com o relatório da FCLT Global, Moving Beyond Quarterly Guidance: A Relic of the Past, publicado em outubro de 2017, a percentagem de empresas do S&P 500 que lança dados trimestrais diminuiu de 36% em 2010 para 27,8% em 2016. Destas empresas, 31,4% publicavam dados anuais e 40,8% não publicavam quaisquer dados.

As práticas de compensação dos quadros executivos também mudaram desde então. Os dados sobre essas remunerações e a votação por maioria nos Conselhos de Administração traduziram-se num maior compromisso entre investidores e emitentes no que diz respeito a essa matéria. Eliminaram-se alguns dos abusos mais graves em termos de governança corporativa na compensação dos executivos de topo, como a revisão dos preços das opções sobre ações. Hoje em dia, uma remuneração mais elevada está vinculada a interesses estratégicos a longo prazo e a transparência melhorou.

Durante os anos que passaram desde a publicação do nosso relatório em 2006, os investidores e emitentes investiram recursos para fomentar um maior compromisso. Ambas as partes perceberam que a construção de uma relação de confiança pode aumentar a compreensão e evitar relações de confronto entre os dois grupos, que eram comuns no passado.

Depois de voltar a analisar a questão do curto prazo com outro grupo de profissionais de destaque, o CFA Institute adotou quatro novas recomendações para os players do mercado:

• Os emitentes e os investidores devem centrar a sua participação numa estratégia a longo prazo e acordar métricas que promovam esse êxito estratégico, evitando o caráter de curto prazo dos lucros. • Os emitentes e os investidores devem trabalhar para simplificar os planos de compensação dos quadros executivos, no sentido de os incentivos se alinharem melhor com os dos acionistas e de serem mais fáceis de compreender. • Tanto os emitentes como os investidores devem investir significativamente no compromisso de fomentar um maior debate dos principais problemas que afetam a estratégia de uma empresa a longo prazo.

A INTEGRAÇÃO DE DADOS ESG NO PROCESSO DE INVESTIMENTO PERMITIU AOS GESTORES E ÀS EMPRESAS CENTRAREM MAIS NAS ESTRATÉGIAS DE LONGO PRAZO

HOJE EM DIA, A REMUNERAÇÃO MAIS ELEVADA DOS QUADROS EXECUTIVOS ESTÁ VINCULADA A INTERESSES ESTRATÉGICOS DE LONGO PRAZO

• Os emitentes e investidores devem estabelecer melhores critérios ESG, para que os dados sejam consistentes, comparáveis e auditáveis, assim como relevantes.

Ainda que as práticas de remuneração dos executivos de topo tenham melhorado, o painel que reunimos para voltar a analisar o problema do curto prazo deparou-se com uma queixa comum: os programas de compensação dos quadros executivos tornaram-se demasiado complicados e seria benéfico, tanto para os emitentes como para os investidores, que essas estruturas salariais fossem simplificadas.

Além da revisão do tema do curto prazo numa perspetiva dos emitentes, investidores e outros stakeholders, o CFA Institute associou-se à Fund Governance Analítica para adotar uma abordagem mais académica do problema. Foi feita uma análise quantitativa com recurso a dados relativos à questão do curto prazo entre 1996 e 2018, para se confirmar se os receios relativos ao curto prazo nos mercados tinham fundamento.

Concluímos que, de facto, o problema do curto prazo foi observável durante esse período de tempo e que os investidores em geral fizeram um bom trabalho a recompensar as empresas que apostaram numa gestão a longo prazo e a evitar as que não o fizeram. Percebemos que as empresas que não investiram em Investigação e Desenvolvimento (I&D), na gestão das despesas gerais, administrativas e de vendas (SG&A) e na gestão das despesas de capital (Capex) tinham tendência para menores rendimentos a médio prazo (três a cinco anos). Estes dados mostraram que os investidores se apercebem quando as empresas fazem cortes no investimento a longo prazo e dão preferência às empresas que investem a longo prazo.

Foi efetuada uma estimativa dos custos (lucros não obtidos) de curto prazo na ordem de 1,7 biliões de dólares durante o período de 22 anos abrangido pela nossa análise, ou de cerca de 79.100 milhões de dólares anuais.

Apesar de se verificar uma melhoria na gestão e no investimento a longo prazo desde que analisamos o tema do curto prazo pela primeira vez, há 15 anos, as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer.

No seguimento das nossas conversas com profissionais da área financeira durante a preparação do relatório atual, encontrámos um maior foco na integração dos fatores ESG no processo de investimento do que no curto prazo. O investimento ESG, ou investimento sustentável, ganhou importância nos últimos anos graças à convicção de que as empresas que gerem os problemas ESG a longo prazo centram-se mais na estratégia a longo prazo do que em alcançar o próximo objetivo trimestral em termos de lucros.

A integração dos fatores ESG e o investimento ESG poderão ser a resposta a longo prazo para os mercados de curto prazo? Ainda não sabemos.

A OPINIÃO DE

GEORGE SAFFAYE Gestor do BNY Mellon Mobility Innovation Fund, BNY Mellon IM

INVESTIR NA QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A transformação digital, a que chamamos Quarta Revolução Industrial, baseia-se no aparecimento de sistemas ciberfísicos. Isto permitenos, pela primeira vez, gerir e controlar o mundo físico usando ferramentas digitais. A maioria de nós já se sentiu confortável com um certo grau de diversificação nas nossas vidas, mas compreender a escala do que está para vir pode ser um pouco avassalador. Uma das transformações mais subestimadas que vamos ver é a mudança da rede 4G para 5G. O 5G não é apenas uma evolução, mas uma revolução. E vai mudar tudo, desde a infraestrutura à densidade e velocidade. Será completamente diferente. Quando começamos a pensar em aplicações como a cirurgia robótica, as operações de fabrico ou o envio de informação essencial para a tomada de decisões em veículos autónomos, podemos começar a ver o quão transformador será o 5G. A tecnologia é tão poderosa que nem sequer sabemos o que podemos construir com ela até que esteja completamente implementada. As valorizações das empresas tecnológicas subiram, mas o importante é recordar que, ao contrário da bolha das dotcom, estas empresas têm grandes modelos de negócio. Geram rendimentos e têm negócios reais que estão a transformar o mundo no qual vivemos, e só estamos nas primeiras etapas.

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