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O risco de carbono como fator de investimento

A medição do risco de carbono das empresas é um desafio, que se torna ainda maior quando não existem dados. No seu estudo Carbon Risk de 2018, Gorgen et al. propõem uma solução: o beta de carbono.

Um dos desafios mais urgentes da humanidade é combater as alterações climáticas através da transição necessária da economia mundial do castanho para o verde. Devido à transição em curso, os mercados de capitais têm de fazer uma reavaliação constante das empresas no que diz respeito a um risco associado: o risco de carbono. A medição do risco de carbono é um desafio, uma vez que a informação fundamental sobre a exposição das empresas ao carbono é escassa e a sua divulgação não é universalmente obrigatória nem está regulamentada. O objetivo deste estudo é desenvolver uma medida simples que possa ser utilizada para medir o risco de carbono das empresas, o beta do carbono, que pode ser estimado sem qualquer informação relativa ao risco de carbono. O risco de carbono torna-se, assim, um fator a considerar juntamente com os já definidos por Fama e French e Carhart. Para estimar o beta de carbono, constrói-se um fator de risco de carbono castanho menos verde (em inglês, brown-minus-green ou BMG) de mais de 1.600 empresas cotadas a nível mundial, com informações detalhadas reunidas a partir de quatro bases de dados principais de ESG: o conjunto de dados do questionário sobre as alterações climáticas do Carbon Disclosure Project (CDP), as MSCI Stats – estatísticas de ESG, os dados dos ratings de ESG da Sustainalytics e o conjunto de dados de ESG da Thomson Reuters. As empresas são classificadas com uma cor, castanho ou verde, com base na pontuação anual de risco de carbono (em inglês, CRS – carbon risk score).

O CÁLCULO A CRS é uma medida composta por três dimensões de risco de carbono, que capta não só o impacto das emissões atuais (cadeia de valor) na valorização das empresas, mas também da resposta da sociedade às emissões percecionadas (perceção pública) e das futuras emissões de carbono e estratégias de mitigação (adaptabilidade).

Esta amostra é utilizada para calcular a CRS e, a partir daí, o fator de risco de carbono. Para o cálculo do fator de risco de carbono, primeiro é necessário determinar a CRS anual da pontuação de risco de carbono para cada empresa. Depois, é aplicado o modelo de Fama e French (1993) e atribuem-se, incondicionalmente, todas as empresas a carteiras com base na sua capitalização

EVOLUÇÃO DO BETA DE CARBONO

AMOSTRA CRS AMOSTRA COMPLETA

0,30

0,20 0,23

Beta de carbono

0,10

0,00

-0,10 -0,08 -0,02 0,07

-0,05 0,05 0,12

0,07

0,05 0,08

-0,03

-0,20

-0,30 -0,17

-0,26

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: Carbon risk. Gorgen et al. (2018).

A MEDIÇÃO DO RISCO DE CARBONO É UM DESAFIO, UMA VEZ QUE A INFORMAÇÃO FUNDAMENTAL SOBRE A EXPOSIÇÃO DAS EMPRESAS É ESCASSA E A SUA DIVULGAÇÃO NÃO É UNIVERSALMENTE OBRIGATÓRIA NEM ESTÁ REGULAMENTADA

de mercado e CRS, através da utilização da mediana e dos tercis como pontos de rutura, respetivamente.

De forma semelhante ao fator valor (HML) de Fama e French (1993), utilizam-se os rendimentos mensais médios ponderados por ação das quatro carteiras (risco de carbono pequeno-capitalização elevada; risco de carbono grande-elevada; risco de carbono pequeno-elevada e risco de carbono grande-baixa) para calcular o fator de risco de carbono castanho menos verde (BMG).

Assim, o BMGt é o retorno no mês t de uma carteira com muitas empresas com um risco de carbono grande (castanho) e com poucas empresas com um risco de carbono pequeno (verde).

Aplica-se esse fator obtido da CRS e do cálculo BMG a uma amostra de mais

A OPINIÃO DE ANDREAS FRUSCHKI, CFA

Diretor de ações temáticas, Allianz Global Investors

AS EMPRESAS VERDES TIVERAM UMA EVOLUÇÃO BOLSISTA, EM MÉDIA, SUPERIOR À DAS EMPRESAS CASTANHAS DURANTE O PERÍODO DE AMOSTRA DE 2010 A 2016

de 39.000 empresas mundiais sem nenhuma informação específica de risco de carbono. Os dados são obtidos através da Morningstar Direct; depois, eliminam-se todos os pontos de dados para os quais não se dispõe de rentabilidade e capitalização de mercado e todas as observações com rentabilidade inferior. O resultado é uma seleção final de 39.537 empresas cotadas em bolsa, sobre as quais se efetua a regressão fatorial.

Com base nesta metodologia, observa-se que as empresas verdes tiveram uma evolução bolsista, em média, superior à das empresas castanhas durante o período de amostra de 2010 a 2016.

RESULTADOS Os resultados revelam que as empresas da amostra completa têm, em média, um beta (risco) de carbono mais elevado do que o das empresas incluídas na amostra da CRS. Fica por determinar se isso se deve à falta de divulgação estratégica ou a outras características das empresas que apresentam relatórios ou não. No geral, as empresas que divulgam as suas emissões e o seu programa ambiental podem ter um incentivo para darem mais informações acerca das suas ações de forma mais positiva.

Os betas de carbono em ambas as amostras aumentam em magnitude com o tempo. Para a amostra da CRS, em média, o beta de carbono aumenta de -0,17 no início do período da amostra para -0,03 em 2016. Na amostra completa, o beta aumenta de -0,08 em 2010 para 0,08 em 2016. É provável que esta tendência positiva seja o reflexo de uma maior consciência e importância do risco de carbono e do aumento do preço do carbono.

Quanto a países, a maioria dos betas de carbono são elevados, exceto na Europa e no Japão, o que está em linha com o facto de a União Europeia ser considerada líder mundial em política ambiental. As nações com menor exposição ao risco de carbono são europeias, como Itália (-0,663), Espanha (-0,591) e Portugal (-0,505). O país com o beta de carbono mais alto é a África do Sul (0,433), um resultado consistente com o atraso na adoção de medidas ambientais a nível político no país (Climate Action Tracker, 2018). O Brasil (0,410) e o Canadá (0,401).

Ao nível da indústria, os betas de carbono são os esperados. São baixos e negativos nas empresas de serviços financeiros e de tecnologia e positivos nas indústrias com elevadas emissões de carbono, como as dos materiais básicos e de energia. No geral, a divisão dos betas de carbono em termos temporais, geográficos e industriais corresponde às expetativas do risco que o preço do carbono representa, ou seja, aumenta com o tempo e o volume de emissões das indústrias.

O risco neste processo de transição está presente a nível das empresas, indústrias e países. As indústrias e as economias mais expostas ao risco de carbono podem experienciar maiores custos de capital, menor crescimento e menores rendimentos para os investidores.

PLANTAR SEMENTES: COMO OS INVESTIDORES PODEM AJUDAR A MELHORAR A SEGURANÇA ALIMENTAR

A pandemia do coronavírus voltou a centrar a nossa atenção no valor dos alimentos, tanto que a questão “como plantar sementes?” tornou-se numa tendência da Internet. Mesmo antes da pandemia atacar, todo o sistema de abastecimento de alimentos era extremamente ineficiente. Se não agirmos, a situação só pode piorar. A boa notícia é que o setor privado pode cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU) ao investir em inovações que melhoram a sustentabilidade da economia alimentar, com o objetivo de alcançá-la com rentabilidade. Alguns temas a ter em conta e que devem nortear os investimentos neste campo: milhões de pessoas vivem na sombra da fome, mas um terço de todos os alimentos é descartado ao longo da cadeia de abastecimento; o nosso sistema atual de produção alimentar prejudica o ambiente – i.e., a resposta não pode ser apenas produzir mais e da mesma forma; o mundo precisa de investir em sistemas inovadores para melhorar a sustentabilidade do abastecimento alimentar e os ODS da ONU fornecem orientação útil sobre onde investir para melhorar a sua segurança; a agricultura de precisão de dados ou os métodos de cultivo vertical podem melhorar a forma como os alimentos são obtidos; Existem ainda empresas que são pioneiras em métodos de embalagem mais sustentáveis e na redução do desperdício; criar alternativas à proteína animal – e promover o bem-estar humano e animal – pode ser uma forma de abordar os desafios nutricionais e ambientais.

$É um fator determinante para entendermos a evolução deste grupo de países devido à sua dependência das exportações de matérias-primas, às dificuldades que têm em financiar-se nas suas próprias moedas e ao volume de dívida externa. O PAPEL DO DÓLAR NOS MERCADOS EMERGENTES Q uando falamos de países e mercados emergentes, costumamos assinalar que este conceito engloba nações com características muito heterogéneas. Entre as denominações mais conhecidas e antigas encontra-se o acrónimo BRIC, que engloba países como a Índia, que este ano vai registar uma queda do PIB superior a 10%, e a China, um dos poucos países do mundo que irá manter uma taxa de crescimento positiva. Estas diferenças também PRODUTOS EMERGENTES por Nereida González são visíveis nos mercados financeiros. Enquanto o mercado chinês regista

$EVOLUÇÃO DO DÓLAR EM COMPARAÇÃO COM AS MATÉRIAS PRIMAS DXY (DOLLAR INDEX) ÍNDICE DE MATÉRIAS PRIMAS 750 75 700 650 80 600 85 MATÉRIAS PRIMAS 550 500 450 400 90 DXY 95 350 300 100 250 200 105 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Fonte: Afi, Macrobond. máximos históricos de capitalização bolsista, o Ibovespa brasileiro acuo caso do Chile, o principal produtor de cobre do mundo; da Rússia ou UMA mula, em 2020, a maior queda dentro da Colômbia, grandes produtores de DESVALORIZAÇÃO deste grupo de países. Há que ter em conta fatores internos e externos para petróleo; ou até da África do Sul, que tem um papel importante na extração DO DÓLAR TENDE explicar estas divergências, mas há um fator em concreto que é fundamental de metais preciosos. Os mercados de matérias-primas A BAIXAR O PREÇO na hora de compreendermos e tentar- são globais e, por serem denominados DAS MATÉRIAS mos prever a evolução deste grupo de países: o dólar. em dólares americanos, esta moeda está diretamente ligada à sua evolução. Uma PRIMAS PARA Em primeiro lugar, os países emergentes são, normalmente, países desvalorização generalizada do dólar tende a baixar o preço das matérias-priPAÍSES TERCEIROS altamente dependentes do comércio mas para países terceiros: o poder aquiexterno, sobretudo das exportações sitivo das outras moedas que não o dólar de matérias-primas. São grandes aumenta. Desta forma, a pressão sobre a produtores de muitas delas, como é procura das matérias-primas tende a

PRODUTOS EMERGENTES $EVOLUÇÃO DO DÓLAR FACE ÀS DIVISAS EMERGENTES DXY (DOLLAR INDEX) ÍNDICE DE DIVISAS EMERGENTES 75,0 87,5 72,5 90,0 70,0 92,5 67,5 DIVISAS EMERGENTES 65,0 62,5 95,0 97,5 DXY 60,0 100,0 57,5 102,5 55,0 52,5 105,0 JAN2018 MAI2018 SET2018 JAN2019 MAI2019 SET2019 JAN2020 MAI2020 SET2020 Fonte: Afi, Macrobond. aumentar, o que se traduz no aumento Ainda que, mais recentemente, se do preço das mesmas e dos fluxos que tenha assistido a um crescimento das os países exportadores recebem, com emissões em moeda local devido ao destaque para os emergentes. maior apetite pelo risco dos invesEm segundo lugar, os países emer- tidores internacionais e às taxas de gentes são países com mercados finan- juro mais atrativas que estes ativos ceiros em crescimento e que, no geral, podem oferecer, a tendência do paspodem ter dificuldade em financiar-se sado faz com que os níveis de dívida nas suas próprias moedas. A assunção em moedas fortes sejam elevados. O de riscos cambiais nas carteiras de in- volume de dívida em dólar de um país vestimento é, normalmente, uma fonte pode ser um indício do seu limite de significativa de volatilidade, que pode tolerância em caso de valorização da aumentar de forma significativa se in- moeda norte-americana. cluirmos moedas emergentes. Por esta Uma valorização do dólar faz com razão, quando procuram financiamen- que os passivos nessa moeda fiquem to, tradicionalmente preferem emis- mais caros na moeda local. Por outras sões em moedas consideradas fortes, palavras, os pagamentos de dívida emicomo o dólar ou o euro. tida em dólares, e respetivos juros, de

$O VOLUME DE DÍVIDA EM DÓLAR DE UM PAÍS PODE SER UM INDÍCIO DO SEU LIMITE DE TOLERÂNCIA EM CASO DE VALORIZAÇÃO DA MOEDA NORTE-AMERICANA um país emergente que tenha sofrido de uma tendência de desvalorização do uma desvalorização da sua moeda lo- dólar em termos gerais. cal aumentam comparativamente ao Em suma, um dólar mais fraco tenpassado. Um fator que pode aliviar esta de a coincidir com episódios de melhor pressão num ambiente de valorização evolução dos ativos emergentes, tanto generalizada do dólar é o volume de re- devido à redução das fragilidades exservas detidas pelos países emergentes. ternas destes países (o volume de díviTambém é um indicador de quanto o da externa diminui, conforme já menpaís pode, concretamente, deixar des- cionámos) quanto ao aumento das suas valorizar a moeda antes de implementar forças (as exportações de matérias-pripoliticas que travem a sua tendência. mas crescem) e o apetite pelo risco faz

Este fator está diretamente ligado com que os fluxos de investimento se ao terceiro elemento fundamental para direcionem para ativos mais voláteis. os países emergentes: o volume da dí- É importante salientar que a exposivida externa. A dívida externa é a que ção de cada país emergente a todos estes se encontra nas mãos de investidores fatores é diferente, o que faz com que a internacionais, independentemente sensibilidade à evolução do dólar amerida moeda de denominação. Uma forte cano seja menor. A Rússia e o Chile são saída de fluxos de investidores inter- grandes exportadores de matérias-prinacionais pode não só comprometer mas, mas a Índia ou a China são sobreo volume das reservas destes países, tudo importadores; já a Turquia conta mas também a evolução da moeda caso com um volume de dívida externa subsocorra uma venda em massa de ativos tancialmente superior ao da Rússia. denominados na moeda local. Além disso, há momentos, como o

Um cenário destes podia surgir na se- atual, em que essa relação se quebra. Os quência de uma subida das taxas de juro riscos idiossincráticos, ou seja, os riscos nos EUA, o que, neste momento, parece inerentes aos próprios países, podem pouco provável, mas que em 2018 teve levar a que esta relação deixe de existir, uma influência significativa nos merca- pelo menos temporariamente. A incerdos. Um dos elementos que direciona teza institucional na Turquia, as dúvifluxos de investimento para ativos de das acerca da gestão da pandemia no mercados emergentes é um ambien- Brasil ou na Índia e a instabilidade pote de maior apetite pelo risco, taxas de lítica são fatores que evidenciam, ainda juro reduzidas nas principais economias mais, a já referida heterogeneidade desdesenvolvidas e/ou a previsão de renta- tes países e, por isso, é imprescindível bilidades baixas noutros ativos. Esta um acompanhamento mais atento na conjuntura costuma vir acompanhada hora de investir.

A OPINIÃO DE

ÁLVARO ANTÓN LUNA Diretor-geral, Aberdeen Standard Investments

O QUE PODEMOS ESPERAR DO NOVO ANO?

A maioria dos mercados já teve uma boa recuperação das quedas acentuadas de março e abril. É verdade que, em alguns casos, essas quedas não foram acentuadas, se pensarmos no caso particular do índice norte-americano Nasdaq, recheado de empresas tecnológicas. No entanto, as perspetivas para o novo ano são, provavelmente, mais incertas do que nunca. O custo do dinheiro vai permanecer baixo com as atuais taxas de juro, os estímulos fiscais dos governos em todo o mundo vão continuar e há uma expectativa relativamente às vacinas. Contudo, o enorme impacto na economia global é inegável e as expectativas positivas parecem já estar descontadas na valorização de muitos ativos. Embora as nossas carteiras continuem a ter algum risco, isso é feito de forma cautelosa, com um foco na qualidade, na solidez dos balanços e na sustentabilidade. O que o último ano nos ensinou é que a diversificação é fundamental. Vimos de tudo: desde um bear market em março/abril, a um bull market algumas semanas depois, passando por uma subida nas ações de grande crescimento durante o confinamento e pela subida nas ações de valor desde que a Pfizer anunciou a sua vacina. Ao nível empresarial, continuamos a fazer o nosso trabalho de casa no que diz respeito às empresas que selecionamos, para garantirmos que são capazes de ultrapassar os obstáculos visíveis e, mais importante ainda, os obstáculos não visíveis e que terão sido muitos ao longo dos últimos anos.

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