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Dan Roberts

Com uma experiência de 20 anos enquanto gestor, Dan Roberts não tem dúvidas: o maior erro que um investidor pode cometer quando procura rendimento é achar que o mais importante é o dividendo mais alto. É muito provável que um número demasiado apetecível esconda o processo doloroso de passar por um corte. “A geração de rendimentos é um requisito importante, mas não deve ser feita às custas do capital”.

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NER T PAR

GESTOR DO FF GLOBAL DIVIDEND FUND

OS DIVIDENDOS SUPERAM A SUA MAIOR CRISE A retribuição ao acionista foi a primeira vítima do plano de contingência das empresas para enfrentar a crise. Os dividendos a nível mundial caíram 30% este ano, tendo sido uma parte dessa queda forçada pelos próprios governos e pelas entidades reguladoras. Mas Dan Roberts está otimista em relação ao futuro. “O pior já passou. Já vivemos o momento mais doloroso”

m fundo de income que não procura o diviU dendo mais alto; um fundo que não se intitula como ESG, mas que tem um dos melhores ratings de sustentabilidade graças à sua carteira. Aparentemente, são duas contradições no FF Global Dividend Fund, mas que fazem todo o sentido quando falamos com Dan Roberts, gestor desta estratégia orientada para os dividendos da Fidelity.

Com uma experiência de 20 anos enquanto gestor, Dan Roberts não tem dúvidas: o grande erro que um investidor pode cometer quando procura rendimentos é achar que o mais importante é o dividend yield. Isto é, procurar o dividendo mais alto do mercado sem considerar a sustentabilidade ou viabilidade do mesmo. Para o gestor, um dividendo muito apetecível pode ser uma grande oportunidade, mas, na maioria das vezes, é um indicador de possíveis problemas. E, como bem recorda, passar por um corte no dividendo pode ser muito doloroso para quem investe em ações. “A geração de rendimentos é um requisito importante, mas não deve ser feita às custas do capital” – reforça.

Relativamente à sua elevada pontuação em termos de sustentabilidade, Roberts começa por sublinhar que não estamos perante um fundo ESG: “não queremos cair no greenwashing”, insiste. Dito isto, o gestor acredita que é inevitável incluir critérios ambientais, sociais e de boa governação na sua análise fundamental. “É a realidade dos mercados. São indicadores que não podemos ignorar, pois têm influência na viabilidade futura das empresas. Se não analisássemos os indicadores de sustentabilidade, iríamos perder muitas informações” – defende.

O FF Global Dividend Fund pode gabar-se de ser um dos poucos produtos no mercado ibérico que conta com Selo FundsPeople 2020 pela sua dupla classificação AB: favorito dos Analistas e Blockbuster. O fundo gerou uma rentabilidade anualizada de 6% a três e cinco anos, dois períodos longos nos quais se situou no primeiro quartil da sua categoria, em ambos os casos. Esta rentabilidade é o resultado de uma filosofia de investimento que procura afastar-se, de forma consciente, do seu índice de referência: o MSCI ACWI. O processo de construção começa com uma folha em branco. “Não nos questionamos acerca dos países ou setores nos quais queremos estar infra ou sobreponderados”, assegura o gestor da estratégia da Fidelity. Trata-se de um fundo de alta convicção ao procurar as 50 melhores ideias dentro do seu universo. Além disso, procura mantê-las na carteira durante bastante tempo. Prova disso é o seu índice de rotação da carteira de 25%. “É um fundo que se comporta de forma diferente das bolsas. Por esse motivo, pode ser conjugado com outros fundos de ações globais numa carteira diversificada sem grande risco de sobreposição” – afirma. Se analisarmos a carteira atual do ponto de vista geográfico, de facto, existe esse equilíbrio entre Estados Unidos, países emergentes, Europa e Reino Unido. “A active share do fundo é de 92%. Se cobramos uma comissão de gestão ativa aos nossos clientes, temos de lhes oferecer uma gestão ativa”, remata.

O RISCO SEGUNDO DAN ROBERTS Apesar de ser um fundo de ações concentrado na geração de rendimentos através de dividendos, Roberts define o seu estilo como “bolsa de baixo risco”, sendo uma das prioridades a preservação de capital. Recorda que “no mundo dos juros compostos, as perdas e os ganhos não são iguais. Para recuperar de uma queda de 10%, é necessário mais do que voltar a subir 10%”. A sua perda máxima baixa, que até à correção de março era de 7,94% em dólares americanos, é um dos pontos fortes desta estratégia.

Perguntámos-lhe o que entende, exatamente, por risco. O gestor identifica dois: o risco de valorização e o risco associado aos fundamentais. O primeiro resume-se ao perigo de pagarmos demasiado por uma empresa. Para Roberts, por muito boa que seja a empresa, um preço sobrevalorizado pode sair caro a longo prazo. Dá o exemplo da Micro-

“A ACTIVE SHARE DO FUNDO É DE 92%. SE COBRAMOS UMA COMISSÃO DE GESTÃO ATIVA AOS NOSSOS CLIENTES, TEMOS DE LHES OFERECER UMA GESTÃO ATIVA”

soft. Entre 2001 e 2012, os lucros da tecnológica cresceram entre os 10% e os 11% ao ano, mas as suas ações não tiveram grandes alterações nesse período.

No segundo caso, refere-se à exigência em procurar um elevado nível grau de confiança na sustentabilidade das rentabilidades das empresas nas quais investem. Sublinha que isso não quer dizer que evitem totalmente determinados setores. Em vez disso, procuram empresas mais resilientes dentro dos mesmos. Menciona, a título de exemplo, os nichos conhecidos como after markets no setor industrial, que oferecem serviços pós-venda, e os negócios ligados aos mercados acionistas e às seguradoras no ramo não vida, no setor financeiro. Em ambos os casos, trata-se de encontrar zonas com uma fonte de receita mais estável e mais contracíclica dentro de indústrias que, a priori, são mais dependentes do momento da economia.

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