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Ben Ritchie
Um novo advento pode estar para vir na Europa, à medida que a indústria se digitaliza no continente. É a convicção de Ben Ritchie, responsável de ações europeias da Aberdeen Standard Investments, para quem investir em empresas com drivers de lucro estruturais fortes continua a ser o grande mantra na gestão do Aberdeen Standard European Equity.
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NER T PAR
FOCO NO LONGO PRAZO
Na perspetiva de Ben Ritchie o importante continua a ser o foco em negócios fantásticos com perspetivas de retorno sustentáveis e atrativos.
ritmo e a duração da recuperação. Passa-
Oram-se alguns meses desde que a FundsPeople falou com Ben Ritchie, mas estas duas preocupações mantêm-se na mente do responsável de Ações europeias da Aberdeen Standard Investments. “O mercado avançou, assumindo uma recuperação global sustentada e signifi cativa”, consegue agora ver e apontar com mais clareza. Nesse sentido, vê também o que já seria de esperar: “O apetite por risco recuperou e os investidores focaram-se mais nos segmentos de mercado onde veem um maior potencial de recuperação”. No seu terreno de análise – a Europa – pouco mudou face a junho. “Neste contexto, acredito que as avaliações das empresas europeias de maior qualidade continuam pouco exigentes, com perspetivas de longo prazo atrativas e bons retornos de longo prazo implícitos”, aponta. Embora o investidor esteja neste momento muito focado na “infl ação crescente”, e na “subida das yields das obrigações”, para Ben Ritchie a “sustentabilidade da recuperação da economia é também um fator de longo prazo importante”. Para aqueles que têm uma perspetiva de longo prazo – como é o caso da própria equipa gestora da casa – o foco deveria continuar a ser apenas um: “Investir em empresas com drivers de lucro estruturais fortes”, ao invés de apenas “benefi ciar de tail winds cíclicos de curto prazo”.
PERFORMANCE DESAFIANTE
Neste sentido, e como já explicava na última ocasião sobre o assunto, a gestão do Aberdeen Standard SICAV I- European Equity , fundo com Selo FundsPeople 2021 pela classifi cação de Blockbuster e Consistente, foca-se muito no fator qualidade. Ben Ritchie ia mais longe na altura, e apelidava-o de uma carteira de “convicção na qualidade a longo prazo”. Em 2020 o fundo teve “um ano muito bom”. Embora a performance relativa do fundo tenha sido “desafi ante” logo após o desenvolvimento das vacinas em novembro, em nada fugiu àquilo que se espera do produto. Para o responsável, decorrente do estilo desta carteira deve esperar-se “uma forte performance durante os tempos mais difíceis, e uma liderança de mercado em segmentos mais cíclicos e anteriormente mais problemáticos”, salienta. Por isso, tem a noção de que o fundo no curto prazo terá uma performance relativa mais complicada dadas as dinâmicas de mercado. Dado o contexto no fi nal de 2020, a equipa gestora – da qual fazem parte 15 membros da equipa continental de ações europeias – fez uma mudança estratégica na carteira. “Acrescentámos exposição a entidades fi nanceiras e do setor da indústria, de forma a adicionarmos mais ciclicidade à carteira, bem como uma maior exposição às taxas de juro”, recorda. No médio prazo, Ben Ritchie diz-se muito confi ante sobre as perspetivas que o fundo poderá oferecer. Uma opinião fundamentada, já que elenca três drivers dos lucros fortes e impulsionadores, que estarão por detrás das posições assumidas na carteira em títulos europeus.
OPORTUNIDADES COM DIGITALIZAÇÃO
Em primeiro lugar, fala da “liderança europeia na prática do capitalismo responsável”. Segue-se, na sua opinião, o impulso dado “pela força real da propriedade intelectual, desde o setor da saúde até à propriedade de muitas das mais desejáveis marcas a nível mundial, não esquecendo a liderança no setor da engenharia”. Por fi m, “o expertise histórico da Europa na indústria, deixou o continente numa posição mais forte no setor B2B de tecnologia”. Embora seja conhecida a dor que a Europa carrega por “fi car atrás” das ações FAANG dos Estados Unidos da América, Ben Ritchie está esperançoso, como se um novo advento estivesse para chegar. “Vemos verdadeiras mudanças a chegar, à medida que a indústria se digitaliza de forma crescente, abrindo-se um leque de oportunidades signifi cativas”, perspetiva. A rotação recente entre o growth e o value nas ações é inevitavelmente tema de conversa. De facto, no entender do profi ssional, é provável que “as taxas de juro de longo
prazo continuem a crescer, especialmente nos EUA, dada a mais vigorosa recuperação que lá existe, com um fantástico suporte monetário e fi scal”. Neste contexto, acrescenta, “é provável que exista apoio para a rotação no curto prazo, particularmente nas empresas fi nanceiras e de materiais”. Tal como já tinha referido, as mudanças no portefólio foram ao encontro destas expetativas. “Inclinámos o nosso portefólio em direção a algumas empresas de elevada qualidade, que tenham exposição tanto às elevadas taxas de juro, como à subida dos preços dos materiais”, relata. Ainda assim, não há um desvio daquele que é o mantra do portefólio. “No entanto, no longo prazo, acreditamos que o foco em negócios fantásticos com perspetivas de retorno sustentáveis e atrativas fazem mais sentido para os investidores em ações europeias”, sublinha. Com a regulação europeia sobre ESG a fervilhar na Europa, da conversa não pode fi car de fora o tema, já que é um portefólio de ações europeias que está em causa. “Esperamos que a regulação europeia continue a movimentar capital em direção a empresas com caraterísticas ESG superiores”, pontualiza. “Nos nossos portefólios, as caraterísticas ESG têm sido uma parte core, como parte integrante do nosso research detalhado das empresas. Cada empresa que analisamos é avaliada em termos ESG pelo respetivo analista, e isso permite-nos considerar plenamente os riscos e as oportunidades resultantes”, aborda. Mas a abordagem ESG da casa não se fi ca por aí. “Temos também envolvimento como proprietários. Descobrimos que as melhores empresas são também geralmente líderes em ESG, pois estão cientes da necessidade de uma boa gestão da força de trabalho e dos fornecedores, de estruturas de governance robustas, e de um foco nos benefícios ambientais como requisitos para um desempenho superior no longo prazo”, concluiu.
AMBIÇÃO
No futuro próximo, a entidade não coloca de parte a hipótese de gerir fundos mobiliários.
José Miguel Marques, CFA
PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO, CARREGOSA SGOIC
CARREGOSA SGOIC,TAILORMADE NO IMOBILIÁRIO
Nasceu em novembro de 2020, mas é um projeto pensado pelo menos desde 2018, altura em que se tornou imperativo para a marca Carregosa acompanhar de forma mais próxima o destino de alguns fundos imobiliários que havia ajudado a promover e, ao mesmo tempo, dar forma a novos projetos.
Assistir à tendência da bancada ou participar efetivamente nela e ser atores da mesma. Esta foi a escolha que o Banco Carregosa teve de tomar em 2018, quando se começaram a aperceber que num contexto de taxas de juro muito baixas os clientes alocavam cada vez mais espaço nas suas carteiras a imobiliário. Perante essa tendência, conta agora José Miguel Marques, CFA, presidente do conselho de administração da Carregosa SGOIC, o caminho a seguir era um de dois: “Ou ajudávamos os clientes a encontrar soluções fora, ou poderíamos nós fazer parte da solução”, recorda. Assim foi. Decidiram fazer parte da solução há praticamente três anos, quando pediram a licença para gerir Organismos de Investimento Imobiliário (OII).
Encaixando perfeitamente no repto que o banco tem de “ser uma referência em wealth management em Portugal”, a decisão de começarem a gerir OII tinha por detrás a decisão de “tranquilizar” os clientes com a marca forte que a instituição tem desde há muito. “O banco já era comercializador de fundos de investimento imobiliário, que havia ajudado a promover, mas enquanto comercializador e participante de alguns desses fundos vinha a sentir a necessidade de ele próprio [o banco] estar ligado à gestão desses fundos”, explica o administrador da entidade. Assim, a autorização de criação da Carregosa SGOIC chegou no início de novembro de 2020, com o banco a representar o maior acionista (96%), e os restantes 4% a estarem divididos por outros dois acionistas de referência da instituição e por dois administradores executivos da Carregosa SGOIC.
FUNDOS FECHADOS E SICAFI
Em termos de produto, são três os fundos fechados que inauguram o trabalho da entidade. “Efetivamente, o nosso plano de negócios prevê que, num primeiro momento, a sociedade assuma a gestão de alguns fundos já existentes. Está atualmente em curso o processo de substituição de entidade gestora relativamente a três fundos imobiliários fechados, tendo as substituições já sido deliberadas em assembleia de participantes (com mais de 90% relativamente a um deles e por unanimidade relativamente aos outros dois), pelo que esperamos que, em breve, estes três fundos iniciais estejam sob gestão da Carregosa SGOIC”. Falamos de um fundo ligado ao retalho alimentar, outro ligado a escritórios e, por fi m, um produto dedicado aos armazéns e logística”. Três fundos fechados que abarcam, para já, as áreas em que a entidade se pretende enfocar.
A estratégia da Carregosa SGOIC passa então pela constituição e gestão de OII fechados. Para além dos três fundos referidos, José Miguel Marques garante que “há espaço para a constituição de fundos novos”, havendo também áreas para as quais já olham com interesse. As residências sénior e a logística moderna são duas delas, mas admite também o interesse em “continuar a procurar oportunidades interessantes” nas três áreas dos fundos core da casa.
Paralelamente, o administrador vislumbra outro segmento de negócio que será chave: a constituição de SICAFI ou a transformação de sociedades anónimas em SICAFI. “Existem family offi ces e outro tipo de investidores que têm o seu património organizado de uma determinada forma, mas que percebem que as SICAFI podem ser interessantes fi scalmente e em termos regulatórios”, diz o administrador. Sente que “uma gestão profi ssional conferida por uma entidade gestora não só aliviará os clientes de uma gestão diária associada aos investimentos, como seguramente lhes pode permitir ter mais deal fl ow para os seus investimentos”, assinala.
Mais uma vez, esta aposta nas SICAFI também vai ao encontro do ADN de wealth management do banco, ou seja, como elucida o profi ssional, está diretamente relacionada com “a vontade de fazer algo à medida do cliente e perceber as suas necessidades”. “Essa necessidade de ser tailor-made faz parte de uma entidade que há muitos anos que se dedica ao wealth management e à banca privada; nesse sentido, a gestão de OII encontra aqui a sua expressão”, rematou.