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Sabedoria do coletivo dos gestores portugueses superaria o Eurostoxx 50?

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Pedro Rodrigues

Pedro Rodrigues

A SABEDORIA DO COLETIVO DOS GESTORES PORTUGUESES SUPERARIA O EUROSTOXX 50?

Já pensou qual seria a performance de um fundo de investimento composto pelas ações europeias mais procuradas pelos gestores nacionais ao longo dos últimos anos? Será que esse fundo superaria o Eurostoxx 50?

Asabedoria da multidão, ou se preferir The Wisdom of the Crowd (WOTC), refere-se à teoria de que a média das suposições, opiniões ou inclinações de um grupo é provavelmente melhor do que qualquer suposição, opinião ou inclinação particular escolhida do grupo. Um termo popularizado por James Surowiecki, no seu livro The Wisdom of Crowds, cujo princípio é uma teoria que pode ser rastreada à teoria do colective judgment desenvolvida por Aristóteles. Este fi lósofo clássico concluía na sua teoria que um grupo de indivíduos consegue organizar um banquete para um grande número de pessoas com maior facilidade e de forma mais satisfatória do que aquele que um indivíduo sozinho poderia fazer.

Esta, apesar de ser uma teoria com alguns (muitos) anos, serve exatamente para apresentar o exercício teórico que exibimos com este artigo. Isto é, de que forma a sabedoria do coletivo dos gestores nacionais (a multidão) superaria o Eurostoxx 50?

Para responder a esta questão, construímos uma carteira teórica de onde constam as ações europeias - excluindo ativos cotados em moedas que não o euro - entre as 10 mais investidas no coletivo de fundos do mercado português ao longo dos últimos 15 anos, com base nos dados divulgados a cada fecho de exercício pela CMVM.

A cada ano assumimos como posição inicial os títulos da Zona Euro com maior peso nas carteiras dos fundos nacionais ponderados por esse mesmo peso. No fi nal do ano, a carteira voltaria a ser ajustada com os respetivos

150%

100%

PERFOMANCE DA CARTEIRA TEÓRICA VS EUROSTOXX 50

CARTEIRA BENCHMARK

Fonte: Elaboração própria e CMVM.

50%

AÇÕES COTADAS EM EUROS COM MAIOR PONDERAÇÃO NAS CARTEIRAS

ANOS 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

L.V.M.H. Siemens BASF L’Oréal Inditex ASML Holding SAP ING Groep Santander Danone Total EFINA 3,0% 3,6% 5,5% 7,4% 9,0% 1,8% 2,1% 2,1% 2,1% 2,7% 2,3% 1,9% 2,2% 2,3% 2,8% 3,7% 3,3% 5,2% 6,9% 8,4% 1,6% 1,8% 2,1% 1,8% 2,0% 2,1% 3,2% 3,1% 3,4% 5,5% 7,3% 1,6% 2,0% 2,4% 4,6% 6,0% 7,0% 4,4% 7,7% 7,0% 2,0%

1,6% 1,6% 1,6%

1,8% 1,3%

2,0% 3,8% 3,0% 2,9% 3,7% 3,1% 2,3% 3,2% 3,5% 3,1% 2,7% 2,1% 2,1% 1,8%

Bayer AXA BNP Paribas Daimler Chrysler Allianz 1,7% 1,8% 2,1% 2,3% 2,2% 1,9% 1,8% 1,6% 1,9% 1,8% 1,6% 2,4% 1,9% 2,1% 2,4% 2,3% 1,9% 1,9% 1,8% 2,0% 1,9% 2,3% 2,1% 2,0% 1,8% 1,6% 1,7% 1,7% 1,7%

Banca Intesa Sanpaolo 1,7%

Telefonica 1,7% 1,6% 1,9% 3,1% 3,1% 3,6% 1,9% Unicrédito Italiano 1,5% 2,0% Nokia 1,5% 1,9% BBVA 1,5% 1,8% 1,8% 2,9% 1,7% Sanofi 1,5% 1,7% 1,9% 2,6% 2,2% 2,2% 1,8% 1,4%

Bankia 6,4%

E. ON 2,0% 1,4% 1,8% 2,8% 2,4%

GDF Suez France Telecom 2,1% 2,0%

ENI 1,6%

FUNDOS DE AÇÕES DA ZONA EURO COM SELO FUNDSPEOPLE 2021

NOME ENTIDADE GESTORA CATEGORIA MORNINGSTAR SELO FUNDSPEOPLE 2021

AB - Eurozone Equity Portfolio Allianz Euroland Equity Growth Amundi Funds - Euroland Equity AllianceBernstein Eurozone Large-Cap Equity

Allianz Global Investors Eurozone Large-Cap Equity

Amundi Eurozone Large-Cap Equity

BlackRock Global Funds - Euro-Markets Fund

Candriam Sustainable Equity EMU EdR SICAV - Euro Sustainable Equity Fidelity Funds - Sustainable Eurozone Equity Fund BlackRock Eurozone Large-Cap Equity

Candriam Eurozone Large-Cap Equity

Edmond De Rothschild Eurozone Large-Cap Equity

Fidelity Eurozone Large-Cap Equity

HSBC Global Investment Funds - Euroland Growth

Janus Henderson Horizon Euroland Fund

JPMorgan Funds - Euroland Equity Fund MGI Eurozone Equity HSBC Eurozone Large-Cap Equity

Janus Henderson Eurozone Large-Cap Equity

J.P. Morgan AM Eurozone Large-Cap Equity

Mercer Global Investments Eurozone Large-Cap Equity

Oddo BHF Avenir Euro Oddo BHF Asset Management SAS Eurozone Mid-Cap Equity

Schroder International Selection Fund EURO Equity Schroders Eurozone Large-Cap Equity

UBS (Lux) Equity Fund - Euro Countries Opportunity (EUR) UBS Eurozone Large-Cap Equity

UBS (Lux) Equity SICAV - Euro Countries Income (EUR) UBS Eurozone Large-Cap Equity DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC DABC

pesos de fi nal do ano. Um exercício puramente teórico que não considera qualquer custo de transação ou comissão de gestão, nem as restrições a que qualquer fundo harmonizado e até alternativo poderia estar sujeito. A seleção do índice também terá a sua infl uência nos resultados, e o critério para a escolha do Eurostoxx 50? Baseou-se apenas na facilidade com que os dados são disponibilizados.

OS RESULTADOS

Tal como podemos observar pelo gráfi co, constatamos que a sabedoria da multidão de gestores nacionais - a carteira teórica - superaria este benchmark durante vários anos, com mais ênfase a partir de 2010. Num período de 15 anos, a rentabilidade acumulada desta carteira teórica seria de 87%, enquanto a do Eurostoxx 50 seria de -3%.

De facto, podemos dividir o gráfico em dois períodos diferentes. Um período antes de 2010 e outro período depois de 2010. Antes de 2010, a performance desta carteira bateria poucas vezes a rentabilidade do benchmark. Já depois desse ano, é visível que a estratégia de investimento teórica adicionaria recorrentemente alfa face ao índice de referência. Mas o que mudou entre as ações com maior representatividade antes e após esses períodos?

No período antes de 2010, as empresas que, durante esses anos, mais vezes se encontravam no top 10 com

É CURIOSO VER COMO EM TEORIA A SABEDORIA DO COLETIVO DE GESTORES DE FUNDOS PORTUGUESES TERIA TÃO BOM RESULTADO AO LONGO DA ÚLTIMA DÉCADA

maior peso nas carteiras dos fundos nacionais eram a Siemens, a Total EFINA, a Allianz e a Telefonica.

Já no período depois de 2010, observamos uma mudança nas preferências dos gestores nacionais, principalmente no que diz respeito à preferência pela Allianz e Telefonica, ao passo que, entre 2010 e 2020, a Allianz apenas constou mais três anos entre o top 10 e a Telefonica apenas mais um ano.

Deste modo, a partir de 2010, os gestores nacionais começaram a procurar empresas como a BASF, L’Oréal ou SANOFI. Enquanto a Siemens e a Total EFINA se mantinham líderes nas preferências.

E EM CADA ANO?

Adicionalmente, observámos os anos em que o retorno relativo desta carteira teórica seria negativa e quais seriam as empresas com maior peso nas carteiras dos fundos nacionais desses anos.

Assim sendo, verifi cámos que em 2006, 2009 e 2014, o retorno relativo da carteira era negativa. Ou seja, em apenas três dos 15 anos, a sabedoria do coletivo de gestores portugueses não adicionaria alfa face ao Eurostoxx 50.

E quais foram as empresas que, entre esses três anos, mais contribuíram para a pior performance desta carteira teórica?

Em 2006, foi a SANOFI que obteve pior rentabilidade na carteira, mas, em 2009, foi a GDF Suez. Já em 2014, a ação do BNP Paribas foi responsável pela pior performance em carteira. Relativamente aos restantes anos em que os resultados da carteira teórica superam em mais de 10% o índice de referência, podemos destacar três momentos: 2013, 2016 e ainda 2020.

Assim, em 2013, era a AXA que obtinha a maior rentabilidade na carteira e, já em 2016, era a vez da BASF. Por fim, em 2020, o título da ASML Holding foi o que obteve maior relevância.

Destes anos, o melhor ano para a carteira teórica com as ações europeias que mais pesavam nos fundos nacionais foi 2016 – ano em que superou o benchmark em 18%. Por outro lado, o ano cuja carteira teve uma performance mais aquém do Eurostoxx 50 foi em 2009 – ano em que não acompanhou a recuperação do índice e fi cou abaixo do benchmark em 6%.

UMA VISÃO GERAL

No agregado destes 15 anos em análise, o top 3 de ações europeias que mais pesavam nos fundos nacionais foram as ações da Siemens, seguidas da Total EFINA e BASF.

A maior discrepância entre a rentabilidade da carteira teórica e do Eurostoxx 50 tem vindo a crescer com maior incidência nos últimos cinco anos.

É curioso ver como a teoria da sabedoria da multidão de gestores de fundos portugueses teria tão bom resultado ao longo da última década. Quiçá se o popular exemplo de Aristóteles fosse realmente aplicável nesta indústria, o banquete organizado pelos gestores nacionais seria notável.

A OPINIÃO DE

ANA CARRISSO Senior sales manager, Fidelity International

AÇÕES: O RISCO DE ADOTAR UMA POSTURA BEARISH DEMASIADO CEDO

A procura por dispositivos eletrónicos tecnológicos e as renovações nas habitações impulsionaram o crescimento durante os confi namento e em breve será apoiado pela subida de um setor de serviços atrasado. As vacinas injetam moral nas bolsas e, ainda que a velocidade e efi cácia da sua distribuição varie de país para país, a confi ança aumenta e os programas desenvolvem-se sem grandes contratempos. Os mercados estão a planear a reabertura da sociedade para quando as compras e as viagens “de desforra” forem permitidas e os consumidores troquem as compras de dispositivos por jantar fora e ir de férias. O gasto encontrará apoio na situação favorável que mostram as fi nanças dos consumidores pelo aforro forçado e pelas ajudas públicas diretas. Uma combinação de consumidores com fi nanças viáveis, baixa infl ação, baixas taxas de juro e alta liquidez cria uma sólida conjuntura para as ações. Ainda que o sentimento de mercado pareça demasiado otimista, a realidade é que quando as economias reabrirem totalmente podemos ter dois dos três trimestres com as maiores taxas de crescimento do PIB de mercados desenvolvidos. Perante o incómodo que suscitam valorizações quase em máximos históricos, o verdadeiro risco para os investidores é tornarem-se bearish demasiado cedo.

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