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AÇÕES ASSIMETRIA EMERGENTE N
De um lado a economia, do outro os mercados. Embora os países emergentes não estejam imunes à esperada desaceleração mundial, as perspetivas para as suas ações são mais favoráveis.
um mundo cada vez mais multipolar, várias áreas emergentes tiveram elevadas doses de protagonismo em 2022. A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e, entre as consequências da guerra, se a crise energética foi mais evidente na Europa, a escassez e a carestia dos alimentos afetaram mais seriamente outras áreas menos desenvolvidas e preparadas, como grande parte de África. A China passou do encerramento à abertura, e a bolsa turca foi considerada uma das mais rentáveis do ano, uma aposta complicada à luz da errática política monetária promovida por Erdogan. E claro, a Argentina venceu o Mundial de futebol, embora a sua economia esteja longe dos primeiros lugares de outras tabelas. Ao considerar as expetativas para os países emergentes em 2023, temos de um lado a economia e, do outro, os mercados. Quanto à economia, parece que não são uma excessão à esperada desaceleração mundial.
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David Rees, economista sénior de Mercados Emergentes da Schroders, considera que há pelo menos três razões para pensar que o crescimento económico destes países irá abrandar este ano. Em primeiro lugar, assinala o economista, a sua previsão é que os EUA acompanhem a zona euro e o Reino Unido na recessão, o que “significa que é provável que a procura mundial de bens abrande. Isto irá representar uma ameaça especialmente para as economias pequenas e abertas da Ásia, Europa Central e Oriental e México, todas elas dependentes das exportações para impulsionar o crescimento”.
Em segundo lugar, “embora a reabertura da economia chinesa possa promover a procura de recursos naturais, é provável que o abrandamento do crescimento mundial pese nos preços das matérias-primas e nos mercados produtores”, acrescenta.
Por último, David Rees considera que as políticas fiscais de muitos países irão continuar a endurecer à medida que os governos tentam reparar o dano causado às finanças públicas durante a pandemia, ao mesmo tempo que o impacto desfasado das subidas das taxas de juro também enfraquecerá a procura.
As perspetivas para os mercados de ações são, no entanto, um pouco mais positivas. Pierre-Henri Cloa -
“PELA PRIMEIRA VEZ EM MUITOS ANOS, ESTÃO REUNIDAS AS CONDIÇÕES PARA UM MELHOR COMPORTAMENTO DOS MERCADOS EMERGENTES” LUCA PAOLINI (PICTET AM)
HÁ UM CLARO
“OS MERCADOS EMERGENTES SÃO MENOS SUSCETÍVEIS DE SOFRER QUEDAS ADICIONAIS SE O CRESCIMENTO ECONÓMICO PIORAR E TÊM UM POTENCIAL ASCENDENTE ASSIMÉTRICO SE SE SUBSTIMAR A SUBIDA CÍCLICA” DIOGO GOMES (UBS AM IBERIA)
DO DÓLAR SERÃO
FUNDAMENTAIS
NA VALORIZAÇÃO
GERAL DAS BOLSAS EMERGENTES rec, gestor na Nordea AM, mostra-se otimista no que diz respeito às ações dos mercados emergente e, em particular, em relação ao investimento em crescimento. “Os obstáculos de 2022 ficaram para trás ou estão a desaparecer gradualmente: o pico da inflação, o pico do dólar, o endurecimento da Fed e, por último, a política de COVID zero da China”.
CHINA: ESSENCIAL
Há um claro consenso de que a China e a evolução do dólar serão fundamentais na valorização geral das bolsas emergentes. Quando Luca Paolini, estratega principal da Pictet, aponta que “pela primeira vez em muitos anos, estão reunidas as condições para um melhor comportamento dos mercados emergentes”, tem em conta que “a China é a segunda região com as ações mais baratas” e que a debilidade do dólar (sobrevalorizado entre 20% a 25%, na sua opinião) é uma boa notícia.
O elevado peso da China nos principais índices de ações dos mercados emergentes leva também a que a UBS AM acredite que o retorno das ações destes índices será superior à dos desenvolvidos. Na opinião de Diogo Gomes, CRM sénior da UBS AM Iberia, apesar de a reabertura da China ser, antes de tudo, uma questão de recuperação do consumo interno, continuará a produzir efeitos positivos, embora moderados, nos seus parceiros comerciais, bem como nas matérias-primas. “Acreditamos que isso significa que são menos suscetíveis de sofrer quedas adicionais, se o crescimento económi- co piorar, e que têm um potencial ascendente assimétrico se se subestimar a subida cíclica”, explica.
Além da China, Pierre-Henri Cloarec, da Nordea AM, destaca outros dois mercados interessantes. “Embora as valorizações sejam elevadas em alguns setores, acreditamos que a Índia conta com algumas das empresas de maior qualidade, com uma ampla margem de crescimento dado o baixo PIB per capita (cerca de 2.000 dólares) e com um dividendo demográfico muito atrativo”, explica. Além disso, vê o Brasil como uma oportunidade de olhar além do ruído a curto prazo, focando-se nos fundamentais a longo prazo, que permanecem muito sólidos. Pierre-Henri Cloarec espera que a volatilidade desvaneça, “especialmente se o novo governo mostrar sinais claros de responsabilidade fiscal”.
Por setores, a sua aposta mais clara é nos semicondutores, uma vez que considera que haverá “uma recuperação da procura no segundo semestre de 2023, depois de em 2022 se produzir uma correção em todo o setor com grandes reduções das expetativas dos lucros, especialmente no segundo semestre do ano”.
Esta perferência é partilhada por Tom Wilson, responsável de Ações de Mercados Emergentes da Schroders, que assinala que a gestora voltou a “investir em empresas tecnológicas da Coreia do Sul e Taiwan, uma vez que oferecem um bom crescimento estrutural”.
Assim, a atenção está no dólar, na Fed e na China.
RALLY DA DÍVIDA EUROPEIA INVESTMENT GRADE: PODE CONTINUAR?
2022 pode ser considerado um ano terrível para as obrigações investment grade em euros, tal como para a maioria dos ativos de risco mundiais. Isso deve-se ao facto de o mercado ter enfrentado uma tempestade quase perfeita de condições negativas. Em particular, a inflação que não se via há décadas voltou em força, levando os bancos a subir as taxas de juro de forma agressiva de níveis historicamente baixos. Um fator ainda mais inesperado foi o regresso da guerra à Europa em 2022. O conflito, por sua vez, agravou os problemas inflacionários e gerou grandes preocupações, como a segurança energética regional e os riscos de recessão.
A boa notícia é que as tendências dos principais fatores negativos do ano anterior estão a mudar.
Assistimos a uma combinação de fatores: a descida da inflação, a redução do risco de recessão e perspetivas de crescimento muito mais sólidas para a China. O panorama das valorizações também melhorou significativamente, com os rendimentos totais acima dos 4% neste momento.
Estas são as razões pelas quais, apesar da recuperação dos mínimos do ano passado, nos mantemos positivos nas perspetivas para 2023 relativamente ao crédito europeu de grau de investimento.