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DUAS INESQUECÍVEIS OBRAS DE SALMAN RUSHDIE

O escritor indiano Salman Rushdie é dos que consegue colocar por palavras as idiossincrasias de um povo ou de uma nação. A obra filhos da meia-noite é um dos exemplos disso, enquanto Shalimar, o Palhaço se asume como uma narrativa dramática.
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Na linha do desafio lançado e como ler, indubitavelmente, além de ser uma das minhas paixões é também uma forma de viajar, não gostaria de deixar de destacar a obra de um escritor genial que não há muito tempo foi alvo de um ataque bárbaro. Estou a falar do escritor de origem indiana Salman Rushdie.
Sempre me impressionaram os escritores que conseguem colocar em papel as idiossincrasias de um povo ou de uma nação, salientando caraterísticas e peculiaridades que estão muito para além de qualquer narrativa histórica.
Deste modo, a obra Os filhos da meia-noite é um exemplo magistral de honrar toda a história contemporânea de um país tão complexo como é a Índia, e que nos poderá, inclusivamente, dar ensinamentos para projetar a evolução futura de uma nação que vai ser estruturante no século onde nos encontramos.
O livro centra a sua ação no personagem de Saleem Sinai, que nasce ao bater da meia-noite, no dia em que a Índia formalmente se tornou um país independente (15/08/47). Naturalmente, a ideia do escritor é contar a evolução deste novo país através do conjunto de acontecimentos que vão ocorrendo ao longo da vida do personagem principal. Para tal, e dada a vastidão e complexidade da tarefa em causa, Salman Rushdie dotou a sua figura central com poderes especiais, que o vai ligar telepaticamente a 1.000 outros filhos da meia-noite, também estes com poderes específicos que são mais ou menos poderosos consoante a proximidade do seu nascimento com a meia-noite e que, nas suas interações com o personagem vão detalhando os períodos mais marcantes da Índia moderna.
Saleem Sinai tem um poderoso contraponto na personagem de Shiva que, nascendo no mesmo dia e local, tiveram a fatalidade de serem trocados à nascença. Saleem, hindu, acabou por ser recebido no seio de uma abastada família muçulmana, e Shiva, muçulmano, acabou no seio de uma família hindu de poucos recursos. A partir daqui estão lançadas as bases para explicar, por exemplo, a sempre difícil relação entre a Índia e o Paquistão, atravessando períodos conturbados como a partição deste último em 1971, que levou à independência do Bangladesh. Aliás, a obra de Rushdie é bastante vasta e vai muitas vezes além-fronteiras da sua Índia natal.
Narrativa Dram Tica
Outro livro que também me impressionou foi Shalimar, o palhaço. Curiosamente, esta obra que tem como ponto de partida um brutal assassinato e que na génese que conduz a este fatídico desfecho mais não é do que a busca do sonho americano, tem como ponto de partida a conturbada região de Caxemira.
Aqui vamos mais uma vez encontrar os ingredientes propícios para uma narrativa dramática. Shalimar abandonado pelo seu o amor de infância Boonyi, que o troca por um diplomata americano (Maximilian Ophulus) em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos, dedica o resto da sua vida a preparar a sua vingança que vai sendo perpetrada ao longo da narrativa. Pelo meio, encontramos outras personagens fascinantes que nos ajudam e entender quer a história de Caxemira, quer as manobras políticas de uma superpotência como os EUA em influenciar o curso da história.
Destaquei Salman Rushdie, porque é realmente um escritor que consegue de um modo acutilante tocar em pontos sensíveis da sociedade e provocar, por vezes, algumas reações extremas da qual a obra Versículos Satânicos será porventura a mais controversa.
por Pedro Carita