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Um contrabaixo a investir
NÚMERO 44 MAIO E JUNHO 2022 .
ENTREVISTAS BIN SHI, UBS AM JOSH DUITZ, ABRDN LEGISLAÇÃO AS SOCIEDADES GESTORAS DE PEQUENA DIMENSÃO PLANIFICAÇÃO OS INVESTIDORES E A CRISE
COM ESTILO UM CONTRABAIXO A INVESTIR A GRANDE DESCONEXÃO
SELECIONADORES FAVORITOS À NUVEM NEGRA DA PANDEMIA, QUE AINDA PAIROU DURANTE O ÚLTIMO AS NUVENS NO HORIZONTE Olhar paraANO, JUNTARAM-SE OUTRAS COMO A DA INFLAÇÃO E A DA GUERRA. OBSTÁCULOS QUE DIFICULTARAM, MAS NÃO IMPEDIRAM OS SELECIONADORES o futuro DE FUNDOS NACIONAIS DE FAZER UM TRABALHO NOTÁVEL.investindo
em saúde
AB International Health Care Portfolio UM CONTRABAIXO A INVESTIR
Os gostos musicais podem ser definidores das caraterísticas de uma pessoa. E no investimento isso não é exceção. Dizme o que ouves, dirte-ei com que perfil investes.
M
anhã de sábado, 7 de março de 2020. Acordo com a alegria e ansiedade de um dia especial. Durante a semana as dúvidas eram muitas, mas hoje era uma certeza. À noite lá estaríamos, em palco, a celebrar a música que nos une há 25 anos.
Com 19 anos decidi abraçar o contrabaixo. Fiz um buraco na minha 306 verde, na chapa que dividia o interior do carro, para que o braço do contrabaixo entrasse no meio dos bancos da frente, e fui para o conservatório.
O contrabaixo é aquele instrumento que mais parece um investidor contraintuitivo. Nem sempre encaixa numa orquestra (ou num carro), apesar de ganhar importância em grupo. Tem a sua opinião e sabe o espaço que ocupa. Não avança só porque há uma tendência ou é influenciado. Gosta de flutuar na sombra e evitar o ruído. Uma espécie de tapete racional que dá substância a uma canção. Um som grave, mas suave, paciente e com visão de longo prazo, que aposta nos momentos de qualidade, que encara as variações repentinas como oportunidade para acumular e preparar o futuro numa improvisação controlada. A música é muito mais do que entretenimento e ganha significado a nível pessoal e profissional. Esta transversalidade define um estilo de vida. Seja a compor, a tocar, a ouvir, a ver e até investir. Marca-nos enquanto pessoas.
HUMOR
Nas conversas com investidores procuro incluir também a música. Não para impor a minha vontade ou o meu estilo, mas sim para conhecer o perfil do investidor.
Repare-se no humor. Somos capazes de justificar o mau humor com a evolução dos índices acionistas num determinado dia. Um estudo recente de A. Edmans, A. Fernandez-Perez, A. Garel e I. Indriawan coloca a questão ao contrário: será que o humor influencia a direção do mercado? Designado Music Sentiment and Stock Returns Around the World, concluiu que, quando as pessoas ouvem música alegre, o mercado tem um melhor desempenho, ou seja, o sentimento musical está positivamente correlacionado com a performance no mer-
CONTRABAIXO Aos 19 anos Vítor Ribeiro dedicou-se ao contrabaixo e ingressou no Conservatório de Música.
cado nos dias seguintes, ao nível do retorno e ao nível da volatilidade.
As emoções fazem parte de nós, desde sempre, e a música é uma das formas brilhantes de expormos essas emoções.
E depois há a história. O que seria da canção sem uma boa história? E como diz Damodaran o que seria da avaliação de uma empresa sem uma história, para além dos números. Pode até parecer um pouco inusitado, mas defender a qualidade da música pode comparar-se com um processo de avaliação de uma ação. Somos influenciados por quem a compôs (fundador), por quem a interpreta (o CEO), pelos resultados anteriores e pelas expectativas que criamos.
FORMA DE VIDA
A vida não pode ser totalmente formatada, mas há caminhos mais ou menos pensados. Nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos e vivemos a reforma. Também na música podemos ver estas cadências através das escalas, acordes, melodias, intervalos, tempos, compassos, andamentos, contratempos, as síncopas. É possível esquematizar tudo e transformá-la num produto para o mercado. Podemos ver música no cinema, publicidade, lojas, exposições de arte, parques, política... Basicamente em tudo. Uma linguagem universal com um poder tremendo para influenciar.
Se gostamos de Radiohead também poderemos gostar de dEUS. Os algoritmos sabem bem disso. Dificilmente colocam Sigur Ros a seguir à Sinfonia n.º 5 de Gustav Mahler ou de um debate Charlie Haden & Pat Metheny. É aqui que a personalização é difícil de algoritmizar. É a oportunidade para definirmos o nosso caminho. Um contrabaixo é um contrarian e não aceita esta formatação como estilo de vida.
Sabemos o quão difícil é controlar as emoções no processo de decisão. Por isso, deixo a música fluir conciliando-a permanentemente com a vivência. Não deixo de procurar o prazer de ir a concertos, de descobrir uma nova banda ou compositor ou de tocar na minha banda de sempre.
Proponho que recorde as Quatro Estações de Vivaldi recompostas por Max Richter e que prove da capacidade eterna e evolutiva da música. Sabemos que a seleção musical valida as nossas emoções. O investimento também. Cada portefólio é único e esta é a minha filosofia de vida.