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João Gião

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Josh Duitz

Josh Duitz

NÚMERO 44 MAIO E JUNHO 2022 .

ENTREVISTAS BIN SHI, UBS AM JOSH DUITZ, ABRDN LEGISLAÇÃO AS SOCIEDADES GESTORAS DE PEQUENA DIMENSÃO PLANIFICAÇÃO OS INVESTIDORES E A CRISE

COM ESTILO UM CONTRABAIXO A INVESTIR A GRANDE DESCONEXÃO

SELECIONADORES FAVORITOS À NUVEM NEGRA DA PANDEMIA, QUE AINDA PAIROU DURANTE O ÚLTIMO AS NUVENS NO HORIZONTE Olhar paraANO, JUNTARAM-SE OUTRAS COMO A DA INFLAÇÃO E A DA GUERRA. OBSTÁCULOS QUE DIFICULTARAM, MAS NÃO IMPEDIRAM OS SELECIONADORES o futuro DE FUNDOS NACIONAIS DE FAZER UM TRABALHO NOTÁVEL.investindo

em saúde

AB International Health Care Portfolio

João Gião

CONSULTOR SÉNIOR DO EUROPEAN STABILITY MECHANISM E PRESIDENTE DO JÚRI DO PRÉMIO ÉTICA E ESG DA CFA SOCIETY PORTUGAL

“É IMPORTANTE CONTINUAR A DESENVOLVER O NOSSO ENTENDIMENTO SOBRE O IMPACTO DAS PRÁTICAS DE ESG NO DESEMPENHO FINANCEIRO DAS EMPRESAS”

No âmbito da primeira edição do prémio Ética e ESG da CFA Society Portugal, em que o seu objetivo principal se prendeu com a promoção da investigação do movimento ESG e ética profissional, conheça com mais pormenor as teses vencedoras e a pertinência desta iniciativa para o mundo da gestão de ativos.

S

e há algo em que os profissionais da gestão de ativos concordam é que se deve investigar mais os temas que envolvem o investimento responsável, sustentável e ética. É nesse sentido que a CFA Society Portugal surge com um papel preponderante. A organização introduziu, no ano passado, a primeira edição do Ethics and ESG Award, que tem como objetivo premiar as melhores teses de mestrado que incidam sobre estas temáticas.

Foi neste contexto que a FundsPeople conversou com João Gião, consultor sénior do European Stability Mechanism e presidente do júri nesta edição. Procurámos saber mais sobre a sua opinião acerca desta iniciativa que, segundo o próprio, “superou as expectativas em termos de candidaturas e qualidade”, considerando previsível a participação de mais candidatos nas próximas edições.

O profissional começa por esclarecer que não tem dúvidas acerca da importância desta iniciativa, quer para os jovens profissionais, quer para o mundo da gestão de ativos. Comenta que, na sua base, “o objetivo declarado deste prémio é, justamente, a promoção da investigação relacionada com comportamentos não alinhados com os padrões de ética profissional e com critérios ESG nas decisões de investimento e na gestão das organizações”. Partilha também que, apesar da chegada ao mainstream destes temas, acredita que “estamos todos bem cientes de que ainda há muito por fazer”. Isto é, por um lado reconhece que as iniciativas regulatórias têm apresentado uma grande fluidez, contudo, por outro lado, é da opinião de que “ainda estamos longe da existência de standards universalmente aceites e reconhecidos”. A acrescer, diz, “continua a observar-se alguma rigidez e mecanicidade na adesão aos diversos standards disponíveis por parte de todos os agentes económicos envolvidos nesta cadeia de valor, desde os emitentes até aos gestores de ativos, o que aumenta de forma significativa os riscos para o sistema”.

O PÓDIO

No que toca aos temas mais focados pelos participantes desta edição, o profissional começou por realçar que “uma quantidade significativa das teses a concurso versou a relação entre o grau de cumprimento de regras de ESG por parte de empresas e o seu desempenho financeiro, nas suas diferentes variantes”. De facto, entre o trio de teses que ocupam o pódio, podemos encontrar temas como a relação entre as práticas de sustentabilidade ESG e o custo de capital próprio, mas também uma tese que seguiu um outro caminho e investigou a qualidade do reporte de medidas não-financeiras de desempenho ESG por parte de 10 bancos europeus.

De salientar que, nesta edição, de fora das principais áreas de investigação esteve o tema da ética profissional. Neste ponto, João Gião sublinhou que “não se pode perder de vista que o sistema financeiro assenta na confiança dos agentes económicos sobre o comportamento dos demais”. Desta forma, coloca que “é por isso essencial ter na indústria financeira

MAIS JOVENS

João Gião acredita que “ao incentivarmos a realização de trabalhos nas áreas da ética e ESG, estamos certamente a contribuir para colocar os jovens profissionais no trilho da ética e da sustentabilidade, onde desejavelmente se manterão ao longo das suas carreiras”.

profissionais que conheçam bem os seus deveres e limites da sua atuação, qual o comportamento que deles é esperado, e que saibam identificar, sem hesitação, quais são as decisões corretas do ponto de vista ético”. Sobre este tema, afirma, por último, que a sua expectativa é de que, “nas próximas edições do prémio, o tópico da ética profissional no setor financeiro não seja tão subrepresentado, porque continuará a constar num lugar cimeiro na lista de preocupações dos investidores”.

AS CONCLUSÕES PRINCIPAIS

O trabalho vencedor pertence a Liliana Cardoso, aluna da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, tendo este se focado na relação entre as práticas de sustentabilidade ESG e o custo do capital próprio. Neste domínio, João Gião destacou as três principais conclusões que o trabalho evidenciou. A primeira é que “as empresas com melhores práticas ambientais parecem beneficiar de custos de capital próprio mais baixos”. A segunda diz que “esta relação positiva entre desempenho sustentável e diminuição do custo de capital próprio parece ser mais evidente nos setores em que a materialidade das questões ambientais, sociais e governativas é acima da média”. A terceira é que “as empresas que, em termos absolutos, apresentam os melhores desempenhos em termos de ESG, parecem ter um custo de capital mais elevado”.

Na verdade, esta terceira conclusão faz parecer que estamos perante um paradoxo. No entanto, o profissional esclarece que não se trata necessariamente de um paradoxo. “Constitui antes um alerta sobre a qualidade, rentabilidade e propósito real de certos investimentos e sobre os riscos de greenwashing e de comportamentos oportunísticos dos gestores, que, em abstrato, todas as empresas enfrentam”, refere. Destas conclusões, segundo o júri, “sai realçada a importância das avaliações de materialidade e da qualidade do reporte sobre as mesmas, assim como o papel que as práticas de sustentabilidade ESG podem assumir como instrumento de gestão de risco e de redução dos custos de capital das empresas”.

Foi precisamente no tema das práticas de reporte de indicadores de ESG que investigou a terceira tese classificada, onde afirma que “ficou visível o longo caminho que ainda há pela frente quanto ao cumprimento dos standards de relato ESG, em particular nas áreas de desempenho ambiental e social”.

Já relativamente ao processo de decisão dos vencedores menciona que, apesar de não ter existido discussão das teses entre os membros do júri, “houve algumas semelhanças nas notas atribuídas por cada membro, o que confirma a qualidade das teses vencedoras e a justiça do resultado”.

Conclui ao deixar uma pequena nota para os futuros participantes: “É desejável que os próximos trabalhos dediquem mais atenção ao enquadramento legal e regulatório vigente em Portugal e ao próprio Code of Ethics and Standards of Professional Conduct do CFA Institute”.

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