Cultivar Máquinas 237

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Bem-vindo à nossa mais recente edição. Trazemos na capa um test drive inédito do Cultro TC da Horsch, um rolo de facas inovador projetado para trabalhar em alta velocidade no manuseio de culturas de cobertura ou resíduos da colheita. Esse equipamento traz novos patamares de eficiência para o campo. Temos o prazer de apresentá-lo em detalhes.

No mesmo espírito de inovação, também exploramos a consolidação dos drones pulverizadores na aplicação de defensivos agrícolas. A tecnologia dessas máquinas apresenta resultados promissores no controle de pragas, doenças e plantas daninhas, ampliando o potencial de produção.

Não deixamos de lado a evolução tecnológica dos pulverizadores autopropelidos. Chamamos a atenção para a necessidade de ampliar os pontos e sistemas a serem inspecionados, garantindo a eficiência destas máquinas sem desperdício de produtos e riscos de avarias.

Ainda, analisamos técnicas de irrigação de baixo custo para pequenos pomares ou canteiros com hortaliças e vegetais, um método prático e acessível para maximizar a produção em pequenas parcelas de terra.

Isso e muito mais você encontra nas páginas seguintes. Boa leitura!

O Cultro TC, da Horsch, é um rolo de facas projetado para trabalhar em culturas de cobertura ou resíduos da colheita, em faixas de três a 18 metros

Editorial Índice 04 Rodando por aí 22 Capa - Cultro TC da Horsch 32 Transmissões híbridas 16 Inspeção de pulverizadores 06 Mundo Máquinas 10 Drones agrícolas 46 Reforma de pneus agrícolas 19 Irrigação por sulcos
Nossa capa
Crédito de Charles Echer Schubert Peter
Cultivar Máquinas • Ano XXII • Nº 237 • ISSN - 1676-0158
42 Manutenção periódica 38 Colhedoras de algodão

Baldan investe em nova logística de peças originais

A Baldan Implementos Agrícolas anunciou um investimento de R$ 15 milhões para melhorar a logística de peças originais aos seus clientes. O projeto prevê a criação de três Centros de Distribuição (CDs) em Goiânia (GO), Maringá (PR) e Matão (SP), onde mais de 1.900 itens estarão disponíveis para pronta-entrega. A empresa também firmou parceria com transportadoras aéreas para entregar as peças em até 24 horas em 55 aeroportos do país. Segundo o Diretor de Suply Chain da Baldan, Henri Narimatsu, o plano visa oferecer mais agilidade e praticidade aos clientes da marca.

Nova concessionária Mahindra

A concessionária Proagro inaugurou sua terceira unidade com bandeira Mahindra. Localizada em Pouso Alegre, no estado de Minas Gerais, é o mais novo ponto de vendas, assistência técnica e setor de peças originais autorizada da Mahindra Brasil. Com matriz localizada no município de Pará de Minas, a empresa também conta com uma unidade em Montes Claros (Norte de Minas) e agora, em Pouso Alegre. A concessionária vai oferecer aos produtores de sua área de atuação o portfólio de tratores Mahindra de 25 cv a 110 cv de potência, além da linha completa de implementos agrícolas, peças para tratores e implementos e assistência técnica especializada.

Sotreq Agro inaugura filiais em Campo Novo do Parecis

A Sotreq Agro, companhia dedicada à oferta de soluções em produtos e serviços para máquinas agrícolas, promoveu a abertura das novas filiais em parceria com a AGCO, em Campo Novo do Parecis. Para o projeto de abertura do novo empreendimento, foram investidos R$ 32 milhões em infraestrutura e R$ 22 milhões em Operação. Além de um investimento de R$ 36 milhões em peças e R$ 6 milhões em ferramental próprios aos equipamentos AGCO, investimentos com o propósito primordial de garantir rapidez e alta eficiência no atendimento aos clientes.

RODANDO
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POR AÍ

Orion na Bahia Farm Show

Baldan na Bahia Farm Show

A Baldan marcou presença na Bahia Farm Show com duas grandes novidades: o pulverizador Avola e a semeadora Agiflex.

O Avola, equipamento que tem registrado muitas vendas no primeiro quadrimestre de 2023, possui um motor eletrônico MWM modelo X12 de 190 cv e quatro cilindros, características que aumentam seu poder de rampa e proporcionam baixo consumo de combustível. Com capacidade para dois mil ou 2,5 mil litros, barras de 25, 27 e 30 metros, tração 4x4 com sistema hidrostático e suspensão pneumática sempre ativa, o pulveri-

zador garante maior conforto ao operador, mesmo durante as oscilações de relevo do terreno.

Já a Agiflex é uma semeadora de precisão transportável com 17, 19 ou 21 linhas. Suas principais características são facilidade no transporte, abertura ou fechamento rápidos, sistema hidráulico independente para acionamento da turbina e amplo depósito de semente. Além disso, o equipamento conta com sistema de aplicação de inoculante, depósito de adubo com alta capacidade, distribuição de adubo por gravidade e corte de seções para adubos e sementes.

A Orion participou da Bahia Farm Show deste ano levando seu portfólio completo de produtos. Através de seus parceiros Delta Máquinas Agrícolas, Jaraguá Máquinas e Agrosul Máquinas, a marca apresentou seus produtos com as melhores tecnologias para aplicação de inoculantes no sulco de plantio. Além de apresentar os diversos modelos de equipamentos, a empresa destacou o uso das tecnologias que fazem a diferença quando o assunto é eficiência do uso de produtos biológicos na busca de sustentabilidade ambiental, social, econômica e agronômica, trazendo de volta o equilíbrio ao sistema solo-planta.

MUNDO MÁQUINAS 06 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237

Massey Ferguson para o Cerrado

A Massey Ferguson apresentou na Agrobrasília e na Bahia Farm Show deste ano a solução de plantio com o conjunto trator 8S e a Plantadeira Momentum.

AGCO Power celebra 300 mil motores agrícolas no Brasil

A AGCO Power, fábrica de motores agrícolas pertencente à AGCO, comemora 30 anos de atuação no Brasil neste ano. Como parte das festividades, a empresa celebra a marca de 300 mil motores produzidos para as marcas Fendt, Massey Ferguson e Valtra.

Atualmente, de acordo com informações da empresa, a AGCO Power produz motores a diesel de três, quatro, seis e sete cilindros. Todas as linhas estão em conformidade com o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores para Máquinas Agrícolas e Rodoviárias (Proconve MAR-1), garantindo uma redução de até 90% nas emissões de poluentes. Em relação ao óxido de nitrogênio (NOx),

a redução chega a 75%, enquanto no material particulado atinge 85%, segundo informações da Anfavea.

A empresa destaca como fatores para a reputação dos motores fabricados pela AGCO Power a economia de combustível, o alto desempenho, a robustez, a facilidade de manutenção e o rápido acesso a peças de reposição proporcionado pela rede de concessionárias presente em todas as regiões do país.

A fábrica da AGCO Power está localizada em Mogi das Cruzes (SP). Ao longo dos anos, a empresa tem realizado investimentos contínuos no desenvolvimento de novos produtos, tecnologias e no aumento da capacidade de produção.

Uma das novidades da plantadeira é o sistema de distribuição de peso pelo chassi. Com essa tecnologia, o produtor pode ajustar e calibrar a máquina de dentro da cabine, para que a carga central seja distribuída igualmente pelo chassi da plantadeira para as pontas laterais. O resultado é uma melhor performance nas áreas acidentadas, proporcionando profundidade homogênea de deposição de sementes e melhora na qualidade de plantio. Outra novidade é o sistema de fertilizantes, que passa a operar com o Apply Granular, uma tecnologia Precision Planting de controle de adubo, que contribui para a redução em até 50% do desperdício de fertilizantes.

Em relação ao trator MF 8S, destaque para a maior eficiência no uso de insumos como combustível, através da sua transmissão, além da maior ergonomia e qualidade em conforto para os operadores.

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Tatu Marchesan apresenta USAP 3200 para algodão

A Tatu Marchesan participou da Bahia Farm Show destacando a versão com adubo plantado da Usap 3200, máquina configurada para a região de Luís Eduardo Magalhães (BA) para o plantio do algodão.

A semeadora Usap 3200 possui 12 linhas e espaçamento de 762 milímetros. “O modelo nessa configuração complementa o projeto da Usap 3200, máquina com mobilidade nas versões de adubo plantado, sementes ou grãos finos”, destacou o coordenador de marketing de produto, Rogério Morais.

Com uma construção mecânica robusta e dotada de soluções projetadas para otimizar o transporte e proporcionar autonomia durante as operações, a Usap 3200 se destaca também pela qualidade apresentada durante a distribuição de sementes.

Kuhn marca presença na Bahia Farm Show e AgroBrasília

A Kuhn marcou presença na Bahia Farm Show, onde realizou o pré-lançamento de Optimer, uma grade composta com 48 discos independentes distribuídos em duas linhas. De alta performance, a novidade está em período de testes na Bahia.

Entre as características de Optimer, a parte frontal possui rolo de corte para triturar a matéria orgânica, facilitando a decomposição. A largura de trabalho é de 6 m, com profundidade de 5 cm a 15 cm e velocidade de 10 km/h a 15 km/h, além de sistema de transporte prático com largura de apenas três metros. Entre as suas vantagens, a máquina permite a remoção de restolho superficial a profundo e destruição da cobertura vegetal.

Outros destaques ficaram para a carreta graneleira Grain Max 42000 track, o Stinger e três modelos de distribuidores de fertili-

zantes da linha Accura: o autopropelido 4.0 BX, os modelos de arrasto 12000 e 15000, com reservatórios de 6 m³ e 7,5 m³, respectivamente.

A Kuhn também participou da AgroBrasília, que ocorreu de 23 a 27 de maio. A empresa levou sua linha de carretas graneleiras, pulverizadores e distribuidores autopropelidos, além de diferentes linhas de plantio. O destaque ficou para a semeadora pneumática autotransportável Quadra. Disponível em modelos de 44 a 66 linhas, a semeadora Quadra possui sistema pneumático, responsável pela distribuição uniforme dos insumos, enquanto o autotransporte garante total eficiência operacional. A tecnologia é controlada e monitorada por meio de um sistema Isobus, o que significa mais conectividade e facilidade na operação.

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Horsch apresenta sua semeadora autopropelida Gantry RO G 500

A Horsch apresentou pela primeira vez sua semeadora autônoma durante a Bahia Farm Show deste ano. Chamada de Gantry RO G 500, uma máquina autopropelida com a capacidade de percorrer autonomamente as linhas previamente planejadas no computador.

A RO G 500 possui uma unidade de motorização centralizada, posicionada acima das linhas de plantio. O tracionamento é frontal e traseiro, com espaçamento entre eixos de 11 e quatro metros, respectivamente. Com essa configuração, contando com rodados grandes, ela passa apenas uma vez na linha prevista para evitar compactação, principalmente em solos úmidos. Além disso, conta com tanques centrais de sementes com uma capacidade total de 12 mil litros.

Sob a unidade de motorização, estão montadas as linhas de plantio da conhecida série Maestro da Horsch, totalizando uma largura de trabalho de 24 metros.

Fendt destaca

1167 Vario MT com esteiras

A Fendt levou para a Bahia Farm Show deste ano o trator Fendt 1167 Vario MT, de 673 cavalos e equipado com esteiras, substituindo as tradicionais rodas. Esta alteração traz uma série de benefícios, dentre os quais se destaca a menor compactação do solo.

Os discos duplos em V com a roda limitadora de profundidade garantem uma deposição precisa das sementes e a manutenção constante da profundidade de semeadura.

O conceito da semeadora Horsch RO G 500 é projetado de forma a permitir larguras de trabalho de até 36 metros. Além disso, há a possibilidade de troca das barras de plantio de verão por de inverno.

A Horsch ainda realizou o lançamento da semeadora Dakar NT, de 106 linhas. O novo equipamento possui espaçamento de 17 cm, dosador elétrico para adubo e semente e sistema pantográfico com pressão hidráulica nas linhas. Tem ainda tanque com capacidade para 8.500 litros de insumos.

A empresa também marcou presença na AgroBrasília, em parceria com a concessionária Starkel. Para o evento, levou seu portfólio completo de produtos para a região Centro-Oeste do país.

O modelo ainda dispõe da transmissão Fendt Vario, cujo design inteligente assegura a rotação e a velocidade ideais. Outra inovação é o sistema de suspensão Smart Ride Plus, que permite ajustar o ângulo da parte dianteira do trator de acordo com as necessidades do produtor. No caso de um deslocamento simples pela propriedade, por exemplo, o ângulo pode ser aumentado para facilitar o transporte. Já para trabalhos que envolvem a tração de implementos pesados, é possível reduzir o ângulo para ampliar a potência e a tração. O equipamento ainda vem com quatro pontos de lastro que podem ser ajustados conforme a resistência imposta pelo implemento. Essa capacidade de customização aprimora a versatilidade do produto, permitindo que seja utilizado tanto em trabalhos pesados quanto em situações mais delicadas.

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Drones pulverizadores

Os drones pulverizadores têm se consolidado cada vez mais na aplicação de defensivos agrícolas e têm sido uma tecnologia importante, apresentando resultados no controle de pragas, doenças e plantas daninhas nas culturas agrícolas

Avanços recentes na área de proteção de plantas, associados ao desenvolvimento de novas tecnologias de aplicação de defensivos agrícolas, estão ampliando as perspectivas de uso dos drones na agricultura, dentre os quais destaca-se a utilização de drones pulverizadores, que auxiliam o produtor rural a obter maior potencial produtivo do seu cultivo.

Os drones, também conhecidos

como Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants), já fazem parte do cotidiano de diversos setores produtivos, utilizados em diversas áreas na agricultura, como o mapeamento e coleta de imagens aéreas, o monitoramento das lavouras, a identificação de falhas no plantio e, recentemente, vem sendo utilizado como equipamento pulverizador.

Os drones para pulverização são equipamentos que vêm ganhando o mercado brasileiro, sobretudo des-

de o ano de 2020 está sendo utilizado principalmente em áreas agrícolas de difícil acesso para pulverizadores terrestres, áreas pequenas ou áreas onde os aviões agrícolas não conseguem fazer uma boa cobertura ou não é viável financeiramente a sua utilização. O uso de drones para a pulverização tem apresentado ótimos resultados no controle de plantas daninhas e na capacidade de lidar com pragas e doenças de culturas agrícolas.

DRONES 10 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237

Esses equipamentos são capazes de realizar as aplicações em diversas condições de lavoura, doenças e pragas agrícolas e tipos de produtos utilizados, fazendo com que a tomada de decisão pelo produtor em relação ao manejo da área seja a mais assertiva. Isso porque essa adaptação a diversas situações, otimiza o trabalho e minimiza os custos da produção agrícola.

No mercado brasileiro existem diversos modelos de drones pulverizadores que podem realizar a aplicação de defensivos agrícolas com rendimento de até 16 hectares por hora, variando de acordo com o fabricante, o volume do tanque, o modelo e o número de pontas de pulverização. Outro fator que influencia o rendimento operacional é a duração de funcionamento das baterias, que pode variar de dez minutos a 15 minutos de autonomia, enquanto outras podem ter uma autonomia de cerca de 15 minutos a 30 minutos. O tempo de recarga também varia, podendo ser de algumas horas a um dia inteiro, dependendo da capacidade da bateria e do carregador utilizado. Assim, se o agricultor possuir várias baterias, consegue realizar as operações durante o dia todo.

O Brasil é o maior mercado de drones da América do Sul, com cerca de 35.886 equipamentos registrados entre 2018 e 2022. O mercado global de drones deve chegar a US$ 41,3 bilhões em 2026, sendo 25% de drones agrícolas. No Brasil, os drones são usados em diversas áreas, como aeroagrícola, aerofotografia e aerolevantamento. Em maio de 2022, havia 94.881 drones cadastrados na Anac, sendo 2.296 para uso aeroagrícola e 247 para aplicação de defensivos agrícolas. Em março de 2023, esses números subiram para 111.049, 2.632 e 791, respectivamente.

Drones para pulverização agrícola

Com a crescente utilização dos drones nos mais diversos ramos, é normal que eles sejam utilizados em várias atividades agrícolas. O drone pulverizador é um equipamento (máquina) com capacidade de armazenar e pulverizar defensivos agrícolas nas lavouras. Com base em tecnologias de georreferenciamento, utilizando pontas de pulverização de última geração e tanques de armazenamento de líquidos de até 30 litros de calda, um drone pulverizador pode realizar a aplicação de até 16 hectares por hora, com menores volumes de calda por hectare em relação à pulverização tradicional.

Atualmente, a tendência com a utilização de drones pulverizadores é reduzir a quantidade e o volume das pulverizações, bem como reduzir o contato humano com os produtos químicos, proteger o meio ambiente e melhorar a precisão da pulverização, evitando a presença de produtos químicos fora das áreas projetadas. No Brasil, os drones começaram a ser utilizados na pulverização de defensivos agrícolas muito recentemente, proporcionando a aplicação localizada com maior precisão, efici-

ência e de fácil manuseio, atingindo lugares de difícil acesso, onde outros maquinários pulverizadores não conseguem aplicar.

A maior fabricante do mundo na área de drones para a pulverização agrícola, a Dà-Jiāng Innovations Science and Technology, mais conhecida como DJI, fornece drones de classe 2 ou 3 para a pulverização agrícola, de maneira que a Anac, através da Portaria nº 298, regulamentou o uso e ajustou a legislação para permitir que estes equipamentos operem na aplicação de defensivos agrícolas. Dessa forma, a tendência para o setor de drones pulverizadores no Brasil é que ocorra o aumento no número de equipamentos nos próximos anos.

Para a aplicação de defensivos agrícolas, os drones de asas rotativas, ou multirrotores, são os mais utilizados. Os drones destinados para a pulverização de defensivos agrícolas estão entre os maiores que existem no mercado brasileiro e mundial. Eles são, em sua maioria, enquadrados nas classes de drones 2 ou 3, capazes de aplicar defensivos agrícolas e fertilizantes em áreas de cultivo agrícola. Possuem capacidade de transporte de mais de 10 L de insumos e podem chegar até 30 L por vez. Exis-

Drones ganham espaço na agricultura brasileira e auxiliam os produtores rurais na aplicação de defensivos agrícolas
Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 11
Pixabay

tem drones que possuem quatro pontas de pulverização e outros chegando até 16 pontas, e podem ter largura efetiva de pulverização (faixa de aplicação) entre 3 m e 9 m.

Benefícios e limitações dos drones pulverizadores

Os drones pulverizadores podem ser considerados uma boa alternativa como tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas, com alguns bene-

fícios e vantagens, dentre elas podemos citar: controle eficaz de plantas daninhas, pragas e doenças com ótimos rendimentos operacionais; aplicação de maneira correta, no momento, local e dosagem exatos, otimizando a aplicação com uniformidade e podendo reduzir a quantidade de defensivos; possui pouco contato do produtor com os defensivos agrícolas, reduzindo o risco de acidentes com os produtos químicos. Além

disso, evita danos e perdas ocasionados pelo amassamento dos pneus na lavoura; não causa compactação do solo; tem grande potencial na cobertura de áreas de difícil acesso para tratores, pulverizadores autopropelidos e aviões agrícolas; consegue realizar a aplicação em áreas de difícil acesso, em locais com declividade ou terraços, bem como em talhões pequenos ou áreas separadas. Ele também possibilita a realização de apli-

Drones pulverizadores de asas rotativas ou multirrotores. A) Drone pulverizador modelo DJI Agras T30. B) Drone pulverizador modelo DJI Agras MG-1S
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Figura 1 - Número total de drones cadastrados no Brasil. A) Número total de drones por estado. B) Número total de drones aeroagrícolas por estado
A B
Fonte: elaborado a partir dos dados da Anac Fotos Diego Fernando Daniel

cações em culturas difíceis de serem cultivadas, como o café e a uva, pois o cultivo ocorre em terrenos com declividades altas; e estão de acordo com as regulamentações e normas do Mapa, Anac, Decea e Anatel.

No entanto, ainda se observam alguns desafios e limitações na utilização de drones para a pulverização agrícola, entre as quais destaca-se a autonomia da bateria, que é um fator limitante à operação com drones. Desta forma, obriga aos produtores a terem mais que uma bateria por drone. Porém, em comparação aos equipamentos de gerações anteriores, já ocorreram melhorias, pois as baterias atuais carregam muito mais rápido e têm duração de um maior número de ciclos.

Outras limitações e desafios são os custos do investimento, deficiências técnicas dos operadores (sobre operação de drones e tecnologia de aplicação), dificuldades de calibração (taxa de aplicação, faixa de aplicação, pressão de trabalho, velocidade de trabalho, espectro de gotas etc.), risco de deriva, possível impacto com aves ou com fiação elétrica, necessidade de inserção dos drones nas bulas e mudança na forma de pensar a tecnologia de aplicação com drones.

Quanto custa um drone pulverizador?

Poucas áreas têm apresentado tantas inovações tecnológicas tão expressivas como o setor agrícola. Desta forma, uma dúvida muito comum entre os produtores rurais tem a ver com o custo real de compra de um drone pulverizador. No entanto, essa pergunta não é tão simples assim de responder, muitas variáveis entram no custo final do equipamento e na escolha do modelo. Diante disso, a reposta para essas perguntas é “depende”.

Como já tratado nesse texto, exis-

Como escolher um bom drone para pulverização

Aescolha de um drone pulverizador vai depender basicamente do tipo de cultura, do tamanho da plantação e do produto a ser aplicado. Como já salientado neste texto, existem drones pulverizadores de vários tipos, tamanhos e capacidades de tanque e, desta forma, é bom levar em consideração estes quesitos. No momento da escolha do melhor drone pulverizador deve-se seguir alguns parâmetros:

Avaliação do tipo de cultura-alvo: o tipo de cultura costuma determinar o tipo de drone pulverizador a ser utilizado. Para culturas anuais, como o milho e a soja, cultivadas em áreas maiores, o ideal é adquirir drones com capacidade de tanque maior (20 L ou 30 L). Já para espécies frutícolas, geralmente cultivadas em áreas com menor tamanho, pode-se adquirir um drone com menor tamanho de tanque, por exemplo, com 10 L de capacidade.

Tamanho da área a ser pulverizada: a área a ser pulverizada vai determinar a capacidade do drone pulverizador a ser adquirido. Quanto maior a autonomia da bateria e a capacidade do tanque, maior será o rendimento aplicado por hectare e por dia. Obviamente, quanto maior a área, maior deverá ser a capacidade de armazenamento de tanque do drone pulverizador. Escolha de uma assistência técnica confiável: prefira fornecedores que ofereçam todos os serviços necessários e que mantenham um bom relacionamento no pós-vendas com o cliente, podendo atender e solucionar problemas muito rapidamente.

Outro fator importante ao considerar drones para a pulverização é o custo desta tecnologia, devendo-se ter em mente que os custos são relacionados à compra dos equipamentos e suas manutenções. Desta forma, na hora da escolha de um drone pulverizador, com as informações dos modelos de drones disponíveis no mercado, com dados da lavoura e apoio de uma boa assistência técnica, o produtor rural tem boas chances de optar pelo mais adequado para suas necessidades.

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tem diferentes tipos e tamanhos de drones para pulverização agrícola (asa fixa ou rotativa, tamanho de tanque e capacidade da bateria), desta forma, o valor de mercado de um drone pode ter grande variação, dependendo do tipo de drone desejado. No caso dos drones de pulverização agrícola, alguns modelos mais simples podem ser adquiridos com os preços iniciando em cerca de R$ 70 mil.

No entanto, se tratando de drones para pulverização agrícola, tenha em mente que os melhores equipamentos costumam ser os importados e custam a partir dos R$ 100 mil. À medida que os preços sobem, os drones de pulverização tendem a apresentar melhores características, como maior duração de voo, capacidade de tanque, durabilidade, sensores anticolisão, inteligência artificial e tecnologia de pulverização embarcada. Quando observamos um drone pulverizador com estas características, atualmen-

te no Brasil alguns modelos chegam a custar mais de R$ 200 mil. Sendo assim, na hora da aquisição de um drone pulverizador, é importante considerar aquele que atenda às suas necessidades e se encaixe no orçamento.

Quanto custa a terceirização?

Muitas pessoas têm optado pela compra de drones pulverizadores buscando fazer as aplicações por conta própria, no entanto, o que tem se observado na prática, que se torna mais fácil, seguro e barato, contratar um serviço especializado em pulverização com drones agrícolas, em função das exigências da legislação por parte da Anac e do Mapa e do conhecimento necessário para realizar a operação de um drone pulverizador.

O preço realizado por essas empresas depende de vários fatores, como o tipo de cultura, o tamanho da área, a distância de acesso à propriedade e o

número de obstáculos, sendo que os valores da aplicação com drone podem variar de R$ 150 até R$ 500 por hectare. Em determinadas culturas, como as frutíferas, o valor por hectare pode ser mais elevado, devido ao fato que há necessidade de aumentar um pouco a vazão para que ocorra uma melhor cobertura foliar.

Embora possa parecer caro no início contratar um serviço especializado, a pulverização com drones agrícolas oferece uma série de benefícios, como a não necessidade de assistência técnica para manutenção dos drones, redução do uso de água, mão de obra especializada, redução de perdas de produtividade devido a possível deriva e amassamento da cultura, entres outros.

Drones para pulverização e boas práticas agrícolas

Com novos modelos de drones pulverizadores existentes no merca-

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do, estes podem ser utilizados para aplicações nas mais diversas culturas agrícolas, desde culturas anuais (soja, milho, trigo etc.) até culturas perenes (espécies frutícolas). Em muitas destas culturas, os pulverizadores terrestres possuem certos limites operacionais, apresentando menor rendimento operacional.

Ainda existem poucas informações sobre a utilização de drones na pulverização de defensivos agrícolas, porém, o que se sabe é que as aplicações com drones pulverizadores devem seguir as boas práticas já utilizadas na pulverização convencional com pulverizadores terrestres.

No entanto, existe a necessidade de estudos que visam responder muitas questões técnicas pouco claras em relação à pulverização de defensivos agrícolas com a utilização de drones, como a altura de voo, a velocidade de voo, o volume de pulverização, o tamanho de gota, a frequência

Verificação

de pulverização, a deriva e a eficácia dos pesticidas.

A escolha de pontas de pulverização, volume de calda, faixa de aplicação, pressão de trabalho, velocidade de trabalho e de outros parâmetros relacionados à aplicação deve ser predefinida dependendo da cultura e juntamente com o responsável técnico. Outros fatores, como o preparo da calda, o princípio ativo e o tipo de alvo desejado (praga, doença ou planta daninha, são essenciais para garantir boa eficiência na pulverização agrícola quando se utiliza de drones pulverizadores.

Alguns fatores ambientais que merecem maior atenção quando trabalhamos com drones pulverizadores são: velocidade do vento, umidade relativa e temperatura do ar. Fatores que devem ser observados, a fim de alcançar os melhores parâmetros para auxiliar os produtores para obter uma melhor eficiência operacional e que podem influenciar na qualidade da aplicação realizada pelos drones.

Portanto, o conhecimento técnico, a especialização e a atualização constante das pessoas envolvidas na utilização de drones pulverizadores são essenciais para garantir uma boa aplicação, atendendo as boas práticas de pulverização.

Considerações finais

Os drones destinados para a pulverização agrícola estão cada dia

O uso de drones para a pulverização tem apresentado ótimos resultados no controle de plantas daninhas

mais presentes nas lavouras brasileiras. Tecnologia esta que vem se consolidando no mercado, com o surgimento de novos modelos de equipamentos, mais robustos, com maior capacidade de tanque de armazenamento e autonomia de bateria. No entanto, o produtor rural ou técnico responsável não deve se esquecer de seguir as normas da legislação e estar atento às boas práticas agrícolas no momento da utilização de drones pulverizadores.

O produtor rural deve observar alguns fatores como tipo de cultura, tamanho de área, estratégias de manejo e tipo de produto a ser utilizado na hora da decisão de comprar um drone pulverizador ou terceirizar a aplicação com empresas especializadas. Na dúvida, o ideal é que o produtor rural procure universidades que trabalhem com o tema, encontre um especialista na área ou se especialize fazendo cursos e treinamentos sobre o assunto.

Diego Fernando Daniel, Alcir José Modolo, Gilberto Santos Andrade, Adão Robson Elias, UTFPR, Pato Branco; Rivanildo Dallacort, Unemat, Tangará da Serra

do espectro de gotas do Drone DJI Agras MG-1S
Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 15 Divulgação
Diego Fernando Daniel
M

Mais atenção

Com a evolução tecnológica dos pulverizadores autopropelidos aumentou também a necessidade de ampliar os pontos e sistemas a serem inspecionados para garantir um pleno funcionamento da máquina, sem desperdício de produtos e riscos de avarias

Ao longo das jornadas de trabalho a que são submetidos, os equipamentos agrícolas sofrem diversos tipos de desgastes, que vão depender da natureza da máquina e da operação a que se destinam. Os pulverizadores, por manusearem produtos com diferentes potenciais de agressão aos seus componentes ativos, ficam particularmente expostos ao desgaste de componentes essenciais e suscetíveis a problemas que resultam em alteração no desempenho. Nesse contexto, os pulverizadores autopropelidos são máquinas que cumprem numerosas e prolongadas jornadas de trabalho, ao longo do ciclo das culturas agrícolas e muitas vezes os devidos cuidados de manutenção acabam por ser

negligenciados.

Ao lado disso, o excesso de confiança no bom desempenho dos componentes eletrônicos embarcados nessas máquinas pode ocasionar erros de proporções indesejadas na qualidade das aplicações de produtos para a proteção de plantas. Por esses motivos, a inspeção técnica de pulverizadores autopropelidos já deveria ser uma prática rotineira, como uma forma de assegurar o bom termo das aplicações de defensivos agrícolas, em nível de propriedades rurais no Brasil. Por outro lado, ainda existe carência de norma técnica que oriente a prática da inspeção deste grupo de pulverizadores, sendo que a norma internacio-

nal existente é aplicável apenas para os pulverizadores acionados por tratores agrícolas.

Por isso, é importante discutir alguns aspectos relevantes para uma adequada inspeção técnica de pulverizadores autopropelidos, que deve ser um tema melhor discutido com o passar do tempo.

A inspeção de pulverizadores

Internacionalmente, em 2015 foi publicada a Norma ISO 16122, que apresenta metodologia padrão para inspeção de pulverizadores, e estabelece os requisitos e métodos para as verificações necessárias nas inspeções técnicas de pulverizadores, referindo-se principalmente ao estado de conservação da máquina, à segurança operacional e ambiental, bem como formas de otimizar as aplicações, tornando-as mais precisas. Conforme descrito nesta Norma, a inspeção dos pulverizadores visa à redução da contaminação ambiental e ao eficiente controle do alvo biológico, como resultado do estado de conservação, da correta manutenção e utilização dos pulve-

PULVERIZADORES 16 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237
Jacto

rizadores agrícolas.

Considerando a realidade das áreas agricultáveis do Brasil, o avanço tecnológico da agricultura e a diversidade de máquinas e equipamentos de pulverização comercializados no mercado brasileiro, observa-se que a metodologia apresentada na ISO 16122 se aplica perfeitamente às inspeções de pulverizadores acoplados aos três pontos do sistema hidráulico ou à barra de tração dos tratores agrícolas. No entanto, esta Norma não contempla de forma satisfatória a inspeção completa de pulverizadores autopropelidos, principalmente aqueles que utilizam dispositivos avançados de dosagem e aplicação, controles eletrônicos e interfaces de apresentação de dados.

No caso destes pulverizadores com maior nível tecnológico, é possível realizar a inspeção de somente alguns dos itens obrigatórios, sendo eles: os elementos de proteção e segurança; a presença de vazamentos; o depósito, os filtros, da barra de pulverização e seus componentes; a uniformidade visual das pontas e seu posicionamento na bar-

A inspeção técnica de pulverizadores autopropelidos já deveria ser uma prática rotineira, como uma forma de assegurar o bom termo das aplicações de defensivos agrícolas

ra; a válvula antigotejo e o agitador de calda. No entanto, quando se faz necessário avaliar o sistema de formação de gotas, pressão de trabalho, sua variação, interrupção e distribuição em diferentes pontos da barra vazão das pontas; distribuição transversal da barra; volume de aplicação por área; bem como componentes, como o manômetro, não é possível utilizar a metodologia apresentada na Norma, pois há conexão eletrônica entre alguns deles, impedindo a sua retirada e avaliação externa.

O avanço tecnológico dos equipamentos utilizados e das práticas

agrícolas ocorreu, de forma rápida e em tal intensidade, visando possibilitar a execução de atividades mais precisas, mais rápidas e com menor impacto aos seres humanos e ao meio ambiente. Porém, cabe destacar que a utilização da eletrônica embarcada em máquinas agrícolas, neste caso especificamente os pulverizadores autopropelidos, levantou um ponto a ser pensado e debatido no que diz respeito à necessidade de desenvolver metodologias para a inspeção destes, uma vez que a metodologia em vigor não se adapta, principalmente, para aqueles que fazem uso da inteligência artificial, da programação e controle lógico de variáveis do processo.

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Fotos Charles Echer

Os desafios gerados pela tecnologia embarcada

Tratando-se especificamente destas máquinas que utilizam controladores lógicos e a inteligência artificial, alguns pontos merecem destaque para que seja possível a manutenção da qualidade das partes que os constituem e da atividade realizada.

O controle de processos eletrônicos pode adotar a utilização de sinais analógicos ou sinais digitais, os quais irão possibilitar que o processo seja executado (realização de uma atividade). Para tanto, haverá necessidade da utilização de sensores, os quais irão detectar algum evento no processo e emitir um sinal de resposta a este evento. A informação fornecida pelo sensor será processada pelo controlador, que armazena a informação, desenvolve a lógica de programação e, por sua vez, emite uma resposta ao atuador que irá executar a atividade, conforme a necessidade. Dito isso, pode ser observado que automação de processos é algo que envolve muito mais que somente sensores e atuadores, ou seja, demanda de programação e de cuidados para o correto funcionamento.

Sendo assim, cabe destacar que somente a programação não irá executar uma atividade, para tanto, é necessário que a comunicação entre

os sensores, controladores e atuadores seja rápida, exata e não sofra interferências indesejadas. Desta forma, é necessário que periodicamente os sensores utilizados em uma máquina, como, por exemplo, os responsáveis pelo nivelamento e altura da barra, sensores de abertura e fechamento de seções ou bicos, sensores de fluxo, entre outros, sejam aferidos e, caso necessário, sejam substituídos ou calibrados.

Tratando-se especificamente de fluxômetros, válvulas PWM (do inglês Pulse Width Modulation – modulação da largura de pulsos) e válvulas NCV (do inglês Nozzle control valve –válvula de controle de bicos), que fazem a correlação entre a velocidade de deslocamento da máquina com outras variáveis, como, por exemplo, o volume desejado (L/ha), se indevidamente calibrados, podem alterar de forma significativa a pressão do circuito hidráulico, o que irá influenciar na vazão das pontas, no tamanho de gotas geradas e no ângulo de abertura no leque (caso a ponta utilizada seja de jato plano), podendo influenciar na qualidade de cobertura do alvo e/ou possíveis perdas por deriva. Outro exemplo importante a ser considerado é a necessidade de desenvolver formas para realizar a avaliação de dispositivos eletrônicos que

fazem a seleção/comutação automática das pontas de pulverização, conforme a vazão necessária para atender o volume de aplicação informado ao sistema, ou mesmo para o corte de seções.

Ainda com relação aos cuidados, embora se saiba que a programação do sistema seja normalmente “fechada” ao usuário, questões como o tempo de ação e reação para diferentes atividades devem ser observadas. Por exemplo, a alteração da vazão da bomba, para adequar o volume de aplicação quando a máquina sofre variação na velocidade de deslocamento, bem como o tempo para ocorrer a alteração da altura das barras e seu nivelamento em áreas com relevo acidentado, e, ainda, tempo de injeção de produtos na linha de água ou de calda quando se utiliza o sistema de injeção direta de defensivos agrícolas, em que se usa um reservatório específico para defensivos separado do reservatório principal do pulverizador que estará preenchido apenas com água.

Os pontos aqui abordados merecem atenção, visto que, muitas vezes, passam despercebidos pelos usuários ou responsáveis técnicos, pois não constam como itens a serem inspecionados na metodologia existente. Desta forma, cabe a discussão para o desenvolvimento de técnicas e a definição da periodicidade que as avaliações deverão ser realizadas, uma vez que, sem sombra de dúvidas, a utilização constante pode resultar em avarias e erros que comprometam a qualidade da aplicação de defensivos agrícolas.

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Com as novas tecnologias presentes nos pulverizadores mais modernos, é também necessário atualizar os critérios de inspeção Alfran Tellechea Martini, Walter Boller, José Fernando Schlosser, Lab. de Agrotecnologia – UFSM; Anna Luiza Karsburg, UFSM M Fotos Charles Echer

Pequenas porções

Para determinadas culturas, como pequenos pomares ou canteiros com hortaliças e vegetais, é possível fazer uma irrigação de baixo custo por sulcos, eficiente e prática

Apossibilidade de ampliar a intensidade de cultivo nas áreas arrozeiras irrigadas por inundação da superfície, adotando o sistema por sulcos em culturas intolerantes ao excesso de água no solo, reafirmou a reconhecida potencialidade desse sistema na agricultura irrigada. Informações recentes relatam a existência de 70 mil hectares irrigados por esse sistema, com a expectativa de evidente expansão nos estados arrozeiros do Sul do país.

Esta alternativa baseou-se na possibilidade de reduzir custos em irrigação, sem prescindir das exigências técnicas pertinentes ao dimensionamento, à operação e à avaliação do desempenho. É possível que adaptações sejam necessárias em

condições particularizadas de aplicação, sem, contudo, comprometer a essência dos fundamentos aqui propostos, podendo se constituir em conveniente e oportuna alternativa de irrigação para áreas mais reduzidas e ausência ou restrição de energia elétrica.

O sistema por sulcos prevalece com razoável predominância na maior parte das áreas irrigadas do mundo, com diferentes graus de desenvolvimento tecnológico. Como principais características deve-se destacar o reduzido custo de investimento e operacional, o consumo de energia reduzido ou inexistente, a adaptação às principais culturas anuais ou perenes, e a acentuada dependência às condições da superfície e do próprio solo. Diferentemen-

te dos sistemas pressurizados (aspersão, microaspersão e gotejamento), requer informações precisas da topografia e das características do solo, particularmente a infiltração da água, condições que devem ser avaliadas criteriosamente em cada condição. Solos argilosos e topografias planas permitem grandes comprimentos de sulcos, reduzindo ainda mais o custo do sistema. Características adicionais podem ser destacadas, como veremos a seguir.

Em culturas razoavelmente espaçadas, como pomares, cafezais etc., o sistema adquire uma característica de irrigação localizada, cuja economia de água pode superar os sistemas por aspersão ou mesmo microaspersão.

Pode utilizar águas superficiais

IRRIGAÇÃO
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Edmar José Scaloppi

poluídas ou residuárias, sem tratamento ou filtragem, em geral não comprometendo a qualidade da produção, mesmo para o consumo in natura por não haver contato com a vegetação. Águas com elevada quantidade de material orgânico beneficiam as características físicas e químicas do solo e favorecem a nutrição vegetal, com economia de fertilizantes minerais e orgânicos. Esta possibilidade resulta em um reconhecido efeito mitigador. Entretanto, deve-se evitar a presença de poluentes prejudiciais ao solo, à água e às plantas cultivadas.

Também possibilita a aplicação de agroquímicos (fertilizantes, corretivos e defensivos de solo) com facilidade na água de irrigação, empregando equipamento de baixo custo, com reduzida possibilidade de obstrução. A exigência de solubilidade é menor que em outros sistemas e, portanto, os fertilizantes são mais baratos. Mesmo em suspensão ou orgânicos, podem ser aplicados, com sucesso, na água de irrigação.

Este sistema não interfere nos tratamentos fitossanitários aplicados na parte aérea da cultura. Por-

tanto, não há lixiviação como ocorre na aspersão. Por outro lado, é inadequado para solos rasos, pedregosos ou excessivamente permeáveis que podem dificultar a instalação ou provocar perdas significativas de água por percolação.

A irrigação por sulco não é tão discutida, pois os usuários no país são reduzidos e dispersos, provavelmente por desconhecimento de sua potencialidade. Para evoluir, é necessário que haja orientação especializada para o dimensionamento, a operação e o manejo das irrigações. Entretanto, essas informações são facilmente assimiladas pelos irrigantes que, através de inevitável interação com o sistema de ir-

rigação, tornam-se competentes gestores dessa tecnologia.

Preparo da superfície

O sucesso da irrigação por sulcos depende da uniformidade da superfície para assegurar um escoamento satisfatório, sem provocar arrastamento de partículas do solo. A sucessão de cultivos irrigados na mesma área melhora a uniformidade. Quando necessária, a sistematização deve ser orientada por procedimentos de cálculos específicos. Topografias relativamente uniformes podem justificar apenas uma regularização da superfície executada por plainas niveladoras tracionadas. O sistema pode ser configurado em linhas retas ou em contorno, de acordo com a condição topográfica local.

O processo de irrigação

O conceito de irrigação de baixo custo envolve modificações nos conceitos clássicos associados ao dimensionamento e à operação de sistemas de irrigação tradicionais, resumindo-se apenas às fases de avanço e recesso da água na superfície de escoamento. Portanto, para cada ponto inserido no comprimento do sulco, a diferença entre o tempo de recesso (quando a água desaparece da superfície) e o de avanço (quando a água atinge aquele

Sistema de irrigação de baixo custo por sulcos com 180 m de comprimento
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Irrigação de baixo custo por sulcos em diferentes culturas Irrigação em sulcos alternados, com redução de água e energia, em algodoeiro Fotos Edmar José Scaloppi Alamy Stock Photo

Dispositivo de quimigação de baixo custo. Fertilizantes orgânicos devem ser aplicados diretamente no reservatório

ponto) determina o período de infiltração. Períodos semelhantes, associados a pequenas variações no perímetro molhado ao longo do comprimento, favorecem a uniformidade de distribuição de água.

É importante destacar que a presente proposta não considera a ocorrência de deflúvio superficial no final dos sulcos. Assim, neste ponto recomenda-se interromper o escoamento com a execução de pequenos diques que contribuem para aumentar a uniformidade de distribuição de água, além de eliminar a presença de drenos superficiais. Havendo continuidade da área irrigada, deve-se permitir que o escoamento, mesmo reduzido, avance para o próximo talhão na sequência operacional adotada.

O objetivo do dimensionamento consiste em proporcionar 1/3 da área com percolação controlada, 1/3 recebendo quantidades aproximadas daquela requerida e 1/3 com diferentes graus de deficiência hídrica intencional, procurando explorar os reconhecidos benefícios da irrigação deficitária e o maior aproveitamento de chuvas eventuais. Este procedimento dimensional não deve comprometer a qualidade ambiental.

A razão de infiltração em solos agrícolas reduz-se com o período de aplicação de água. Portanto, diferenças no tempo de infiltração não resultam em diferenças proporcionais

nas quantidades infiltradas ao longo do comprimento dos sulcos, condição a ser explorada para favorecer o dimensionamento econômico desse sistema. A determinação de equações simples para representar o processo de infiltração em sulcos, nas condições onde as irrigações são praticadas, é fundamental para um dimensionamento criterioso e avaliação desse sistema.

Dimensionamento Com a finalidade de reduzir custos sem comprometer o desempenho das irrigações, recomenda-se adotar a aplicação de água aos sulcos no regime de vazões gradativamente reduzidas. Este procedimento envolve a utilização de uma tubulação de 100 mm especificada para esgotamento sanitário, instalada na declividade transversal da área, desde que não exceda valores em torno de 3%. Sendo superior ou inferior a cerca de 0,5%, deve-se apoiar a tubulação em suportes, conferindo uma declividade uniforme em torno de 1%.

Orifícios perfurados na tubulação promovem as derivações de água aos sulcos. Em condições típicas, o diâmetro usual desses orifícios é 3 cm. Esta derivação, além de econômica, portátil e fácil instalação, permite um adequado monitoramento da dotação hídrica pela conveniente coleta das vazões aplicadas em cada sulco. Uma caixa com capacidade em

torno de 50 L deve receber a vazão do projeto que será encaminhada à tubulação. Para assegurar a derivação de água aos sulcos, é necessário instalar um obstáculo (plugue) que pode ser confeccionado com a parte superior de uma garrafa PET de dois litros conectada à caixa de recepção através de uma linha de náilon presa a uma roldana com trava instalada na parede do reservatório. Esse conjunto determina o deslocamento do plugue a cada intervalo de tempo definido pela operação do sistema.

Considerações finais

O sistema de irrigação de baixo custo aqui proposto reúne embasamento técnico capaz de resultar em desempenhos plenamente satisfatórios, que podem ser demonstrados em ensaios facilmente executados. As reduzidas perdas de água por percolação e a existência de áreas deficientemente irrigadas são condições previstas em dimensionamentos de qualquer sistema de irrigação, em geral, aleatoriamente distribuídas na área irrigada. A particularidade do presente sistema é que tanto as aplicações excessivas quanto as deficitárias estão agrupadas, podendo sugerir desempenhos insatisfatórios a uma observação desprovida de cálculos fundamentados em ensaios de desempenho normalizados.

Detalhe da parte de uma garrafa PET para atuar como um plug no interior da tubulação e promover a saída de água aos sulcos Reservatório de recepção e distribuição de água à tubulação com orifícios para derivação aos sulcos
M
Edmar José Scaloppi, FCA/Unesp
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Cultro TC

O Cultro TC, da Horsch, é um rolo de facas projetado para trabalhar com velocidades de até 25 km/h no manuseio leve de culturas de cobertura ou resíduos da colheita, em faixas de trabalho de três a 18 metros

Em um dos primeiros dias de inverno, com temperatura amena e algumas nuvens, a equipe da Revista Cultivar Máquinas foi até uma área agrícola, no município de Ipiranga (PR), para testar o rolo de facas Cultro TC, da Horsch. Essa cidade, que fica próxima a Ponta Grossa, está inserida em uma região eminentemente agrícola

CAPA 22 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237

e com tradição no desenvolvimento dos primeiros passos do plantio direto no Brasil.

O equipamento que testamos chegou ao Brasil no ano passado, iniciou etapas de avaliação e demons-

trações para clientes e está em plena comercialização. Fabricado na Alemanha, onde tem grande aceitação, o Cultro TC chega ao país como uma alternativa de mercado, para a substituição dos rolos de facas tradicionais, oferecendo a vantagem de ser um equipamento mais simples, mais leve e de fácil transporte e operação, principalmente pela agilidade oferecida nas manobras. O rolo de facas é um equipamento muito útil para aqueles agricultores que mantêm cobertura de restos vegetais so-

bre a superfície do solo, mas que, ao mesmo tempo, desejam que estes não dificultem a entrada das semeadoras, evitando pelo corte da palha, o embuchamento. Enquanto os concorrentes baseiam a operação de corte apenas pelo peso sobre as facas, o Cultro TC oferece a vantagem de ser leve e o corte ser feito pela tecnologia de posicionamento de facas sobre o rolo, a concentração de peso no local realmente importante e a velocidade empregada na operação. Não há necessidade de

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 23 Charles Echer

lastragem com água nem de equipamentos auxiliares para a montagem dos rolos.

O objetivo principal deste tipo de equipamento ao inserir-se em um sistema complexo de manejo de resíduos vegetais é a formação de mulching, pelo processamento (assentar e picar) da palhada, das plantas de cobertura. Para muitos produtores que utilizam o plantio direto sobre a palha, essas operações são fundamentais e muito importantes, pois definem a qualidade da semeadura e, portanto, da formação do estande de plantas, o controle de invasoras,

a redução drástica da erosão e a elevação da produtividade das áreas. Uma vez montado o equipamento, a operação é feita apenas pelo ajuste do sistema hidráulico de três pontos, nos modelos menores, e das válvulas de controle de remoto (VCRs) nos modelos maiores. Atualmente, o fabricante está trazendo para o país seis modelos TC, que compreendem larguras de trabalho que vão de 2,90 metros até os equipamentos maiores de 18,20 metros. Nos modelos Cultro 3 TC de 2,90 metros de largura de trabalho até o 9 TC, de 8,90 metros, o acoplamento

ao trator é pelo sistema hidráulico de três pontos. Os dois modelos maiores, 12 TC e 18 TC, com 12,20 e 18,20 metros de largura, respectivamente, são acoplados à barra de tração e controlados pelas válvulas de controle remoto.

Na Alemanha, onde se originou e disseminou o uso desse equipamento, é costumeiro o uso de dois implementos no mesmo trator, com o acoplamento de um dos modelos menores Cultro 3, 5 e 6 TC no sistema hidráulico frontal do trator e outro equipamento na parte traseira, como o Joker RT, por exemplo, fazendo em uma mesma operação o corte da palhada e o acondicionamento da camada superficial do solo, possibilitando a entrada da semeadora. Nas versões de acoplamento frontal, o fabricante colocou um capô, para proteção contra o arremesso de pedras contra o trator.

O chassi tem esperas para acoplamento de seções complementares, como o rolo condicionador, e uma estrutura de dentes flexíveis. Estes complementos servem, principalmente, para aquelas situações onde, depois de picada, a palha deve ser acomodada formando uma camada estreita e deitada sobre o solo.

Constituição geral

No modelo que testamos, o rolo central é preso diretamente no chassi e os dois laterais presos nas asas que se recolhem para o transporte

Em todos os modelos, o equipamento sempre terá uma largura de transporte inferior a três metros, o que possibilita o deslocamento au-

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Especificações Largura de trabalho (m) Diâmetro do Rolo de facas (mm) Requerimento de potência (cv) Sistema hidráulico
Fotos Charles Echer
3 TC 2,90 300 80 – 150 3 pontos Cat. II/III 5 TC 4,60 130 – 200 3 pontos Cat. II/III 6 TC 5,70 150 – 220 3 pontos Cat. II/III 9 TC 8,90 190 – 290 3 pontos Cat. II/III 12 TC 12,20 270 – 350 VCRs 18 TC 18,20 320 – 450 VCRs
CARACTERÍSTICAS MODELOS CULTRO TC

tônomo, sem a necessidade de uso de caminhões especiais e dificuldades de acomodação na carroceria, como ocorre com os modelos de rolo de facas tradicionais. Alguns destes modelos do mercado exigem uso de guinchos e montagem no campo dos módulos, assim como enchimento e esvaziamento dos rolos, antes e depois do trabalho.

O equipamento que testamos, de nove metros de largura, tem uma estrutura central onde são presos, à frente o suporte do engate ao trator, atrás o suporte para os acessórios e na parte inferior o suporte para os rolos. Neste último suporte se prende uma estrutura em forma de V invertido, onde se acoplam os rolos, um à frente do outro, por isso a designação de rolo de facas em tandem. Na união entre o chassi e o suporte em V invertido o fabricante projetou e incorporou alguns mancais de amortecimento de borracha, de forma que a união não é rígida e pode absorver impactos em condições dinâmicas. É possível, usando regulagem de engate, dar mais pressão aos rolos da frente ou de trás. Na parte frontal do chassi há um local específico para a colocação de pesos, para a lastragem. No modelo que testamos havia dez pesos em cada lado.

Todos os seis modelos do Cultro TC são formados pela adição de rolos de mesmo tamanho, ou seja, três metros. Desta forma, o primeiro modelo tem apenas um rolo e o maior tem seis rolos, indo de uma largura de três até 18 metros. No modelo que testamos, o rolo central é preso diretamente no chassi e os dois laterais presos nas asas que se recolhem para o transporte.

Cada rolo tem um diâmetro de 300 mm, com seis facas presas ao rolo por quatro parafusos. As facas são colocadas na diagonal da borda do rolo, proporcionando maior pressão de corte a cada momento em que o peso incide sobre a lâmina ao entrar em contato com a palha. Para quem leu e acom-

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panhou o test drive que fizemos com o Joker RT, da Horsch, para a edição 236 de maio deste ano, o sistema de rolos de facas é igual nos dois equipamentos.

Para a articulação no transporte, foram colocados dois cilindros hidráulicos transversalmente, que, controlados pelas VCRs, fazem, no caso do Cultro 9 TC, com que as duas seções se fechem sobre a do meio, colocando-se na posição vertical, chegando esta largura de transporte a 2,98 metros.

Funcionamento e regulagens

Trabalhar nas condições ofereci-

das pela fazenda e com esse equipamento foi uma das melhores experiências nestes tantos anos de test drive para a Revista Cultivar Máquinas. Vimos o equipamento funcionando em uma condição muito adequada, com uma massa vegetal muito homogênea e pudemos fazer a variação de velocidades de deslocamento para visualizar o efeito.

Engatamos o equipamento a um trator da marca Case, modelo 340, que tem um motor de seis cilindros e 8.700 cm3 de volume deslocado, proporcionando potência nomi-

nal de 340 cv e torque máximo de 1.671 Nm a 1.400 rpm. O trator estava configurado com rodado duplo tanto no eixo dianteiro como no traseiro. A sua transmissão tipo full powershift de 18 marchas à frente e quatro à ré nos proporcionou realizar o teste com variação de velocidade de deslocamento desde os 12, 14, 16, 18, 20, 22 e 24 km/h.

Como este é um equipamento que melhor desempenho apresenta nas altas velocidades, fizemos um escalonamento, e a cada trajeto variamos 2 km/h para encontrar a melhor situação. A operação era de deitar e picar uma cobertura verde de aveia-preta com aproximada-

Todo o sistema do Cultro 12 TC é pré-tensionado hidraulicamente com até 100 bar e protegido hidraulicamente contra sobrecarga
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Fotos Charles Echer

mente 70 a 80 cm de altura.

Inicialmente, marcamos a linha base A-B e com o auxílio do piloto automático do trator, fizemos percursos longos de aproximadamente 800 metros, em um sistema de vai e vem, cada um com a variação crescente de velocidade operacional. Como resultado, avaliamos o tamanho e a porcentagem do picado. Vimos que a ação do rolo é de deitar a cultura e depois, pela ação das lâminas (facas), fazer o corte em um tamanho médio de 14 cm, que é geometricamente a distância entre as facas projetada no plano do solo. Verificamos que, à medida que a velocidade crescia, a qualidade do picado ia aumentando, até encontrar boas condições ao redor dos 20 km/h. A partir dessa velocidade, o desempenho se estabilizava e talvez a deci-

são do usuário deve ser de estabelecer um equilíbrio entre a vantagem de uma alta capacidade operacional (hectares/hora) e o consumo de combustível (litros/hectare), considerando, é claro, as condições de relevo da área.

Antes de iniciar o trabalho, o equipamento deve ter a sua parte central apoiada no solo, com os pistões as duas asas devem ser niveladas e o sistema hidráulico colocado em flutuação. Pequenas correções podem ser feitas a partir da visualização dos resultados. Vimos que, pela forma de trabalho do equipamento, o peso da estrutura e o lastro metálico adicional incidem sobre os rolos, estabelecendo a pressão de corte, no entanto o efeito velocidade é fundamental para melhorar a ação do equipamento.

Como regra geral, baseados na

avaliação que fizemos, concluímos que é muito importante deixar o equipamento em flutuação no sistema hidráulico, para que os rolos reproduzam o microrrelevo do terreno, copiando-o e, consequentemente, mantendo constantemente a pressão decorrente do peso do equipamento. Com isso, as câmaras de ar cheias de nitrogênio absorverão os picos de pressão, decorrentes dos movimentos bruscos, evitando os choques por pressurização hidráulica.

Durante os testes, o produtor nos informou que já havia utilizado esse equipamento sobre resteva do milho, e a impressão que havia ficado para ele e a equipe da fazenda é de que o Cultro TC é uma máquina simples e robusta, e que o fato de ela ter sido utilizada em outras regiões do Brasil sem problemas, dá confiança ao cliente.

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 27
O Cultro TC pode ser usado em culturas de cobertura em momentos diferentes

Local do teste

O local do nosso teste foi a Fazenda Suruvi, pertencente ao Grupo K2–Agro da Família Kossatz, tendo como patriarca o médico Celso Macedo Kossatz, pessoa muito conhecida na região. De descendência alemã, a família iniciou sua trajetória na agricultura quando o pai do senhor Celso decidiu adquirir terras na região como investimento.

Embora a sede administrativa do Grupo seja na cidade de Ponta Grossa, as áreas rurais utilizadas para produção se distribuem em 12 fazendas, com quatro módulos principais em Ponta Grossa, Tibagi, Ipiranga e recentemente no estado de Roraima. A nossa avaliação foi em uma das fazendas do município de Ipiranga, com aproximadamente 1.400 hectares. Os solos da região são predominantemente de textura média a argilosa. A família é uma referência no uso de tecnologia, utilizando intensamente os conceitos e recursos da agricultura de precisão, manejo localizado, compostagem, adubação orgânica, entre outros processos.

No verão se produzem soja (70%) e milho (30%) e na safrinha o feijão, após a cultura do milho, e o trigo, após a colheita milho. O plantio da soja, que é a principal cultura, é feito pós-trigo (40%)

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Durante o test drive, trabalhamos com variações de velocidades de operação entre 12 e 24 km/h Fotos Charles Echer

e pós-aveia (60%).

Para conhecer o trabalho realizado na fazenda e fazer os testes com a máquina, fomos recebidos pelo engenheiro agrônomo Cássio de Oliveira Kossatz. Formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, ele aproveitou para viajar e morar nos Estados Unidos e conhecer a agricultura norte-americana, trazendo novos conhecimentos. Atualmente exercendo a função de diretor de agricultura das fazendas do grupo, nos contou da complexidade que é realizar agricultura de alta produtividade com as dificuldades atuais. Por isso, ele se apoia em processos gerenciais, entre os quais a contratação de um consultor agronômico que lhe proporciona apoio nas decisões. Por ser jovem, nos contou que já pegou o plantio direto consolidado na região e aproveitou experiências de outros

produtores e dos órgãos de pesquisa e assistência técnica.

Nas áreas do grupo não se utiliza outro sistema que não seja o plantio direto, que, por convicção, sempre é feito com máquinas semeadoras com sulcadores de discos duplos, evitando os sulcadores fixos, como facões e hastes. Em alguns casos específicos se realiza a escarificação, quando necessário, principalmente para correções físicas localizadas. Mas para ele a operação com máquinas na condição adequada de umidade do solo é a melhor receita. No mais, um manejo com muita massa e vigorosa emissão de raízes é o mais importante para um sucesso da principal operação que é a semeadura.

Atualmente, a empresa está abrindo nova área de produção na região do Bonfim, em Roraima, próximo à Guiana, com distância de

As facas são arranjadas diagonalmente no rolo para garantir uma distribuição constante da força

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 29

pouco mais de 100 km da capital Boa Vista. Relataram-nos as dificuldades em enfrentar uma nova realidade, com adequação da área de plantio, dificuldades na drenagem e janelas de plantio muito curtas em função do regime de chuvas da região.

A família é cliente Horsch, tendo adquirido recentemente uma semeadora de precisão, modelo Maestro Kompass de 18 linhas. Na pro-

priedade, possuem um rolo de facas de outra marca e nos relataram as dificuldades com o modelo que utilizam, principalmente em operações de enchimento dos tambores com água e a problemática que é transportar e manobrar este equipamento.

Estiveram conosco durante todo os procedimentos de avaliação do Cultro TC alguns colaboradores da Horsch, entre os quais o senhor

Edir Nisczak, do marketing da Horsch, e Itamar Ferreira, que é consultor técnico de pós-venda da marca. Também esteve no campo, apoiando a avaliação, o senhor Roberto Simionato, que é gerente regional de vendas para os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, atuando principalmente junto ao concessionário regional, que é a empresa Bouwman Livestock & Agriculture e que possui lojas no estado do Paraná, em Castro e Guarapuava.

Pela fazenda tivemos apoio do coordenador Rodolfo Rodrigues Ferreira e de Luís Carlos de Almeida, que é um dos operadores de máquinas da empresa.

Impressões gerais

Ao final do teste, retiramos algumas conclusões sobre o trabalho do equipamento, nas condições em que pudemos testar. Segundo considerações do próprio cliente, o Cultro TC é uma máquina simples, porém muito útil para quem utiliza plantas de cobertura, e necessita picar os restos para a posterior entrada da máquina semeadora. É bastante positiva a avaliação, principal-

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Fotos Charles Echer O espectro varia desde limitar o crescimento das plantas por dobras e trituração com a incorporação superficial de plantas verdes até a fragmentação desejada da camada de cobertura morta após o inverno Teste realizado na Fazenda Suruvi, pertencente ao Grupo K2–Agro, da Família Kossatz O Cultro TC possui modelos que vão dos três metros aos 18 metros de largura

mente se formos considerar a experiência do produtor com rolos de facas convencionais, formados por pesados tambores com água.

De resto, pudemos concluir que a velocidade de deslocamento é fator primordial para o corte da vegetação. A forma de trabalho dos rolos e a disposição das lâminas, ao redor dele, induzem ao trabalho de alta velocidade, que acaba por favorecer o aumento da capacidade operacional, com muitos hectares realizados ao final da jornada de trabalho.

Também é importante conside-

rar que o rolo de facas em si é fundamental para o manejo da palhada, por exemplo da aveia e do milho, e para o estabelecimento da cobertura outonal, o que favorece altas produtividades, economia de combustível e conservação da camada superficial do solo contra a erosão.

O caráter inovador do equipamento, com a diminuição do peso e consequente facilidade de transporte e operação, deve ser ressaltado como uma inovação, em termos de implemento de manejo da palhada e apoio ao trabalho de semeadura.

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 31
José Fernando Schlosser, Laboratório de Agrotecnologia – Nema Universidade Federal de Santa Maria M

Transmissões híbridas

Em constante evolução, as transmissões de potência dos tratores se modernizam e, em breve, as teremos mais próximas do que se utiliza atualmente nos automóveis, integrando sistemas e tornando-se híbridas

Os mecanismos adotados para o controle das emissões poluentes nos veículos resultaram na incorporação de elementos elétricos, com a manutenção do motor térmico, o que significou o surgimento do conceito de veículos híbridos, aplicado primeiro ao motor e agora também à transmissão. Uma análise de ambos os con-

ceitos indica que é conveniente não os dissociar, porque eles estão ligados um ao outro. Mas ao estudá-los juntos, o problema da terminologia surge, quando há vários termos que compartilham um mesmo símbolo ou sigla. Separadamente, se entende, mas ao juntar o veículo, o motor e a transmissão, a sigla se repete e acaba ficando confuso. Como exemplo, podemos citar os termos

Power-Shift e Power-Split, ambos citados como PS ou H em HEV, o que significa Híbrido, embora em HSV seja Hidrostático.

Portanto, conforme a análise do conjunto veículo, motor e transmissão, foi elaborada uma proposta (Tabela 1), com as siglas usuais e as propostas, bem como os termos utilizados no conjunto.

Veículos híbridos

Geralmente são classificados de acordo com diferentes critérios (Figura 1):

• Pela arquitetura.

• Em série: não há propulsão das rodas pelo motor térmico.

• Em paralelo: há propulsão pelo motor térmico e pelo motor elétrico.

• Em série/paralelo: pode funcionar, seja em série ou em paralelo, e até mesmo não ser híbrido (elétrico ou térmico).

TRANSMISSÕES
Divulgação 32 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237

Híbrido com configuração complexa (power-split). Um sistema planetário distribui a potência entre os dois caminhos da configuração, em paralelo. Um exemplo característico é o automóvel Toyota Prius.

• Pela carga da bateria.

• Podem ser carregados externamente.

• Não podem ser carregados externamente.

• Pelo grau de hibridização.

• Baixo (micro) ou híbridos leves: o motor elétrico funciona na partida e em situações em que é necessário acelerar rapidamente, mas não impulsionando as rodas, por isso não é um veículo híbrido, mas um sistema auxiliar para melhorar o desempenho do motor térmico. A bateria do circuito do motor elétrico é de 48 volts.

• Médio (leve): o motor elétrico é usado somente para acelerar. Também não é um híbrido.

• Alto (completa ou forte): o motor elétrico pode impulsionar as rodas.

Veículos híbridos por fluxo de potência

A razão do surgimento do termo “híbrido” está na utilização de diferentes fontes de energia. Embora existam algumas tentativas de usar energia solar, em tra-

tores agrícolas eles estão ao nível de protótipo, e esquecendo o metabólico (humano e animal), a fonte de energia usada em veículos terrestres é a química. A partir daí, as diferenças são estabelecidas por três razões: o número de

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 33
Figura 1 - Conceitos tradicionais de arquiteturas de veículos híbridos Divulgação López Martínez, J.M., 2018

transformações que se produzem entre a fonte de energia e as rodas; o número de caminhos do fluxo de energia que existem entre ambos; e os dispositivos onde a energia é transformada.

Na Tabela 1, somente foi considerado híbrido o veículo que possui duas rotas para o fluxo de potência para as rodas (HyElVe), que geralmente é conhecido como híbrido em paralelo ou composto. Conside-

rar um veículo com uma única rota de potência como híbrido, obrigaria a colocar esse mesmo rótulo no veículo hidrostático (Figura 2) no qual acontecem três transformações de energia (química→ mecânica →hidráulica) que nunca foi chamado de híbrido. Outros critérios seriam o número e o tipo de elementos (geradores, bombas, motores) ou o sistema de reabastecimento (combustível, eletricidade) e o tipo de arquitetura. Atualmente, são consideradas cinco arquiteturas (Figura 3), dependendo da posição do motor elétrico.

Transmissões multimodos

Como um passo intermediário entre o veículo térmico convencional e sua transmissão - seja manual, automática, de dupla embreagem ou CVT - e as transmissões híbridas estão as transmissões multimodos, nas quais a existência de componentes controladores da mesma, como em-

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Figura 2 - Veículo hidrostático. 1) Motor térmico. 2) Bomba hidráulica. 3) Tubos de óleo sob pressão. 4) Roda motriz. 5) Motor hidráulico. 6) Sistema de regulação Fonte: Deere, 1972 Figura 3 - Arquitetura do sistema de transmissão do motor de um veículo híbrido Fonte: Yuang, J., 2019

breagens, freios ou outros dispositivos, permitem selecionar diferentes modos de trabalho. Um exemplo seria a transmissão Torotrak (Figura 4). Com a embreagem coroa-roda funcionando como um CVT ramificado, do tipo planetário somador, com variador mecânico toroidal. Com a embreagem planetária-rodas atuando como um CVT não ramificado.

As séries 8000 e 7R dos tratores John Deere, bem como a Claas C-Matic, entre outras, são transmissões multimodos.

Transmissões híbridas

No Simpósio Schaeffler, denominado “Mobility for tomorrow”, realizado em abril de 2018, na Alemanha, foi mostrada a evolução das transmissões nos últimos anos e a previsão até 2030, juntamente com a proporção de veículos térmicos (30%), híbridos (40%) e elétricos (30%). Passados quatro anos, a proporção é estimada em 20-40-40. O mais recente avanço das transmissões são as híbridas HyElT (EVT na Figura 5), com unidades elétricas. As transmissões híbridas são geralmente multimodos, enquanto que as multimodos podem ser híbridas ou não.

Pode-se considerar que uma das primeiras transmissões híbridas é a do Toyota Prius, HyElVe com transmissão multimodos híbrida elétrica MuHyT e uma transmissão mecânica muito pequena. Na mesma linha, o uso de elementos elétricos na transmissão leva a transmissões continuamente variáveis eletricamente, ElVT. Como as unidades elétricas também são usadas para impulsionar as rodas, o termo Transmissão Híbrida especializada (DHT) foi proposto para veículos que sempre transportam componentes térmicos e elétricos e pretendem integrar o motor e a transmissão em

uma única unidade física e funcional (Schaeffler Symposium, 2018). A transmissão é simplificada por

ter algumas funções executadas pela máquina elétrica, de modo que sem ela a transmissão não

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 35
Figura 4 - Transmissão Torotrak multimodos. Parte inferior esquerda: CVT ramificada; direita, CVT não ramificada Figura 5 - Evolução das transmissões e veículos no período 2017-2030 Fonte: Schaeffler, 2018 e 2020

Termo

Descrição

Motor de Combustão Interna

Máquina Elétrica Motor Elétrico

Motogerador

Veículo Hidrostático

Veículo Elétrico Híbrido

Transmissão hidrostática

Transmissão hidromecânica

Transmissão mecânica

Potência continuamente variável Transmissão continuamente variável

shift

Power split

Transmissão híbrida múltiplos modos Transmissão Variável Eletricamente

Transmissão Híbrida Dedicada

Unidade CVT

CVT Non split

CVT Split

CVT Split com Divisor

CVT Split com somador

CVT Split com Ponte

Unidade Variável

Unidade fixa

Trem de Engrenagens Planetárias

36 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237 Proposto B Br C Ce Cl CO D Di E O F Fu G Símbolo ou Sigla Ge H Hy I In M Ma Me Mo MU N P Pa PL Pu Q S Se SF SP Sua T TR U V Ve Vu Frequente B C C C C D E E F G G H H I I M M M P PS S S S T T U V V Descrição Baterias Ponte Continuamente Célula Embreagem Combustão Dedicado Divisor Motor Elétrica/Eletrônica Combustível Unidade fixa Gerador Marchas Hidráulico/Hidrostático Híbrido Interno Inversor Mecânica Máquina Metabólico Motor Múltiplos modos Não Power Paralelo Planetário Bomba Química Estático Séries Shift Split Somador Transmissão Trem Unidade Variável Veículo
variável Proposto ICoE ElVe ElMa ElMo MoG HSVe HyElVe HST HMT MT CVP CVT PSf PSp MuHyT ElVT DHyT CVTU CVTNSp CVTSp CVTSpDi CVTSpSu CVTSpBr VU FU PlGeTr Frequente ICE EV EM EM HSV HEV HST HMT MT CVP CVT PS PS DHT PGT
Unidade
Veículo Elétrico
Power
Tabela 1 - Terminologia no conjunto veículo-motor-transmissão

pode funcionar (Sabzewari, K. et al., 2021). Na Figura 6, são mostrados os elementos básicos da tecnologia de transmissão híbrida: um motor térmico (ICoE; ICE na figura), um motor elétrico para acionamento das rodas (ElMo, ED na figura) e um motor elétrico auxiliar para a partida/arranque (G; na figura SG ou Gerador de partida).

Os modos de trabalho da transmissão são mostrados na Figura 7. Utiliza-se a simbologia da figura. No modo elétrico puro (E-Drive), o motor térmico (ICE) e o auxiliar (SG) estão desacoplados. Em baixa velocidade e ré, apenas o motor elétrico EV (ICE-Drive +LPS) opera. Para garantir a tração, quando a bateria está descarregada, se ativa o modo híbrido em série (Serial Hybrid), com o motor térmico acionando o gerador do motor SG para gerar energia elétrica. O motor elétrico ED pode opcionalmente ser ativado para auxiliar o motor térmico, em caso de aumento de carga, para recarregar a bateria e para aumentar a carga do ponto de mudança (Load shifting point).

Perspectivas de transmissão híbrida

Como já foi dito, a hibridização de um veículo é um pacote projetado para abranger o motor e a transmissão, portanto seu desenvolvimento depende da tecnologia de propulsão. As baterias e seu custo são o cavalo de batalha para torná-las comercialmente viáveis, embora as disposições legais possam exigir que elas sejam consideradas sem discussão. Lembremo-nos o que a conformidade com os regulamentos de emissões em motores térmicos significou no custo do trator. Os fabricantes desenvolvem disposi-

tivos para atender aos padrões/ normas, mas às custas de tornar o produto muito caro. Em veículos como tratores, com séries de fabricação muito mais reduzidas que no setor automotivo, a incidência é maior.

No caso de transmissões híbridas, soluções mais econômicas

podem ser encontradas com unidades elétricas que não pretendem impulsionar o veículo, mas apenas controlar a transmissão e simplificá-la.

Linares,

M
Componentes do Kit Perdas, publicado pela Embrapa Figura 6 - Elementos de uma transmissão DHT. Dois motores elétricos (ED e SG na figura), a caixa DHT, corpos de direção da caixa (MPGA, multi propose gear actuator for dog clutch actuation) em uma caixa híbrida de arquitetura P1+P3 Fonte: Sabzewari, 2021 Figura 7 - Modos de trabalho da transmissão DHT da figura 6. Acima: esquerda, modo elétrico; centro: térmico; direita: híbrido em série. Abaixo: esquerda, recarga da bateria com frenagem; centro, elétrico e elétrico auxiliar; direita, ponto morto
Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 37
Fonte: Sabzewari, K. et al. 2021 Pilar Professor "Ad Honorem" Universidade Politécnica de Madrid

Mapa incompleto

Produtores de algodão e grãos ainda não usufruem plenamente dos mapas de colheita e da agricultura de precisão

Omapa de colheita é a prova de campo que possibilita visualizar e quantificar detalhadamente as variabilidades espacial e temporal da produtividade. A massa de algodão colhido por unidade de área (kg/ha) pode variar em cada ponto do talhão devido a um ou mais fatores, naturais

e/ou antrópicos. São exemplos de causas naturais a mineralogia e textura do solo, a declividade e o regime de chuvas. Dentre os fatores antrópicos estão a compactação, a irrigação, a fertilização e o pisoteio de plantas.

Diversos trabalhos científicos demonstraram que a série temporal dos mapas de colheita é uma infor-

mação imprescindível para um estudo de causa e efeito sobre a produtividade. As causas da variabilidade podem ser determinadas correlacionando a produtividade sítio-específica com mapas de outros dados georreferenciados como índices vegetativos, obtidos de imagens de satélite e/ou de drones, mapas de condutividade elétrica aparente e análises de textura e fertilidade do solo. Portanto, os mapas de produtividade são absolutamente necessários para planejar a gestão dos insumos da próxima safra. Inclusive no momento de checar os resultados obtidos, estimar a exportação dos nutrientes para as plantas e continuar otimizando o manejo no sentido da maximização da produtividade. Assim, conforme as condições peculiares de cada ano, aplica-se a quantidade necessária, espacialmente variada, da população de sementes de algodão, do regulador de crescimento e dos macro e micronutrientes.

Os monitores de colheita de algodão estão disponíveis nas co-

COLHEDORAS
38 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237
IH
Case

lhedoras desde 1997, mas fatores como a resistência à mudança da rotina de trabalho das equipes de colheita e alguns problemas operacionais impossibilitam a obtenção dos benefícios decorrentes da aplicação plena da agricultura de precisão. Experimentos “on farm” de curta duração já demonstraram que o ganho de produtividade pode ser de 13% para a produção do algodão.

Os produtores pagam pelos monitores de colheita embarcados nas colhedoras, mas, geralmente, não os utilizam adequadamente ou nem os utilizam. Então, não têm meios para avaliar detalhadamente o retorno do investimento em cada área.

Quanto às questões operacionais, algumas situações comuns podem dificultar uma avaliação mais precisa, como veremos a seguir.

Por exemplo, mapas de colheita, onde faltam muitos dados, contêm valores impossíveis ou medidas com baixa acurácia. Ocorre até em grandes fazendas que dispõem de frotas modernas de colhedoras e equipe técnica treinada. Falhas de leitura dos sensores e erros de ajuste de altura da plataforma colhedora ao final das manobras são possí-

veis causas.

Quando há muitas colhedoras trabalhando no mesmo talhão, até 12 colhedoras é comum observar. Esta situação pode gerar descontinuidades no mapa de colheita, devido às diferenças de calibração entre os monitores. Pode causar mascaramento da variabilidade da cultura ao somar com as variações inseridas pelos monitores. Alguns talhões têm geometria irregular, o que faz com que a largura de corte da colhedora não seja totalmente ocupada em algumas passadas, o

que é evidenciado pela queda brusca de produtividade nas bordaduras dos talhões. Aceleração ou desaceleração da colhedora, respectivamente, subestima ou superestima a produtividade.

Muitos produtores que compraram colhedoras usadas não podem ter os mapas de produtividade porque os respectivos softwares não foram transferidos. Esses programas contêm algoritmos proprietários, os quais são específicos para cada marca e modelo. Eles decodificam o arquivo binário lido do cartão

Cultivar Máquinas 237• revistacultivar.com.br • 39
Mapas de colheita são importantes para garantir as correções necessárias na safra seguinte John Deere Figura 1 - Mapas de colheita do mesmo talhão nas safras de 2019 (a) e 2021 (b) A B

Calibrações mal executadas também prejudicam a análise dos dados coletados de memória do monitor de colheita e o convertem para formato compatível com sistema de informações geográficas (SIG), arquivo tipo “shape”. Ou até mesmo para outro formato proprietário acessível apenas para o software de análise dos mapas que o fabricante da máquina fornece.

Para ilustrar os problemas operacionais, observamos o caso de um talhão de produção de algodão, com área de 208 ha. A Figura 1 mostra os mapas de colheita das safras de 2019 e 2021, respectivamente. Em 2019, os valores de produtividade instantânea foram normalizados em função da soma das pesagens de todos os fardos colhidos no talhão. Nesse ano, podemos notar a perda de leituras de várias linhas inteiras. Se esse mapa for ampliado, uma quantidade muito maior de falhas será facilmente visualizada. No mapa de 2021, onde a normalização não foi realizada, existem várias medidas de produtividade instantânea irreais ou muito baixas (menores que mil kg/ha) ou

muito altas (maiores que 6 t/ha), até ultrapassando 40 t/ha!

A Figura 2 mostra os respectivos histogramas daquelas duas colheitas. Na safra de 2019, a média é 5,6 t/ha e o desvio padrão de 0,7 t/ha. Na colheita de 2021, a média é 8,1 t/ha e o desvio padrão é igual a 2,2 t/ha, valores que exemplificam claramente a falta de calibração.

O monitor de colheita de algodão pode empregar sensor baseado em micro-ondas ou em luz visível. Enquanto o primeiro é instalado na face externa, o segundo fica na face interna do duto por onde flui o algodão, com o emissor e o sensor óptico em faces opostas do duto. Explicando de forma simplificada, a interferência nas micro-ondas ou a atenuação da luz, por unidade de tempo, é convertida para quilogramas por meio de fórmula de calibração específica para cada monitor de colheita.

Considerando que o monitor de colheita está sujeito às condições de campo como calor, poeira, umidade e vibração; conclui-se que são necessárias calibrações periódicas, além de

outras causas que serão apresentadas mais adiante. Além da parte eletrônica é importante checar a plataforma e os dutos quanto à presença de galhos e raízes que podem interferir no fluxo do algodão. O objetivo da calibração é maximizar a acurácia instantânea e mantê-la constante.

Três tipos de acurácia são definidos para os monitores de colheita de algodão: acurácia instantânea refere-se a cada ponto medido na grade do mapa de colheita; acurácia de carga refere-se à relação entre a medição do monitor e a pesagem de cada fardo ou cesto de algodão; acurácia de talhão refere-se à relação entre a medição do monitor e a somatória dos pesos dos fardos colhidos num talhão. A acurácia de talhão é a mais utilizada pelos consultores de venda porque é normalmente o maior valor dentre os três. Integradas ao longo da área do talhão inteiro, as acurácias instantâneas se compensam na média.

Antes de iniciar o processo de calibração do monitor de colheita, é necessário verificar se os sensores ópticos estão livres de sujeiras que podem obstruir a luz e se os chicotes de fios e conectores dos sensores estão em bom estado. Deve-se verificar se o sensor de altura da plataforma de corte (quando equipado) está em bom estado, inclusive fiação e conectores. Se ele não operar corretamente, não haverá medição em vários pontos. Além disso, é necessário observar a calibração da medida de distância percorrida. Deve ser igual àquela que está sendo registrada pelo monitor. Os monitores de colheita calculam a produtividade em função da área percorrida por unidade de tempo (ha/h) e da variação do fluxo de massa. Portanto, se a área registrada tiver 15% de erro, aproximadamente o mesmo erro se propagará para a medida de produtividade.

40 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237
Sebastião Araújo

Os fabricantes de monitores de colheita recomendam que a calibração deve ser feita sempre que as condições de campo variem (troca da variedade de algodão, uso ou não de irrigação, qualidade da desfoliação e alterações significativas entre talhões). Recomenda-se também checar os monitores de colheita, os receptores de GPS e as interfaces homem-máquina nas cabines, pelo menos duas semanas antes do início da colheita. É importante verificar se estão disponíveis atualizações para o receptor de GPS e para o monitor de colheita e assim garantir a melhor estabilidade de operação e acurácia do sistema durante toda a colheita. Nessa oportunidade deve-se se assegurar que os arquivos da safra anterior já foram exportados para um backup seguro antes de eventual atualização.

Para a calibração do monitor de colheita, pelo menos duas cargas de calibração devem ser utilizadas. Uma que preencha entre um quarto e metade e outra entre três quartos e a totalidade da capacidade do cesto ou fardo de algodão. A melhor acurácia de calibração é obtida com quatro a cinco cargas de calibração diferentes. A rotina de calibração deve ser iniciada no painel do monitor de colheita. Em seguida, cada carga obtida deve ser pesada e o respectivo peso digitado no painel. Dependendo do fabricante do monitor de co-

lheita, o programa solicitará a inserção do peso da carga após a colheita de cada uma ou pedirá a digitação da sequência completa de pesos ao final da colheita de todas as cargas programadas.

Durante o percurso, o operador deve se manter atento à tela do monitor para verificar a coerência das leituras de produtividade e regularmente checar se elas estão sendo gravadas e sempre lembrar de encerrar o processo (“job”) ao terminar cada talhão, com a finalidade de manter os registros separados. Ao final da colheita, é importante dedicar um tempo para transferir os arquivos e analisar os mapas de produtividade.

Incorporar as rotinas de checagem e calibração do monitor de colheita à primeira vista pode parecer perda de tempo e aumento de despesas operacionais, mas, na verdade, é um excelente investimento, em

vários aspectos. É necessário seguir todas as etapas recomendadas para que o produtor se beneficie da tecnologia pela qual já pagou em grande medida e tenha o retorno sobre seu investimento no mais curto espaço de tempo.

O problema de impossibilidade de acesso aos dados dos monitores de colheita ainda está para ser resolvido. É latente a necessidade de executar projeto tecnológico que, por meio de engenharia reversa, desenvolva um sistema universal de acesso aos mapas de produtividade. Independentemente da marca, modelo e ano de fabricação, leia os arquivos contidos nos cartões de memória e converta os dados de produtividade georreferenciada para o formato de arquivo “shape”, compatível com SIG.

Cultivar Máquinas 237• revistacultivar.com.br • 41
A B
Figura 2 - Histogramas das colheitas de 2019 (a) e 2021 (b), abscissa em kg/ha
M
João de Mendonça Naime, Embrapa Instrumentação Sergio Cobel

Manter o trator em condições ideais de funcionamento exige uma manutenção periódica bem realizada, seguindo todos os critérios estabelecidos pelo fabricante

Em condições perfeitas A

manutenção do trator agrícola é o conjunto de procedimentos que visa mantê-lo nas melhores condições de funcionamento e prolongando sua vida útil,

através de operações de lubrificações, regulagens, troca de partes e fluidos e proteção contra agentes que lhe são nocivos.

A manutenção, quando realizada no período e na forma cer-

tos, garante um melhor aproveitamento da máquina, resultando em operações com melhor rendimento e menor custo operacional.

A frequência de manutenção pode variar de acordo com o fabri-

TRATORES
42 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237

cante e o modelo do trator, portanto, o proprietário deve se basear sempre no manual do operador fornecido junto com a máquina como referência.

Normalmente, a manutenção pode ser do tipo preventiva ou corretiva. A preventiva é aquela em que ocorre em intervalos regulares, determinados pelo número de horas trabalhadas pelo equipamento, e é realizada antes de surgir o defeito ou avaria, visando prolongar a vida útil dos componentes.

A corretiva é a manutenção realizada com o intuito de reparar algum defeito ou avaria ocorrida pela falta de manutenção preventiva, algum acidente ou uso indevido do equipamento.

A realização da manutenção preventiva possibilita oferecer à máquina condição satisfatória de operação, ou seja, deixá-la sempre apta ao trabalho. Os cuidados da manutenção preventiva são agrupados em períodos estabelecidos pelo fabricante, podendo ser chamada por isso de periódica, e utiliza-se para seu controle, em tratores agrícolas, o horímetro, instrumento que registra o número de horas trabalhadas, de forma acumulada, em função da frequência de trabalho do motor.

Os intervalos de serviço recomendados no manual do proprietário são para condições normais de trabalho. Entretanto, se a máquina tiver necessidade de ser utilizada em condições adversas, a manutenção deve ser executada com mais frequência do que o estabelecido.

O controle das horas acumuladas pode ser feito através de cadernetas de campo, relatórios diários e mesmo um programa computacional específico ou aplicativo de celular.

Os principais cuidados da manutenção preventiva estão descritos a seguir. Ressalta-se aqui que os serviços descritos podem variar um pouco em relação a fabricantes e modelos de tratores.

Durante o período de amaciamento, o operador deve dar atenção para manutenções específicas, pois algumas peças e setores ainda estão se ajustando durante os primeiros serviços executados com o trator.

Manutenção no amaciamento

Após primeiras dez horas de funcionamento, o operador deve verificar o aperto dos parafusos das rodas, utilizando um torquímetro, recomendado no manual. Deve-se verificar o nível do óleo do cárter, após estacionar o trator em local plano e aguardar certo repouso depois de desligar o motor, além do nível do óleo da transmissão/sistema hidráulico, e em caso de trator 4x4, verificar o nível do óleo da tração dianteira. O nível do líquido de arrefecimento também deve ser verificado, conferindo se está entre os níveis mínimo e máximo. Em caso de ter trabalhado em condições muito molhadas, deve-se lubrificar os pinos graxeiros. A drenagem de água e sedimentos do tanque de combustível deve ser realizada também neste momento. O operador deve revisar ainda o estado de conservação da correia do alternador/ven-

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 37 Máquinas 43
Horímetro localizado no painel de instrumentos do trator Limpeza da válvula de descarga do filtro de ar do motor (esquerda) e troca dos elementos filtrantes (direita) Fotos Ricardo Ferreira Garcia

tilador e as condições e pressão de inflação dos pneus.

Ao atingir as primeiras 50 horas de funcionamento, o operador deve novamente revisar o aperto das rodas, a tensão da correia e as condições dos pneus. Além disso, é necessário apertar as braçadeiras das mangueiras da tomada de ar, do sistema de arrefecimento e das mangueiras hidráulicas. Deve-se também lubrificar o pino de articulação do eixo dianteiro e, em caso de trator 4x2, as ponteiras de direção. A inspeção do trator em busca de parafusos e porcas frouxas deve ser realizada, além da limpeza da válvula de descarga do filtro de ar do motor. Para finalizar, o operador deve verificar a carga e limpar os terminais da bateria.

Ao atingir as primeiras 100 ho-

ras de funcionamento, o trator precisa ter alguns elementos substituídos. Deve-se trocar o filtro e o óleo do motor, o filtro de óleo da transmissão/sistema hidráulico e o óleo dos redutores e do diferencial do eixo dianteiro. São necessárias a revisão do líquido de arrefecimento e a verificação de vazamentos deste sistema. Além disso, deve-se revisar o aperto das braçadeiras das mangueiras da tomada de ar, dos parafusos e porcas das rodas, parafusos do levante de três pontos e mangueiras hidráulicas.

Nas primeiras 750 horas de funcionamento, o proprietário deve providenciar, junto a um concessionário ou mecânico especialista, o ajuste de válvulas do motor e inspeção dos bicos injetores, caso não tenha essa experiência.

Manutenção diária

Após o amaciamento, devem ser realizados serviços de manutenção durante condições normais de uso. Esses períodos são determinados para, normalmente, serem feitos a cada dez horas, 50 horas, 250 horas, 500 horas, 750 horas e 1.500 horas.

A cada dez horas, ou diariamente, deve-se verificar o nível de óleo do motor, o líquido de arrefecimento, o óleo da transmissão/sistema hidráulico e o óleo da tração dianteira, este em caso de 4x4. Deve-se ainda revisar o estado de conservação da correia do alternador/ventilador e o estado de conservação e pressão de inflação dos pneus. A drenagem da água e sedimentos do tanque de combustível e do filtro de combustível, além da lubrifica-

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Verificação do nível do óleo da tração dianteira (esquerda), revisão do torque dos parafusos e porcas das rodas (centro) e revisão da pressão de inflação dos pneus (direita) Fotos Ricardo Ferreira Garcia Troca do filtro da transmissão e sistema hidráulico (esquerda) e do filtro de combustível (direita)

ção de pontos especiais com graxa, em caso de uso em condições muito úmidas e molhadas, também é procedimento diário.

Manutenção a cada 50 horas

A cada 50 horas de funcionamento, o operador deve revisar novamente os pneus, além de parafusos e porcas em geral. É necessário lubrificar com graxa o pino de articulação do eixo dianteiro, em caso de 4x4, e lubrificar as ponteiras da direção, em caso de 4x2. Deve-se ainda limpar a válvula de descarga do filtro de ar do motor, verificar a carga e limpar os terminais da bateria.

Manutenção a cada 250 horas

A cada 250 horas registradas no horímetro, devem ser trocados o filtro e o óleo do motor (ou uma vez ao ano – o que ocorrer primeiro), filtro de combustível (ou uma vez ao ano), filtro de óleo da transmissão/sistema hidráulico e os filtros de ar pelo menos uma vez ao ano (ou após três limpezas). O responsável pela manutenção deve lubrificar os pinos graxeiros dos engates de três pontos e o eixo da TDP. No sistema de filtro de ar, de-

ve-se eliminar o pó acumulado da válvula de descarga do filtro de ar e limpar o filtro de ar em caso de sinal da luz indicadora do painel. Neste momento, deve-se ainda revisar o sistema de segurança de partida e freio de estacionamento, as folgas do pedal de embreagem e vareta de acionamento da TDP. Para finalizar, deve-se verificar o nível do óleo da tração dianteira (em caso de 4x4).

Outras manutenções

A cada 500 horas de funcionamento, deve-se substituir o pré-filtro de combustível e lubrificar os rolamentos do eixo traseiro.

Na manutenção que se realiza a cada 750 horas de funcionamento, deve-se trocar o óleo do eixo dianteiro (em caso de 4x4). É necessário ainda verificar a rotação da lenta e alta do motor, limpar a mangueira de respiro do cárter e revisar o aperto das mangueiras e braçadeiras e o pino de articulação do eixo dianteiro. Para concluir as operações de 750 horas, o operador deve lubrificar os rolamentos das rodas dianteiras (em caso de 4x2), regular o sistema hidráulico e testar o líquido de arrefecimento e adicionar condicionador se necessário.

De acordo com as recomenda-

ções de manutenção preventiva, a cada 1.250 horas de uso deve-se trocar o filtro e óleo da transmissão/ sistema hidráulico e limpar a malha do filtro de óleo deste mesmo sistema. Em tratores com tração dianteira (4x4), é necessário também trocar o óleo da caixa intermediária.

A manutenção, a cada 1.500 horas de funcionamento, requer o teste dos bicos injetores, que devem ser substituídos com 3.750 horas, e revisão do tensor automático da correia do motor.

E finalmente, a cada dois anos, ou duas mil horas de funcionamento, o operador deve limpar o sistema de arrefecimento e substituir a válvula termostática. Além destes procedimentos, é necessário o ajuste das válvulas do motor e inspeção dos bicos injetores de combustível.

Vale lembrar que os procedimentos dos períodos de manutenções citados nas condições normais de uso devem ser repetidos a cada intervalo múltiplo. Por exemplo, se o horímetro do trator registrar 1.500 horas, deve-se realizar, além dos procedimentos das 1.500 horas, os procedimentos das 750 horas, 500 horas, 250 horas, 50 horas e dez horas.

Cultivar Máquinas 237 • revistacultivar.com.br • 45
New Holland
Drenagem do filtro de combustível (esquerda) e verificação do nível de óleo da transmissão e sistema hidráulico (direita)
M
Ricardo Ferreira Garcia, UENF

Novos novamente

A reforma de pneus agrícolas é uma prática comum que agrada grande parte dos produtores por ser uma opção mais econômica do que comprar pneus novos, preservando a durabilidade e a performance

Tratores, colhedoras, pulverizadores, pivôs de irrigação, reboques e carretas agrícolas estão entre as diversas máquinas e implementos que utilizam rodados pneumáticos como seus dispositivos de tração e transporte, e que, portanto, têm seu desempenho influenciado

pelas características desses rodados e de sua interação com o solo.

Após o uso intenso dos pneus dos tratores, chegando ao seu limite e, muitas das vezes, até ultrapassando o recomendado pelo fabricante, o uso mais nobre dos pneus dos tratores era virar cocho para tratar do gado, “placa” de uma fazenda ou si-

nalização de uma borracharia na beira da estrada.

Com o avanço das técnicas de recondicionamento de pneus, já comuns em pneus rodoviários, chegou a vez para os pneus de máquinas agrícolas. Essas tecnologias possibilitam aos agricultores uma significativa economia na substituição dos pneus de suas máquinas.

Pneus agrícolas de tração são aqueles que recebem potência a partir de um eixo para produzir força de tração suficiente para promover a propulsão do veículo e disponibilizar força para tracionar outras máquinas. Além de apresentar máxima eficiência em tração, precisam ter alta capacidade de suporte de cargas verticais, dirigibilidade, capacidade de amortecimento, boa resistência, durabilidade e baixa probabilidade de ocasionar compactação do solo.

Diferentemente dos pneus on-ro-

PNEUS 46 • revistacultivar.com.br • Cultivar Máquinas 237
Charles Echer

Remoldagem: também conhecida como “remold”, o pneu usado é reformado pela substituição da banda de rodagem, dos ombros e de seus flancos

ad, apropriados para uso em estradas pavimentadas, os pneus destinados às atividades agrícolas trabalham em condições adversas e de uso intenso, trafegando em terrenos de baixa sustentação (solos preparados), com irregularidades e presença de obstáculos, tais como pedras e tocos, condições que tendem a elevar o desgaste das bandas de rodagem e aumentar o custo com manutenção.

Fatores como a escolha inadequada do pneu em relação ao tipo de operação e às condições de solo, o uso de pressão de inflação incorreta e o desrespeito à capacidade de carga ocasionam desgaste excessivo e reduzem a vida útil do pneu, aumentando o custo com manutenções e trocas.

Os pneus agrícolas representam, portanto, uma parcela significativa dos custos de produção de uma empresa, tornando-se necessário adotar medidas no sentido de prolongar sua vida útil e reduzir o custo do produtor com a aquisição de novos pneus, além do custo ambiental decorrente do processo de fabricação e do descarte de pneus inservíveis.

Estima-se que pneus reformados tenham custo até 70% inferior ao de pneus novos, mantendo-se características de qualidade e durabilidade, podendo-se fazer três ou mais reformas, a depender das condições de uso do pneu. Essa economia faz com que boa parte dos produtores opte atualmente por realizar a reforma dos pneus de suas máquinas agrícolas, bem como de outros veículos.

Por outro lado, a Resolução Conama nº 416, de 30 de setembro de 2009, tornou obrigatória a coleta e destinação adequada de pneus inservíveis pelos fabricantes e importadores brasileiros, estabelecendo que para cada pneu

É importante realizar uma verificaçao detalhada da parte interna e externa do pneu e descartar a existência de possíveis contaminaçoes por derivados de petróleo

novo comercializado para o mercado de reposição, um pneu inservível deve receber a destinação ambientalmente adequada.

Do ponto de vista ambiental, os benefícios são maiores ainda. Ao se retirar os pneus, outrora descartados de forma inadequada e em ambientes inapropriados, dando a correta finalização aos mesmos, evita-se que ocorram poluição, proliferação de doenças e outros males à sociedade. Fortalecendo, assim, o elo na busca por mais sustentabilidade e saúde à população.

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Durante a raspagem podem aparecer defeitos nao detectados no exame inicial, como excesso de picotamento e deslocamento entre lonas

Esses fatores têm levado ao fortalecimento do mercado de reforma de pneus, desenvolvendo toda a cadeia produtiva, desde os fabricantes de pneus, produtores de insumos para reformas, chegando até o fortalecimento da rede de reformadores credenciados às suas marcas. Isso possibilita o acompanhamento do desempenho dos pneus reformados em campo, para garantir a performance, a durabilidade e a segurança deles.

Nesse sentido, o Inmetro aprovou, por meio da portaria nº 433, de 15 de outubro de 2021, o Regulamento Técnico da Qualidade e Requisitos de Avaliação da Conformidade para Reforma de Pneus, a fim de garantir o máximo de segurança ao pneu reformado, equiparando ao pneu novo, embora a reforma de pneus destinados exclusivamente a uso em máquinas agrícolas e industriais não seja obrigada a cumprir o disposto nesse re-

Para garantir uma boa reforma, o processo deve ser monitorado e realizado com cuidado

gulamento. Para garantir uma boa reforma, todo o processo deve ser monitorado, buscando não conformidades que possam surgir.

Por definição, o pneu reformado é aquele que, após uma série de procedimentos controlados, é composto por uma carcaça de pneu reutilizado como base para um novo revestimento de borracha externo, que permitirá seu uso novamente.

De forma geral, temos três tipos de reforma dos pneus: recapagem, recauchutagem e remoldagem.

Recapagem

Recapagem é o processo que substitui apenas a banda de rodagem, muito comum em caminhões e ônibus. Nesse processo, é retirada a banda de rodagem por meio de raspagem, seguida da envelopagem de nova banda. Isso ocorre de duas formas: por meio de aquecimento em uma autoclave a alta temperatura, a qual realiza a moldagem da banda de rodagem, e por meio da recapagem a frio, onde a carcaça do pneu é fundida a uma banda de rodagem previamente moldada.

Os pneus recapados mantêm as identificações originais, sendo adicionadas posteriormente as identificações do reformador.

Recauchutagem e remoldagem

Neste processo, podemos pen-

Para evitar contaminaçao e preservar as lonas internas, é necessário raspar a área demarcada, aplicar cimento vulcanizante na regiao a ser reparada e aguardar a correta secagem. A aplicaçao do reparo deve ser com os taloes em posiçao original

sar em uma ampliação no material de substituição da recapagem, não só da banda de rodagem, mas também de seus ombros, o que confere maior segurança quando submetido à aplicação de esforços laterais no pneu.

Essa técnica tem o objetivo de dar ao pneu características semelhantes às dos pneus novos, promovendo maior estabilidade e aderência do pneu, e melhor desempenho em tração. Esse tipo de reforma é realizado por empresas específicas, portando autorização do Inmetro, para que se possa desenvolver tal serviço, garantindo assim a qualidade das matérias-primas e da mão de obra.

Remoldagem ou “remold”, como também é conhecido, o pneu usado é reformado pela substituição da banda de rodagem, dos ombros e de seus flancos.

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Processos da reforma do pneu

Para entendermos um pouco mais da reforma de pneus agrícolas, teremos por base os protocolos de reforma da Vipal, que estabelecem cuidados com o pneu, do seu recebimento ao final da reforma.

Ao receber o pneu, ele é higienizado e em seguida é submetido a uma inspeção detalhada, tanto na parte interna quanto na parte externa, buscando-se encontrar a existência de contaminações por derivados de petróleo, como também alguma ruptura na carcaça que inviabilize a reforma.

Sendo aprovado em todos os quesitos, inicia-se a raspagem para remoção da banda de rodagem, adequando a superfície para inserção da nova banda. Caso seja verificado algum defeito não aparente na etapa de classificação, por exemplo, elevado nível de picotamento, desprendimento das lonas, entre outros, o pneu será recusado para reforma.

Na etapa de escareação, o objetivo é encontrar e preparar as avarias que danificaram o pneu, para o posterior reparo. Deve-se ter o cuidado de remover apenas o que se encontra solto ou oxidado, de forma a garantir uma superfície adequada para adesão da borracha com borracha.

A aplicação de reparos é a próxima etapa. O objetivo dessa etapa é realizar os reparos pontuais com aplicações de manchão nos pontos já preparados pela escareação, de forma que se garanta a resistência original do pneu.

Na etapa de aplicação de cola, o pneu é submetido a uma nova avaliação, verificando-se se as etapas anteriores foram devidamente executadas. Após a aprovação, a banda de rodagem é novamente higienizada e em seguida aplicada a cola em toda a superfície, garantindo que não ocorra nenhuma contaminação, por menor que seja.

Para garantir o perfeito nivelamento da superfície do pneu, prin-

cipalmente nos pontos em que foram necessárias as aplicações de reparos e as escareações, são realizados os enchimentos nesses pontos. Em seguida, ocorre a adição de lonas sobrepostas, com o máximo de cuidado para que não ocorra ar ocluso (bolhas).

Uma etapa importante é a adição da nova banda de rodagem (camelback). Para cada tipo de pneu, deve-se verificar o tipo de manta de borracha (camelback) adequado, que será adicionada de forma justa ao pneu, comprimida por roletes pneumáticos, eliminando o ar nas interfaces. Em seguida, são dados o acabamento e a identificação da executora da reforma.

A etapa a seguir é a moldagem do pneu, ou seja, momento em que o pneu ganhará forma, onde serão inseridas as garras, que também são conhecidas como tacos. As garras são previamente preparadas, respeitando-se as dimensões e os desenhos, tendo-se o cuidado de co-

Com a roletadeira inflada a uma pressao de 15 a 20 psi, o pneu deve ser posicionado centralizado em todos os planos e as escareaçoes preenchidas com perfil de ligaçao, deixando um excedente máximo de 1 a 2 mm acima do nível do pneu

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Durante a aplicaçao da cola, é preciso limpar bem o pneu com uma escova macia e eliminar possíveis acúmulos com um pincel

locá-las conforme a disposição original. As garras são unidas ao pneu utilizando-se um adesivo específico chamado de antiquebra, que irá proporcionar a aderência necessária para os esforços que o pneu será submetido e, em seguida, é feita a vulcanização.

A vulcanização consiste em promover a união adequada da banda de rodagem do pneu e demais constituintes, na carcaça do pneu. Para esse processo, utiliza-se de máquinas específicas, portando

Os tacos, previamente preparados, devem ser aplicados respeitando o posicionamento das garras originais

moldes exclusivos para cada pneu, sendo necessários cálculos para que encontre a relação adequada de pressão, temperatura e tempo, que propiciarão e potencializarão a união dos materiais envolvidos, garantindo propriedades físicas necessárias para que se obtenham qualidade e segurança do pneu.

Para garantir o máximo de qualidade e segurança do pneu reformado, ele é submetido a uma nova análise interna e externa, buscando encontrar alguma falha ocorrida no processo de vulcanização. Caso seja encontrada alguma falha que possa ser reprocessada, o pneu retor-

Pneus reformados tem custo até 70% inferior ao de pneus novos, mantendo as mesmas características de qualidade e durabilidade

na para correção. Caso não seja possível, o pneu será identificado como não conforme e descartado, para o cliente será emitido um laudo técnico, declarando a inviabilidade apresentada.

Ou seja, o pneu reformado que será entregue terá de ser aprovado em todas as avaliações sem ressalvas, garantindo a segurança e a qualidade para o agricultor.

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Daniel Mariano Leite, Jardênia Rodrigues Feitosa, Univasf Ao final do processo, é preciso verificar possíveis deslocamentos, falhas na vulcanizaçao e no acabamento, eliminar rebarbas e realizar a pintura
Fotos Vipal M
Para uma correta e perfeita junçao da emenda do camelback, o seu comprimento deve ter de 10 mm a 15 mm a mais do que o perímetro do pneu

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