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CH_ Então a revista teve força em meio ao processo de redemocratização?

EC_ Era 1984, e havia um movimento pelas diretas crescendo, pela redemocratização. A Ciência Hoje estava na linha de frente dos manifestos pró-democratização. A revista estava bastante engajada, era objeto de atenção e de militância. E tinha a marca da SBPC, que, naquela época, graças a nossa interferência (e a Ciência Hoje contribuiu muito para isso), foi levada a participar desse movimento pela redemocratização. Está escrito nas páginas da revista, basta ver os números de 1983 e 1984, que são bastante engajados no processo que estava ocorrendo. Nós queríamos que a ciência tivesse um espaço no novo governo. E de fato se criou o Ministério de Ciência e Tecnologia. Não quero dizer que foi o resultado da nossa pressão AS DUAS REVISTAS – CIÊNCIA HOJE ou da Ciência Hoje, mas a nossa gota de colaboração foi dada e articuE CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS – NO lada, e com detalhes que queríamos colocar no programa de governo – ÂMBITO GLOBAL DA EDUCAÇÃO SÃO apesar do José Sarney, já que nossas negociações tinham sido com o APENAS INSTRUMENTOS. É PRECISO Tancredo Neves (1910-1985). Também é relevante a participação da SBPC FAZER UMA SÉRIE DE COISAS NA EDUCAÇÃO QUE NÃO PASSAM PELAS e da Ciência Hoje na Constituinte de 1988. Capítulos inteiros da ConstituiREVISTAS ção vieram da Ciência Hoje, eu tive oportunidade de escrever sobre isso recentemente. São trechos inteiros. Meio ambiente escrito pelo Angelo Roberto Lent Machado (médico e entomologista, 1934-2020, editor da sucursal de Minas Gerais); capítulo sobre índios, a violência, o papel da mulher... Tudo aquilo estava nas páginas da Ciência Hoje e foi quase que transcrito para Constituição. Tudo foi preparado regionalmente, com aportes de Pernambuco, do Pará, no Rio Grande do Sul, de Minas Gerais... O capítulo da C&T na Constituição e a permissão para criação de fundações de amparo à pesquisa foram bandeiras levantadas pela Ciência Hoje. CH_ Podem falar sobre a criação da Ciência Hoje das Crianças? Havia quem achasse que cientistas escrevendo para crianças não daria certo?

EC_ Há várias versões. A oficial é de que a revista foi criada e não se deu muita atenção aos que não queriam. A versão alternativa é que Gian Calvi (ilustrador, 1938-2016) e eu éramos leitores, quando pequenos, do Corriere dei Piccoli, um um tabloide que formou os pequenos na Itália. Então pensamos em fazer um Corriere dei Piccoli, e ter um bem-sucedido ilustrador infantil era chave. Alguns artigos eram uma adaptação dos textos escritos para a Ciência Hoje. E deu certo. APG_ Uma pessoa do nosso círculo, gente do bem, do nosso meio, quando viu essa proposta do Ennio, deu uma gargalhada, tão fora isso parecia do nosso mundo. Eu, pessoalmente, acho que a criação da Ciência Hoje das Crianças foi o momento mais importante da história da Ciência Hoje, depois da fundação da CH. Mas muitas pessoas sérias voltadas à divulgação acharam a ideia absurda. Fato é que a CHC ampliou muito o alcance das nossas publicações, nos deu material para ser usado diretamente no ensino e, acima de tudo, estimulou desde cedo o interesse por ciências em crianças em todo o Brasil. EC_ Hoje de manhã, nesta mesma sala que estou no MUSA (Museu da Amazônia, em Manaus), uma arqueóloga, colaboradora de bastante tempo, me confessou que cresceu lendo Ciência Hoje das Crianças. Ela ficou eufórica quando eu disse que tinha participado da criação da revista. É muito bonito saber que isso tem acontecido de fato, com testemunhos de pessoas que foram influenciadas. Isso funcionou. Para além disso, a Ciência Hoje das Crianças se tornou mensal em um momento em que a Ciência Hoje estava para falir. Ela foi uma invenção para criar um produto que o Ministério da Educação poderia comprar em número muito grande e, de fato, comprava um milhão de cópias para todas as escolas por ano. Com isso, tivemos um superávit suficiente para salvar o projeto Ciência Hoje e transitar por aquela época muito difícil da política financeira do país, num cenário de hiperinflação.

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