E qual o papel dos espaços de ciência?
Museus e centros de ciência têm uma posição privilegiada para transformar a relação ci ência-sociedade. No mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas frequentam esses espaços a cada ano. No Brasil, temos cerca de 270 instituições desse tipo distribuídas por todas as regiões. A concentração geográfica, no entanto, ainda é uma questão: esses espaços são mais presentes nas cidades mais ricas e, dentro destas, nas áreas de alta renda ou turísticas. Mesmo quando estão fora dos bairros de elite, ainda há uma disparidade grande entre o público visitante e o perfil da população brasileira. E isso não é apenas uma percepção, muitas pesquisas apontam essa desigualdade.
Investigação no MAST
O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), localizado na cidade do Rio de Janeiro, foi pioneiro na realização de investigações sobre o tema da inclusão social em museus de ciências. Os estudos, realizados entre 2006 e 2014, partiram do conceito de que a experi ência e o empoderamento são capazes de promover laços de pertencimento, identidade, além de uma relação afetiva e estética com o conhecimento científico. Em uma das pesquisas, foram convidados adultos e famílias advindas das camadas mais pobres para uma visita com mediação da equipe do museu, seguida do preenchimento de um questionário. Na ocasião, foi oferecido transporte e lanche aos participantes. Os resul tados revelaram boa avaliação da visita e foi constatada uma grande percepção de ganho em relação aos chamados aspectos cognitivos do empoderamento, que indicam uma per cepção de ganho de aprendizagem relacionada à visita. Mas, em relação aos aspectos sociais do empoderamento e a conexão com a vida cotidia na, a percepção de ganho foi bem menor. Propõe-se que o empoderamento desses visitantes está relacionado ao vínculo entre o que foi observado e seu cotidiano ou o aproveitamento daquela visita para a melhoria das condições de vida das pessoas. Além disso, a visita repre sentou a inauguração de um tipo de experiência para muitos que nunca tinham visitado um museu, o que teria valor por si. A visita, no entanto, não se repetiu de forma espontânea, conforme apontado em entrevistas realizadas mais de um ano após as visitas estimuladas. Portanto, não foi modificado um hábito social e cultural. 50 | CH 389 | JULHO 2022
CRÉDITO: FOTO MARIA BUZANOVSKY/FIOCRUZ