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Por negócios com valores

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ESTUDO

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MANIFESTO PLATAFORMA LIDERANÇA SUSTENTÁVEL

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Por negócios com valores

APlataforma Liderança Sustentável inaugura um novo ciclo e assume como bandeira uma mensagem que, desde sempre, fez parte de sua missão: a dos Negócios com Valores. Valores geram valor econômico – eis uma ideia-força cujo tempo definitivamente chegou. E chegou para ficar.

Não só como resposta às evidências recentes de que ausência de valores destrói o valor econômico de empresas e países, deixando um rastro de incredulidade, desconfiança e indignação. Mas pela expansão da consciência, ainda que lenta, de uma nova e bem-vinda noção de sucesso empresarial.

O lucro mais admirado – não tenhamos dúvida – será aquele que vier em benefício, não em prejuízo, de pessoas e do meio ambiente. E quem insistir nos velhos modelos de pensar e fazer negócios arriscará o seu futuro.

Colaboradores, fornecedores, investidores, consumidores e sociedade querem empresas melhores. Empresas melhores são as mais sustentáveis. São as que agem com ética, transparência, integridade e responsabilidade, ponderando as suas decisões a partir de um equilíbrio das dimensões econômica, social e ambiental.

São as que respeitam as pessoas e os seus direitos. São as que valorizam a diversidade e os diferentes jeitos de ser, pensar e viver.

São as que compreendem os seus principais impactos socioambientais e atuam fi rmemente para reduzi-los, eliminá-los ou compensá-los. São as que geram valor para todos os públicos de interesse. São as que se comprometem com a agenda 2030 e os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Empresas melhores são, enfi m, aquelas que agem movidas por valores. Valores éticos e humanos elevados.

Empresas mais sustentáveis só são possíveis com líderes capazes de entregar resultados e valores.

Líderes com coragem, paixão, resiliência e coerência entre discurso e prática. Com altruísmo, visão sistêmica e noção de interdependência. Que transformam riscos em oportunidades para as pessoas e a sociedade, por meio de inovação em processos e produtos.

Que educam outros líderes e criam cultura de sustentabilidade. Líderes sustentáveis são cada vez mais necessários. Líderes sustentáveis, somos cada vez mais imprescindíveis.

MAIKE MOHR

Gestora de Sustentabilidade da Unimed do Brasil

Se inserir sustentabilidade na agenda de uma em-

presa já representa um trabalho bastante complexo, fazê-lo em mais de 300 cooperativas envolve um desafi o difícil até de se imaginar. Mas Maike Mohr o enfrentou e participou de um processo que levou a Unimed Brasil a se tornar referência no tema, desenvolvendo um conjunto de indicadores socioambientais para avaliar as unidades e alinhá-las em torno do Triple Bottom Line1 .

01Centenas de cooperativas, um só princípio

Falar em Sustentabilidade na gestão do Sistema Unimed é sempre um desafio, a começar pela grandiosidade dos números envolvidos e pelo modelo de negócio. Formamos hoje o maior Sistema de Cooperativas de Serviços Médicos do mundo: um total de 348 cooperativas, representando 31% das operadoras de plano de saúde do Brasil e 38% dos beneficiários de todo o país. Somos responsáveis, em outras palavras, por mais de 18 milhões de clientes, 114 mil cooperados e pela geração de 94 mil empregos diretos.1

Em 2017, completo 28 anos de Sistema Unimed. Iniciei minha carreira na Unimed de Blumenau, uma cooperativa denominada Singular, isto é, prestadora direta de atendimento. As unidades desse segmento são ligadas a uma Federação, que, por sua vez, responde à Confederação Nacional – a Unimed do Brasil.

A cooperação é a convicção plena de que ninguém pode chegar à meta se não chegarem todos.

1. Conhecido como “Tripé da Sustentabilidade”, o conceito criado pelo consultor John Elkington, fundador da Volans, corresponde aos resultados de uma organização medidos em termos sociais, ambientais e econômicos.

Virginia Burden

Na área de Responsabilidade Social, a base da minha formação foram os sete princípios do cooperativismo: 1) Adesão voluntária e livre; 2) Gestão democrática; 3) Participação econômica dos membros; 4) Autonomia e independência; 5) Educação, formação e informação; 6) Intercooperação e 7) Interesse pela comunidade. Embora, à época, muito se questionasse a respeito das iniciativas sociais nas empresas, sempre tive a certeza da diferença entre assistencialismo e sustentabilidade, conceito que se tornaria, uma vez inserido na gestão corporativa, um caminho sem volta para a sobrevivência das organizações.

Cada um dos princípios está diretamente ligado à sustentabilidade, mas o sétimo tornou-se o grande impulsionador do tema nas Unimeds. Em 2001, a Unimed do Brasil elaborou a primeira Política Nacional de Responsabilidade Social do Sistema, movimento que ganhou força ao longo dos anos e se converteu em mais de 1,5 mil práticas, projetos e programas relacionados a questões socioambientais. Além disso, instituiu-se o Comitê Nacional de Responsabilidade Social e a realização de encontros anuais entre profissionais da área.

No ano seguinte, a Unimed do Brasil passou a integrar o Grupo de Trabalho organizado pelo Instituto Ethos que discutia a NBR 160012, de Responsabilidade Social, e dois anos depois o mesmo grupo já debatia a elaboração da ISO 260003. Mas 2003 marcou efetivamente o movimento da gestão para a sustentabilidade na organização. O primeiro passo consistiu em analisar as ações de cada unidade relacionadas ao tema e, inspirados no Modelo de Indicadores do Instituto Ethos4, criamos o Selo Unimed de Responsabilidade Social, processo de certificação composto por critérios que consideravam também os Princípios Cooperativistas. A iniciativa resultou em um autodiagnóstico para as Unimeds e, principalmente, permitiu à Confederação estabelecer programas e diretrizes nacionais.

Naquele mesmo ano, participei do processo seletivo interno para assumir a coordenação da área de Reponsabilidade Social. Os indicadores do Selo Unimed permitiram meu aprofundamento em questões que ainda eram pouco discutidas internamente, e essa dedicação, somada ao apoio da diretoria e ao engajamento de toda cooperativa, nos levaram a ocupar sempre as primeiras posições no selo nacional, me encorajando a propor aos diretores da Unimed Blumenau a busca pela certificação ABNT NBR 16.001:2004. Desafio aceito. E em 2007, já nos tornávamos a primeira cooperativa certificada e a segunda empresa em todo o Brasil.

2. A NBR 16001 foi concebida com base nas três dimensões da sustentabilidade – econômica, social e ambiental –, estabelecendo os requisitos para a implementação de um Sistema de Gestão de Responsabilidade Social (SGRS) passível de integração com outros sistemas. Um SGRS eficaz permite promover a cidadania, o desenvolvimento sustentável e a transparência das atividades da organização. 3. Norma de Responsabilidade Social que fornece orientações para quaisquer organizações, independente de seu porte ou localização, sobre: conceitos, termos e definições referentes à responsabilidade social; histórico, tendências e características da responsabilidade social; temas centrais e as questões referentes à responsabilidade social; identificação e engajamento de partes interessadas; comunicação de compromissos e desempenho. 4. Indicadores Ethos são uma ferramenta de gestão que visa apoiar as empresas na incorporação da sustentabilidade e da responsabilidade social empresarial (RSE) em suas estratégias de negócio, de modo que este venha a ser sustentável e responsável. A ferramenta é composta por um questionário que permite o autodiagnóstico da gestão da empresa e um sistema de preenchimento on-line que possibilita a obtenção de relatórios, por meio dos quais é possível fazer o planejamento e a organização de metas para o avanço da gestão na temática da RSE/Sustentabilidade.

Considero esse processo um marco na minha trajetória profissional. Passamos a, de fato, incorporar a sustentabilidade na gestão e, aos poucos, observávamos o quanto conseguíamos reduzir riscos e ter a consciência dos impactos positivos ou negativos que as empresas podem causar. Assim, meus esforços renderam, em 2010, um convite para coordenar a área de Responsabilidade Social da Unimed do Brasil. E o desafio cresceu: fazer com que as Unimeds pudessem elevar os estágios alcançados pela certificação do grupo.

Como uma das primeiras inciativas, revisamos o processo de certificação e formamos um grupo de avaliadores com profissionais de mercado; dessa forma, além de possibilitar uma análise mais crítica, asseguramos uma maior imparcialidade, eximindo influências de políticas internas no resultado. Outra ação importante foi direcionar a equipe da área a auxiliar as Unimeds na elaboração de planos de ação de melhoria frente ao resultado alcançado. O êxito do nosso empenho se comprova nos números: em 2003, 86% das Unimeds se encontravam nas fases iniciais (1 e 2) dos indicadores; hoje, 60% delas estão nos estágios mais avançados, indicando a internalização da sustentabilidade na gestão. O Selo passa por revisões constantes e customizações, como em 2015, quando realizamos a primeira edição do Selo para Hospitais Unimed.

Com a evolução dos indicadores e dos nossos processos, renomeamos a área de Responsabilidade Social, em 2014, para Gerência de Sustentabilidade, assumindo-se, assim, Ao incorporar, de fato, a sustentabilidade na gestão, passamos aos poucos a observar o quanto conseguíamos reduzir riscos e também a ter consciência dos impactos positivos ou negativos que as empresas podem causar.

um novo posicionamento na organização: o tema passou a fazer parte da estratégia e a envolver todos os níveis. Com a mudança, novos programas passaram a ganhar força, como Projeto CO2 Neutro5 e a revisão da Política Nacional de Sustentabilidade, hoje pautada em três grandes pilares: Saúde Social, em que trabalhamos o Desenvolvimento Humano, Saúde, Comunidade, Cultura e Suprimento Local e Responsável; Saúde Econômica, concentrado em Compras Sustentáveis, Estímulo ao Cooperativismo, Excelência e Inovação, Ética e Transparência na Gestão Econômico-Financeira; e Saúde Ambiental, ligado a Resíduos, Consumo Consciente e Emissões de Gases de Efeito Estufa.

5. O projeto teve início com a proposta de ser uma calculadora de emissões de CO2 e evoluiu para o desenvolvimento de um software para obter o inventário das emissões de GEE completo, de acordo com as normas ISO 14.064, IPCC 2006 e do GHG Protocol, que padronizam a medição e realização de inventários de emissões de GEE, colaborando para confiabilidade dos dados.

Com essas mudanças, o Sistema Unimed passou a ser também influenciador das discussões relacionadas à sustentabilidade internacionalmente e integrou, em 2015, o Comitê Consultivo da ACI (Aliança Cooperativista Internacional), cujo objetivo era discutir indicadores socioambientais para as cooperativas e a importância deles para o alcance dos ODS6 (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável). Em março de 2017, a propósito, a reunião do conselho da ACI foi sediada pela Unimed do Brasil, e as atividades se iniciaram com um seminário sobre a importância das cooperativas para o alcance dos ODS.

O profissional de sustentabilidade deve saber falar sobre o conceito das mais diferentes formas, de acordo com cada público de interesse, o que exige conhecer a fundo os mais variados processos da empresa.

CUMPRIR LEGISLAÇÕES OU DESENVOLVER INOVAÇÕES

Sempre me incomodou a habitual distorção do significado de sustentabilidade. Os ruídos de comunicação em torno do conceito, muitas vezes, levaram-me a situações em que eu precisei me adaptar e utilizar uma estratégia recorrente de falar sobre o mesmo tema de formas diferentes, de acordo com os públicos interlocutores. Hoje recomendo aos profissionais da área esse cuidado, que implica a necessidade de conhecer os mais diversos processos da empresa, pois somente assim ele poderá contribuir para a incorporação da sustentabilidade de maneira transversal ao negócio.

Em minhas visitas às Singulares e Federações Unimed, costumo questionar os profissionais de Sustentabilidade sobre o índice de sinistralidade – equilíbrio entre receita e despesa das operadoras de planos de saúde. Se ele não souber responder, identifico imediatamente um problema, pois como podemos propor inovações – sejam elas sociais, ambientais ou de gestão – sem saber se teremos recursos financeiros para sua viabilização? Os profissionais precisam estar atentos à estratégia do negócio e, assim, avaliar todos os impactos positivos e negativos de sua operação. Caso contrário, alguns indicadores só apresentam melhores resultados quando se implantam novas normas do setor, como a Resolução Normativa nº 277, que instituiu o

6. Acordo firmado em 2015, na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que contempla 17 Objetivos e 169 metas, envolvendo temáticas diversificadas, como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança e meios de implementação. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos 15 anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Programa de Acreditação de Operadoras de Planos de Saúde7. Muitos requisitos da norma contemplam questões de sustentabilidade que, se nós, os profissionais da área, não soubermos traduzir para todos os colaboradores, gestores e diretores, correremos o risco de sempre cumprir legislações em vez de desenvolver inovações.

Embora a cada quatro anos tenhamos um processo eleitoral que elege parte ou a totalidade de novos diretores, percebo como a sustentabilidade já entrou efetivamente não só no discurso dos que ingressam, mas na estratégia da Unimed como um todo. Acredito que esse cenário seja fruto do constante e profícuo trabalho desenvolvido nas Singulares. Incluir a temática da sustentabilidade nas mais distintas formações de cooperados e colaboradores tem sido um plano bem-sucedido.

SUSTENTABILIDADE, O GRANDE DESAFIO DO SETOR DE SAÚDE

O setor da saúde por si só apresenta vários desafios, mas os elevados custos – em especial, os que envolvem medicamentos e materiais como órteses e próteses –, sem dúvida, representam uma grande preocupação para Precisa-se rever o modelo assistencial do setor da saúde, hoje pautado no tratamento de doenças, não na promoção da saúde, realizando, por exemplo, um acompanhamento do beneficiário por uma equipe multidisciplinar com abordagem holística.

o equilíbrio econômico-financeiro. Quanto à dimensão social, precisa-se rever o modelo assistencial, hoje pautado na doença, não na saúde; nosso papel consiste, portanto, em fortalecer a Atenção Integral à Saúde, que prevê o acompanhamento do beneficiário por uma equipe multidisciplinar com uma abordagem holística.

Além dessa mudança, precisamos intensificar, junto à Agência Nacional de Saúde8, a regulamentação de planos acessíveis, cada vez mais necessários a um país em profunda crise econômica e política. O que proponho visa gerar valor compartilhado, pois quanto mais trabalharmos com foco na prevenção, mais reduziremos os impactos sociais, econômicos e ambientais.

7. Programa que visa certificar a qualidade assistencial das operadoras de planos de saúde, de acordo com avaliação feita por entidades de acreditação homologadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e, a partir de 03/05/2013, obrigatoriamente habilitadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). A análise das empresas leva em conta diversos pontos para conceder a certidão, como a administração, a estrutura e a operação dos serviços de saúde oferecidos, o desempenho da rede de profissionais e de estabelecimentos de saúde conveniados e o nível de satisfação dos beneficiários. A certidão de acreditação pode ser conferida em 3 níveis: Nível I (operadoras de planos de saúde avaliadas entre 90 e 100 pontos); Nível II (entre 80 e 89 pontos) e Nível III (entre 70 e 79 pontos). 8. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é a agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde responsável pelo setor de planos de saúde no Brasil.

Quanto mais trabalharmos com foco na prevenção, e não no tratamento de problemas de saúde, mais reduziremos os impactos sociais, econômicos e ambientais de nossas atividades.

Ainda falando em mudanças, existe um forte trabalho para implantação do Registro Eletrônico de Saúde9 , que, além de evitar a solicitação de exames repetidos, se tornará uma excelente ferramenta de gestão, capaz de contribuir na precisão de um atendimento, pois a base de dados do paciente possibilitará saber fatores de saúde fundamentais – especialmente nos atendimentos emergenciais.

O Sistema Unimed é composto por médicos que se tornam cooperados. Dessa forma, cada um deles, ao ingressar na cooperativa, deve ser preparado, desde o começo, para um empreendimento coletivo, que requer um conhecimento além de suas habilidades da medicina; eles precisam ser desenvolvidos na gestão do negócio. E sustentabilidade é imprescindível a esse processo.

Com uma trajetória profissional de 28 anos no Sistema Unimed, posso afirmar que, constantemente, temos novos desafios, seja no convencimento dos dirigentes que assumem cargos em suas cooperativas, seja pela velocidade das inovações no campo da saúde ou pelos efeitos perniciosos políticos de nosso país. Mas um profissional da área, posso garantir, não desiste de enfrentá-los.

9. Ferramenta para os médicos proverem com qualidade e segurança um cuidado integrado aos seus pacientes. Resumidamente, trata-se de um repositório eletrônico de informações em torno da saúde das pessoas, possibilitando um panorama de seus históricos clínicos. Entre os principais benefícios da adoção do Registro Eletrônico estão: reduzir a possibilidade de erros médicos; proporcionar ao médico a gestão de conhecimento dentro do seu próprio consultório, ampliando, inclusive, a eficácia das suas atividades gerenciais e burocráticas; e contribuir para diminuição dos custos do setor, principalmente por meio da redução da superutilização (duplicação de exames de laboratório) e da má utilização de serviços (fraudes, erros diagnósticos).

Veja a palestra de MAIKE MOHR na Plataforma Liderança Sustentável:

https://goo.gl/oEMWQM

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