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Figura 4 – Detalhe da primeira aparição de um coração em minhas serigrafias
Curiosamente, a história da serigrafia é colocada como surgida e desenvolvida durante o período compreendido entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial, justo o mesmo período em que Walter Benjamin escreveu o ensaio que aqui discutimos. Vi nesse fato algo tão interessante quanto aquilo que para mim era a prova de um aqui e agora após o surgimento dos primeiros objetos fruto de meus exercícios serigráficos na Oficina de Serigrafia do Parque Lage. Embora as estampas que surgiam fossem produto de uma matriz que pode ser considerada como a única peça realmente autêntica e original, durante sua confecção aconteciam circunstâncias únicas no lugar em que eu as produzia. O tempo e espaço onde estávamos não se repetiria e tal visão pode ser compreendida no meu fazer artístico como o ato poético de encapsular na imagem o momento que surge durante uma produção. Durante a produção das cópias pequenos incidentes sempre acontecem e comprovam que mesmo aparentemente iguais, as imagens dali decorrentes são no máximo semelhantes entre si. Assim, pela paixão que emergiu durante essas primeiras experiências serigráficas e percepções seguintes, foi reforçada a escolha da serigrafia como técnica para ser a utilizada no trabalho que seguiria sob as regras do meu contradispositivo supracitado.
Aparentemente, o artista funciona como um ser mediúnico que, de um labirinto situado além do tempo e do espaço, procura caminhar até uma clareira. Ao darmos ao artista os atributos de um médium, temos de negar-lhe um estado de consciência no plano estético sobre o que está fazendo, ou porque o está fazendo. Todas as decisões relativas à execução artística do seu trabalho permanecem no domínio da pura intuição e não podem ser objetivadas numa autoanálise, falada ou escrita, ou mesmo pensada. (Duchamp in: BATTOCK, 1986: 72).
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A colocação duchampiniana revela perfeitamente o ato criador que se seguiu no meu processo de trabalho. Ele foi completamente cego e assumo que até um tanto mediúnico mesmo que eu já soubesse objetivamente a direção que deveria e queria seguir: a efetivação do trabalho de acordo com as regras de profanação dos dispositivos previamente estabelecidos pelo mercado de arte e também por Walter Benjamin na sua concepção pessoal do que é um objeto artístico original, autêntico e possuidor de uma aura. Contudo, ainda não havia eleito uma imagem que deixasse tais pensamentos de dispositivo e contradispositivo ao menos