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Figura 10 - Uma jovem interessada no trabalho exposto na biblioteca
compreensão benjaminiana de originalidade haviam tornado sagrado e alienado do convívio direto do ser humano.
3.2. A imagem em campo
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Após terminar a confecção das estampas, solicitei por e-mail à diretoria da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde também sou aluno, a possibilidade de disponibilização de um pequeno espaço para colocar as cópias a disposição gratuita do público. Depois de uma semana, recebi a autorização para pôr as estampas na entrada da biblioteca da escola, em uma mesa entre folhetos informativos de espetáculos, cursos e etc. e sob a qual se encontram arquivadas publicações variadas (figura 9).
Se analisarmos a disposição do trabalho tão próxima a informações de cunho visual e literário, poderíamos argumentar que ele se torna invisível e ao mesmo tempo visível dependendo do ângulo de análise escolhido. Invisível por estar entre informações de diversos formatos mas visualizável devido a seu tamanho diferenciado dos demais (figura 9).
Figura 9: Gravuras dispostas sobre mesa na biblioteca da EAV.
Sem assinatura e edição ele poderia não ser identificado imediatamente como uma gravura mas apenas como um poster, um objeto de comunicação transmissor de informações. Porém que poster seria esse que não cumpre sua natureza utilitária? Que não foi objetivo com a mensagem que desejou transmitir? Desse modo percebemos que as estampas estão mais próximas em seu formato de uma linguagem artística do que de uma linguagem comunicativa. Como não perceber certa potência perene? Pois sua visualidade é fruto de uma sintonia apenas possível por um estar mais aberto e menos automático no cotidiano. Por um estado tão calmo e receptivo quanto aquele descrito por Walter Benjamin quando explicou o seu conceito de aura. Contudo ainda há aqui a percepção de que mesmo quando não se deseja seguir as regras estabelecidas por um dispositivo e ao se criar outras contrárias a essas e que são entendidas como um contradispositivo porque visa religar o homem com aquilo que ele perdeu: o contato manual, a experiência não direcionada por um conjunto de regras qualquer etc. Ao continuar seguindo durante algum tempo o contradispositivo criado, esse pode vir a se tornar um novo parâmetro dentro de um sistema. E se isso ocorrer, surge a pergunta: ele continuaria a ser compreendido como um contradispositivo? Ou passaria a ser um dispositivo tão direcionador quanto o benjaminiano e outros criados ao longo dos anos pelo mercado de arte?
Figura 10: Uma jovem interessada no trabalho exposto na biblioteca.
Coração 01:
Sem um único instrumento científico, o príncipe Siddhartha sentou-se sobre o chão coberto de capim kusha, debaixo de uma árvore ficus religiosa para investigar a natureza humana. Após um longo período de contemplação, ele chegou à compreensão de que todas as formas, inclusive nossa carne e ossos, assim como todas as nossas emoções e todas as nossas percepções, são compostas: são o produto da junção de duas ou mais coisas. Quando dois ou mais componentes se juntam, surge um novo fenômeno: pregos e madeira se transformam numa mesa; água e folhas se transformam em chá; medo, devoção e um salvador se transformam em Deus. O produto final não tem existência independente de suas partes.