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A psicoterapia
Lançamento previsto para 11 de novembro, 2021
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“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente" (Mario Quintana)
E: Bom dia! Falávamos na ocasião anterior que o senhor foi o criador do método da psicoterapia, a cura pela palavra, como dizia Anna O., a paciente de Breuer, seu colega. E é preciso dizer que essa construção foi necessária porque o método tradicional da medicina fracassou para lidar com os sintomas conversivos das histerias. Não se encontrava causas orgânicas para os males do corpo. Através da hipnose pode-se encontrar um caminho teórico para a razão dos sintomas histéricos: a origem era inconsciente! Os pacientes sob o aparente transe revelavam sentidos sobre sua dor que em vigília eram omitidos. Mas a hipnose não produzia efeito prolongado no sentido da cura. Ao contrário, a sugestão hipnótica até dava resultado sobre um sintoma, mas, como não havia sido atacada a causa, ele migrava para outro formato sintomático. De modo que o senhor começou a ouvir seus pacientes e a perceber que em suas associações discursivas produziam material importante. Eram verdades involuntárias que se impunham sobre a fala do paciente. A interpretação dos sonhos também produzia contribuições inestimáveis. Os atos falhos são valiosos. Como esquecer o esquecimento da palavra Aliquis (em latin) do seu companheiro de viajem. Enfim, a verdade do sujeito estaria depositada sobre aquilo que ele dizia sem sabê-lo ao certo. Algo involuntário, com mensagens não previstas vão se apresentando, fazendo com que a pessoa amplie, sobremaneira, o conhecimento de si. Assim, a ressignificação de sua história vai acontecendo e novos sentidos vão sendo produzidos na vida. Mas esse caminho não foi fácil. Estou pensando na sua conferência sobre a psicoterapia para a classe médica. O senhor publicou esta conferência sob o título “Sobre psicoterapia” (1904). Nele o senhor se queixa de que a psicoterapia é considerada como uma invenção do “misticismo moderno” por muitos médicos que consideram as terapias medicamentosas muito mais científicas. O senhor entra na defesa do método psicoterápico.
Dr. Freud: (...) A psicoterapia não é um método terapêutico moderno. É a terapia mais antiga da qual se serviu a medicina: a medicina primitiva e a dos antigos. Terão (os médicos) que classificá-las de psicoterapia; com o objetivo da cura, os pacientes eram induzidos ao estado de “crédula expectativa” e que até hoje nos presta idêntico serviço (Sobre a psicoterapia, 248).
Molina: É a chamada sugestão. Podemos ver isso na explosão de literatura de autoajuda consumida no mundo atualmente. O poder de sugestão do profissional não é de se desprezar, entretanto seus resultados são temporalmente falando bem limitados. As palestras motivacionais têm um efeito por apenas um tempo. Depois os velhos problemas reaparecem.
Dr. Freud: Não é moderna a velha máxima médica: não é o medicamento que cura senão o médico. (...) Em função de minha participação na construção desta terapia, sinto-me obrigado a dedicar-me a explorá-la e a edificar sua técnica. O método analítico da psicoterapia tem resultados expressivos, e, permite ir mais longe na transformação do paciente (p. 249, t.n.).
Lançamento previsto para 11 de novembro, 2021
Dr. Freud: Não é moderna a velha máxima médica: não é o medicamento que cura senão o médico. (...) Em função de minha participação na construção desta terapia, sinto-me obrigado a dedicar-me a explorá-la e a edificar sua técnica. O método analítico da psicoterapia tem resultados expressivos, e, permite ir mais longe na transformação do paciente (p. 249, t.n.).
Molina: O senhor destaca duas técnicas que estão em jogo na psicoterapia: a técnica sugestiva e a analítica. São duas coisas bem diferentes.
Dr. Freud: Na verdade, entre a técnica sugestiva e a analítica há uma oposição radical: aquela que o grande Leonardo da Vinci resumiu, com respeito as técnicas artísticas com as fórmulas “per via di porre y per via di levare” . A pintura, diz Leonardo, trabalha “per via di porre”; sobre a tela em branco deposita-se um acúmulo de tintas coloridas; ao contrário, a escultura utiliza-se da técnica “per via di levare” , pois tira da pedra tudo o que esconde as formas da estátua contida nela. (...) A técnica sugestiva opera “per via di porre”; não se preocupa com a origem, a força e a significação dos sintomas patológicos, mas aposta na sugestão como força poderosa para impedir que ideias patógenas saiam à luz. A terapia analítica, ao contrário, não quer agregar e nem introduzir nada novo, senão retirar, e com esse fim preocupa-se com a origem do dos sintomas e a trama psíquica que o recobre (p.250, t.n.).
Molina: A pessoa que procura ajuda da psicoterapia tem em vista livrar-se do sofrimento psíquico ao qual está submetida. Muitas vezes o sofrimento é situacional, decorrente de dificuldades inerentes à vida. Pode que neste caso uma escuta dedicada, uma palavra pacificadora e edificante seja profícua. Entretanto, quando se trata de um caso onde o sintoma é edificado com a argamassa neurótica meras palavras terão efeito inócuo. É preciso que a pessoa visite, muito a contragosto, lugares de sua história que gostaria de evitar. Como dizia Lacan: não há como fazer “um omelete” sem quebrar os ovos. Uma mudança subjetiva importante só pode ser realizada se o paciente se dispuser a abandonar os ganhos que o sintoma lhe confere (benefícios concedidos às vítimas, piedade, perdão, condições especiais auferidas pelo sofrimento), ou seja, as migalhas que um neurótico tem direito. Em troca disso ganhar uma vida íntegra, autônoma, livre das amarguras e das lamúrias provocadas pelas injustiças que todo neurótico se queixa, e, principalmente, de não ter sido amado o suficiente, camuflando uma verdade que ele quer, a todo custo esconder: sua incapacidade de amar. Toda neurose é infantil. O eu sempre prevalecerá sobre o outro. “Abandonarás teu pai e tua mãe e constituirás tua própria família” . Esse mandamento que o neurótico terá dificuldades de levar adiante. Gostaria de estar protegido do amor incondicional que o mundo lhe deve, “por justiça” . Talvez abrigado por um amor filial. Tentará não abandonar a posição de filho para não ser pai. E para esses casos, Dr. Freud, meras palavras de ânimo serão insuficientes.
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ED 45
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