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Estudante
Nathan de Souza Vendramini
Nathan Vendramini é graduando em Psicologia pela PUCPR e estagiário pela Sensory Clin, no atendimento especializado com crianças dentro do espectro autista
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SER ESTUDANTE NA PANDEMIA
1. Fale um pouco sobre você e como tem sido sua história.
Acredito que hoje minha experiência com a psicologia é bem mais positiva se comparada com meu primeiro ano de graduação, onde "turbulências" causadas pela minha antiga instituição de ensino eram relativamente constantes. Já sobre a pandemia em específico, vejo que nossos professores tentaram ao máximo fazer com que as aulas ocorressem da melhor forma possível, ainda mais se tratando da Psicologia, um curso praticamente impossível de ser ministrado via EAD. Devo muito a eles por terem tirado o melhor dessa situação. Sobre hobbies, por causa do "tempo extra" que o “estudar em casa” nos proporcionou, eu pude focar um pouco mais em desenhar, escrever, ler e reler muita coisa, hobbies esses que me serviram como uma forma de auto regulação durante a pandemia. Então diante disso, e apesar de ainda existir um receio de que exista uma força a favor de manter esse sistema a distância por ser mais conveniente, acredito que hoje, perto do fim de 2021, eu estou mais motivado com a graduação e não estou mais naquele sentimento de "já que estou pagando, preciso fazer" , além é claro de que finalmente podemos dizer que estamos chegando ao fim desse período pandêmico tão caótico.
2. Você, como um estudante da Psicologia, poderia compartilhar um pouco da sua experiência no contexto atual?
Acho que durante a pandemia surgiu o estigma de que seria fácil estudar no conforto de nossas casas, algo que considero não ter respaldo na realidade, foi tudo difícil e desconfortável. Cheguei a ouvir comentários de que o ensino deveria permanecer assim por ser, em tese, mais “prático” , o que para mim é algo consideravelmente perigoso de se pensar, perdemos muito com relação ao contato social tão necessário no cotidiano e no contexto de aprendizagem.
3. Como você acha que as outras pessoas percebem o "ser estudante"? Existem clichês?
Durante esse período de ERE (Ensino Remoto Emergencial), tenho sentido que as pessoas em geral vêm julgando ser muito fácil para nós estudantes estudar de forma remota, levando à falsa impressão de ser muito menos cansativo e mais prático. Acho que surge esse clichê da maior praticidade, algo que vai em sentido oposto ao que realmente sinto, onde manter-se focado, livre de distrações é um desafio cotidiano. Sinto medo em pensar na hipótese de isso se manter mesmo depois da pandemia.
4. Pandemia. Para você, o que mudou de antes para hoje?
Devido a uma questão de saúde particular, (tenho asma), eu mantenho um cuidado diário, porém não estou em isolamento total, de segunda a sexta eu vou para um estágio presencial e, mesmo sabendo dos riscos, é uma experiência que eu estava sentindo falta de ter, logo assumi os riscos trazidos por consequência. Sobre vida social, as coisas são um pouco mais complicadas, não estou me sentindo seguro em locais públicos, sempre existe um certo medo em relação a isso. Lidar com essas mudanças trazidas pela pandemia é algo que já faz parte do nosso cotidiano.
5. Tem vivido algum tipo de isolamento por estar na sua posição? Fale um pouco sobre isso.
Durante um bom tempo eu fiquei totalmente isolado e sem terapia. Acredito que o primeiro passo que tomei para lidar de fato com essa situação e não simplesmente sobreviver a ela, foi mandar mensagem para meu psicólogo e perguntar se estava atendendo presencial, após isso, foi um processo que persiste nos dias de hoje. Todos os dias há necessidades que precisam ser atendidas, e creio ter um dever comigo mesmo de achar formas de supri-las. Também tenho buscado horários tranquilos para atividade física, lido livros para não ficar “parado” , passado uma grande quantidade de tempo com meus amigos em jogos online, e creio que isso tudo tem sido uma forma administrar a situação, uma forma de realmente viver nesse período e não apenas sobreviver.
6. Como você tem buscado lidar com a situação atual?
Procuro zelar pela minha saúde mental ao máximo, tendo uma alimentação saudável, realizando atividade física, mantendo contato com familiares e amigos próximos sempre que possível (não necessariamente físico). Nos momentos mais críticos da pandemia, essas foram as medidas que de alguma forma me ajudaram a enfrentar a quarentena e seus efeitos colaterais.
7. Você acha que a situação atual é vivenciada na ordem de um trauma?
Acredito que sim, infelizmente, tenho o pensamento de que as consequências pandêmicas de ordem psicológica ainda vão chegar. Enquanto ainda estamos vivendo este momento é difícil abstrair-nos para de fato avaliá-lo, até porque o medo ainda está constantemente presente em nossos dias, mas, assim que isso tudo acabar, acredito que teremos uma noção das consequências posteriores, e torço para que estejamos aptos para lidar com a onda de adoecimentos psíquicos que virão.
8. Qual o maior desafio que a quarentena te trouxe?
Me manter motivado e com vontade de fazer até mesmo as coisas que me davam prazer antes disso tudo. Eu tive a sensação de estar novamente no cursinho, onde a minha energia vital era sugada diariamente e eu não passava de um robozinho cumprindo com minhas obrigações.
9. E o maior aprendizado? Como isso impactou sua vida, ou mesmo você de modo geral?
Acho que o aprendizado que obtive foi o de que não se pode simplesmente ignorar o que você está sentindo. Lógico, que devido a mil e um fatores possivelmente não conseguimos suprir toda a demanda que surge, mas em meio às dificuldades, temos um dever para com nós mesmos de achar formas criativas para lidar com os desafios emergentes. Por mais que pareça difícil, acho que alguma solução existe.