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Médica
Paloma Herranz de Souza
Paloma Herranz é graduada em medicina pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar) e atualmente trabalha como médica generalista na Unidade Básica de Saúde, Bromado, em Rio Branco do Sul, atuando também em serviços de emergência médica pré-hospitalar.
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SER MÉDICA NA PANDEMIA
1. Fale um pouco sobre você.
Atualmente procuro me especializar na área de pediatria, área que tive contato na faculdade e que desde então se tornou meu grande sonho, pelo menos até agora. Então no momento, por ainda não ter conseguido alcançar meu objetivo de atuar no hospital pequeno príncipe como pediatra, vou me adequando e trabalhando em outras áreas para me sustentar nesse mundo. Também gosto muito de atuar na saúde no que diz respeito à atenção primária, tendo o primeiro contato com o paciente em postos de saúde, mas também atuando uma vez na semana na parte de emergência e atendimento préhospitalar. Durante a quarentena fiquei muito parada, ainda mais por conta da minha mudança de Maringá para Curitiba, mas sempre fui muito ativa fisicamente. Já estou voltando com a academia, gostaria muito de em breve voltar com o futsal e comecei a fazer yoga, que sem dúvida me ajudou muito nesse período. Foi bom ver minha progressão com a prática.
2. Você, como médica, poderia compartilhar um pouco da sua experiência no contexto atual?
Responder a essa pergunta neste momento é bem diferente de responder essa pergunta há um ano atrás. Em 2020 eu ainda trabalhava em um hospital de Itambé e, como recém formada, foi bem difícil lidar com isso. Mesmo os médicos mais experientes não tinham conhecimento suficiente para lidar com o coronavírus. Não sabíamos ao certo o que fazer, quais eram os sintomas característicos, a taxa de mortalidade, transmissibilidade do vírus, enfim, foi uma loucura. Na época, com o começo da pandemia, quis sair do corpo clínico mesmo não havendo casos em Itambé, estava bem desesperada e pensava que não conseguiria dar conta por ser uma profissional iniciante, mas a diretora clínica do hospital me incentivou, dizendo que era importante passar por essa provação e que toda ajuda seria necessária para lidar com a situação, ficando ao meu lado também para sanar quaisquer dúvidas ou se caso eu precisasse de ajuda. Foi bem importante para nos nortear durante esse período. Mas a sensação durante os primeiros casos era de estar completamente no escuro, sem uma luz no fim do túnel, vivendo um dia após o outro e tentando fazer aquilo que estava ao nosso alcance, sempre atualizando-nos ao máximo com novas hipóteses, sugestões médicas, clínicas, notícias, inclusive muitas vezes falsas - o que dificultava ainda mais o trabalho. Apesar disso, conforme o tempo foi passando, a situação foi ficando mais fácil de se lidar em termos de protocolos a serem feitos, conhecendo também mais sobre a doença, sua progressão, o que fazer, o que não fazer, tudo foi ficando mais palpável até o momento em que os resultados promissores das vacinas foram sendo divulgados e com isso, um alívio, um respiro muito grande para nós da saúde, que sabíamos que seria questão de tempo até a população estar imunizada, os leitos diminuírem e tomarmos um rumo melhor.
3. Como você acha que as outras pessoas percebem o ser médica no nosso contexto (pandemia)? existem clichês?
Foi bem interessante observar isso, pois no início havia a necessidade de profissionais de saúde, as pessoas tinham essa noção que apenas nós poderíamos fazer alguma diferença, colocando-nos em uma espécie de altar, mas que durou pouquíssimo tempo. Logo em seguida começamos a receber vídeos de pessoas
pessoas batendo em médicos, enfermeiras e segurança pelo simples fato de pedirem para que usassem máscara ou solicitarem para não ficar com o acompanhante suspeito de estar com covid-19, etc. A descrença no que os médicos diziam em detrimento de correntes de whatsapp, que ninguém sabe ao certo a origem, também era algo que acontecia. Tornou-se “oito ou oitenta” . Para falar bem a verdade, em termos de Brasil, sabemos desde a faculdade que é assim, o médico sempre rotulado, seja para o “positivo” quanto para o “negativo” , então há aqueles que falam que estamos ali só para ganhar dinheiro e que não estamos nem aí para os outros, ou quando tiramos dez minutos para almoçar e ir ao banheiro, mas logo ouvimos que não queríamos atender, que ficamos só tomando cafézinho, esse tipo de coisa, como se fossemos máquinas de fazer diagnóstico. Por outro lado, em uma zona rural em que atendi, éramos vistos com muito mais gratidão, mais educação, a população respeitava mais, então existem clichês de todo o tipo.
4. Pandemia. Para você, o que mudou de antes para hoje?
Acho que o principal que mudou do início da pandemia para cá foi que as pessoas se acostumaram. Penso que existe uma tendência das pessoas se acostumarem com as coisas ruins e negativas, isso vocês da psicologia podem explicar melhor, não sei se isso se enquadraria em mecanismo de defesa ou coisa do tipo mas vejo que quanto mais recorrente e longa é uma situação, mais as pessoas vão se adaptando. Antes o pessoal não queria usar máscara e hoje usa (mas com o nariz de fora). Vejo que o indivíduo continua querendo tomar as próprias decisões, não se importando com o que dizemos. Vendo por outro lado, há também isso que comentei de hoje já ser possível enxergar uma luz no fim do túnel. Com certeza foi uma diferença. O problema é que algumas pessoas acabam por utilizar justamente essa luz, essa esperança, para banalizar o vírus, achar que já acabou e que a vida pré-pandemia já pode voltar. O bom senso que a gente realmente precisava e que prezamos desde o começo, na realidade, nunca existiu. Isso é o que mais nos deixa nervosos e incrédulos, penso eu.
5. Tem vivido algum tipo de isolamento por estar na sua posição? Fale um pouco sobre isso.
No começo sim, quando eu falava que trabalhava em hospital ou na área da saúde era praticamente como se um bicho, ou um extraterrestre estivesse ali presente, as pessoas achavam um absurdo eu ir no mercado por exemplo ou simplesmente andar na rua. Hoje já não tanto, não vejo mais essa discriminação pela função, inclusive, no hospital de Itambé, por ser uma cidade muito pequena, minhas colegas da enfermagem é que sofriam muito com isso, como a cidade toda se conhecia, se elas saíssem para ir no mercado, ou ir ao banco, as pessoas já assumiam que elas estavam infectadas, o que era complicado, já que na época o hospital era o lugar em que menos havia chance de se contaminar, a gente se paramentava com o triplo, o quádruplo de cuidados, enquanto as pessoas continuavam indo uma nas casas das outras, fazendo churrasco, indo no mercado para conversar, então havia uma espécie de preconceito. Apesar disso, acho que com o tempo as pessoas foram entendendo que o hospital era o lugar onde havia o maior cuidado e que probabilisticamente as chances de contaminação eram menores, mesmo estando em contato direto com diversas pessoas contaminadas.
6. Como você tem buscado lidar com a situação atual?
Procurando manter coisas para estimular minha saúde mental, ter uma alimentação saudável, realizando atividade física, tendo contato com familiares e amigos próximos, etc. Estas foram as principais medidas que encontrei para enfrentar esse período, principalmente nos momentos mais críticos da pandemia.
Olha, para mim não, não vejo como um trauma, enxergo mais como essa diretora do hospital em que trabalhei nos orientou, como uma experiência de vida médica. Por mais que estivesse com medo e achasse que não iria dar conta, nos cabia superação. Mas com certeza dá para tirarmos muita coisa desse período de pandemia, analisar as relações das pessoas entre si, a relação das pessoas com a saúde, com os profissionais de saúde, acho que conseguimos obter muito aprendizado. E pensando nas pessoas no geral, não sei sobre trauma, certamente abalou muita gente, principalmente quem não pode trabalhar por muito tempo ou quem era de grupo de risco e precisou ou tentou ficar isolado completamente durante esse período, com certeza deve ter desenvolvido algum transtorno mental ou alguma piora com relação à ansiedade ou depressão por exemplo. Inclusive, tive uma piora da minha ansiedade, principalmente no começo, e que acabou se mantendo por um certo tempo. Agora, claro, já estou melhor, mas acredito que a depender da pessoa esse tipo de coisa possa se postergar, principalmente quando há ausência de um acompanhamento médico ou psicológico.
8. Qual o maior desafio que a quarentena te trouxe?
Acho que o maior desafio foi tentar buscar informação com qualidade, informações que ajudassem e não desesperassem, tanto para mim quanto para os outros. E, mais difícil que isso, acho que fazer as pessoas entenderem que mesmo nova e recém formada eu sabia do que estava falando, estava pesquisando e trabalhando muito para entender e para passar informação de como funcionava a vacina, como eram as intervenções com medicações, sobre medidas de prevenção, acho que isso foi uma dificuldade com relação a parte médica. Agora, com relação a dificuldade pessoal foi, claro, manter a vida como ela era, sair de casa sem medo, sem preocupação, ir na academia e não ficar em pânico, ou entrar no elevador com outra pessoa, com medo de ver família ou alguns amigos próximos, apavorada com rinite por achar que era vírus, esse tipo de coisa.
9. Teve algum aprendizado com a pandemia, quais?
A primeira coisa que me vem à cabeça não é nem um aprendizado, é só uma confirmação do que eu já imaginava e já sabia. As pessoas não têm educação em saúde, a população geral, que não estuda sobre isso, muitas vezes não tem noções básicas de saúde. Então, por exemplo, recebia perguntas do tipo, “depois que sarar do covid, posso parar de lavar as mãos? ” , coisas absurdas sabe? Então era bem complicado. Mas creio que o maior aprendizado que tive foi o de que, por mais que pareça que não vai ter fim, que estamos em um beco sem saída, sem muita expectativa, a gente vivendo e sobrevivendo dia após dia com nossos entendimentos, com estudo, com nossos valores, com aprendizado, sempre se moldando e mudando de ideia quando necessário, haverá um momento onde irá surgir uma luz no fim do túnel, mas é preciso ter paciência, foco e determinação.
10. Acha que o cenário político brasileiro vem interferindo na saúde? como?
Sim, muito, principalmente com relação a informações que não procedem, as chamadas fake news. As pessoas pegam um texto com diversos pontos, e reduzem a um argumento para sustentar a própria opinião, então creio que desde o começo não houve muito apoio à saúde e principalmente à ciência, não buscavam-se artigos, textos científicos ou informação de qualidade para saber mais sobre vacinas, sobre medicamentos, para discernir o que era prudência e o que era negligência. Então, por exemplo, o fato de o presidente querer continuar usando um medicamento, que até foi usado no começo, mas que, conforme foi sendo estudado e o conhecimento foi sendo obtido, reconheceu-se sua ineficácia , é bem complicado. Não voltar atrás, seja por orgulho, por já ter comprado o medicamento, enfim, seja a razão que for, não se atualizar cientificamente sobre o assunto, somando-se ainda ao atraso da compra das vacinas, ao rodízio de ministros na área da saúde, são coisas que impactam e muito na vida das pessoas, geram
geram um caos, ficamos sem um norte, pessoas adoecem, muitas vão a óbito, e tudo isso por conta desse cenário político em que vivemos, então, sim, impactou bastante.
11. Gostaria de dizer mais alguma coisa?
Estamos chegando no final, é só aguentar mais um pouco, que não subestimemos o vírus por conta disso, precisamos continuar lavando a mão com água, sabão ou o álcool em gel, continuar a usar máscara e manter o isolamento social, principalmente em relação a pessoas aleatórias, sempre procurando driblar esse risco de contaminação e consequentemente de vida.
P P P S S S III C C C O O O L L L O O O G G G III A A A E E E M M M F F F O O O C C C O O O ::: 111 0 0 0 A A A N N N O O O S S S
ORGANIZADORES:
V I N I C I U S R O M A G N O L L I R O D R I G U E S G O M E S L U I Z A N T O N I O L A Z A R I N T R E N T I N A L H A
PARTICIPAÇÃO DE:
LANÇAMENTO
T I A G O C O R B I S I E R M A T H E U S J A Q U E L I N E F E L T R I N V I N Í C I U S R . R . G O M E S R O D R I G O C O R R E A S A M A R A M E G U M E V A L É R I A C O D A T O M A R T A D A L L A T O R R E J O S I A N E B O C C H I A L I N E S A N C H E S C A R L O S E D U A R D O L O P E S C A R O L I N A L A U R E N T I J O V A N I A N T O N I O S E C C H I R E G I N A P E R E Z C H R I S T O F O L L I A B E C H E P A U L O V I T O R N A V A S C O N I M A R C O S C A S A D O R E L U I Z A . L . T R E N T I N A L H A D A N I E L R I B E I R O B R A N C O L E A N D R O C A R M O E D U A R D O C H I E R R I T O A R I A D N E S A N T O S D E M E D E I R O S J O S É V A L D E C I G R I G O L E T O N E T T O J O S É J A C I N T O M A I A N E T O G E I V A C A R O L I N A C A L S A L Í V I A B A T I S T A L A R A N H A G A G A B R I E L A R O M A G N O L L I R O D R I G U E S G O M E S E M I L Y A L B U Q U E R Q U E D O N N Y C O R R E I A L E T Í C I A C A B R A L G O N Ç A L V E S L O P E S J O Ã O H E N R I Q U E P I V A B O E I R A C H R I S T I A N D U N K E R M A R I A R I T A K E H L A N A M A R I A M E R C Ê S B O C K F L Á V I O R I C A R D O V A S S O L E R D A N I E L K U P P E R M A N N M A R C O S R I O T E I X E I R A L U I S M A U R O M A R T I N O S Á M A R I A L Ú C I A H O M E M V E R A I A C O N E L L I
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