Jornal Psicologia em Foco Nº 45 - ISSN 2178-9096
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Paloma Herranz de Souza
Paloma Herranz é graduada em medicina pelo Centro Universitário de Maringá
(Unicesumar) e atualmente trabalha como médica generalista na Unidade Básica de Saúde, Bromado, em Rio Branco do Sul, atuando também em serviços de emergência médica pré-hospitalar.
SER MÉDICA NA PANDEMIA 1. Fale um pouco sobre você. Atualmente procuro me especializar na área de pediatria, área que tive contato na faculdade e que desde então se tornou meu grande sonho, pelo menos até agora. Então no momento, por ainda não ter conseguido alcançar meu objetivo de atuar no hospital pequeno príncipe como pediatra, vou me adequando e trabalhando em outras áreas para me sustentar nesse mundo. Também gosto muito de atuar na saúde no que diz respeito à atenção primária, tendo o primeiro contato com o paciente em postos de saúde, mas também atuando uma vez na semana na parte de emergência e atendimento préhospitalar. Durante a quarentena fiquei muito parada, ainda mais por conta da minha mudança de Maringá para Curitiba, mas sempre fui muito ativa fisicamente. Já estou voltando com a academia, gostaria muito de em breve voltar com o futsal e comecei a fazer yoga, que sem dúvida me ajudou muito nesse período. Foi bom ver minha progressão com a prática. 2. Você, como médica, poderia compartilhar um pouco da sua experiência no contexto atual? Responder a essa pergunta neste momento é bem diferente de responder essa pergunta há um ano atrás. Em 2020 eu ainda trabalhava em um hospital de Itambé e, como recém formada, foi bem difícil lidar com isso. Mesmo os médicos mais experientes não tinham conhecimento suficiente para lidar com o coronavírus. Não sabíamos ao certo o que fazer, quais eram os sintomas característicos, a taxa de mortalidade, transmissibilidade do vírus, enfim, foi uma loucura. Na época, com o começo da pandemia, quis sair do corpo clínico mesmo não havendo casos em Itambé, estava bem desesperada e pensava que não conseguiria dar conta por ser uma profissional iniciante, mas a diretora clínica do hospital me incentivou, dizendo que era importante passar por essa provação e que toda ajuda seria necessária para lidar com a situação, ficando ao meu lado também para sanar quaisquer dúvidas ou se caso eu precisasse de ajuda. Foi bem importante para nos nortear durante esse período. Mas a sensação durante os primeiros casos era de estar completamente no escuro, sem uma luz no fim do túnel, vivendo um dia após o outro e tentando fazer aquilo que estava ao nosso alcance, sempre atualizando-nos ao máximo com novas hipóteses, sugestões médicas, clínicas, notícias, inclusive muitas vezes falsas - o que dificultava ainda mais o trabalho. Apesar disso, conforme o tempo foi passando, a situação foi ficando mais fácil de se lidar em termos de protocolos a serem feitos, conhecendo também mais sobre a doença, sua progressão, o que fazer, o que não fazer, tudo foi ficando mais palpável até o momento em que os resultados promissores das vacinas foram sendo divulgados e com isso, um alívio, um respiro muito grande para nós da saúde, que sabíamos que seria questão de tempo até a população estar imunizada, os leitos diminuírem e tomarmos um rumo melhor. 3. Como você acha que as outras pessoas percebem o ser médica no nosso contexto (pandemia)? existem clichês? Foi bem interessante observar isso, pois no início havia a necessidade de profissionais de saúde, as pessoas tinham essa noção que apenas nós poderíamos fazer alguma diferença, colocando-nos em uma espécie de altar, mas que durou pouquíssimo tempo. Logo em seguida começamos a receber vídeos de pessoas