Jornal Psicologia em Foco Nº 45 - ISSN 2178-9096
p. 17
FRAGMENTO DO LIVRO FREUD: COMO VEJO A VIDA - UMA ENTREVISTA DE JOSÉ ARTUR MOLINA PUBLICADO PELA IPERFILEDITORA Lançamento previsto para 11 de novembro, 2021
A PSICOTERAPIA “O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente" (Mario Quintana)
E: Bom dia! Falávamos na ocasião anterior que o senhor foi o criador do método da psicoterapia, a cura pela palavra, como dizia Anna O., a paciente de Breuer, seu colega. E é preciso dizer que essa construção foi necessária porque o método tradicional da medicina fracassou para lidar com os sintomas conversivos das histerias. Não se encontrava causas orgânicas para os males do corpo. Através da hipnose pode-se encontrar um caminho teórico para a razão dos sintomas histéricos: a origem era inconsciente! Os pacientes sob o aparente transe revelavam sentidos sobre sua dor que em vigília eram omitidos. Mas a hipnose não produzia efeito prolongado no sentido da cura. Ao contrário, a sugestão hipnótica até dava resultado sobre um sintoma, mas, como não havia sido atacada a causa, ele migrava para outro formato sintomático. De modo que o senhor começou a ouvir seus pacientes e a perceber que em suas associações discursivas produziam material importante. Eram verdades involuntárias que se impunham sobre a fala do paciente. A interpretação dos sonhos também produzia contribuições inestimáveis. Os atos falhos são valiosos. Como esquecer o esquecimento da palavra Aliquis (em latin) do seu companheiro de viajem. Enfim, a verdade do sujeito estaria depositada sobre aquilo que ele dizia sem sabê-lo ao certo. Algo involuntário, com mensagens não previstas vão se apresentando, fazendo com que a pessoa amplie, sobremaneira, o conhecimento de si. Assim, a ressignificação de sua história vai acontecendo e novos sentidos vão sendo produzidos na vida. Mas esse caminho não foi fácil. Estou pensando na sua conferência sobre a psicoterapia para a classe médica. O senhor publicou esta conferência sob o título “Sobre psicoterapia” (1904). Nele o senhor se queixa de que a psicoterapia é considerada como uma invenção do “misticismo moderno” por muitos médicos que consideram as terapias medicamentosas muito mais científicas. O senhor entra na defesa do método psicoterápico. Dr. Freud: (...) A psicoterapia não é um método terapêutico moderno. É a terapia mais antiga da qual se serviu a medicina: a medicina primitiva e a dos antigos. Terão (os médicos) que classificá-las de psicoterapia; com o objetivo da cura, os pacientes eram induzidos ao estado de “crédula expectativa” e que até hoje nos presta idêntico serviço (Sobre a psicoterapia, 248). Molina: É a chamada sugestão. Podemos ver isso na explosão de literatura de autoajuda consumida no mundo atualmente. O poder de sugestão do profissional não é de se desprezar, entretanto seus resultados são temporalmente falando bem limitados. As palestras motivacionais têm um efeito por apenas um tempo. Depois os velhos problemas reaparecem. Dr. Freud: Não é moderna a velha máxima médica: não é o medicamento que cura senão o médico. (...) Em função de minha participação na construção desta terapia, sinto-me obrigado a dedicar-me a explorá-la e a edificar sua técnica. O método analítico da psicoterapia tem resultados expressivos, e, permite ir mais longe na transformação do paciente (p. 249, t.n.).