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Apresentação

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de amor e guerra

de amor e guerra

Considerada uma das mais importantes de todos os tempos, a história de amor entre Pedro e Inês atravessou séculos emocionando gerações. Ao contrário de vários casais famosos da ficção, os dois protagonistas existiram de verdade: eles viveram no século XIV, um período marcado por guerras, medo, fome e doenças. Embora real, a história foi cercada por lendas e mitos. Esta minha versão, dirigida ao público jovem leitor, é uma ficção que se baseia tanto na mitologia quanto nos fatos históricos.

Pouco estudada no Brasil, a Idade Média na Península Ibérica perde feio diante do espaço dado em livros, filmes e até séries de TV para a mesma era na Inglaterra e na França, países sobre os quais, ao que parece, a maior parte dos medievalistas prefere se debruçar. Uma enorme injustiça, na verdade, pois as tramas mirabolantes que envolvem os nobres portugueses e espanhóis daqueles tempos renderiam histórias incríveis.

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Nos reinos de Portugal e Castela (este último formaria a atual Espanha ao incluir os territórios de Aragão, Granada e parte de Navarra), os poderosos da vida real envenenavam adversários, mudavam sua lealdade de lado conforme as vantagens e os benefícios oferecidos, cometiam assassinatos grotescos, inclusive contra a própria família, promoviam guerras entre si, casavam por interesse, uniam-se a amantes e se livravam deles ou delas conforme a necessidade, enfim, pensavam em si antes de mais nada.

No meio de tanto material que renderia inúmeros projetos, precisei me limitar ao que estivesse ligado de forma direta ou indireta aos meus protagonistas. Mesmo assim, são informações em considerável quantidade, que procurei resumir ao máximo para não confundir o leitor.

No começo, eu me perdi entre tantos livros e dissertações sobre o assunto. Quem me ajudou a encontrar o ponto de partida foi o historiador Carlos Roberto Figueiredo Nogueira, professor da Universidade de São Paulo (USP) e o maior especialista brasileiro no tema “O reinado de Pedro I de Portugal e a crise do século XIV”. Muito gentil, ele me concedeu uma entrevista e ainda respondeu a vários e-mails, auxiliando-me a compor a personalidade de Pedro, distorcida por lendas e pelo próprio Fernão Lopes, cronista do século XV e fonte imprescindível para se estudar a trajetória do soberano.

O professor Nogueira também me apresentou aos estudos de Adelaide Pereira Millán da Costa, professora da Universidade Aberta em Lisboa, sobre as três mulheres mais importantes da vida de Pedro. Esse trabalho de fôlego, publicado na premiada coleção portuguesa Rainhas de Portugal, teve como base a análise de fontes e, como esclarece a própria Adelaide, foi completado por interpretações plausíveis e hipóteses referenciadas. Orientei-me por suas indicações em relação a datas e a vários eventos, opção que algumas vezes contradiz as versões tidas como oficiais.

Não procurei apenas respeitar ao máximo os fatos históricos. Investi no mito em alguns momentos, como, por exemplo, quando reconto a cerimônia de beija-mão da rainha, um evento possivelmente criado pelas lendas.

E, claro, tomei várias liberdades. Minha concepção dos paços não tem nada a ver com a realidade, e sim com a necessidade de colocar personagens circulando aqui e ali. Na medida do possível, procurei reproduzir o que existe ou existiu a partir de informações

variadas sobre os locais, inclusive fotos e vídeos. Em um deles, do Núcleo da Cidade Muralhada, a chefe da Divisão de Museologia, Berta Duarte, oferece informações detalhadas sobre a formação de Coimbra, dados muito úteis para quem, como eu, ainda não teve a oportunidade de visitar a cidade. Outra fonte que me levou a entender o cotidiano medieval foi o livro História da vida privada em Portugal, de José Mattoso.

Quanto aos personagens, incluí fictícios interagindo com os reais. Com os últimos, nem sempre o que escrevi para eles aconteceu mesmo. Estêvão Lobato, por exemplo, é quase ficcional, pois o que encontrei sobre o verdadeiro foi tão pouco que mal lhe caberia um papel de figurante. Recriado para a trama, ele ganha um papel de importância. Aproveitando a liberdade de criação, inventei reviravoltas embasadas no contexto histórico, trouxe motivações diferentes aos personagens, ou seja, fiz a minha própria mistura de ficção e realidade.

O que mais pode provocar confusão para os leitores são os nomes dos próprios personagens. Há vários Pedros, Álvaros, Afonsos e Marias, por exemplo. Para facilitar nossa vida, grafei alguns de modo diferente. Então, Afonso XI de Castela é Alfonso, assim como Branca de Bourbon é Blanche e João Afonso de Albuquerque, Juan Alfonso. Apesar desses cuidados, no final deste livro há uma lista com praticamente todos os personagens, tanto reais quanto fictícios, explicando quem é cada um.

Optei também por usar apenas o “tu”, esquecendo de propósito o “vós”, mais cerimonioso, quando é dirigido a uma única pessoa. Resolvi ainda utilizar nos diálogos somente o idioma português, apesar de vários personagens serem castelhanos. Sobre a linguagem, eu a trabalhei pensando no jovem leitor de hoje, mantendo meu estilo narrativo. É, portanto, uma história portuguesa contada por uma brasileira, na visão dela e com todas as características que ela traz por ser brasileira e neta de portugueses.

Entre Pedro e Inês, preferi me centrar na vida dele por ser um dos reis portugueses menos estudados e por acabar em segundo plano quando se resolve contar a história de seu grande amor. Tampouco pude resistir a inventar meus próprios designers para os belíssimos túmulos de Alcobaça. Até hoje sua verdadeira autoria é considerada um mistério.

Falar mais sobre esses túmulos ou o grande amor de Pedro é antecipar o que vem nas próximas páginas: uma versão feita com cuidado, pesquisa, muito carinho e uma delicada dose de magia.

A autora

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