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de amor e guerra

Sobre Pedro e Inês de Castro –Uma história de amor e guerra

Esta seção tem como finalidade contextualizar a autora, a obra e seu gênero literário. Para isso, apresentaremos uma breve entrevista com a autora, na qual ela conta sobre sua vida, a obra e a motivação para escrevê-la. Em seguida, indicaremos o gênero literário deste livro, bem como as características que o definem, exemplificando-as para melhor compreensão e aprofundamento.

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ENTREVISTA COM A AUTORA

Helena Gomes, conte um pouco sobre você.

Nasci em Santos, no litoral paulista, em 12 de setembro de 1966. Sou formada em Jornalismo, tenho pós-graduação na área de Educação e trabalhei como diagramadora, repórter, editora, assessora de imprensa e professora universitária.

Como escritora, tenho quase 50 livros publicados, a maioria dirigida ao leitor infantil e juvenil. Com um livro escrito em coautoria, venci o Prêmio FNLIJ 2019 – Produção 2018 na categoria Reconto. Também fui quatro vezes finalista do Prêmio Jabuti. Alguns dos meus livros receberam o Selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e foram escolhidos

para representar a Literatura Brasileira no catálogo da FNLIJ para a Bologna Children’s Book Fair e na Machado de Assis Magazine para o Salão do Livro de Paris. Mais informações sobre os meus livros estão em <http://helenagomes-livros.blogspot.com.br>.1

Qual é a história do livro Pedro e Inês de Castro?

Na Península Ibérica do século XIV, Pedro é um jovem gordinho, bondoso, gago e um tanto inseguro quanto a seu papel de herdeiro do trono português. Para o bem de seu reino, é obrigado a se casar com uma desconhecida. Enquanto isso, Inês, uma garota um pouco mais nova, chega de um reino vizinho. Esperta e encantadora, também tem um destino definido à sua revelia. Na Corte, às margens do rio Mondego, com o Mosteiro de Santa Clara ao fundo, Pedro e Inês se apaixonam e vivem um dos mais famosos e trágicos romances de todos os tempos.

O que levou você a escrever este livro?

Ainda na adolescência, fiquei fascinada com a história de Inês de Castro, aquela que foi rainha depois de morta e, claro, deu origem à frase “Inês é morta”, comum entre os mais antigos quando algo se torna irreversível.

Considerada um dos mais importantes mitos literários, Inês de Castro é uma personagem histórica do século XIV, uma das pontas de um trágico triângulo amoroso formado ainda pelo príncipe Pedro e por Constança, a esposa imposta por um casamento politicamente arranjado pelos reis portugueses.

O amor entre Pedro e Inês é, desde o início, uma transgressão. Foram, porém, os desdobramentos dessa relação que assombraram seus contemporâneos e desde então vêm instigando poetas, escritores, pesquisadores e cronistas históricos.

1 Acesso em: 18 dez. 2020.

Decidi construir a minha versão desse romance após adaptar a história de amor de outro casal famoso na literatura, Tristão e Isolda. Antes de começar a escrever o novo livro, realizei uma ampla pesquisa em livros e sites sobre a Idade Média na Península Ibérica, o período específico em que se desenrola a trama, os valores vigentes, costumes, tradições, gastronomia, vestimentas, estrutura social, relações sócio-políticas e personagens reais, além de me aprofundar nas lendas e em boa parte do que foi produzido sobre Inês e Pedro na literatura.

Você utilizou mais alguma fonte de pesquisa?

Sim. Conversei com especialistas, como a escritora e crítica literária Susana Ventura. Para ela, trata-se de “um amor que, vivido posteriormente apenas por Pedro após o desaparecimento de Inês, ousou ir além do tempo da vida humana”.

Acusada de traição, Inês é morta sob as ordens do rei em um momento em que Pedro não está em casa. Ao descobrir sobre a perda da amada e sobre a responsabilidade do próprio pai naquela execução covarde, o príncipe é dominado pela fúria. Com seus aliados, vaga por Portugal durante semanas, provocando ataques e destruição.

Tempos depois, quando enfim herda o reino, ele parte para a vingança. Persegue os assassinos de Inês e ainda manda desenterrar a amada para sentá-la no trono, promover a cerimônia do beija-mão entre os seus horrorizados súditos e, desse modo, a transforma em rainha depois de morta. Nesse ponto, fatos históricos e lendas se misturam.

“A história desse amor e o modo como o seu sobrevivente, Pedro, lidou com a sua dor e a sua memória forneceram o combustível para que centenas de artistas, especialmente escritores, se voltassem para ela e a tomassem como tema de suas obras”, contou Susana. “Somente até o final do século XVI,

Fernão Lopes, Garcia de Resende, António Ferreira e Luís de Camões dedicaram a Inês de Castro páginas inesquecíveis nos mais diversos gêneros. Nos séculos que se seguiram, a aura em torno da história de Inês de Castro só fez crescer: músicos, artistas plásticos e escritores continuaram a criar, inspirados por ela.”

E quanto ao Pedro?

Tão envolto em lendas quanto sua amada, Pedro precisava de uma abordagem mais realista. Antes de desenvolver o personagem à minha maneira, conversei com o professor de História da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Roberto Figueiredo Nogueira, considerado o maior especialista no Brasil sobre o tema.

Ele explicou que são escassas as fontes sobre Pedro (mais conhecido como Pedro I de Portugal). Muitas delas foram perdidas, mas algumas podem ser retiradas dos documentos legais da época. De acordo com essas pistas, Pedro foi um rei em tempos de crise, lidando com a fome, a peste e as intermináveis e devastadoras guerras com Castela, em um prolongamento ibérico da Guerra dos Cem Anos. “É nesse contexto que se pode entender Pedro”, destacou. Segundo o professor, a manutenção da paz foi a sua política mais importante. “Soberano conhecedor de Portugal, concentra-se em seus domínios. Em seu reinado não há guerras nem internas, nem externas. Monarca folgazão e que não tinha pudor em se misturar ao povo, administra cuidadosamente a segurança do reino, bem como as relações entre o clero e a nobreza, concedendo privilégios a uns e retirando de outros conforme as circunstâncias do momento.”

Quando se fala em Idade Média, sempre se pensa nos castelos ingleses ou franceses…

É que a Idade Média na Península Ibérica não recebe o mesmo espaço dado em livros, filmes e até séries de TV. Acho isso uma

grande injustiça, pois as tramas mirabolantes que envolvem os nobres portugueses e castelhanos daqueles tempos renderiam muitas histórias.

Nos reinos de Portugal e Castela (esse último formaria a atual Espanha ao incluir os territórios de Aragão, Granada e parte de Navarra), os poderosos da vida real envenenavam adversários, mudavam sua lealdade de lado conforme as vantagens e os benefícios oferecidos, cometiam assassinatos grotescos, promoviam guerras entre si, casavam por interesse, enfim, pensavam em si antes de mais nada.

Como você lidou com tantas informações?

Escolhi o que estivesse ligado de forma direta ou indireta aos personagens do livro. Durante a minha pesquisa, conheci os estudos de Adelaide Pereira Millán da Costa, professora da Universidade Aberta em Lisboa, sobre as três mulheres mais importantes da vida de Pedro. Esse trabalho de fôlego, publicado na premiada coleção portuguesa Rainhas de Portugal, teve como base a análise de fontes e, como esclarece a própria Adelaide, foi completado por interpretações plausíveis e hipóteses referenciadas. Orientei-me por suas indicações com relação a datas e a vários eventos.

Embora eu respeite ao máximo os fatos históricos, também investi no mito em alguns momentos, como, por exemplo, quando reconto a cerimônia de beija-mão da rainha morta, um evento possivelmente criado pelas lendas.

Todos os personagens foram pessoas reais?

Na verdade, decidi incluir personagens totalmente inventados para que interagissem com pessoas que tiveram existência real e historicamente comprovada. Tomei também liberdades literárias. Estêvão Lobato, por exemplo, é quase ficcional, pois o que encontrei sobre o verdadeiro foi tão pouco que mal lhe caberia um papel

de figurante. Recriado para a trama, ele ganha o papel de segundo protagonista masculino.

Com a liberdade proporcionada pela ficção, inventei reviravoltas embasadas no contexto histórico, trouxe motivações diferentes aos personagens, ou seja, fiz a minha mistura de ficção e realidade.

Aproveitei ainda o fato de se desconhecer a autoria do design utilizado nos belíssimos túmulos de Alcobaça para dar vida à personagem Peres, a segunda protagonista feminina e, na ficção, artista responsável pela criação e execução da obra. Sua função, entretanto, vai além: ela se torna confidente de Pedro e interesse amoroso de Lobato.

Como desenvolveu a linguagem, considerando que o livro conta uma história medieval?

Leve, ágil e de fácil compreensão, ela foi trabalhada pensando no jovem leitor de hoje. Optei por usar apenas o “tu”, esquecendo de propósito o “vós” mais cerimonioso quando é dirigido a uma única pessoa. Resolvi ainda utilizar nos diálogos somente o idioma português, apesar de vários personagens serem castelhanos.

Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra é, portanto, uma história portuguesa contada por mim, uma brasileira e neta de portugueses, com todas as características pertinentes a essa condição.

LITERATURA: ANÁLISE DE LINGUAGEM E GÊNERO DA OBRA

Uma das manifestações artísticas do ser humano, a literatura é chamada de arte das palavras, pois representa comunicação, linguagem e criatividade em prosa e verso. Por intermédio da literatura, a realidade é recriada de modo artístico com o objetivo de

proporcionar maior expressividade, subjetividade e sentimentos ao texto.

“O texto repercute em nós na medida em que revele emoções profundas, coincidentes com as que em nós se abriguem como seres sociais”, conceitua Domício Proença Filho, em seu livro A linguagem literária.

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A literatura se manifesta em histórias de ficção, como poemas, romances, contos, crônicas e novelas, escritas por autores em épocas e lugares diferentes.

Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra é, portanto, uma obra literária, como mostra o trecho a seguir, na página 126:

“O criado contemplou o rio diante deles, as águas crispadas graças à turbulência do vento. Acima de suas cabeças, nuvens negras devoravam o céu.”

Nem todo texto possui linguagem literária. Uma reportagem, por exemplo, pode contar uma história que provoca reações e reflexões no público. Ela usa, porém, linguagem jornalística e seu conteúdo se limita aos fatos apurados pelo repórter. Ou seja, a função do texto é informativa e não literária.

“O que faz de um texto literatura é o tratamento que a ele se dá”, explicam Cinara Ferreira Pavani e Maria Luíza Bonorino Machado, em seu livro Criatividade, atividades de criação literária.

3 “Uma mesma frase pode expressar o que suas palavras indicam, literalmente, ou ir além, sugerindo significados que exigem um ato interpretativo por parte do leitor”.

2 PROENÇA FILHO, D. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 2007. p. 7-8. 3 PAVANI, C. F.; MACHADO, M. L. B. Criatividade, atividades de criação literária. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2003.

Dirigido ao público jovem leitor, o livro Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra é um romance histórico com base tanto em lendas quanto nos fatos que envolvem o príncipe Pedro e a dama galega Inês de Castro, duas pessoas que realmente existiram, nasceram no século XIV e se tornaram figuras históricas.

Como há vários tipos de produções literárias, os especialistas decidiram agrupá-las de acordo com suas características em comum. São os chamados gêneros literários. Entre eles, estão o poema, o conto, a crônica e, claro, o romance.

Forma literária escrita em prosa, o romance se popularizou na literatura ocidental no século XIX. Sua característica principal é ser uma narrativa longa, dividida em capítulos, com vários conflitos e uma rede complexa de personagens. Isso o difere da novela, gênero literário com que é frequentemente confundido pelo fato de terem aspectos em comum. Na novela, o fator que predomina é o evento principal, a história a ser contada em meio a poucos conflitos e personagens. Ou seja, uma novela seria comparável a um filme enquanto um romance seria como uma temporada de série, com muitos episódios, em que é possível desenvolver amplamente tramas e subtramas e focalizar diferentes personagens que, em suas vivências, mostram um mundo complexo, cheio de diferentes interpretações.

Há vários tipos de romance, como o regionalista (o lugar onde a narrativa se desenrola é central; o autor deseja mostrar ao mundo a particularidade desse pedaço de mundo), de ação (centrado nas ações do protagonista, que vive uma trama complexa) e psicológico (focado na consciência individual dos personagens), entre outros.

No caso de Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra, trata-se de um romance histórico, uma narrativa ficcional que se desdobra em um determinado espaço-tempo, o que possibilita aos leitores conhecerem parte da história de um lugar e de um período, além de envolvê-los com a narrativa de sentimentos

e particularidades que não caberiam em um livro de História comum. Os romances históricos, como ocorre com Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra, conquistam seus leitores exatamente por essa possibilidade de enxergar um passado de maneira precisa, mas também repleta de encanto. Ao dar carne e sangue a personalidades históricas, o romance histórico permite ao leitor conhecer o dia a dia e os sentimentos dos personagens, que adquirem materialidade e se tornam, aos olhos dos leitores, gente como a gente.

Um exemplo está na página 67:

“O confronto entre os dois reinos prosseguiu com novos ataques e contra-ataques. Sem querer, entregou uma excelente oportunidade a Yusuf, o emir de Granada, vizinho de Castela e o único reino mouro ainda existente na Península Ibérica após a retomada cristã. Ele aproveitou o caos, pediu reforços a seus aliados muçulmanos do norte da África e preparou-se para assumir o controle sobre o Estreito de Gibraltar, parte de uma rota marítima imprescindível para o comércio da Europa. Seria também o momento perfeito para recuperar territórios sob o domínio castelhano e português.”

Além de ter uma narrativa longa com vários conflitos, o romance apresenta outras características:

Tempo – A trama se desenvolve em um determinado período de tempo, que pode ser linear ou não linear, objetivo ou subjetivo.

Em Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra, a história começa no ano de 1330 e termina em 1368. Para facilitar a compreensão do avanço do tempo, quando necessário o início do capítulo traz o ano correspondente aos eventos narrados. A

passagem do tempo também pode ser mostrada em meio à narrativa para fins de contextualização.

Espaço – O romance é ambientado em determinado espaço, onde as ações acontecem.

Neste livro, a história se passa nos reinos de Portugal, Castela e Granada do século XIV, respeitando as divisões territoriais do período. Para facilitar, quando necessário o início do capítulo traz a localização onde os eventos acontecem. A mudança de espaço também pode ser mostrada em meio à narrativa para fins de contextualização.

Enredo – O romance conta uma história, apresentada a partir de um encadeamento de eventos, com ocorrência de situações tanto principais como paralelas e secundárias.

Neste livro, trabalhou-se com duas linhas temporais: uma que começa em 1330, na infância dos protagonistas, e outra que se inicia em 1355, ao final do desvario de Pedro após a perda de Inês. As duas linhas vão se intercalando, cada qual com os próprios eventos, até se tornar uma linha temporal única. Na primeira linha, narrada de modo linear e objetivo, o leitor conhece Pedro, o príncipe que, atormentado pela dor e pelo desespero, com seus homens ataca e destrói os vilarejos por onde passa.

Conhecer Peres, uma talentosa escultora, faz com que ele direcione sua fúria para os alvos certos: quem tramou a morte de Inês e a executou. Enquanto essa linha temporal avança a fim de narrar os desdobramentos de tal decisão, a segunda linha, também narrada de modo linear e objetivo, apresenta os acontecimentos do passado que levaram Pedro à vingança. Mostra sua infância, quando conhece Inês, e segue por sua adolescência e juventude.

As duas linhas se unem na conversa em que Pedro por fim revela tudo a Peres, ocorrida em 1357. A partir desse ponto, a narrativa segue uma única linha temporal, centrando-se mais nos segundos protagonistas, a fictícia Peres e o melhor amigo de

Pedro, Estêvão Lobato, na transformação de Inês em rainha, na construção dos famosos túmulos de Alcobaça (onde se encontram os restos mortais de Pedro e Inês) e, finalmente, na execução da vingança.

Personagens – Classificados de acordo com sua complexidade em planos ou esféricos, eles se relacionam a partir da trama principal. Seres construídos por palavras ganham características físicas, sociais e psicológicas.

Na primeira linha temporal de Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra, os protagonistas são Pedro e Inês de Castro. Já os antagonistas principais são o rei Afonso IV e o nobre Diogo Pacheco. Na segunda linha, Pedro perde parte do protagonismo para Lobato. No lugar de Inês, entra Peres. Diogo Pacheco permanece como o antagonista a ser vencido.

Outro ponto importante é o narrador, que é quem leva o leitor pelos caminhos apresentados pelo autor. É por seu ângulo de visão, ponto de vista, foco ou enfoque que se conhece a trama. Ou seja, o narrador é quem conta a história.

Em Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra, temos o chamado narrador onisciente. Embora não seja um personagem, ele narra como se soubesse de tudo o que acontece, como se pairasse acima de tudo e tudo visse, o que inclui também saber tudo sobre os pensamentos e os sentimentos dos personagens.

Um exemplo está na página 22:

“Pedro sentiu que o pai o analisava de cima a baixo, criticando sua aparência. Para completar, o rosto do menino estava vermelho devido à correria e o suor escorria da testa, do pescoço e das axilas. E tudo ficaria ainda pior quando tivesse de dizer algumas palavras de boas-vindas aos recém-chegados. Iria gaguejar, com certeza. Novamente Afonso passaria vergonha por culpa do filho.”

Como literatura, o livro dialoga com outras áreas de conhecimento, como a Sociologia, por exemplo. Ele mostra como se organizava e funcionava a sociedade medieval no século XIV na Península Ibérica, suas leis, instituições e relações de poder, o que viabiliza uma comparação interessante com o mundo atual e sua dinâmica.

Um exemplo está na página 152-153:

“O combate à peste negra era o principal assunto da reunião. Na véspera, uma sinagoga fora depredada e quase vítima de um incêndio criminoso por parte da maioria cristã. Em alguns vilarejos mais distantes, os judeus eram executados pela população, que os considerava responsáveis por evocar a doença em seus rituais desconhecidos.

Os muçulmanos também enfrentavam a mesma acusação. Pedro, gaguejando, sugeriu medidas urgentes para protegê-los, como construir muros ao redor dos seus bairros.”

Com a Antropologia, a trama possibilita a análise comportamental do europeu cristão do século XIV na Península Ibérica, seus costumes, crenças e cultura. Assim como ocorre com a Sociologia, este livro oferece elementos para um bom diálogo com a Antropologia.

Um exemplo está na página 32:

“Combatida pela Igreja, a bruxaria integrava o cotidiano do povo, embora provocasse temor na maioria. Eram as mulheres, mesmo

as mais ricas, que costumavam recorrer aos feitiços das bruxas para conseguir um marido […]”

Outros diálogos possíveis podem ser feitos com a História, considerando os fatos utilizados no desenvolvimento do enredo, com a Geografia, na dinâmica da ocupação territorial e sua relação com o ser humano na disputa mostrada na trama, e com a Arte, pois parte da segunda linha temporal é dedicada ao planejamento dos túmulos de Alcobaça, uma das principais obras-primas da escultura tumular portuguesa. Na internet, encontram-se várias fotos e vídeos com os detalhes impressionantes dessa arte inovadora para o período.

Pedro e Inês de Castro – Uma história de amor e guerra leva ao jovem leitor temas ligados a questões sociais e culturais, valores e eventos históricos, entre outros, dessa forma incentivando o espírito crítico, a conscientização e a contextualização de assuntos importantes por intermédio de tramas que misturam elementos como aventura, humor, ação e romance, de linguagem acessível à faixa etária.

A trama incentiva o leitor a se colocar no lugar do outro, o personagem, a conhecer seu ponto de vista e suas motivações. Ao transformar o leitor em participante da história contada, por intermédio da leitura e da interpretação do texto segundo a sua vivência, a trama proporciona a visão de outras realidades, da compreensão do passado para se entender o presente e projetar o futuro. Incentiva ainda a imaginação, a criatividade, auxilia na ampliação de vocabulário e na construção de conhecimentos variados.

Existe também a presença de questões atemporais nas entrelinhas da obra, como diversidade, desigualdade social, justiça e o papel da mulher na sociedade, aspectos que fornecem elementos para uma reflexão mais do que necessária sobre a atualidade.

Afinal, como defendeu o antropólogo e filósofo contemporâ-

neo Edgar Morin, a literatura nos oferece antenas para entrar

no mundo.

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