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Capítulo 4

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de amor e guerra

de amor e guerra

4

Portugal, 1340 (dezesseis anos antes)

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Contra todas as expectativas, a nova esposa de Pedro, Constança, foi impedida por Alfonso XI de sair de Castela após o casamento por palavras de presente, que ocorrera em Évora em 1336 sem a presença da jovem. Essa ação do rei castelhano mais uma vez tinha um objetivo político: impedir o consequente fortalecimento da aliança entre o pai da jovem, Juan Manuel, seus aliados e o rei de Portugal.

Do lado português, Afonso IV temia que o neto, filho de Maria e herdeiro legítimo de Castela, perdesse o direito ao trono, pois os bastardos de Alfonso XI com a Guzmán continuavam a ganhar terras e títulos, retirados de outros nobres. Para piorar a crise, Maria, constantemente humilhada pelo marido e pela amante dele, refugiou-se em terras lusas.

Foi Castela que deu o primeiro passo para a guerra. Como resposta, os homens do rei português promoveram cercos e devastações em solo inimigo. Por sua vez, Alfonso XI reconquistou a lealdade de um dos nobres que tramavam contra ele, o Senhor da Guerra Pedro de Castro. Para atraí-lo, o rei castelhano utilizou o mesmo tipo de artifício que já usara com Juan Manuel:

a possibilidade de casar com um dos bastardos reais uma filha legítima do Senhor da Guerra, meia-irmã de Inês, a loirinha que salvara a vida de Branca. Matrimônio realizado, Pedro de Castro ganhou novas propriedades na Galícia, trouxe o apoio do amigo Juan Alfonso de Albuquerque, filho de Teresa e Afonso Sanches, e rumou para sitiar Juan Manuel em sua fortaleza.

A traição teve um peso muito grande para o rei português. Pedro de Castro crescera na corte lusa, um menino inteligente a quem ensinara a caçar e a manejar uma espada. Ele fora o filho que desejava ter gerado, o guerreiro hábil e corajoso que não temia o perigo. O oposto de Pedro, o filho verdadeiro que, em vez de estar ao lado do pai aprendendo táticas de guerra, perambulava pelo reino ajudando a amenizar suas consequências junto à população. Se por um lado revelava o mesmo tino administrativo do avô Dinis, por outro se preocupava demais com as pessoas, perdendo o foco nos resultados que poderia obter se aprendesse a manipulá-las. Para o rei português, isso demonstrava fraqueza e o afligia profundamente. Tinha certeza de que Pedro seria um péssimo soberano.

O confronto entre os dois reinos prosseguiu com novos ataques e contra-ataques. Sem querer, entregou uma excelente oportunidade a Yusuf, o emir de Granada, vizinho de Castela e o único reino mouro ainda existente na Península Ibérica após a retomada cristã. Ele aproveitou o caos, pediu reforços a seus aliados muçulmanos do norte da África e preparou-se para assumir o controle sobre o Estreito de Gibraltar, parte de uma rota marítima imprescindível para o comércio da Europa. Seria também o momento perfeito para recuperar territórios sob o domínio castelhano e português.

Para combater o perigo tão próximo, a Igreja Católica entrou em ação e despachou seus representantes para alertar os cristãos desunidos e obrigá-los a esquecer suas diferenças. Uma nova guerra contra os mouros estava prestes a arrebentar.

O ano era 1340.

No dia 1º de julho, em Sevilha, embaixadores de Portugal e Castela chegaram a um acordo. Em desvantagem contra o poderio muçulmano, o rei castelhano teve de engolir o orgulho. Aceitou tratar melhor a esposa Maria, separar-se temporariamente da Guzmán e ainda permitir a viagem de Constança a Portugal.

Em agosto, o rei português soube que a comitiva da filha de Juan Manuel aproximava-se de Lisboa, onde seriam celebradas as núpcias. Ocupado com os preparativos da ofensiva contra os mouros, o soberano estava a caminho de Santarém. Não chegaria a tempo para recepcioná-la. Enviou, então, um mensageiro a Pedro.

Ele que fosse receber a nova esposa.

Com o apoio da mãe, Pedro passara a cuidar dos assuntos internos do reino que Afonso deixara de lado para se dedicar às suas disputas com Castela. Estudara todas as leis e aprendia a gerenciar os mecanismos que colocavam aquela sociedade em funcionamento. A guerra aumentara a fome, a miséria e a violência. Os camponeses abandonavam seus cultivos, com medo tanto das tropas castelhanas quanto das portuguesas, e iam para as cidades, onde não conseguiam emprego.

O mensageiro de Afonso encontrou Pedro numa aldeia próxima a Lisboa, na casa da bela Sancha, filha de um comerciante local. O infante reunia-se com um grupo de pescadores para discutir questões relacionadas à captura do bacalhau no Atlântico Norte, situação em que se enfrentava a concorrência desleal dos ingleses.

Aos vinte anos de idade, Pedro continuava gago, acima do peso e desengonçado, porém ganhara mais força, altura e agilidade. Jamais seria o tipo bonitão e irresistível para as mulheres. Isso, no entanto, não era problema algum. Elas sempre apareciam ao

reconhecê-lo, interesseiras na maioria, algumas deslumbradas por estarem na companhia de um infante. Sancha era uma delas, assim como Violante, a filha de um artesão em Coimbra, e mais uma ou outra pelos vários caminhos que Pedro costumava percorrer.

Com as nobres não era diferente. Mas, ao contrário das mulheres do povo, que se contentavam com pequenos presentes e até um punhado de moedas, elas queriam propriedades e títulos para si e para seus pais e irmãos. Pedro achava mais sensato não se envolver com nenhuma delas. De quebra, evitava gerar um bastardo que lhe traria algum aborrecimento ao entrar em disputas por poder.

Com Sancha, que lhe dera uma menina no ano anterior, e com Violante, mãe de seu menino recém-nascido, era tudo mais simples. Jamais poderia reconhecer as crianças, porém garantia que nada lhes faltasse.

O recado de Afonso já era, de certo modo, esperado. A ameaça dos mouros levara à trégua e, com ela, os nós que impediam a vinda de Constança foram desatados.

Pedro deu uma moeda ao mensageiro, dispensou-o e foi encerrar a reunião. Chegaria a Lisboa no começo da tarde.

A grandiosa comitiva de Constança, digna da filha preferida de Juan Manuel, fora obrigada a parar a menos de uma hora de Lisboa. Uma das carroças afundara parcialmente em um buraco, outra tivera o eixo quebrado pelo mesmo motivo. O mau estado de conservação das estradas apenas refletia o interesse do rei em outros assuntos que considerava mais importantes.

Pedro logo alcançou a comitiva. Desceu do cavalo, entregou as rédeas e a espada a um dos homens de sua pequena escolta, mandou que o esperassem e foi espiar o que estava acontecendo. Resolvera ir desarmado para não chamar a atenção enquanto

procurava pelo único que lhe interessava encontrar: seu inimigo Juan Manuel. Pretendia avaliá-lo à distância antes de ser obrigado a encará-lo numa situação formal.

O rapaz misturou-se à multidão castelhana de nobres, damas, menestréis, servos, escravos e vários outros acompanhantes que iriam compor a “casa” de Constança em Portugal.

Devido à demora em consertar as carroças, praticamente todos andavam de um lado para o outro e iam formando rodas de conversa, observados de longe e com muita curiosidade pelos camponeses que viviam nas redondezas.

Juan Manuel não estava na comitiva. Segundo um dos servos, viera com ela até a fronteira, despedira-se da filha e fora para Sevilha resolver seus assuntos bélicos, dessa vez dirigidos contra os mouros.

Pedro lamentou a falta de sorte e ia reencontrar a escolta quando uma jovem à sua frente tropeçou e perdeu o equilíbrio. Ele apenas reagiu. Agarrou-a com firmeza, impedindo-a de cair e se machucar, e depois a recolocou em pé.

Ainda a segurava no instante em que ela reparou melhor nele, nas roupas simples que vestia e na sua aparência de homem do povo. – Solta-me, vagabundo! – ordenou, o nariz empinado e o olhar cheio de indignação. – Mas eu… – Solta-me!

Pedro afastou-se, as mãos erguidas, tentando desfazer a confusão. – Ias ca… cair.

Ela percebeu a gagueira. – Eu ia o quê? – decidiu humilhá-lo. – Repete, vagabundo! – Ca-ca… cair.

A jovem esperou a reação dos que estavam à sua volta e assistiam à cena. Risos e zombarias vieram como o previsto.

– O que houve, D. Constança? – perguntou um dos nobres, aproximando-se.

Então essa era a filhinha de Juan Manuel? Pedro fechou o semblante e analisou sua nova esposa de cima a baixo. Filha de uma princesa aragonesa, ela era morena, bonita, elegante, dois anos mais velha do que ele, vestia-se com trajes caros e não dispensava as joias. Fora rainha de Castela, acabara repudiada pelo marido Alfonso XI e agora, após oito anos de espera desde as primeiras negociações para o novo casamento até a liberação para seguir viagem, finalmente assumiria seu posto de esposa do futuro rei português. – D. Rui, este vagabundo tocou em mim – queixou-se ela para o nobre, ninguém menos do que seu mordomo-mor, Rui Garcia do Casal.

Ele se mostrou ultrajado e, a um gesto seu, um dos criados avançou contra Pedro com um chicote. O rapaz evitou o golpe ao agarrar a ponta do couro, puxar quem tentava agredi-lo e derrubá-lo com um soco. Três criados vieram em socorro do primeiro, porém foram necessários mais alguns para imobilizar Pedro e amarrá-lo contra a roda de uma das carroças.

O chicote voltou a ser usado. Acertou-lhe as costas cinco, seis vezes, arrancando-lhe sangue, e só não continuou a surrá-lo porque a própria Constança, que ria da cena com suas aias, viu-se obrigada por um sacerdote de sua comitiva, Gonçalo Vasques, a suspender o castigo. – Devemos ser piedosos, D. Constança – ele ralhou. – Ainda mais com o próximo que nos ajuda.

Gonçalo vira o que realmente ocorrera. A jovem lançou-lhe um olhar de desdém e retirou-se, acompanhada pelas aias. Os demais, inclusive o mordomo-mor, foram cuidar da própria vida. O espetáculo perdera a graça.

A uma ordem do sacerdote, Pedro foi desamarrado. Bastante dolorido, o rapaz pôs-se em pé, beijou-lhe a mão e agradeceu sua interferência. – Vai em paz, filho – disse Gonçalo, entregando-lhe algumas moedas. – E procura ficar longe de confusão, está bem?

Lobato, que permanecera no paço real em Lisboa para tratar de assuntos particulares, foi correndo chamar o médico da rainha enquanto Pedro aproveitava para se lavar. Chegara antes da comitiva, o que lhe daria tempo para descansar um pouco e se preparar para receber a nova esposa e sua gente.

Após os curativos e a bronca da mãe, que veio lhe puxar as orelhas por mais uma vez não se preocupar com a própria segurança, Pedro finalmente ficou a sós com Lobato. O infante ignorou seus trajes de luxo, feitos especialmente para a ocasião, e escolheu uma camisa e uma calça comprida que usava para caçar. Um par de botas velhas seria a combinação perfeita. – Senhor, já esqueceste tua aparência no dia em que recebemos a comitiva de D. Branca? – perguntou o criado, espiando com reprovação o visual desleixado, porém infinitamente mais limpo do que aquele que o infante exibira anos antes, numa solenidade semelhante. – Devias estar impecável. – Eu não. És tu que estarás.

Lobato franziu o nariz. O que o amigo estava aprontando…? – Veste tua melhor roupa – disse Pedro. – Hoje tu serás o infante.

Na sala principal do paço, a corte reuniu-se para receber a comitiva, que deixara seus transportes, bagagens e o rico enxoval

da noiva, distribuído em várias arcas, no pátio com seus servos e escravos. Lobato e Pedro ladeavam a rainha Beatriz, junto ao grupo de nobres que ocupava posições e cargos mais privilegiados.

Assim que Constança pisou o local, o infante deu alguns passos para trás, colocando-se discretamente sob a sombra de seu antigo tutor, Lopo Pacheco. O filho dele, Diogo, acompanhava Afonso na viagem a Santarém.

Orgulhosa, a filha de Juan Manuel avançou até a família real. Andava como uma rainha, com gestos comedidos e ensaiados à exaustão. Aquele era seu grande momento, a entrada triunfal que aguardara com tanta ansiedade. Não olhava para ninguém, uma figura superior aos pobres mortais que a conheciam naquele instante e lhe admiravam a beleza, a sofisticação, os modos refinados e o vestido que, junto com suas joias, devia valer uma pequena fortuna. Rui, Gonçalo e outros membros mais importantes de sua futura “casa” vinham logo atrás dela.

Diante de Beatriz e Lobato, eles pararam. Constança fez-lhes uma reverência e sorriu, os olhos gostando do que encontravam no rapaz que julgava ser o infante. Seria o par perfeito em elegância e boa aparência. – Sê bem-vinda, senhora – disse Lobato, no seu tom de voz mais charmoso.

Ela suspirou. Não escondia a felicidade. Ele era muito melhor do que imaginara, muito melhor até do que o sedutor ex-marido Alfonso XI. – Muito obrigada, D. Pedro.

Beatriz olhou para o rapaz. Bufou, aborrecida, e só então descobriu que o filho se escondera. – D. Pedro, isso não tem mais graça – reclamou. – Vem logo receber tua esposa!

Constança piscou, sem entender nada. E empalideceu violentamente ao reconhecer o verdadeiro Pedro, que se colocou ao lado da

mãe. Um burburinho percorreu a comitiva. Rui não teve coragem de manter o rosto erguido para o infante. Baixou a cabeça e manteve-se nessa posição. Gonçalo começou a rezar, prevendo o pior.

Pedro repetiu as palavras de Lobato, porém caprichando na gagueira. Arrasada, Beatriz mirou o teto. A frase levou minutos intermináveis até ser concluída.

Constança voltou-se para Lobato, na esperança de que tudo não passasse de um engano; ele não prestava mais atenção nela. Esboçava um sorriso carinhoso para a esposa, uma das aias de Beatriz, que segurava no colo a filhinha mais velha do casal.

A filha de Juan Manuel impediu o choro, humilhada, forçando para o noivo um sorriso que ele fez questão de esnobar. Conviver com alguém como Pedro seria seu pior castigo.

Satisfeito, ele logo se cansou da brincadeira. Foi até Gonçalo e devolveu-lhe as moedas. – Obrigado por tua bondade – disse-lhe. – Irônico como… o próximo pode ser quem… quem menos se espera, não é mesmo?

O sacerdote ia lhe dar algum conselho, mas mudou de ideia. Ficaria para mais tarde. – Vem, D. Estêvão, vamos caçar – chamou Pedro. – O dia ainda não terminou.

Sem se preocupar com mais nada, os dois rapazes abandonaram a sala, para indignação de Beatriz e alívio de Constança.

Horas após Afonso IV chegar a Lisboa, a segunda etapa do casamento foi realizada. Pedro, claro, perdeu-se nas festas para comemorá-la. Embalado pelo vinho, foi terminar a noite com Sancha, esquecendo-se por completo da esposa que o esperava no quarto dela, usando uma delicada camisola que bordara especialmente para as núpcias.

Nos dias que se seguiram, quando retomou suas andanças, o infante não viu Constança. E nem a veria tão cedo. Afonso tinha outros planos para ele.

Numa manhã, o pai mandou chamá-lo ao paço. Aguardava-o em sua antecâmara e foi direto ao ponto. – Por que ainda não dormiste com tua esposa?

Pedro não tinha uma desculpa melhor. – Ela anda indi… indi…indis-pos-posta. – E tu, ao que me parece, continuas disposto até demais para correr atrás de tuas mulheres.

Diante da surpresa do filho, ele acrescentou: – Achaste mesmo que eu não sabia? Portugal inteiro comenta sobre elas. A partir de agora, exijo que sejas um marido fiel. Há uma cláusula sobre isso no teu contrato de casamento, não esqueças.

Pedro segurou a vontade de rir de tanta hipocrisia. A tal cláusula fora imposta por Juan Manuel, ele mesmo pai de filhos bastardos, um deles seu braço direito. Já Afonso, com suas leis que priorizavam a moral e os bons costumes, inclusive punindo severamente o adultério, tinha pelo menos duas filhas fora do casamento. – Resolverás a questão com tua esposa quando voltarmos de Castela. – Vou con-contigo? E que-que-quem vai cuidar do… do… do reino?

Na frente do pai, Pedro sempre gaguejava muito. Envergonhado, evitou seu rosto severo. – Não haverá mais reino se os mouros não forem detidos – disse Afonso, com pesar. – E depois, quero que aproveites a oportunidade e aprendas a lidar com os poderosos que estarão reunidos para essa luta. Um dia, assumirás o trono e terás de enfrentá-los se não quiseres ser destroçado por eles.

Afonso desviou o olhar para a claridade da manhã, retratada por uma das janelas. Sorriu com tristeza. – Filho, eu não viverei para sempre – murmurou.

A irmã de Pedro, Maria, foi ao encontro dele e dos pais em Évora. Depois, junto com suas tropas, seguiram para o vilarejo de Juromenha, na fronteira entre Portugal e Castela, onde os dois reis, o português e o castelhano, finalmente se encontraram.

Após uma breve conferência a que Pedro assistiu de boca fechada, seu pai despediu-se de Alfonso XI e foi conversar com Diogo, Lopo Pacheco e outro de seus homens de confiança, Martins Teles. Estavam às margens do rio Guadiana. Perto dali, na casa em que se hospedavam, Beatriz colocava a conversa em dia com a filha.

No instante em que o rei castelhano ficou sozinho com Pedro, resolveu puxar conversa. Além de cunhado, Alfonso XI era duplamente primo do rapaz, pois a mãe dele fora irmã do pai de Pedro. Já o pai dele fora irmão de Beatriz. – D. Pedro, eu gostaria de te pedir uma gentileza – disse-lhe.

Era a primeira vez na vida que lhe dirigia a palavra. – Qual…, senhor? – Eu gostaria que colocasses a teu serviço o filho bastardo de meu aliado Pedro de Castro. É um jovem corajoso, muito bom no manejo das armas. Foi criado junto com nosso primo Juan Alfonso de Albuquerque.

Pedro espiou o pai, que continuava falando com seus conselheiros. Afonso teria cólicas de fúria se o filho acolhesse alguém da família do traidor Senhor da Guerra. – Será… uma honra – disse o infante. – Ele veio… contigo?

O rei castelhano abriu um sorriso irônico. Acertava em cheio ao apostar na rebeldia de Pedro, confirmando que pai e filho jamais se entenderiam.

Com um gesto, chamou um jovem loiro que devia ser uns dois anos mais novo do que Pedro. Ele veio correndo e, ao parar diante do rei e do infante, fez-lhes uma reverência. – Este é D. Álvaro de Castro – apresentou Alfonso. – És bem-vindo ao me-meu serviço, D. Álvaro – disse Pedro, odiando gaguejar na frente do primo. – Que-queres começar ago-gora?

O jovem aceitou, empolgado, e agradeceu-lhe efusivamente. Tinha o mesmo tipo de nariz e os olhos acinzentados da irmã Inês.

Sem mais nada para tramar, Alfonso XI e o punhado de homens que o acompanhava subiram a bordo de alguns barcos e cruzaram o rio. Na margem oposta, os cavalos estavam à sua espera para a viagem até Sevilha. – E como vai D. Inês? – perguntou Pedro a seu novo subordinado. – Muito bem, senhor – disse Álvaro. – Com que-quem se casou? Não sei notícias dela há… anos. – D. Inês ainda está solteira, pois D. Juan Alfonso recusa todos os pretendentes. Diz que tem outros planos para ela. – Que planos? – Não sei. Ele nunca diz.

Aqueles senhores encrenqueiros e seus planos mirabolantes para conquistar mais poder e fortuna… Pobre Inês. Na certa, acabaria presa a um dos bastardos de Alfonso XI. Pelo menos, esperava Pedro, continuaria fora do alcance de Diogo Pacheco. De qualquer forma, aparentemente Inês não era mais ameaça para ele. Alguns anos já tinham se passado desde a tentativa de envenenamento, Branca fora repudiada, o casamento com Constança já ocorrera e o filho de Lopo Pacheco acumulava cada vez mais influência junto ao rei português.

Mesmo assim, às vezes o passado é difícil de esquecer. Para Pedro, era impossível. Odiava Diogo ainda mais do que Juan Manuel.

Um dia, os dois pagariam muito caro pelo sofrimento que tinham causado a Branca.

Claro que Lobato não gostou nem um pouco de descobrir um Castro por perto. – Senhor, não devias ter aceitado esse galego – disse, ranzinza. – Estás trazendo as disputas de Castela para tua “casa”. E depois, quando teu pai souber…

Se Afonso IV teve cólicas de fúria, Pedro não pôde confirmar, mas a punição veio exemplar: o rapaz foi proibido de ir a Sevilha com ele e Maria. Deveria seguir com a mãe até o castelo de Estremoz, em terras lusas, onde perderia todas as reviravoltas emocionantes da luta contra os mouros.

Pedro fez que obedeceu e, assim que chegou a Estremoz, inventou para a mãe que ia caçar. Beatriz fez que acreditou, deu-lhe um beijo na testa e implorou que tomasse cuidado. Rapidamente ele pegou um cavalo e sumiu a caminho de Sevilha. Mal amanhecera.

Lobato alcançou-o numa trilha meia hora mais tarde. – Não irás comigo! – encrencou Pedro. – Vou, sim – teimou o outro. – Vais voltar para Estremoz. – Não vou. – É uma ordem!

Lobato e seu cavalo não saíram do lugar. – És meu criado e de-de-deves me obedecer! – Também sou teu amigo – ele enfatizou. – E não irás sozinho para confrontar D. Juan Manuel.

Como ele sabia…? Pedro desistiu. Lobato sempre podia prever seus passos. – Promete que nunca mais viajarás sozinho por aí – o amigo intimou. – E promete também que sempre me chamarás para cuidar da tua segurança nessas viagens. – Eu não… – Promete! – Não tenho que prometer nada a ti! – Tens, sim! Nunca mais quero sentir de novo a culpa daquele dia, quando te deixei para trás na caçada, e ter ainda de ser grato àquele miserável do D. Diogo só porque não cumpri o meu dever. Vais prometer ou não?

Pedro não esperava o desabafo. – Estás certo – cedeu. – Eu prometo.

Lobato pareceu tirar de si um peso imenso. Voltou a ficar tenso ao ouvir o som de cascos de cavalo cada vez mais próximos. Tiraram a espada da bainha. – Sou eu! – acenou o cavaleiro ao se tornar visível para eles, vindo pela mesma trilha. Era Álvaro de Castro.

Pedro girou o rosto zangado para Lobato. Aquela fuga era para ser secreta! – É óbvio que eu não iria trazê-lo! – protestou o criado.

Álvaro fora mais um que saíra no rastro do infante. Ao se aproximar, ele puxou as rédeas e fez sua montaria interromper o ritmo. O cavalo relinchou, mal-humorado. – Senhores, posso ir convosco? – perguntou. – Não! – disseram Pedro e Lobato ao mesmo tempo. – Mas eu sei andar por Castela, ao contrário de vós. Posso ser vosso guia.

Infante e criado entreolharam-se. O galego estava certo. – Não confio em ti – decretou Lobato. – Podes nos trair e vender D. Pedro a algum inimigo de Portugal.

– Eu jamais trairia o infante! – indignou-se Álvaro. – Será? O Senhor da Guerra não hesitou em trair a confiança do nosso rei. – Não sou meu pai. – Então deves fazer um juramento.

Os dois subordinados desceram da sela e esperaram Pedro, que contemplava o trajeto à sua frente. Estavam perdendo tempo. – Senhor, precisas vir para o chão – lembrou Lobato, impaciente.

Pedro cedeu mais uma vez. Desmontou e colocou-se diante de Álvaro, que se ajoelhou. Após deixar a seus pés a própria espada, o galego jurou solenemente que sua lealdade sempre estaria com o infante. Apesar das palavras sinceras, Lobato manteve-se desconfiado. – Minha irmã só está viva hoje graças a ti, D. Pedro – disse Álvaro. – Jamais poderei pagar o que fizeste por minha família.

À noite, quando os três interromperam a cavalgada para descansar os animais e dormir junto a uma fogueira, descobriram que mais alguém vinha atrás deles. Armaram uma emboscada e esperaram.

Ansioso para mostrar suas habilidades guerreiras, Álvaro derrubou o desconhecido do cavalo e arrastou-o com facilidade até a luz da fogueira. Tinha capturado um menino de dez anos. – O que fazes aqui? – ralhou o galego ao reconhecê-lo. – Não te falei para permaneceres em Estremoz? – Mas eu também quero lutar contra os mouros! – disse o menino. – Ainda és muito novo para isso. – Sou mais forte e mais alto do que os garotos da minha idade e também quero defender Portugal! – Quem é ele? – perguntou Pedro.

Álvaro ia responder, mas rapidamente o menino se libertou e, fazendo uma reverência ao infante, apresentou-se:

– Sou D. João Afonso Teles, filho de D. Martins Teles, conselheiro do senhor rei, teu pai – disse muito dignamente. – E peço permissão, meu senhor, para me colocar ao teu serviço. – Ele é o Telo, meu primo do lado português da minha família – resmungou Álvaro. – É filho de uma tia, irmã da minha mãe.

O pai do menino, Martins Teles, fora ao encontro de Afonso IV em Juromenha. Trouxera o filho e, antes de seguir com o rei, despachara-o para a segurança de Estremoz. Com tantos rostos novos nos últimos dias, nem Pedro nem Lobato tinham reparado no menino. – Senhores, posso ir convosco? – Telo perguntou. – Não! – disseram os três rapazes ao mesmo tempo. – Mas eu decorei o que havia no mapa! – Que mapa? – perguntou Lobato. – O que vi com meu pai. Sei exatamente onde todos os senhores castelhanos e portugueses colocarão suas tropas antes de avançar contra Granada. – Sabes onde ficarão as tropas de D. Juan Manuel? – disse Pedro. – Com certeza, senhor.

Mesmo que o obrigassem a revelar a informação, Telo iria segui-los naquela viagem arriscada. A única maneira de protegê-lo era incluí-lo no grupo. – Muito bem, D. João Afonso Teles, aceito teu serviço – disse o infante. Apreensivo com as consequências daquela decisão, Lobato só meneou a cabeça. – A partir de… agora, fazes parte da minha “casa”.

O menino deu um pulo de felicidade, erguendo os braços para cima. Pedro bocejou, cansado, pensando no canto que o esperava junto à fogueira. Ainda teria de esperar mais alguns minutos antes de poder dormir.

Álvaro dirigiu um olhar de censura para a euforia do primo, roubando a fala de Lobato. – Então deves fazer um juramento – disse.

De Sevilha, as tropas dos reis e de seus aliados partiram para Tarifa. Em La Peña del Ciervo, tiveram a noção exata do poderio do exército muçulmano. Se não o vencessem naquele momento decisivo, seria cada vez mais difícil deter a invasão.

Na madrugada do dia 30 de outubro, Pedro e seus três companheiros alcançaram o acampamento dos homens de Juan Manuel. Passaram despercebidos entre a multidão que se preparava para a batalha. Cavaleiros e mercenários conferiam suas armas e montarias, arqueiros testavam o alcance de suas flechas, a maioria rezava e uns poucos conseguiam dormir. A tensão consumia o ar, sufocante. Com seu numeroso contingente de soldados, o pai de Constança atuaria na vanguarda das forças castelhanas.

À parte do grosso dos homens, havia uma tenda, vigiada por cinco deles. Lobato apostou que Juan Manuel estaria ali, mas Pedro tinha outro palpite. O castelhano não precisaria contar com uma vigilância tão redobrada no meio da própria gente. O que, então, estaria protegendo? – Vamos espiar – decidiu o infante.

Tinham um plano. Com seu rosto inocente, Telo foi encher de perguntas os dois vigias que ladeavam a abertura da tenda. Não estranhariam a presença de uma criança naquele ambiente frequentado por mulheres e seus filhos. Elas acompanhavam os soldados em troca de dinheiro, muitas obrigadas por eles mesmos a entrar na prostituição, e acabavam carregando em sua rotina as crianças geradas nesses encontros.

Enquanto Telo cumpria sua parte, os rapazes colocaram a nocaute os outros três guardas, que cuidavam da vigilância atrás da tenda. A seguir, Pedro usou uma faca para abrir um rasgo no tecido e entrou no local. Lobato e Álvaro permaneceram do lado de fora para lidar com qualquer emergência.

No interior da tenda, uma única vela iluminava a prisioneira, uma menina morena de uns sete anos, de origem árabe, vestida com trajes finos usados pelas famílias mais ricas daquele povo. Um véu cobria-lhe a cabeça e algumas joias confirmavam seu valor como refém. Sem dúvida, Juan Manuel pretendia cobrar da família dela um resgate exorbitante.

A menina estava de joelhos, encolhida, apertando junto a si um caderno. Chorava baixinho. Ao notar Pedro, assustou-se. Ia gritar. – Não vou te fazer mal – disse ele para acalmá-la, em árabe. Aprendera o básico do idioma nas inúmeras visitas à Mouraria durante sua infância.

Funcionou. A menina mordeu os lábios, ainda com medo. Nenhum grito denunciou a presença do rapaz. – Sou Pedro. E tu, quem és?

Ela não respondeu. – O homem que te prende aqui é meu inimigo – ele explicou. – Tu vieste me libertar?

E por que não? Manter um refém era uma imensa covardia, ainda mais quando se tratava de uma criança. Além disso, era tentador atrapalhar os planos de Juan Manuel e, de quebra, dar-lhe um bom prejuízo. – Sim, vou te libertar. – E me levarias para casa? – Onde moras? – Em Granada. – Não tenho como te levar até lá, mas posso te devolver ao teu povo. – Prometes? – Prometo. E não deixarei que ninguém te machuque.

Se fosse mais velha, a menina jamais confiaria em um cristão. Sua inocência levou-a a abrir um sorriso, aceitar o manto que o

rapaz tirou do corpo para cobri-la e segui-lo pelo rasgo na tenda para sair.

Álvaro e Lobato não estranharam a atitude do infante em resgatá-la bem debaixo do nariz de Juan Manuel. Ajudaram-no a conduzi-la rapidamente até um esconderijo atrás de algumas árvores, onde tinham deixado os cavalos. Telo apareceu alguns minutos mais tarde com as últimas novidades na ponta da língua. – Ela é uma princesa da dinastia nasrida, irmã mais nova do emir Yusuf – contou. – Do próprio rei de Granada? – quis confirmar Álvaro, impressionado. – O navio em que ela viajava para a África foi capturado pelos aragoneses. Os homens foram mortos ou escravizados e as mulheres que acompanhavam a princesa acabaram entregues aos soldados. Já a menina foi enviada a D. Juan Manuel como um presente… – Daí ele decidiu pedir um resgate ao emir. – Pior. Os guardas me contaram que D. Juan Manuel já mandou avisar Yusuf que a irmã dele é sua prisioneira, mas não pediu nada em troca. Na verdade, pretende humilhá-lo.

Pedro fitou a menina. Por sorte, falavam em português, um idioma que ela visivelmente não entendia. – O que D. Juan Manuel vai fazer com ela? – perguntou Álvaro, sem entender o que os outros dois rapazes já tinham concluído.

Telo mal ocultou a revolta que a informação lhe provocava. – Ele a prometeu como prêmio ao homem que for mais corajoso na batalha de hoje – disse. – O vencedor ficará com as joias, fará com a menina o que bem entender durante uma noite e depois a entregará para a diversão dos soldados. O que sobrar dela será enviado a Yusuf.

Álvaro perdeu a cor do rosto. Jamais imaginara que um castelhano pudesse cometer tamanha atrocidade. Aprendera desde cedo que eram os mouros os inimigos responsáveis pelos atos

mais bestiais, por isso deveriam ser combatidos. Uma justificativa que mascarava uma realidade muito mais complexa. – Vamos devolvê-la ao povo dela – disse Pedro. – Senhor, como pretendes fazer isso? – perguntou Álvaro. – Primeiro temos de sair daqui – avisou Lobato, espiando os dois homens que vigiavam a abertura da tenda. Ainda não tinham descoberto sobre a fuga. – Ela não pode ir vestida como uma princesa moura – comentou Telo. Discretamente ele foi até a sela de seu cavalo e, de um alforje, tirou uma túnica e uma calça comprida. Depois, fez a menina vestir as peças, bem maiores do que ela, por cima das roupas e embalou-a com o manto. Um capuz cobriu o véu e as joias foram escondidas nos bolsos da calça. – Bem melhor agora, hein?

Não muito, na verdade, mas pelo menos disfarçava numa primeira análise a identidade da menina. – Não contes nada sobre isso a D. Guiomar, entendeste? – disse Álvaro para o primo. – A filha de D. Lopo Pacheco? – disse Pedro, apreensivo. Se aquela ação contra Juan Manuel caísse no conhecimento de Diogo, este não hesitaria em usar a informação a seu favor. – D. Guiomar e Telo estão prometidos em casamento. – Minha lealdade está com D. Pedro! – argumentou o menino, vermelho de raiva. – Sei muito bem quando um assunto é segredo. – Espero mesmo que saibas.

Subiram nas montarias e, discretos, deixaram o esconderijo. Sentada à frente de Pedro na mesma sela, a menina ergueu o rosto para ele. – Meu nome é Zaynab – disse, confiante. Ainda apertava o caderno em suas mãos.

No mesmo instante, um dos guardas descobria os homens desacordados atrás da tenda. Em segundos dariam pela falta da prisioneira.

Pedro estreitou-a com firmeza em seus braços e esporeou o cavalo para ganhar velocidade. Os amigos acompanharam-no. Atrás deles, gritos de fúria e soldados ensandecidos viriam em seu encalço.

A única vantagem dos fugitivos estava naqueles poucos minutos de dianteira. A cavalgada foi enlouquecida, ultrapassou obstáculos à frente, derrubou soldados pelo caminho. Flechas foram disparadas contra eles, por sorte não acertando nenhum alvo.

Os cavalos cruzaram um riacho e atravessaram uma planície onde o gado dormia ao relento. O acampamento foi ficando para trás. Logo à frente havia outro, sob as ordens de um segundo nobre castelhano. – Vamos para o lado português! – gritou Pedro para os amigos, tendo em mente o mapa que Telo lhe descrevera, com a localização de todos os aliados. Haveria uma chance se pudessem se refugiar entre sua própria gente.

Eles tomaram um córrego de águas rasas como referência e seguiram seu curso para oeste. A lua cheia facilitava a visão do trajeto a percorrer, mas prejudicava a fuga ao deixá-los visíveis à perseguição dos inimigos.

Numa curva do córrego, foram surpreendidos por um punhado de castelhanos. Desembainharam a espada, lutaram. Apavorada, a menina agarrou-se a Pedro, que a protegia com o braço livre. Ele matou um dos homens que os atacava e, com uma estocada certeira, impediu que outro atingisse Telo, ocupado demais em combater um sujeito maior do que ele. Álvaro lutava contra três ao mesmo tempo e Lobato derrubava um antes de encarar outro.

Pedro foi cercado por dois homens. Um deles feriu-o de raspão no braço, foi morto pelo infante, mas outro conseguiu degolar seu

cavalo. O rapaz e a menina despencaram na água, ela gritou, ele fez o possível para não cair em cima dela. Ergueu-se, rápido, e amparou com a espada um golpe que visava seu pescoço, desferido pelo mesmo adversário que o derrubara e que tinha a vantagem de ainda estar em sua montaria. Pedro puxou-o de lá, com um murro jogou-o na água e, usando a lâmina, atravessou-lhe o coração. O numeroso grupo que os perseguia estava cada vez mais próximo.

De olhos fechados e agarrada ao caderno, Zaynab chorava. Pedro acudiu-a, pegando-a no colo e dizendo-lhe em árabe que ela precisava ser corajosa, que tudo ficaria bem.

Quando ia subir na montaria deixada pelo inimigo, um deles desistiu de atacar Álvaro e lançou-se, com cavalo e tudo, para atropelar o infante.

Sem conseguir alcançar a sela, Pedro teve de correr, os pés batendo contra as pedras escorregadias que a água do córrego não cobria por completo. Uma flecha quase o feriu, disparada pelos perseguidores ainda muito distantes para uma pontaria certeira.

Telo livrou-se do grandalhão e foi voando para ajudá-lo. Pedro entregou-lhe a menina, mandou que a tirasse dali e virou-se para o adversário que, após contornar o cavalo que o rapaz pretendia usar, prosseguia em sua firme decisão de atropelá-lo.

Segundos antes da colisão, Pedro desviou-se a tempo. O animal empinou, o adversário perdeu o domínio sobre ele, a chance para o infante derrubá-lo da sela e ocupar seu lugar. Novas flechas foram disparadas; só acertaram o vazio.

À frente, Telo e Zaynab ganhavam uma margem de segurança maior contra elas. Já Lobato derrubou quem o atacava e, com a ajuda de Pedro, livrou Álvaro dos dois homens. Sob uma nova chuva de flechas, partiram desabalados atrás de Telo, que já sumira de vista.

Bem mais próximos, os arqueiros tinham mais chances de acertá-los. O cavalo de Lobato foi morto, ambos tombaram. Ferido no

ombro esquerdo por outra das setas, o rapaz ficou com uma das pernas presa sob o peso do animal.

Álvaro retrocedeu para buscá-lo. Ao descobrir o que acontecia, Pedro fez o mesmo. – Não parai por mim! – gritou Lobato, desesperado para salvá-los.

Não adiantou. Os dois desmontaram e correram até ele, enfrentando as flechas que, por sorte, passaram zunindo. Esconderam-se atrás do animal e, com alguma dificuldade, conseguiram libertar Lobato. – Ireis morrer por minha culpa – lamentou ele. – Direi quem sou e eles pouparão nossas vidas – disse Pedro. – Achas mesmo que haverá tempo para conversas?

Como sempre, ele tinha razão. – Não sejas tão pessimista – brincou Álvaro para espantar o medo da morte. – Ainda temos nossas espadas. – Por outro lado, não temos mais cavalos – observou Lobato.

Os animais que sobraram fugiam com medo das flechas. – Nesse caso, o jeito é correr – disse o galego.

Mas para onde? Estavam numa área descampada. Se corressem, iriam se tornar presas muito fáceis de ser abatidas. Se ficassem no mesmo lugar, seriam trucidados.

Do nada, uma luminosidade surgiu atrás deles, formando um extenso semicírculo. Vinha das chamas de algumas tochas, trazidas por alguns homens a cavalo entre os vários que quase os cercaram.

As flechas cessaram.

Em menor número, os castelhanos interromperam a perseguição. Não ousariam enfrentar os monges guerreiros da poderosa Ordem dos Hospitalários, fundada séculos antes em Jerusalém para proteger os peregrinos cristãos que visitavam a Terra Santa. A valentia e a destreza dos hospitalários em combate eram temidas tanto no mundo cristão quanto no muçulmano.

– O que me impedirá de vos entregar a vossos perseguidores? – indagou um dos hospitalários aos três rapazes.

Pedro reconheceu-o. Era o líder, Álvaro Pereira, um valoroso fidalgo português de quase quarenta anos, que recebera o priorado da ordem graças aos seus feitos como guerreiro. Ele estivera presente nas bodas do infante, representando seu grão-mestre.

Pedro mediu bem suas palavras, mas não pôde segurar a gagueira. – Estamos… nu-nu-numa… missão de… de… de resgate. – E quem resgatastes para vós? Por acaso foi esta menina muçulmana?

Após um sinal de Pereira, um subordinado avançou conduzindo pelas rédeas o cavalo de Telo. O garoto fora desarmado e tinha uma espada apontada contra seu pescoço. À sua frente na sela, a menina tremia, apavorada. Ao ver Pedro, ela se esforçou para parecer mais corajosa.

O rapaz sorriu para ela, confortando-a. – Eles não te farão mal – disse-lhe em árabe.

Ela lançou um olhar para Pereira que, surpreso, descobriu a amizade que unia os dois. – Sim – confirmou ele, no mesmo idioma. – Nós não te faremos mal.

A ameaça dos perseguidores ainda podia atingi-los com flechas. Uma ordem depois e um grupo de hospitalários partiu para cima deles que, temerosos, deram meia-volta. Preferiam enfrentar a ira de Juan Manuel. – Aproximai-vos – mandou Pereira, dirigindo-se aos três rapazes.

Eles guardaram as espadas e obedeceram, Lobato amparado por Pedro. O ferimento ensopava-lhe as roupas de sangue e começava a enfraquecê-lo.

A análise começou por Álvaro.

– És um dos filhos do Senhor da Guerra, não? – disse Pereira. – Já te vi ao lado de D. Juan Alfonso de Albuquerque. – Sou D. Álvaro de Castro. – E o que pretendíeis fazer com uma criança? Divertir-vos?

Uma vermelhidão tomou o rosto do rapaz. Mesmo fervendo de raiva por ser considerado alguém sem honra, Álvaro não abriu a boca.

Lobato foi o próximo a ser avaliado. Automaticamente, ele fitou o vazio. – Não me recordo de onde te conheço – admitiu Pereira. – Sei que és um criado. É este o serviço sujo que fazes para teu senhor? Roubar crianças? Talvez esperes pelas sobras para tua própria diversão…

Acostumado demais a ouvir provocações e levar broncas desde a infância por encobrir as travessuras do infante, Lobato não perdeu a calma.

O prior passou para o último rapaz, Pedro. Estreitou os olhos, lembrou-se da gagueira e, a seguir, do casamento a que assistira. – Mas tu és…

Não completou a frase. Estava perplexo. – Como eu disse, caro prior, estamos… nu-numa missão de resgate – disse Pedro. – Poderíamos… conversar em particular?

No acampamento dos hospitalários, Lobato seguiu com um dos homens até o médico. Já Pedro e os demais foram conduzidos por Pereira à sua tenda. O infante, então, explicou-lhe quem era a menina e o destino que Juan Manuel reservara para ela. – Não concordo com… essa barbárie – disse, por fim. – Vou entregar a menina… ao povo dela.

Sentada em um canto, Zaynab lambiscava um pedaço de pão que Álvaro lhe dera. Seu olhar, ansioso, estava preso a Pedro, tentando adivinhar o que os dois homens decidiam sobre seu futuro. – Senhor, não podes simplesmente te aproximar do exército muçulmano – disse Pereira. – Serias morto antes de entregá-la. E, caso tivesses sucesso, não poderias deixá-la com qualquer um.

A verdade é que Pedro ainda não tinha pensado naquela etapa do plano. – Darei um jeito – disse. – Nem que eu tenha de levá-la para Portugal e de lá, com a ajuda de algum comerciante da Mouraria, mande-a de navio até Granada. – Seria uma jornada longa demais. – Mas não impossível. – E achas mesmo que conseguirias manter em segredo por muito tempo a presença de uma criança tão importante? – Tenho aliados de confiança.

Pereira suspirou diante de sua teimosia e inexperiência. Para ele, Pedro não devia passar de um garoto mimado querendo bancar o herói. – Qualquer ajuda ao inimigo é vista como alta traição – disse. – Pensas que desconheço o risco que assumi? – Penso que teu coração justo e generoso te cega para os perigos que nos rodeiam – respondeu ele, com honestidade. – E o que farias no meu lugar? Permitirias que… uma criança… servisse de diversão aos soldados?

O prior não respondeu. – Jamais irias… te indispor contra D. Juan Manuel – disse Pedro, julgando-o. – Farias de conta que aquela menina ali não existe. Quem é o cego, afinal, senhor prior? – Não me conheces o suficiente para afirmar tal coisa. – Será que não? Tua lealdade está com meu pai. É para ele que irás nos entregar, não? Sabes o que ele… fará com a menina?

– Irá despachá-la de volta ao aliado D. Juan Manuel. – Exato. – Não temes o que ele te fará quando souber da tua travessura? – Travessura?! Ainda sou uma criança para ti? Pois bem, meu pai é da mesma opinião. Ele vai me humilhar como de costume, ganharei algum castigo e pronto. Nada comparado ao que acontecerá a essa menina. – É com ela que estás realmente preocupado? – E com quem mais seria? Se ela fosse minha filha e estivesse nas mãos dos meus inimigos… Também sou pai. Posso imaginar o que a família dela está sentindo neste momento.

Álvaro e Telo apertavam o punho de suas espadas, prontos para agir se fosse necessário. Zaynab engoliu o último pedaço de pão. Soterrada pelas roupas de Telo, parecia ainda menor e mais vulnerável. Pereira olhou para eles antes de tomar sua decisão. – Tenho alguns conhecidos entre os muçulmanos – confidenciou. – Farei com que um recado chegue ao vizir de Yusuf. Ele pode pensar que é uma armadilha, mas temos de arriscar.

Pedro, que esperava pelo pior, não escondeu uma expressão de espanto. – Estarás correndo um risco maior do que eu – disse. – Se descobrirem, perderás teu novo cargo, as honrarias que conquistaste e até tua vida… – E, se eu não agir de acordo com o que acredito, estarei traindo minha consciência. – Posso mesmo contar contigo?

Pereira inclinou a cabeça, numa postura de respeito e admiração. – Neste mundo em que seus líderes se preocupam apenas com a própria ambição, ganhei o privilégio de ser útil a um futuro rei que valoriza a vida e é capaz de agir com justiça – disse, sincero.

– Sim, meu senhor, podes contar comigo. Não vou desperdiçar esta oportunidade.

Com as primeiras luzes da manhã, as tropas luso-castelhanas desabaram sobre os mouros junto às águas de um ribeirão conhecido como Salado. A batalha durou horas, então Pedro preferiu passar ao lado de Zaynab, na tenda, e vigiar o sono de Lobato. A flecha não ferira o amigo com gravidade. Mesmo assim, ele precisava de repouso e cuidados para que a ferida não infeccionasse. Estavam sozinhos. De um ponto seguro, Álvaro e Telo assistiam à luta, enquanto Pereira liderava seus homens no ataque.

Os sons da batalha chegavam distantes, abafados e não menos assustadores. Milhares matavam ou morriam em um dia que definiria o destino da Península Ibérica. Pedro jurou que jamais permitiria que a guerra, seja ela qual fosse, invadisse o território português.

Para distrair Zaynab, ele inventou de desenhar na terra com um galho. Não era tão bom desenhista quanto Lobato, mas até que se saiu bem diante do talento da menina para as artes. Os traços dela eram firmes, apesar de sua pouca idade, e demonstravam potencial para atingir trabalhos mais maduros e criativos.

Às vezes Lobato erguia as pálpebras, tentava acompanhar a cena com curiosidade, porém a sonolência levava a melhor. Parecia finalmente usufruir de todo o sono que as preocupações com a segurança do infante tinham lhe negado durante anos.

À noite, Pereira retornou à tenda. Estava exausto, imundo e parcialmente coberto com o sangue dos inimigos que abatera. Ele espiou os desenhos que ocupavam todos os espaços no chão, esboçou um sorriso e deu a notícia que esperavam. – Os cristãos venceram a batalha – disse. – Quanto aos inimigos, eles estão fugindo de volta a Granada.

– E o vizir? – perguntou Pedro. – Ele respondeu ao teu recado? – Sim. Temos de ir agora mesmo ao seu encontro.

O encontro ocorreu numa clareira obscura, após uma viagem acelerada de horas noite adentro percorrendo terras repletas de sangue e cadáveres junto ao Salado. Uma corrida contra o tempo. Com os cristãos em seus calcanhares, ávidos por mais mortes, os mouros – ou muçulmanos, como Pereira preferia chamá-los – não poderiam esperar mais. Segundo o prior, a palavra “mouro”, utilizada pelos portugueses, depreciava um povo que ele admirava pela cultura refinada e pelo conhecimento avançado em várias áreas. Enquanto os muçulmanos procuravam respostas na ciência, os atrasados cristãos ainda insistiam em acreditar em superstições.

O vizir não viera em pessoa. Mandara um representante pronto a morrer por ele caso o encontro não passasse de uma armadilha. E só o enviara por acreditar na reputação de Pereira, um homem digno, respeitado pelos muçulmanos.

O representante não estava sozinho. Trouxera cerca de cinquenta homens. Do outro lado, estavam os hospitalários que protegiam Pedro e Zaynab, ambos dividindo a mesma sela, além de Telo, Álvaro e um teimoso Lobato, que insistira em acompanhá-los.

Frente a frente, os dois grupos mediram-se mutuamente. Montavam cavalos velozes, tinham armas e estavam preparados para retalhar um ao outro. – Não deves te expor – cochichou Pereira para o infante. – Se descobrem quem és, tu é que viras refém.

Pedro assentiu. O prior desmontou e pegou a menina para colocá-la no chão. Foram até metade do caminho e pararam. O representante do vizir, então, deixou a montaria e caminhou até

eles. Reconhecera a princesa, que exibia para ele um sorriso gigantesco. Foi objetivo. – O que queres em troca? – perguntou em árabe. – Que este ato de boa vontade seja creditado ao infante D. Pedro de Portugal. – E o que ele lucra com isso? – Ele deseja a paz entre Portugal e Granada – acrescentou Pedro, no mesmo idioma, fingindo ser um dos homens do infante. – É tudo o que meu senhor quer em troca.

O representante fitou-o por alguns segundos e depois concordou com um movimento de cabeça. Quando estendeu a mão para que Zaynab o acompanhasse, a menina olhou para trás e correu até o infante. – Vai me visitar! – ela convidou. Depois sorriu, dando-lhe de presente o caderno.

Emocionado, Pedro retribuiu o sorriso e apertou junto a si aquele tesouro tão precioso para ela.

Zaynab retornou correndo para seu povo, foi colocada em outra sela e ficou acenando para o rapaz até ser levada para longe. Os dois grupos foram se afastando aos poucos, cada um pronto para revidar ao primeiro sinal de quebra de confiança. – Para onde agora, senhor? – perguntou Lobato.

Após as pilhagens de praxe, apossando-se de tudo o que os vencidos deixavam para trás, os vitoriosos reis e seus nobres iriam comemorar em um único lugar, Sevilha. Lá Pedro finalmente poderia confrontar Juan Manuel. – E para quê? – murmurou ele. – Para que o quê? – Para que confrontar D. Juan Manuel?

Para que confrontar um homem que virara seu sogro e que se tornaria avô dos filhos que Pedro teria com Constança? Para

matá-lo? A morte dele não apagaria o que ele fizera a Branca nem devolveria a ela a saúde e o papel de esposa do infante. – Talvez a resposta esteja no caderno – sugeriu Lobato.

Pedro mirou-o, sem entender. Num gesto automático, abriu o caderno e o folheou.

Em suas várias páginas havia desenhos feitos à tinta por Zaynab. Primeiro paisagens felizes, pessoas e bichinhos sorrindo, o sol brilhando. Depois, borrões, gente caída, morta, vilões, cenários sombrios, pânico. Ali a menina narrava sua curta existência. Uma vida que ganhara uma chance graças à interferência de Pedro.

Diante dela, o tão aguardado confronto com Juan Manuel tornava-se vazio, sem sentido.

Atrás de Pedro, seguia Pereira, a quem ele devia o sucesso daquele resgate. Um homem que o livrara da morte antes mesmo de saber que salvava o único herdeiro do trono. Álvaro e Telo iam ao lado do prior, os dois novos amigos que tinham provado sua coragem e lealdade. Vidas que eles entregariam sem piscar para cumprir uma ordem do infante.

No caderno, sobrara uma última folha em branco. Cabia a Pedro desenhar o final feliz.

Lobato, impassível, ainda esperava uma resposta. – Desta vez seguirei teu conselho – disse Pedro. – Mas eu não disse nada, senhor! – E precisas?

Nesse instante, Álvaro emparelhou seu cavalo ao de Pedro. Como os demais, não ouvira a conversa. – Vamos para Sevilha, senhor? – perguntou, ansioso. – Podes ir, se quiseres. – Não, não. Vou para onde decidires ir. – D. Pedro decidiu retornar ao castelo de Estremoz – adiantou Lobato. – É lá que esperaremos por D. Afonso.

A notícia da vitória dos cristãos na Batalha do Salado correu por solo ibérico igual ventania e logo tomou o restante do mundo cristão. Em suas terras, Juan Alfonso de Albuquerque foi recebido como herói. Da mesma forma que os demais nobres castelhanos e portugueses, desempenhara um papel fundamental para derrotar os inimigos.

Na primeira oportunidade que teve para colocar seus assuntos em dia, ele mandou chamar a irmã de criação, Inês, em sua antecâmara. Aquele assunto era prioridade e não podia esperar mais.

A menina crescera e, aos quinze anos, cumpria a previsão de ser a mais bela entre as belas. O próprio Juan Alfonso refreava a muito custo a vontade de tê-la para si, pois, sabia, Inês estava destinada a mudar o futuro de um reino. – Temos de aproveitar este momento único de amizade com os portugueses – disse o homem, irônico. – Nunca sabemos quanto tempo vai durar.

A jovem ergueu uma sobrancelha, desconfiada do que ele planejava. Não lhe fez nenhuma pergunta. – Sabias que D. Álvaro foi aceito na “casa” de D. Pedro? – Sim, meu senhor. Contaram-me quando descobri que ele não voltou contigo. – Foi uma sugestão minha que nosso rei aceitou. Aliás, foi ele quem colocou teu irmão junto ao infante. – D. Álvaro vai se sair muito bem, tenho certeza. – Concordo. Ele é ingênuo, um pouco tolo até, e certamente conquistará a amizade do infante. Mas teu irmão foi apenas o primeiro passo de um plano maior.

Juan Alfonso entrelaçou os dedos das mãos. Estava sentado em sua cadeira. Em pé à sua frente, Inês arregalava os olhos, a mente veloz reunindo peças e armando teorias. Mais perigosa do que uma mulher bonita, era uma mulher bonita e inteligente.

– Desejas que eu também vá para Portugal – concluiu. – Já conversei com o rei português. Como um gesto de cortesia, ele te colocará na “casa” de D. Constança Manuel.

Inês contraiu os lábios, preocupada. Ainda temia qualquer represália por parte de Diogo Pacheco. – Não tenhas medo de um passado que não pode mais te alcançar – disse o nobre.

Discretamente ele admirou o colo perfeito, a cintura fina e a pele clara de Inês. Os longos cabelos loiros estavam presos e os olhos cinzentos duvidavam de suas palavras. – Não aprovo a influência que D. Juan Manuel exercerá sobre D. Pedro por intermédio da filha Constança, principalmente se ela tiver filhos – prosseguiu. – Isso ainda descontenta nosso rei e também teu pai. Por isso tu irás para a corte portuguesa. Quero que garantas a simpatia de D. Pedro para nosso lado.

A jovem fechou os punhos. – Queres que… – Sê amiga do infante, faz-lhe companhia, aconselha-o. Ele já gosta de ti, uma vez salvou tua vida. Aproveita essa vantagem para beneficiar nossas famílias e nosso rei. – Senhor, eu… – Faz o que uma mulher sabe fazer de melhor. Preciso ser mais claro?

Ela baixou a cabeça. – São esses os planos, senhor, que fizeste para mim desde a minha infância? Devo me tornar a amante de um fidalgo?

Juan Alfonso levantou-se com calma. Por que mulheres tinham tanta dificuldade em ser objetivas? Até mesmo uma garota esperta como aquela não conseguia enxergar as recompensas de uma jogada tão infalível?

Ele tocou o queixo de Inês e a obrigou a fitá-lo.

– És uma bastarda, por isso nunca poderás ser uma rainha como mereces – disse. – Mas o verdadeiro poder não está no casamento, e sim no coração. E aquele infante gago e incompetente, tão desprovido de beleza quanto de inteligência, será uma conquista fácil para ti. Poderás controlá-lo conforme tua própria vontade. – Não a minha, senhor, mas segundo a tua vontade.

Satisfeito, Juan Alfonso sorriu. A jovem entendia perfeitamente qual era sua função. – Não serás a amante de um fidalgo qualquer, mas de um futuro rei. Então, D. Inês, terás Portugal a teus pés.

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