Inocência em quadrinhos MDP

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Para aprofundar Inocência, de Visconde de Taunay, consiste na primeira grande obra de fôlego que consegue retratar o sertão mato-grossense com imaginação literária consistente, transformando a forma romanesca em instrumento de desbravamento de um Brasil ainda não plenamente conhecido pelas classes letradas brasileiras do Brasil da última quadra do Século XIX. Os dilemas e temas apresentados em latência nesta obra não desbotaram, sendo estes cruciais para a compreensão da origem conflitiva da diversidade regional e cultural brasileira. Pensar neste romance significa refletir sobre os tempos e os espaços de nossa experiência cultural. O espaço do sertão é determinante na obra de Taunay, pois dele se apreende um estado de contradição permanente. Dele se enfatiza belezas arrebatadoras, é fonte de infinitas possibilidades de vida no mesmo compasso que abarca pobreza e desespero - o esplendor e o inóspito são colocados em determinação recíproca, síntese de natureza e cultura simultaneamente. Tida como uma obra de transição entre o esgarçamento das idealizações idílicas do romantismo para o chã-chão, terra-terra do fatalismo científico naturalista, o romance aqui adaptado em história em quadrinhos apresenta um amalgama de temas apresentados em termos contraditórios. Uma série de oposições mobilizam a estrutura do enredo impresso nos quadrinhos: Paisagem e conflito dramático; o pitoresco e o cosmopolita; patriarcado colonial de casa grande e dignidade do lugar social da mulher do ponto de vista liberal-positivista; amor platônico e convenções de honra familiar; iluminismo e autoridade intelectual pedante de teatro social. Em

Inocência, Taunay acreditava ter realizado a grande aspiração do romantismo brasileiro: a sedimentação do nacionalismo estético.

Inocência

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