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Aversão ao diferente

A aversão ao diferente

O Brasil é um importante destino de imigrantes, sendo o terceiro país da América do Sul que mais recebe pessoas de outras nacionalidades

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Evelyn Rodrigues

Evelyn Rodrigues, Stefany Mello e Valeska Loureiro

Oestudante de Artes Visuais Elias Gorayeb veio de Rondônia para Curitiba em 2016 para estudar, pois viu na cidade um leque de opções para o curso com que sonhava. Porém, o fato de ser da Região Norte o levou a se deparar com percepções e conceitos distorcidos a respeito de onde vinha e de sua identidade. “Meus níveis e habilidades intelectuais e culturais constantemente foram questionados por conta disso, como se alguém vindo de uma região afastada não tivesse acesso ao conhecimento social, artístico ou político que alguém de qualquer outra área do país tem”, conta, acrescentando que vê na sua própria experiência “um exemplo clássico da xenofobia mal digerida do estereótipo do sulista brasileiro”.

Elias conta que já foi questionado sobre suas raízes por conta de seu tom de pele. “Me perguntavam como eu podia ser do Norte, sendo que eu sou ‘tão clarinho’?”. De seu ponto de vista, de quem ficou cara a cara com a xenofobia, por conta desse estereótipo

O preconceito ou os pré-julgamentos persistem.

de que nortistas são pessoas atrasadas, ignorantes e sem cultura, sempre vem também a ideia de cor, que diz que esses fatores negativos são herdados por pessoas de cor (negros e indigenas).

A xenofobia se faz presente na vida de muitos que optam por mudar de região. A aversão, o preconceito ou os pré-julgamentos com o estrangeiro ou com qualquer um que tenha costumes diferentes ainda persiste na vida de muitos, até mesmo, daqueles que saem de regiões do norte do País para viver no Sul brasileiro.

A advogada de Direitos Humanos Camila Lucchese explica que a xenofobia é considerada crime no Brasil e a pena é de reclusão de um a três anos com multa. Camila ainda explica que a situação pode ser agravada se o crime for cometido por intermédio de meios de comunicação, como a internet. “Segundo a Lei n. 7.716/89, com redação dada pela lei 9.459/97, serão punidos crimes resultantes de discri

De acordo com a advogada, os crimes que se enquadram como xenofobia no Brasil são: condutas como expulsão de estrangeiros, comentários desrespeitosos sobre o povo, cultura, inferiorização de costumes, tradições e pessoas, ridicularizar sotaques, tipo físico, demonstrar incômodo pelo fato de o estrangeiro estar vivendo no Brasil. Camila explica que, em Curitiba, há atendimento especializado para pessoas em situação de vulnerabilidade e vítimas de preconceito na Divisão de Homicídios e Proteção à pessoa (DHPP) da Polícia Civil.

Isabela Cunha, de 24 anos, veio de São Luís no Maranhão para buscar uma oportunidade de graduação em O argentino Rodrigo Serra, de 22 anos, mora em Curitiba há nove anos e,relata sua chegada e vivência pelo Brasil com muita alegria. Segundo Serra, as pessoas não fazem comentários maldosos por conta de sua origem. “Quando cheguei ao Brasil, na época da escola, meus professores falavam que a Argentina só tinha carne, vinho e dança de bom. Senti isso como comentário maldoso, mas paravam quando percebiam. Depois disso, eu nunca sofri nenhum tipo de preconceito”.

Design de Moda, um curso que não é muito presente na capital maranhense. Com um ano e meio morando em Curitiba, já está feliz com bons círculos de amizades e cursando a graduação dos sonhos.

Mas nem sempre tudo é como o esperado. Isabela relata que várias vezes já teve que encarar preconceitos explícitos com ela simplesmente pelo fato de ser nordestina. “Ah parece mesmo o rostinho, o formato do rosto, da cabeça chata”, é o comentário de um motorista de um aplicativo de mobilidade urbana ao saber da sua naturalidade.

Em outro momento, o comentário é: “Então, não você, mas o povo que vem de fora, de outras regiões, eles vandalizam”. Isabela relata que, naquele momento, o motorista começou com um discurso de que o povo que vinha de fora era responsável por todas as coisa ruins que acontecem na cidade, como a pichação, a sujeira. “Embora ele esteja me isentando disso, isso não faz dele uma pessoa menos xenofóbica.”

“Me perguntavam como eu podia ser do Norte, sendo que eu sou ‘tão clarinho’?”

O estudante ainda relata que sente um preconceito maior em relação aos estrangeiros no Brasil em época de competição de futebol. “Em época de Copa do Mundo, ou Copa America, surge a dúvida se por acaso o Brasil enfrentar a Argentina, para quem

Elias Gorayeb, estudante de Artes Visuais

eu vou torcer. Eu acredito que esses jogos devem unir culturas diferentes e não aumentar o preconceito.”

Segundo o sociólogo Gilberto de Miranda, existem dois termos usados para preconceitos xenófobos. “O etnocentrismo acontece quando a pessoa reconhece que há uma cultura diferente da dele, porém trata inferior a cultura do outro e o relativismo cultural, quando a pessoa reconhece que há outras culturas no mundo mas entende que a cultura do outro é a cultura do outro e não se deve misturar com a sua”.

Miranda explica que as pessoas praticam xenofobia e preconceito como uma forma de reprodução. “Porque outra pessoa faz um tipo de brincadeira ou tem alguma fala xenofóbica, outras pessoas copiam, principalmente quando vem de um líder, alguém com cargo superior, e que representa muito para ela, como por exemplo um presidente”.

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