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Com açúcar, com afeto

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Menstru(ação

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Aplicativos de relacionamento sugar atraem jovens pelo Brasil, que recebem apoio financeiro e ajuda nos estudos

Henrique Zanforlin

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Aprincípio pode parecer um aplicativo de relacionamento como qualquer outro: fotos da pessoa, um texto introduzindo seus gostos, desejos… até que chegam os detalhes. Além de uma minuciosa descrição contendo altura, cor dos olhos, do cabelo, da pele e, ironicamente, estado civil, há também a média salarial e o patrimônio pessoal.

São os aplicativos do chamado “relacionamento sugar”, e a sua mensalidade pode chegar à R$ 999. Antes de mergulhar nesse mundo, é necessário aprender alguns termos:

SUGAR DADDY. [ DE AÇÚCAR + PAI ]

Adj. Homem maduro com estabilidade econômica, que possui interesse e desejo de ajudar financeiramente jovens, em troca de companhia.

SUGAR BABY. [ DE AÇÚCAR + BEBÊ ].

Adj. Jovens, majoritariamente mulheres, que buscam ou possuem um sugar daddy, seja para receber viagens, presentes ou auxílio financeiro.

Afinal, o que é o relacionamento sugar?

O relacionamento sugar, em si não é algo recente, ele apenas se tornou formalizado e popularizado recentemente. Segundo a ferramenta Google Trends, a procura pelo termo só começou em 2016, se popularizando no último ano. Consiste em duas pessoas que, após muita conversa, criam um acordo que beneficia ambas as partes, normalmente em torno de uma questão financeira. É importante não confundir relacionamento sugar com prostituição. A* tem 18 anos, estuda Enfermagem, e explica que o relacionamento sugar é menos superficial: “Você cria uma afinidade com o daddy, sempre estão ali, se ajudam, conversam.”

Foi em uma conversa com o seu vizinho que A* se interessou pelo assunto. O que era para ser apenas uma brincadeira, se tornou uma vida dupla para a estudante. Pouco após ingressar no aplicativo em abril, ela começou a se relacionar com um homem de 30 anos, que mora em uma cidade próxima. Seu sugar daddy paga os gastos do cartão de crédito e a faculdade de A*, uma média de R$ 2 mil.

A* namora há quatro anos e mora junto com o seu namorado, que não mento, está mais para descontrair”. Porém, caso o seu sugar daddy não tivesse mais condições de financiá- -la, ela admite que seria improvável que o relacionamento se mantesse. “As pessoas que entram nesses sites geralmente tem muito dinheiro…”.

sabe sobre o sugar daddy. Por isso, ela evita pedir presentes que exponham a mudança em sua condição financeira. A estudante trabalha e, por vezes, faz plantão no turno da noite, dinheiro que, agora que possui apoio do sugar, utiliza para sair com suas amigas.

Para ela, o relacionamento sugar funciona como uma válvula de escape. “É uma companhia que não está ali para te cobrar como no relacionaA estudante recebia auxílio de baixa renda, mas sua bolsa foi cortada com a recente redução de verbas para a educação do governo de Jair Bolsonaro. Enquanto ela procura um estágio, faz encontros como sugar baby para manter a qualidade de vida.

“Você cria uma afinidade com o daddy, sempre estão ali, se ajudam, conversam.” A*, estudante

A*, que está em sites de relacionamento sugar, diz que nunca tentou aplicativos tradicionais. “Quem entra em Tinder é porque, de certa forma, não tem competência de conseguir alguém pessoalmente”.

CNPQ Sugar

Assim como A*, H* está no ensino superior, cursa Direito e tem 19 anos. Ela é alta, magra, tem o cabelo castanho e o rosto fino, como uma modelo.

Segundo uma pesquisa realizada pelo site Universo Sugar, 155 mil sugar babies recebem patrocínio para seus estudos, sendo o Paraná o quarto

Print tirado de uma usuária sugar mommy.

maior estado da lista. Além disso, estima-se que metade desses eram desistentes, ou seja, passaram por alguma dificuldade financeira e após o relacionamento sugar retornaram aos estudos. H* está entre as 30 mil sugar babies do Paraná, e conta que demorou para achar um sugar daddy confiável, havia muita coisa que ela não estava disposta a fazer. A dificuldade dela é compreensível, uma vez que o número de sugar daddies disponíveis é três vezes menor ao de sugar babies. Os encontros da estudante são saídas casuais, como lanche ou café. Diferentemente das outras entrevistadas, ela nunca teve relações sexuais com os sugar daddies. Ao final, ela recebe pelo tempo, um valor que era previamente negociado. “Depende muito da situação, de R$ 50 a R$ 300.” Para ela, os sugar daddies possuem uma questão exibicionista, quase narcisista de bancar outra pessoa. Outra característica, que ela pôde observar, é que a maioria era casado e com filhos. “São pessoas que tem muita necessidade de conversar, de se abrir”. Um dos motivos pelo qual H* só se encontra casualmente com seus daddies é o preconceito da sociedade. Ela tem medo que isso possa afetar sua futura carreira como advogada. “Eu tenho uma imagem a prezar, a sociedade vive muito de aparência.” Caso aconteça de ela ser descoberta, acredita ser “ossos do ofício”, como se fosse um trabalho freelancer. “São pessoas que tem muita necessidade de conversar, de se abrir.” H*, estudante

Apesar de não passar propriamente dificuldades financeiras, a estudante defende que “viver é mais que sobreviver, envolve lazer”. Com o dinheiro que recebe, ela compra roupa, maquiagem, pinta o cabelo e sai com os amigos. Motivo pelo qual ela apoia esse tipo de relacionamento. “Querendo ou não, é uma forma rápida de ganhar dinheiro”.

O homem mais velho com quem ela já saiu estava em seus 50 anos, idade para ser seu pai. Pessoalmente, ela não tem interesse em se envolver com pessoas mais velhas, muito menos em relacionamentos. Ela vê esse momento como uma fase, e diz que não quer passar o resto da vida dependendo de “dinheiro de velho”.

Porém, às vezes H* se arrepende de sair com alguns daddies. Ela conta que certa vez, o homem tocava-a sem permissão. Como ela ainda queria receber o dinheiro, pedia educadamente para que ele parasse, mas o sugar daddy insistia. Ao final, ela levantou- -se chorando e foi embora. Ele ainda tentou entrar em contato com ela

DNA Sugar

Por se tratar de um termo recente, ainda há muita discussão sobre o significado do relacionamento sugar. Marcelo Estrázulas tem 40 anos, é psicólogo e sugar daddy, mas se diz um daddy mais sentimental. Ele acredita que a definição das redes sociais é fria, e não dá espaço para qualquer tipo de afetividade.

Marcelo defende que sugar daddy é um homem que, por natureza, gosta de “abrir as asas” sobre a mulher, protegê-la, e que busca na moça uma jovialidade, sorriso e bom humor. Ele acredita que essas são características que as mulheres instintivamente buscam em seu parceiro, e que por mais “desconstruída” que a sociedade possa parecer, a maioria possui um desejo secreto do chamado príncipe encantado. “Eu acho que está escrito no DNA da figura feminina aquela coisa mais romantizada de ter um homem desse estilo.”

O psicólogo acredita que o sugar daddy é capaz de oferecer viagens e experiências que talvez a sugar baby não tivesse condição de conhecer, e que isso ajuda a torná-la um ser humano melhor. Marcelo defende que um homem maduro tem capacidade de “lapidar” psicologicamente e emocionalmente a moça, “tornando a mais tolerante, educada, uma pessoa mais bacana de se conversar”. Assim, ele acredita que mesmo que não exerça uma atividade profissional, ela poderia crescer como ser humano.

Marcelo baixou o aplicativo mas não o manteve por muito tempo. Para ele, “Eu acho que está escrito no DNA da figura feminina aquela coisa mais romantizada de ter um homem desse estilo.”

os sugar daddies “estão no topo da pirâmide”, e por isso acabam sendo alvos de supostas mulheres oportunistas. O daddy ainda comenta sobre o risco, disse que muitas tiram prints das conversas e pedem dinheiro para não expor o homem.

Sugar com data de validade

Para a psicólogo e terapeuta Patrícia Guillon, o sugar daddy é fruto de um problema social: a dificuldade de se aceitar o envelhecimento. No Brasil, a idade tem um estigma negativo, que leva a pensamentos como impotência, isolamento social, falta de energia e mau humor. Guillon afirma que buscar uma sugar baby é uma forma de maquiar essa aparência, é uma tentativa de se reinserir na sociedade.

Ela também diz que há um sinal de baixa autoestima, tanto por parte do sugar daddy quanto da sugar baby. O homem não aceita o seu envelhecimento e a mulher se submete a condições que, muitas vezes, não precisaria. Ambos tentam ostentar um estilo de vida que não possuem.

Sugar por acaso

M. teve um relacionamento sugar em 2017, antes de se popularizar. Ela tem 23 anos e parou os seus estudos para cuidar do filho. Foi em 2016 que um holandês entrou em contato com ela pelo Facebook, e assim evoluiu um relacionamento à distância. Após um ano, o programador de 33 anos passou a ajudá-la financeiramente, sem nunca tê-la visto pessoalmente.

No começo, M. diz que não acreditava, mensalmente o daddy depositava R$ 3 mil, que ela sacava para planos futuros. O relacionamento deles era aberto, e apesar do estrangeiro se declarar loucamente apaixonado, M. sempre deixou claro que não o amava, e que inclusive saía com outros homens.

No fim de agosto eles se encontraram pessoalmente, mas a história foi outra. Ele tinha planos para casar, constituir família e dar uma formação, mas M* diz que “a família falou mais alto”, e recusou a proposta. Eles não se falam desde então.

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