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Do outro lado do mundo – Ana Cláudia Iamaciro

A primeira coisa que se vê logo na chegada é o estacionamento imenso, um espaço com facilmente mais de 1000 vagas, bem iluminado e dividido em sessões por letras. Por lá transitam alguns funcionários, encarregados de orientar quem chega ao lugar. Eles vestem roupas todas pretas: casaco, calças, boné e botas. O que os identifica como funcionários do local são as faixas em amarelo neon no casaco. Isso permite que sejam vistos no escuro. “O estacionamento A é mais barato se você pretende ficar mais de duas horas”, explica um deles a um casal que perguntava sobre o funcionamento. O aeroporto Afonso Pena fica em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, e foi inaugurado em 1945 pelo Ministério da Aeronáutica. Atualmente, ocupa 112.176 m², um espaço amplo no qual, de acordo com o site da Infraero, cerca de 15 milhões de passageiros circulam todos os anos. Entre dezenas de voos diários, o aeroporto nunca fica vazio, e diversas histórias acontecem simultaneamente. Encontros, partidas, reencontros. A primeira impressão é a de que o local não está cheio, apesar das várias vagas ocupadas no estacionamento; talvez pelo espaço ser muito grande. As pessoas ali parecem muito ocupadas, cada uma no seu canto. Algumas se informam com os seguranças, outras comem nos restaurantes, outras apenas caminham. Recentemente, o Afonso Pena passou por uma obra de ampliação e restauração, além de instalação de novas áreas de comércio. Dona Irene não ia ao aeroporto havia muito tempo. “Faz oito anos que eu vim aqui pela última vez. Se eu não estivesse acompanhada, com certeza teria me perdido”, conta a senhora. Junto com ela estavam o filho, a ex-nora e dois netos: Vinícius e Nathália Nakamura. A neta mais velha era o motivo de todos estarem ali: ela estava se mudando para o Japão em busca de trabalho. Nathália se casou aos 19 anos com o namorado e até então trabalhava em uma perfumaria, mas o salário e a carga horária extensa a cumprir não lhe permitiam fazer faculdade. Um dos sonhos de Nathália é cursar Psicologia, e ela pretende começar o curso quando voltar ao Brasil, daqui a alguns anos. “Quero garantir os estudos do meu irmão também, comprar uma casa pra mim e ter uma vida mais estável”, diz ela enquanto espera o horário de embarcar.

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Atualmente, cerca de 1,4 milhão de pessoas que moram no Japão são estrangeiras, e dentre eles os brasileiros representam o quarto maior grupo de imigrantes, com 125 mil pessoas, atrás apenas da China, Vietnã e Filipinas. Quando são 20h50, ela anuncia, triste, que precisa entrar no avião. Ela se vira para o pai ao seu lado e o abraça, e os dois começam a chorar e se despedem. Em seguida, abraça a mãe, também emocionada com a partida da filha. Nathália vai se despedindo de todos, tirando fotos com cada um, e finalmente se vira para o marido, Lucas, que também vai se mudar para o Japão, mas, por conta da documentação, precisa esperar cerca de três meses até estar tudo certo. Eles ficam abraçados um bom tempo, dizendo um ao outro coisas inaudíveis aos que estavam ao redor, e então se separam. Ela vai em direção ao irmão, pega a mala que ele cuidava, dá um último aceno para todos, com lágrimas nos olhos, e então se vira e vai em direção à porta de embarque. Seus familiares a olham partir, tristes, mas ao mesmo tempo orgulhosos da menina corajosa que estava prestes a atravessar o mundo em busca de seus sonhos.

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