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O Rocky Balboa de Curitiba Lucas Nogara de Menezes Couto
Nos arredores do bairro Mercês, onde está localizado seu empreendimento (a academia CWB Fight Club, cujo nome foi inspirado no clássico filme homônimo de 1999, estrelado por Edward Norton e Brad Pitt), o lutador de kickboxing Ariel Machado é extremamente popular entre os moradores. Quando o acompanho até a loja de conveniências do posto de gasolina, ele para diversas vezes durante o trajeto, cumprimentando e conversando com todos que passam e o reconhecem. “Ele parece um vereador, sabe vender bem o ‘peixe’ dele’’, brinca uma das alunas, a comerciante Jéssica Santana. Porém, ela diz que a simpatia de Ariel Machado não é fingida, e sim algo natural de sua personalidade. “Eu já treinei em outras academias, mas com ele eu tive as melhores aulas. Não só por ele ser um ótimo professor, mas pelo respeito e pela amizade, que fez eu me sentir mais em casa aqui do que em qualquer outra academia”, afirma. Embora algumas características físicas “entreguem” qual é a profissão de Ariel (como, por exemplo, as orelhas deformadas, típicas de lutadores de MMA, modalidade pela qual ele disputou dez lutas, de 2006 a 2014), por causa de seu jeito brincalhão e pacifista, muitos dos que o veem por aí não presumem que ele é um lutador, muito menos imaginam o quão invejável é seu currículo: ele coleciona 49 vitórias dentre 56 lutas, sendo 34 delas por nocaute. Apesar disso, ele diz que cultiva grande respeito por todos contra quem lutou: “Já tive desavenças com um ou outro, mas depois que luto com tal pessoa, passo a respeitá-la”, revela, embora alegue que não sabe o porquê de isso acontecer. Ariel diz que começou a lutar kickboxing aos 14 anos de idade. Hoje, aos 32, é casado com Carolina Vieira e pai de um menino de 5 anos, Raul Vieira Machado, que já frequenta aulas de Judô. Ariel, porém, ainda não levou o filho para assistir a uma luta sua ao vivo: “Começam muito tarde. Nesses horários, ele já está dormindo. Mas quem sabe ele não veja minhas últimas lutas daqui a cinco anos’’, diz Ariel, revelando que pretende “pendurar as luvas” em 2024. Durante minha conversa com ele, embora, em momentos descontraídos, enfileirasse uma brincadeira atrás da outra, falou muito sério quanto a responsabilidades. Desde os 16 anos ele recebe orientação profissional de Madison Ramos (head coach) e Bia Ramos (nutricionis-
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ta), ambos sócios da Madison Nutrition Center, que prepara atletas profissionais. “Ele é como um filho para nós. Nenhum atleta ficou tantos anos com a gente, somente ele”, diz o head coach. Segundo Madison, a maior felicidade de Ariel ao assinar com seu primeiro evento internacional foi estar junto com a dupla que o acompanhou durante toda a carreira, e retribuir o apoio: “Hoje em dia, quando o atleta alcança uma projeção, já começa a querer abandonar suas origens, mas o Ariel continua conosco há mais de quinze anos, e essa fidelidade faz a gente seguir juntos. Já treinei atletas campeões mundiais, e o nosso sonho é fazer o Ariel ser campeão do mundo também.” A academia de Ariel é enfeitada por cinturões e por cartazes de suas maiores lutas. Quando vamos tirar a fotografia que ilustra a matéria, sua aluna Jéssica brinca: “É a parte favorita do Ariel, ele adora posar para as fotos”. A frase passa a impressão de que o lutador sabe seu valor, e tenta transmitir isso nas imagens (em que sempre faz pose de lutador). Porém, há uma grande diferença entre saber o próprio valor e ser arrogante, e Machado é tudo, menos arrogante. Hoje, na categoria “peso pesado”, Ariel tem sua dieta controlada por Bia. Ela diz que o atleta não tem dificuldades para manter o peso próximo do ideal para se encaixar na categoria (que exige que os boxeadores pesem acima de 95 quilos), mas que já teve que perder 15 quilos em duas semanas para poder lutar. Bia define Ariel como “obediente quanto ao que lhe é proposto, fiel e transparente à equipe, e extremamente responsável e dedicado, a ponto de ser chato consigo mesmo”. Isso é confirmado pelo funcionário da CWB Fight Club Pedro Felipe, que também revela que Ariel fica extremamente nervoso antes das lutas, principalmente quando são em Curitiba, na frente de familiares, alunos ou amigos. Amigo de Ariel há anos, Pedro diz que ele é um ótimo patrão: “Ele faz uma gestão muito democrática. Escuta todo mundo e dá voz a todos os funcionários e alunos”, elogia. Apesar de já ter disputado diversas lutas dentro e fora do Brasil e ser conhecido internacionalmente, ele diz que não tem grande poder financeiro: “É tudo na ponta do lápis; se vacilar, já era. Tenho que me matar para pagar as contas, mas consigo fazer tudo certinho e viver da forma mais correta possível”.
Espirituoso, fiel aos amigos e extremamente sério quanto ao trabalho: esse é Ariel Machado. Sua leveza espiritual e integridade profissional são o que fazem o lutador se encaixar na categoria de gigante gentil. A simplicidade “pé no chão” segue-o acompanhando, não importa quantas lutas ele ganhe. Por esses motivos, ele não deixa nada subir à cabeça, mantendo assim o status de pessoa fácil de convívio, o que só beneficia seu trabalho.