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Passado e presente se integram no número 374 da Rua XV de Novembro – Marina Lopes

Pombos buscando migalhas no chão. Quadros de família espalhados pelas paredes. Vitrines expondo uma variedade enorme de doces. Funcionários transitando de um lado para o outro servindo os clientes. Pessoas idosas tomando um cafezinho no fim do dia. Essa é mais uma tarde de domingo, em um lugarzinho com cheiro de café feito em casa, localizado no coração de Curitiba, na Rua XV de Novembro. Em um prédio de arquitetura antiga, típica dos anos 1920, a Confeitaria das Famílias começou sua história logo após a Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945. Foi fundada por Jesus Alvarez Terzado, um imigrante espanhol que viu na fabricação artesanal de doces uma maneira de realizar o grande sonho de expor para o mundo o gostinho de suas receitas especiais e um pouco de seu país de origem. O local, que se tornou um dos mais tradicionais da cidade, mantém viva em suas paredes toda a sua trajetória e inspiração. Em vários pontos da confeitaria, há quadros com recortes de notícias antigas a respeito da história do estabelecimento, prêmios de destaques gastronômicos e diversos símbolos da Espanha. De acordo com o gerente, Ederson Tadeu Adancheski, o objetivo é os clientes se sentirem pertencentes à história do local, que há tanto tempo ganhou espaço na vida de gerações das famílias curitibanas. E, realmente, o espaço mantido por décadas consegue trazer um ar bastante nostálgico e acolhedor, transportando os clientes à casa da família Terzado da época. Entre todas as informações expostas nas paredes, uma em especial ganha destaque: uma notícia, provavelmente dos anos 1950, a respeito da torta Martha Rocha. Uma tal torta criada em homenagem à querida primeira Miss Brasil de 1954, que, para a tristeza dos brasileiros, ficou em segundo lugar no concurso Miss Universo. O bolo já virou tema de vídeo de receitas no YouTube, em sites especializados e até mesmo no programa da Ana Maria Braga. No entanto, poucos sabem que tal homenagem foi prestada por Jesus Terzado, o fundador da Confeitaria das Famílias. O confeiteiro, inconformado com a derrota da brasileira, teria decidido que aquela torta, que já era servida na confeitaria, feita de chantilly caseiro, pão de ló, geleia de damasco e crocantes de nozes, a partir daquele momento se chamaria “Martha Rocha”. E assim, ao longo de 74 anos, foram sendo renovados os clientes da confeitaria. Desde pessoas mais jovens a turistas que pretendem visi-

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tar mais um ponto turístico da capital paranaense passam ali momentos agradáveis. E, entre tantos visitantes, uma senhorinha chama a atenção por sua presença solitária e calada. Levantando-se de sua cadeira, com a ajuda da funcionária, dona Marly troca suas primeiras palavras durante toda aquela tarde, dizendo que, pelo menos naquele dia, estava satisfeita e iria para casa. Tal interação partiu da própria atendente, que aparentemente conhece a senhora há um bom tempo. E assim ela se foi, sozinha, acompanhada apenas da bengala e a bolsinha tiracolo. Essa mistura de clientes jovens e idosos, locais ou turistas, expõe algo que a Confeitaria das Famílias realizou, e que poucos estabelecimentos conseguem, que é manter-se viva não apenas enquanto lugar histórico de Curitiba, mas também como parte da vida de gerações de diversas famílias, que frequentam e veem nesse local uma tradição familiar passada de pai para filho.

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