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A primeira corrida de cavalos – Marco Antonio Costa

Quando o assunto é esporte luxuoso, o hipismo é uma das opções que surgem à mente. Mas não foi bem isso que vivenciei na minha estreia. Quando fui pela primeira vez ao Jockey Club do Paraná assistir a uma corrida de cavalos, não havia ninguém no portão principal, nenhum segurança e nem cancelas, apenas muitos carros. Um estacionamento gratuito em pleno Jockey Club? Aquela foi a primeira surpresa de muitas que tive naquela noite. O acesso ao estacionamento e à arquibancada era livre, não havia funcionários nem placas impedindo a entrada em qualquer ambiente. Eis minha segunda surpresa. Para assistir às corridas, também não era necessário pagar. Antes de seguir Jockey adentro, me aproximei de um cavalo, o “El Poker”, que era preparado pelo treinador para a prova de logo mais, competindo no quarto páreo. O local em que o cavalo estava sendo alimentado e escovado ficava bem próximo ao estacionamento. Apenas uma pequena cerca separava aquele cavalo e o treinador dos espectadores; os competidores não tinham ali muita privacidade. A corrida aconteceu em uma terça-feira. Era a inauguração de um novo dia de corridas que anteriormente aconteciam nos fins de semana. Talvez seja esse um dos motivos pelos quais o evento não estivesse cheio. Havia muitas pessoas espalhadas por toda a área, mas poucas acompanhavam na grande arquibancada. Segundo a assessoria do Jockey Club, a transferência do dia de competição se deve ao fato de que, quando o verão se aproxima, os paranaenses viajam para o litoral nos fins de semana. Os frequentadores e espectadores da corrida trajavam roupas comuns, sem um rigor formal específico de vestimenta. Eu me senti então mais confortável em minhas roupas casuais: camisa jeans e calça preta. Pessoas de todos os estilos, bem como de idades e classes sociais diversas frequentam o Jockey, e para apostar ou simplesmente assistir às corridas não é necessário ter muito dinheiro, ao contrário do que eu acreditava. Percorri todos os ambientes e vi os cavalos do segundo páreo sendo preparados para correr. Quando foi anunciado no alto-falante que a corrida estava prestes a começar, um número pequeno de pessoas dirigiu-se à arquibancada para assistir e outro grupo foi para perto da grade que separava as pistas para acompanhar a corrida. A arquibanca-

da é voltada para a linha de chegada da pista, e foi ali que a maioria das pessoas esperou, para ver quem seria o ganhador, inclusive eu, ansioso para ver como a corrida funcionava. Nos alto-falantes eram anunciados os nomes das atrações daquele momento. Cacique da Aldeia, Deserto, Filho do Bem, Lanterna Verde e Tina Kalo eram alguns dos cavalos competidores. No período de preparação, os apostadores, na maioria pessoas mais velhas, agitavam-se para fazer as apostas. Muitos conversavam e discutiam sobre a possibilidade de vitória de algum cavalo específico. Um desses apostadores é Luís Enrique, de 67 anos. Ele já trabalhou como cuidador de cavalos e agora, já aposentado, vai até o Jockey para rever amigos e apostar apenas como lazer. “A minha vida toda trabalhei com os cavalos, montava, domava, colocava ferradura. Já trabalhei aqui no Jockey, hoje venho para bater papo, prestigiar. Desde menino, eu aposto. Atualmente, quando sobra algum dinheiro, e não vai interferir nas outras coisas, eu venho. As pessoas acham que é um esporte caro, que precisa pagar para entrar. Nada disso. Todo mundo geralmente faz as apostas mínimas, de 2 ou 4 reais.” A corrida em si é bem rápida. Apesar da longa extensão da pista, em menos de dois minutos o vencedor cruza a linha. Deserto foi o cavalo campeão dessa vez. Depois que a corrida do páreo se encerra, forma-se um aglomerado de pessoas próximo da cerca que separa a pista. Fui até lá conferir de perto. Alguns senhores de terno cinza e chapéu – os poucos que mostravam certo requinte – apareceram para tirar fotografias com o cavalo e cumprimentar o jóquei vencedor. Eram apostadores que arriscaram grandes quantias de dinheiro naquele cavalo vencedor. No intervalo dos páreos daquela noite quente de terça-feira, as famílias que foram prestigiar o evento saíram ao ar livre para ver mais de perto os cavalos e a pista. Há por ali food trucks e lanchonetes, e eu aproveitei para comprar uma pipoca e esperar o próximo páreo. Nesse intervalo de tempo, observando os frequentadores do Jockey, notei um senhor tomando cerveja e conferindo alguns resultados, e resolvi me aproximar. Ele me contou que era o 42º ano que acompanhava as corridas. Dinarte Laertes da Silva já é um experiente frequentador do Jockey e seu incentivo envolveu a família no espor-

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te. Noto certa emoção em sua fala ao contar suas experiências. “Desde 1977, venho aqui. Comecei a gostar disso e virou um esporte, um lazer, passo a tarde aqui, tomo uma cerveja. Trouxe o meu filho desde cedo também; o meu neto, que veio aqui pela primeira vez num carrinho de bebê, hoje tem 17 anos.” Depois de conversarmos um pouco sobre sua história nesse mundo das corridas, o simpático senhor me convidou para subir até as salas de apostas, em cima das arquibancadas. Ali é um ambiente mais elitizado e reservado, que apenas apostadores VIP frequentam. Lá em cima, apresentou-me ao filho, Marcos Laertes, e ao neto, Victor Alexandre. Ainda me contando sua história, Dinarte revelou que já foi dono de alguns cavalos e que agora quem está no ramo é o filho. “Meu filho tem cavalo, já ganhamos páreos importantes em São Paulo com uma égua que tínhamos. Temos as taças guardadas em casa. Com o Alto Quilate, já ganhamos uma corrida em Ponta Grossa. Depois compramos outro cavalo em um leilão, e ele trouxe sorte para nós, ganhamos 3 corridas e 2 grandes prêmios.” Atualmente, Marcos e Dinarte têm apenas um cavalo, de nome bem singular, o “Obrigado, Amigos”. Quando eu disse que era minha primeira vez em uma corrida de cavalos, ele contou uma lenda curiosa sobre os apostadores de primeira viagem. “É interessante a sorte que muitos têm quando vêm aqui pela primeira vez, eles apostam e acertam. É uma lenda deste lugar. Vim aqui em 1977, me informei, comecei a apostar e ganhei.” Depois de uma longa e agradável conversa, o senhor, contente em contar sua história, pediu ao neto que me mostrasse o cavalo deles, que correria ainda naquela noite, no sétimo páreo. Desejei-lhes boa sorte na corrida e segui para o outro lado do Jockey Club, atravessando o clube até os estábulos onde os cavalos aguardavam a vez de correr. Os animais eram bem cuidados, e distribuídos de forma bem organizada, mas a facilidade com que as pessoas podiam invadir seus espaços era surpreendente. Apesar do receio, mesmo sabendo que eram muito bem treinados, entrei naquela área repleta de animais de grande porte, e conheci o “Obrigado, Amigos”. Mesmo apreensivo, por causa de seu tamanho, acariciei aquele bonito animal. Antes de ir embora, observei a empolgação de um menininho que comemorava a vitória no quinto páreo, cujo vencedor tinha sido o

cavalo “Up Money”. Conversando sobre a vitória com Carolina, a mãe do menino João Pedro, de 8 anos, ela me contou que era a primeira vez deles ali. Tinham apostado o valor mínimo de 2 reais, e acabaram ganhando o dobro do valor da aposta. “Ele escolheu o cavalo pela cor e apostamos só para brincar um pouco, mas acabamos ganhando. Foi pouco, mas ganhamos.” Quando a moça mencionou essa sorte de principiante, recordei-me do que Dinarte tinha me falado sobre ganhar uma aposta na primeira vez no Jockey. Não posso afirmar se a lenda de ganhar a aposta na primeira vez que se vai ao Jockey é verdadeira, mas me arrependo de não ter seguido a dica do simpático senhor e feito uma aposta. A experiência foi incrível; conhecer um novo esporte, que não é tão comum entre os curitibanos, em um lugar tão diferente da cidade, foi bem interessante. Quero voltar lá mais vezes, e como apostador, não mais como um mero espectador.

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