JornalCana 340 (Agosto/Setembro 2022)

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MERCADO

Agosto/Setembro 2022

Biogás e biometano podem ser uma rota de diversificação da cana em Pernambuco Seminário discute os desafios do biogás no processo de transição energética Importante alternativa para pro− cesso de descarbonização e busca por mais eficiência energética, o biogás e o biometano enfrentam grandes desafios para se viabilizar economicamente. O assunto foi pauta do Seminário Gás – O combustível da transição energéti− ca, promovido, no mês de julho, pelo Movimento Econômico, em parceria com a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe). O presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, explicou que o país tem um grande potencial para o setor, mas a falta de investimentos tem gerado desperdício. Dos mais de 100 milhões de metros cúbicos (MM m³) de gás natural ofertados por dia, 57,35 MM m³ são reinjetados. Essa média de reinjeção vem crescendo desde 2017, sendo que nos últimos dois anos esse índice ultrapassou o de gás ofertado ao mercado. Segundo dados da Abegás, essa perda de gás natural vai na contramão do aumento de demanda pelo com− bustível. A associação calcula um in− vestimento de US$ 49,5 bilhões sen− do escoamento e transporte (US$ 24 bilhões) e distribuição (US$ 11 bi− lhões) as áreas que necessitam de maiores aplicações. “É preciso mais investimentos em rotas de escoamento, unidades de pro− cessamento e gasodutos de transporte. Isso nos levará a uma redução da de− pendência da importação e a um mercado menos exposto à volatilida− de dos preços internacionais, maior competitividade e melhores condições de preço para todos os consumidores”, explicou Salomon.

Para o presidente da DATAGRO, Plínio Nastari, o biometano e o bio− gás podem fazer parte da rota de di− versificação da cana−de−açúcar em Pernambuco. Ao produzirem açúcar e álcool, as usinas geram dois subprodu− tos que podem ser usados como ma− téria−prima para fazer o biogás e, posteriormente, o biometano: a vi− nhaça e a torta de filtro. Segundo Nastari, o estado per− nambucano desponta como um forte indutor de biocombustíveis, conse− quentemente, com um aliado do bio− gás e do biometano. Do açúcar ao biocombustível de avião, a cana−de− açúcar caminha para uma integração com o milho e, a partir da lógica da agricultura energética, aumentando a oferta de bioenergia sem afetar a pro− dução de alimentos. Em 2021, só a produção mundial de etanol atingiu os 105 bilhões de litros. O Brasil foi o segundo produtor e contri− buiu com pouco mais de 30%. Pernam− buco, de acordo com a DATAGRO, é o terceiro Estado da região no ranking de transição de consumo de combustíveis fósseis no transporte, são 38% de pre− sença do etanol (biocombustível). “O biocombustível nada mais é do

que o hidrogênio capturado, armaze− nado e distribuído de forma eficiente com economia e segurança. Nessa perspectiva de rumo à era do hidrogê− nio, o etanol e o biometano podem ser entendidos como hidrogênio na forma de combustíveis práticos, fáceis, seguros, eficientes e econômicos de capturar, ar− mazenar e distribuir”, afirmou Nastari. O presidente do Sindicato das In− dústrias do Açúcar e do Álcool (Sin− daçúcar) Renato Cunha, defendeu que o RenovaBio pode ser um dos instru− mentos de fortalecimento do biogás e do biometano como tem sido para o etanol.“É preciso estimular o financia− mento para garantir a hibridização das fontes de energia”, destacou. Esse olhar urgente se deve ao atraso que o Brasil vive no desenvol− vimento do biogás e do biometano em relação à Europa, contrariando o tamanho do seu potencial. São 18.770 plantas de biogás em 31 países euro− peus e 992 de biometano em 18 paí− ses naquele continente. Só na Alema− nha, as 9.009 fábricas de biogás têm capacidade de geração elétrica de 4.166 MW, 51% dessa potência vem de fontes renováveis, sendo 73% da si− lagem do milho.

A gerente executiva da Associa− ção Brasileira do Biogás (ABiogás), Tamar Roitman, afirmou que o Bra− sil tem o potencial que nenhum ou− tro país tem e que esse ativo tem si− do desperdiçado pela falta de incen− tivo de políticas públicas, regulação e certificação do setor. De acordo com Tamar, o biometa− no é o caminho para interiorizar o de− senvolvimento, o que deve ocorrer com a implantação de 25 fábricas do com− bustível, nenhuma delas no Nordeste. “Primeiro, é preciso levantar quais podem ser as fontes para a produção do biometano de acordo com a cul− tura local, aqui em Pernambuco temos a cana−de−açúcar, por exemplo. A partir daí é desmistificar o setor e apresentar as vantagens econômicas e ambientais”, declarou. Um exemplo de uso do biometano foi apresentado no seminário pelo pre− sidente da Companhia de Gás do Cea− rá (Cegás), Hugo Figueirêdo.A empresa começou a injetar o biometano em sua rede em maio de 2018 – e hoje, o in− sumo representa quase 15% no volume de distribuição de todo o gás canaliza− do comercializado pela companhia.

Augusto Salomon

Plínio Nastari

Renato Cunha

Tamar Roitman

Potencial desperdiçado


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