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Mandala Evolutiva: uma metodologia alternativa para o ensino de botânica

Preparo da área para início da construção da mandala.

Coordenadora: Samara Arcanjo e Silva Bolsista: Amanda Keny Rodrigues Silva, Crescêncio Gusmão Castro, Gabriel Ferreira Vieira e Vitória Moreira Prates Colaboradores: Adriene Matos dos Santos e Larissa Duarte Araújo Pereira Texto: Samara Arcanjo e Silva e Larissa Duarte Araújo Pereira Campus: Araçuaí

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Projeto Mandala Evolutiva:

uma metodologia alternativa para o ensino de botânica

Quem nunca se aborreceu ao estudar botânica por ter que decorar os incontáveis termos técnicos, sem sequer uma aula prática? Historicamente, a botânica tem sido trabalhada de forma conteudista e desestimulante para a maioria dos estudantes. Pensando nisso, a equipe do projeto propôs a Mandala Evolutiva, como metodologia alternativa para o ensino de botânica, transformando-a em algo atrativo e contextualizado. A denominação considera o espaço físico ocupado na construção de um jardim didático, em que mandala remete à disposição geométrica dos canteiros, e evolutiva, pois se aplica à disposição das plantas, atendendo à sistemática vegetal.

Ouso de atividades e desafios que conectem informações teóricas à prática e que combinem percursos pessoais com a participação significativa em grupos são aspectos fundamentais para despertar o interesse dos estudantes e contribuir para o sucesso da aprendizagem. No ensino de botânica, não é diferente. Contudo, a carência de atividades desse tipo tem tornado o ensino da área tradicionalmente desestimulante para os estudantes e, até mesmo, para os professores.

Lago finalizado.

Amanda Keny

Somados a essa falta de interesse no estudo de botânica, têm-se o pouco conhecimento e a consequente desvalorização da flora nativa da região de abrangência do IFNMG/ Campus Araçuaí. Ao longo do processo histórico regional, infundiu-se na população a crença de que este é o “vale da miséria”, devido às condições ambientais e à falta de recursos. Esse pensamento reforça o estereótipo de que a flora nativa é pobre e contribui para a carência de estudos.

Início do plantio das mudas.

Larissa Pereira

A mandala

A mandala evolutiva, implantada no setor de produção do IFNMG/Campus Araçuaí, faz parte da trilha agroecológica aberta para visitação de escolas e da comunidade em geral. O objetivo desta mandala é retratar a evolução das plantas a partir das algas e como elas se diversificaram e conquistaram o ambiente terrestre. Por isso, a mandala conta com um lago artificial no centro dos canteiros: as plantas iniciaram sua história evolutiva na água e, ao longo da evolução, diversos grupos retornaram ao ambiente aquático.

As espécies de plantas selecionadas para serem incluídas na mandala foram resultado de intenso trabalho de pesquisa dos estudantes bolsistas envolvidos no projeto. Eles realizaram o levantamento das plantas nativas da flora regional, em pesquisas na literatura e em conversas com seus familiares. Nesse sentido, a estudante Amanda Keny Rodrigues Silva, do Curso Técnico em Agroecologia in-

Delimitação dos canteiros e construção do pergolado.

Amanda Keny

tegrado ao Ensino Médio, ressalta: “o projeto pôde me proporcionar uma experiência incrível do início ao fim, tendo contribuído em esfera pessoal, acadêmica e, futuramente, profissional, além de aprofundamento do conhecimento em biologia, geografia e, até mesmo, histórico-cultural.”

Ainda, o estudante Crescêncio Gusmão Castro, também do Curso Técnico em Agroecologia integrado ao Ensino Médio, relata que as atividades desenvolvidas por ele no projeto foram importantes para aproximá-lo do curso, “além de desmistificar esta visão conturbada sobre os biomas da região, permitindo-me perceber as riquezas presentes neles.”

Início da construção do lago.

Um jardim didático

Diante da necessidade de adequação das práticas pedagógicas ao contexto contemporâneo, o uso de espaços alternativos não formais para o ensino tem se tornado cada vez mais comum. Os jardins didáticos, tal como a mandala evolutiva, possibilita o desenvolvimento de atividades que permitem a conexão entre conceitos específicos e a realidade.

Pensando nisso, ao longo do projeto, a equipe executora elaborou cinco planos de atividades práticas, utilizando, não somente o espaço da mandala, mas também, a trilha agroecológica e o Laboratório de Biologia do campus. O intuito dessas atividades é promover a troca de saberes entre o senso comum e o conhecimento científico, agregando ingredientes lúdicos ao processo de ensino-aprendizagem e incentivando a participação de estudantes.

Os planos de atividades, que exploram diferentes aspectos dos elementos incluídos na mandala evolutiva, abordam os seguintes temas: Biomas; Classificação e evolução das plantas; Coleções botânicas; Morfologia vegetal e Síndromes de polinização e dispersão. Todos esses assuntos serão tratados de forma interdisciplinar e contextualizada à realidade local.

Neste contexto, o estudante Gabriel Ferreira Vieira, do curso técnico em Meio Ambiente integrado ao ensino médio, avalia que o projeto “[...] nos motivou cada vez mais a se pegar ao sentimento de pertencimento a esta obra que vem para tentar quebrar o paradigma do ensino expositivo. Então, finalizo com o meu agradecimento a este projeto que se tornou parte de mim.”. O intuito das práticas é despertar nos visitantes este e outros sentimentos que remetem pertencimento. Pertencimento que conduz à valorização e à preservação da flora nativa da região.

Cacto, pertencente à família Cactaceae e nativo da região, plantado em um dos canteiros .

Larissa Pereira

Uma construção que não termina aqui

Muito mais do que um espaço não formal para o ensino de botânica, o anseio da equipe é que a mandala evolutiva seja inspiração para novas metodologias de ensino, centradas no estudante, alinhadas ao contexto regional e que valorizem as riquezas do Vale do Jequitinhonha.

Em virtude da pandemia, as visitas à mandala evolutiva não puderam ser realizadas dentro do período de vigência do projeto, como lamenta a estudante Amanda Keny, cujo sentimento é partilhado pelo restante da equipe: “Lamento apenas que, em função da pandemia, algumas atividades foram limitadas.”

Contudo, a construção não se encerrou com a finalização do projeto. Os métodos de ensino tradicionais, em que os professores atuam como transmissores de conhecimentos aos estudantes, podem ser ressigni-

Construção da floreira para as samambaias.

Crescêncio Gusmão

ficados e revistos em uma sociedade conectada, que tem um mundo de informações na palma da mão, em qualquer lugar e a qualquer hora.

Assim, o desejo da equipe é desenvolver as atividades práticas planejadas, junto com estudantes do IFNMG e das escolas estaduais e municipais de Araçuaí e entorno. E, para além, experienciar a construção de novos jardins didáticos semelhantes a esse em outras escolas da região. Pretende-se seguir construindo novos jardins e novas formas de ensinar e de aprender botânica!

A equipe executora agradece aos parceiros José Antônio Ramalho Cardoso, Luciano Jardim dos Santos, Rodrigo Santos Jardim, Gildo Pereira dos Santos e Gilberto Nunes Siqueira, colegas terceirizados, cuja colaboração foi imprescindível e inestimável para o desenvolvimento desse projeto.

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