Brusque: 160 Anos de Superação

Page 12

terça-feira, 4 de agosto de 2020

12

RESILIÊNCIA EM MEIO ÀS MUDANÇAS BRUSQUE MEMÓRIA/DIVULGAÇÃO

PROIBIÇÃO DA LÍNGUA ALEMÃ FECHA ESCOLAS E MUDA ROTINA NA CIDADE, MAS POPULAÇÃO CONSEGUE SE ADAPTAR

ESCOLA EVANGÉLICA ALEMÃ, ATUAL COLÉGIO CÔNSUL CARLOS RENAUX, FOI PROIBIDA DE FUNCIONAR DURANTE A PRIMEIRA GUERRA

Em questão de meses, a vida dos moradores de Brusque mudou completamente. A cultura alemã, com forte influência na rotina da Vila São Luiz Gonzaga, desde a chegada dos primeiros imigrantes em 1860, foi silenciada. Toda a população ficou apreensiva e qualquer ocorrência na sede causava retirada das famílias mais receosas para o interior. As celebrações de missas e cultos, as atividades sociais, as aulas nas escolas e até o jornal ‘Brusquer Zeitung’ foram proibidos de circular em língua alemã. De repente, em 1917, os alunos das escolas particulares da cidade - a católica e a evangélica - foram transferidos para a escola pública, onde deveriam

“VEMOS AQUI A CAPACIDADE DO POVO BRUSQUENSE EM SE ADAPTAR, ELE BAIXA A VOZ POR UM PERÍODO, MAS NÃO SE DEIXA DOMINAR PELOS CONSTRANGIMENTOS POLÍTICOS, E VOLTA COM MAIS FORÇA NOS ANOS SEGUINTES” Aloisius Lauth, historiador

aprender o idioma português, com professores brasileiros contratados. Até aquele momento, os estudantes eram alfabetizados em alemão e, no ato, as duas escolas foram proibidas de funcionar. Há relatos de que alunos que já estavam no sexto ano escolar tiveram que entrar na primeira série da escola pública, apenas para aprenderem o idioma pátrio. Alguns, com mais dificuldade de aprendizado, eram castigados por seus professores, seguindo os rigorosos padrões pedagógicos da época. Igualmente, a rotina nas igrejas foi modificada. Os sermões e homilias, antes em alemão ou italiano, passaram a ser em por-

tuguês, por padres e pastores que nem sempre eram os melhores oradores na língua pátria. Não bastasse, todos os padres católicos alemães com alguma função administrativa dentro da igreja perderam seus cargos. Em Brusque, o padre Gabriel Lux, que era o administrador da Santa Casa de Misericórdia de Azambuja, perde o cargo e a partir daquele momento, o comando de Azambuja recai às mãos das Irmãs da Divina Providência. A vida social, econômica e cultural do brusquense vai se transformar rapidamente. Foi preciso se adaptar e esquecer por algum tempo a cultura alemã pela qual se tinha tanto apreço. A influência alemã sobre a Colônia de Brusque tem raízes desde sua fundação. No Centro, prevalecia o idioma germânico, as conversas eram em alemão, os negócios se faziam em alemão, a contabilidade era em alemão, e muitas vezes, inclusive, em alemão gótico. “Há livros de registros no arquivo da Fábrica Renaux que estão em alemão gótico, tratando tanto das atividades técnicas quanto dos negócios. Os primeiros documentos da Sociedade Beneficente da avenida Primeiro de Maio; da Santa Casa de Misericórdia (atual Hospital Azambuja) e do Clube Ipiranga também estão escritos em alemão gótico. Apesar da Revolução de 1892, a Província de Santa Catarina não efetivou ações para integrar as zonas de colonização do Vale do Itajaí; por isso, no início do século 20, a sociedade da Vila Brusque gira em torno da cultura alemã”, destaca o historiador Aluisius Lauth. Era comum os moradores de Brusque receberem visitas da Alemanha, mantendo assim a ligação com a terra natal. Em 1905, em uma dessas visitas, o cruzador alemão Panther aporta no porto de Itajaí. Os tripulantes oficiais e marujos visitam Brusque, Blumenau e Itajaí. Na saída, um dos marinheiros foge da embarcação e é encontrado em um hotel em Itajaí. Uma patrulha alemã vai resgatá-lo e decide trazê-lo algemado à borda. O delegado de Itajaí, entretanto, não concorda com a interferência em seu distrito policial. Para ele, em terras brasileiras, nenhum estrangeiro pode prender um cidadão, mesmo sendo ele um estrangeiro. O caso vai parar na embaixada e chama a atenção do Governo da República, que já começava a perceber a ameaça da forte influência alemã no Sul do país. “Esse fato ajuda a formar o pressentimento de que no Sul existia o perigo de separação do Brasil. Na capital federal, eles entendem que os alemães poderiam ser um perigo para a integração do território. Porém, há pouca evidência de que os nossos alemães desejassem a criação de um Estado Alemão no território de colonização”, destaca Lauth.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.