terça-feira, 4 de agosto de 2020
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ARQUIVO RAULINO REITZ
“O RESULTADO DO DESMATAMENTO TRANSFORMARÁ OS MORROS DE BRUSQUE NOS ANOS 50 EM ÁREAS COMPLETAMENTE PELADAS” Aloisius Lauth, historiador
SOLUÇÃO ENCONTRADA PELOS ESTUDIOSOS FOI O DESMATAMENTO DOS ARREDORES DA CIDADE
FONTE DE DESCOBERTAS CIENTÍFICAS EPIDEMIA DE MALÁRIA EM BRUSQUE DEU ORIGEM A ESTUDO QUE SE TORNOU REFERÊNCIA NO CONTROLE DA DOENÇA
Na década de 40, a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux paralisou várias máquinas da seção de fiação, tecelagem e tinturaria por falta de operários no trabalho. Os trabalhadores não conseguiam cumprir os turnos pois ficavam doentes. Era a malária. A doença parasitária cria ciclos típicos de febre, traz calafrios e muito suor, faz doer as articulações e, em alguns casos, causa vômitos e convulsões periódicas. O surto da doença na cidade durou alguns anos. No livro “Flagelo da Malária em Brusque”, Aloisius Lauth relata que no inverno de 1942, 40% a 42% dos tecelões e
fiandeiros da Fábrica Renaux não compareciam ao turno devido à febre intermitente, provocada pelo surto de malária na cidade. Além da fábrica, o Seminário de Azambuja também sofreu bastante com a doença, tanto que no começo dos anos 40, as Irmãs da Divina Providência alertaram a Arquidiocese de Florianópolis sobre o grande número de seminaristas doentes. De acordo com o livro, com a doença se espalhando rapidamente, as autoridades iniciaram uma campanha de erradicação, porém, em 1944, a malária já ha-
via atacado de 60% a 70% da população da cidade, uns com mais intensidade do que outros. A campanha visando a erradicação da malária na cidade consistia na caça de mosquitos e insetos indefinidos, dentro e fora das casas. A Fábrica Renaux contratou um engenheiro para drenar o solo ao redor da fábrica, na avenida Primeiro de Maio, o que deu origem à lagoa acima da tinturaria de fios. Também foi instalado o Serviço Nacional da Malária, no centro de Brusque. Essas ações, entretanto, não foram suficientes para erradicar a doença no município. Brusque
ainda foi considerada um grande foco de malária. Nesta altura, a doença não era exclusividade da região próxima ao seminário e a fábrica, havia se espalhado para toda a cidade e também municípios vizinhos como Blumenau, Itajaí, Ibirama e Tijucas. Lauth destaca que o litoral catarinense, de São Francisco do Sul a Laguna, foi mapeado como ‘Zona de Malária’ pelo Ministério da Saúde. Como Brusque foi uma das cidades mais atingidas pela doença, foi instalado um centro de pesquisa e um laboratório do Serviço de Malariologia, dirigido pelo Ministério da Saúde. Lauth explica em seu livro, que comemora o centenário do padre Raulino Reitz, que os estudos iniciais no local revelavam forte conexão da epidemia com a presença de bromélias nas matas nativas. O Ministério da Saúde solicitou, então, aos Estados Unidos, relatórios técnicos da doença e pediu o envio de um especialista em bromeliologia para auxiliar nas pesquisas. A resposta do governo americano foi de que um dos maiores especialistas no assunto vivia em Azambuja: o padre Raulino Reitz, professor do Seminário de Azambuja. Ele não aceitou ser contratado pelo Serviço Nacional da Malária, mas contribuiu como voluntário. O próprio padre foi vítima da doença algumas vezes, a maioria durante sua estadia no seminário, em Brusque. Reitz afirma em seu livro: “Fui vítima da malária desde criança. Os raros acessos febris em minha casa paterna se tornaram frequentes no Seminário em Azambuja, em Brusque, onde graçava a terrível endemia, adoecendo em alguns anos até oito vezes”.