Brusque: 160 Anos de Superação

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

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REPRODUÇÃO

“EM POUCO TEMPO, TODA A CATEGORIA ADERE À PARALISAÇÃO, BEM À VÉSPERA DO NATAL. DURANTE 37 DIAS, 4 MIL OPERÁRIOS PARTICIPARAM DA GREVE”

REIVINDICAÇÃO DOS TRABALHADORES FOI NOTÍCIA NO JORNAL DE BRUSQUE, EM 1952

FORTALECIMENTO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS GRANDE GREVE NA DÉCADA DE 50 INICIOU DEBATE SOBRE MELHORES CONDIÇÕES SOCIAIS DE OPERÁRIOS

A década de 1950 foi marcada pelo conflito de patrões e operários têxteis em Brusque. São 37 dias de uma greve que transforma o município e repercute nacionalmente. Os trabalhadores das três grandes indústrias têxteis, Renaux, Buettner e Schlösser, e alguns operários de empre-

sas menores, cruzam os braços no dia 19 de dezembro de 1952, reivindicando o pagamento de reajuste salarial. O descontentamento dos operários vinha desde o início do ano, quando, em assembleia no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Fiação e Tecelagem,

decidiu-se por um reajuste de 60% nos salários. Os patrões, entretanto, consideram o percentual impossível de ser repassado aos operários. A questão trabalhista foi parar no Tribunal Superior do Trabalho, em Porto Alegre, o qual decidiu que o reajuste seria de 7,1%, e deveria ser pago

a partir de junho de 1952 até 19 de dezembro, o que não ocorreu. O historiador Aloisius Lauth conta que a greve começou como um mal-entendido e, rapidamente, tomou conta de Brusque. Às 18h , na parada do lanche, os trabalhadores se reuniam em frente à Fábrica Renaux para conversar. Naquele dia, o assunto foi a falta de pagamento do reajuste. Quando toca a sirene para o retorno ao trabalho, os operários continuam discutindo. Voltam para seus postos com alguma resistência, lentamente. “Quem está à frente nos portões da fábrica leva essa notícia para a Schlösser e para a Buettner. No dia seguinte, às 5h, o pessoal que está na Schlösser e na Buettner paralisa o expediente porque tinha entendido que a Fábrica Renaux estava parando. E na Renaux, aqueles são surpreendidos com a informação de greve na Schlösser e na Buettner, e que o movimento paredista teria nascido ali dentro”. Em pouco tempo, toda a categoria adere à paralisação, bem à véspera do natal. Durante 37 dias, 4 mil operários participaram da greve. O movimento mexeu com toda a cidade que, na época, era movida pela indústria têxtil. A cada dia, a greve ganhava novos rumos. Aqueles que não queriam participar eram impedidos de entrar nas fábricas pelos piquetes que se formavam em frente aos portões. Caminhões com matéria-prima também eram impedidos de circular. A greve adentrou o Natal e o Ano Novo com os operários de braços cruzados. Em janeiro, a classe patronal apresentou uma lista com as condições para os operários voltarem ao trabalho, mas não houve acordo.

DIFICULDADES COMEÇAM A SURGIR A greve se prolongou mais do que o esperado. Como o operário ganhava salário por produção, os problemas financeiros começaram a aparecer dentro das casas. As famílias tinham muitos filhos, e começaram a sentir dificuldades. Sem produção, sem dinheiro, sem Natal e sem presentes. Agora até sem comida. Alguns relataram as dificuldades daquele período na dissertação de mestrado do historia-

dor Marlus Niebuhr, intitulada “Memória e Cotidiano do Operário Têxtil na cidade de Brusque: a greve de 1952”. Em algum momento, os comerciantes se negaram a vender fiado para os operários, que não tinham pago a conta da ‘caderneta’ naquele mês - era comum anotar as compras no caderno do negociante. Também eles não conseguiam pagar seus fornecedores, estendendo a cri-

se para outras cidades. Grevistas organizaram, então, movimento para arrecadação de comida. Niebuhr relata na dissertação que os operários vão de carroças a Guabiruba, São Pedro, Cedrinho, onde os moradores doam galinhas, ovos, verduras e legumes para auxiliar as famílias carentes. As doações eram arrecadadas em nome da Festa de São Roque, mas todos sabiam qual era

mesmo o objetivo real das doações: os grevistas, muitos deles moradores de Guabiruba. De acordo com Niebuhr, essa era uma prática comum nos movimentos operários. Na greve dos trabalhadores têxteis de Blumenau, em 1950, por exemplo, também foi realizada uma campanha de arrecadação de alimentos.

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