QUENTIN TARANTINO
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Castelo de cartas Fábio Andrade
Em texto que fazia parte da pauta comemorativa da edição 50 da revista Contracampo, publicada meses antes da estreia de Kill Bill: Vol. 1, o crítico Cleber Eduardo abria a conversa com as bases de um paradigma: “Quentin Tarantino talvez seja o cineasta americano mais influente dos anos 1990”. Determinar e traçar rotas de uma influência já consumada é tarefa das mais complicadas, especialmente por ser virtualmente impossível determinar o que é causa e o que é consequência, onde termina o sintoma e começa a prefiguração. Ainda assim, assumo o desafio: sete anos depois, por mais que Tarantino tenha criado um visível círculo de relações que inclui diretores como Robert Rodriguez e Eli Roth, e tenha sido assumido como inspiração para diluidores de talento limitado, como Guy Ritchie, parece difícil fazer tal afirmação com a mesma convicção, mesmo com o cuidado do “talvez”. Ao menos se pensarmos na influência estrita de Tarantino no próprio cinema, fica a percepção de que seus frutos não foram tantos e, em geral, injustos. Em meio a um sistema de produção cada vez mais massificado de super-heróis, CGI e franquias, e uma produção autoral que sobrevive forte, mas entre portas fechadas (de cômodos aconchegantes, para não dizer pequenos), os filmes de Tarantino hoje parecem chegar como eventos solitários. Essa solidão vem por uma peculiaridade de recepção que pode ajudar na compreensão das obras: são filmes que se impõem como iscas prováveis de atenção tanto das plateias anestesiadas pela homogeneidade dos multiplex quanto do público do nicho, não menos anestesiado, que se convencionou chamar de “cinema de arte” (e, claro, há preguiçosos em ambos os campos). Talvez Tarantino hoje não motive mais a impressão de ser “o cineasta americano mais influente dos anos 1990”, mas ele parece cada vez mais cristalizado como o artista americano que melhor resumiu as inquietações deste momento histórico ainda vigente, mesmo que transformado. Tarantino é o mais influente ou o mais influenciado cineasta americano das últimas décadas? A rigor, os filmes parecem afirmar que essa questão não tem qualquer importância. Parece impossível determinar onde