QUENTIN TARANTINO
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Pulp Fiction e a manifestação do símbolo vazio – A morte de Deus e o royale com queijo Mark T. Conard
“Nietzsche disse que a humanidade iria mancar lá pelo meio do século XX ‘pela ninharia’ dos velhos e decadentes códigos morais baseados em Deus. Mas então, no século XXI, viria um período mais terrível do que as Grandes Guerras, uma época de ‘eclipse total de todos os valores’ (em Vontade de poder). Este seria um período frenético de ‘reavaliação’, no qual as pessoas tentariam encontrar novos sistemas de valores para substituir os osteoporóticos esqueletos do antigo. Mas vocês irão falhar, advertiu, porque não podem acreditar em códigos morais sem, simultaneamente, acreditar em um deus que aponte com seu temível dedo indicador e diga: ‘Faça isso’ ou ‘Não faça isso’.” Tom Wolfe, no artigo “Sorry, but Your Soul Just Died” [Desculpe, mas sua alma acaba de morrer], Hooking Up (2000) Pulp Fiction é surpreendente, violento e muito divertido. Mas – com seus personagens bizarros, eventos em sequência não linear, e referências sem fim à cultura pop – sobre o que o filme realmente trata? Sobre o niilismo americano, a perda de todo o significado e valores em nossas vidas, seguindo o que Nietzsche chamou de “A morte de Deus”. Mais especificamente, sobre a transformação de dois personagens: Jules (Samuel L. Jackson) e Butch (Bruce Willis). Razão e sensibilidades No início do filme, Vincent (John Travolta) acaba de retornar de uma viagem a Amsterdam, e sua conversa com Jules é sobre como chamam o Big Mac e o Quarteirão com Queijo na Europa, o Fonz de Happy Days, a banda pop Flock of Seagulls, Caine da série Kung-Fu, programas piloto de TV etc. À primeira vista, essas referências à cultura pop parecem ser algum tipo de alívio cômico contra a violência que testemunhamos na tela. Mas isso não é verdade. Estes transitórios símbolos e ícones da cultura pop são a maneira pela qual os personagens dão sentido às suas vidas.