QUENTIN TARANTINO

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QUENTIN TARANTINO

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Kill Bill: Vol. 2: O dia das mulheres B. Ruby Rich

Quentin Tarantino faz filmes de macho e é bom nisso. Ele é o cara dos caras, o cinéfilo dos cinéfilos, o nerd dos nerds, o diretor de filmes inteligentes de ação, categoria que normalmente, é preciso dizer, tem muito pouco a oferecer a qualquer mulher que por acaso se encontre em seu espaço cinematográfico. Sua oeuvre, e a palavra francesa soa imediatamente inapropriada, é masculina e mistura obscenidade com violência em um universo machão repleto de referências cinematográficas já lendárias e declarações de amor aos filmes de ação; ela é povoada de atores escalados não por suas qualidades pessoais, mas por seus papéis característicos anteriores. Eu mesma só sei qual será minha possível reação a um filme de QT quando estou irrevogavelmente na poltrona do cinema. Minha avaliação? Odiei Cães de aluguel, pelo menos na época; adorei Pulp Fiction, para espanto de amigos; adorei Jackie Brown e fui censurada por colegas; não gostei de Kill Bill Vol. 1, o que era razoavelmente previsível. E agora, que rufem os tambores: estou obcecada por Kill Bill Vol. 2, para meu próprio espanto. Na tentativa de entender por que KB2 é (para alguns) tão fascinante e prazeroso, me comprometo a pular todos os detalhes que certamente encontrarão em qualquer crítica masculina do filme. Então garanto isto: não há referências a filmes chopsocky1 ou westerns spaghetti, nem apreciações furtivas de filmes de grindhouse2 ou pérolas de kung fu; nem discussões eruditas sobre wushu e kung fu de punho de Hong 3 ou sobre a diferença entre o bushido japonês e as tradições chinesas de artes marciais; nem sermões sobre a diferença entre Sonny Chiba e Gordon Liu ou entre os personagens do filme Hattori Hanzo (mestre fabricante de espadas) e Pai Mei (mestre das artes 1. Filmes de artes marciais produzidos principalmente em Hong Kong e Taiwan, nas décadas de 1960 e 70. O termo foi cunhado pela revista americana Variety. Trata-se de uma brincadeira com a palavra chop-suey (famoso prato da gastronomia chinesa); chop é o nome de um golpe de caratê, e sock significa “murro” (N. T.). 2. Termo americano que se refere a cinemas que exibiam principalmente filmes exploitation. Também usado para descrever o gênero de filmes que passavam nesses cinemas (N. T.). 3. Variações do kung fu (N. do T.).


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