QUENTIN TARANTINO
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Dias de glória Ryan Gilbey
Época curiosa para ser Quentin Tarantino. Os dias de adoração simples – que duraram precisamente dois filmes (Cães de aluguel e Pulp Fiction) – acabaram. Os elogios a sua maturidade e sabedoria – Jackie Brown foi aclamado em algumas regiões – parecem agora presentes de grego que Tarantino nunca pediu. Os dois volumes de Kill Bill e o malfadado e grandioso projeto Grindhouse contribuíram para uma reputação de autoindulgência. E a declaração de Harvey Weinstein, expressando gratidão eterna por Pulp Fiction, certamente não ajudou: “Miramax é a casa que Quentin Tarantino construiu. Por causa de sua estatura, ele tem carta-branca”. Isso não pode ser bom para um artista. Qualquer médico recomendaria mais frugalidade após tanto excesso cinematográfico. O novo filme de Tarantino,1 Bastardos inglórios, não é uma discreta música de câmara, o que não surpreende ninguém. Tratase, na opinião de seu criador, de um western. Seu título é uma adaptação do filme de Enzo G. Castellari, Os bastardos inglórios [ou O expresso blindado da S.S. nazista, como foi lançado no Brasil], de 1978 (lema: “O que quer que os doze condenados façam, eles o fazem pior!”), mas é, em todos os outros aspectos, uma obra original, embora cheia de referências. O filme reúne uma mixórdia de personagens oriundos da história do cinema. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o líder rabugento dos Bastardos, uma unidade militar americana que inflige punições apaches aos soldados nazistas; Shosanna (Mélanie Laurent), cuja família judia é massacrada na sequência de abertura, gerencia um cinema parisiense que se torna palco de um complô para matar Hitler; e o coronel Hans Landa (Christoph Waltz, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes) é o nazista poliglota que aparece em momentos inoportunos fazendo perguntas embaraçosas. Adicione um ex-crítico de cinema chamado Archie Hicox (Michael Fassbender), a atriz glamorosa/agente duplo Bridget von Hammersmark (Diane Kruger) e um heroico francoatirador alemão que vira ator, Fredrick Zoller (Daniel Brühl), e 1. Texto publicado em setembro de 2009, à época do lançamento de Bastardos inglórios.