QUENTIN TARANTINO

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QUENTIN TARANTINO

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De Jackie Brown a Django Livre: influência, apropriação e black music Marcos Kurtinaitis

Por quem, quando e como são selecionados os acompanhamentos musicais para cada sequência de um filme em que a trilha sonora é requisitada são questões de respostas bem mais complexas do que podem aparentar. Uma canção específica é incorporada a uma determinada cena de um filme pelas mais diversas razões, das mais diversas formas – da escolha deliberada ao mero acaso – nas mais diversas etapas da produção e até mesmo pelas mais diversas pessoas, envolvidas ou não com a concepção da obra. Na indústria cinematográfica norte-americana existem até mesmo inúmeras formas de se creditar as funções desempenhadas nesse processo, mesmo quando não se trata de música composta, gravada ou remixada para aquele trabalho: do discreto “agradecimento especial” ao colega do diretor que sugeriu aquele bolero que ele vinha tentando encaixar em sua cena, passando por todos os tipos de music supervisor, music director, music advisor etc. que se possa agregar aos procedimentos de selecionar, encontrar, negociar e incluir uma música já existente em um novo filme. Trabalhar em audiovisual simplesmente escolhendo e procurando músicas para serem incorporadas a filmes, exercendo uma espécie de consultoria curatorial musical, tornou-se mesmo um plano de carreira possível, como atesta a notoriedade recentemente conquistada por nomes como Scott Vener e Alexandra Patsavas, profissionais reconhecidos e requisitados exclusivamente como consultores musicais e supervisores musicais.1 No caso dos filmes de Quentin Tarantino, porém, é difícil imaginar que alguma música tenha entrado em algum filme seu que não por escolha própria. Talvez até não haja sequer uma sequência cuja música já não estivesse em sua cabeça no momento em que ele a escrevia. Mas a famosíssima cena 1. Ele, graças ao exercício dessas funções em séries de televisão como Entourage (2004-2011), Como vencer na América (How to Make It in America, 2010-) e 90210 (2008-); ela, em filmes como os da saga Crepúsculo (The Twilight Saga, 2008-2012), As vantagens de ser invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012) e Meu namorado é um zumbi (Warm Bodies, 2013) e em séries como Gossip Girl (2007-), Grey’s Anatomy (2005-), Mad Men (2007-), Supernatural (2005) e O.C. – Um estranho no paraíso (The O.C., 2003-2007), dentre muitas outras.


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