A CIDADE E AS SERRAS Sempre pensei no Verão e, em particular, nas férias, como um tempo de aventuras, vividas na primeira pessoa ou através dos livros, os meus companheiros de eleição. Ainda hoje, parece-me que durante esse período é tempo de abrir possibilidades e ver como há tanto mais à nossa espera do que aquilo que nos é dado a experimentar no dia-a-dia. Outros mundos, outras possibilidades. Com isto em mente, o meu grande propósito de férias tem sido nos últimos anos viajar e tenho tido a sorte de o conseguir fazer de forma regular. Um dos desígnios que me vinha à mente de quando em vez era ir fazer voluntariado com animais. Uma pesquisa na net indicou-me como destino possível os santuários de elefantes na Tailândia, uma ideia alimentada (admito) pelas imagens nas redes sociais em que pessoas perfeitamente descontraídas tomam banho com elefantes num qualquer rio asiático. Contudo, o meu realismo sempre me colocou barreiras que, com o tempo, se solidificaram. Será que o santuário era idóneo? Que tarefas irei fazer? Provavelmente, limpar bosta e pôr fardos da
palha aos elefantes, uma vez que nada sei de veterinária ou mesmo de comportamento animal de modo mais detalhado. E fará mesmo sentido largar uns milhares de euros para fazer voluntariado nestes termos? Arquivei o projecto na gaveta à espera de uma melhor e mais próxima oportunidade. E ela surgiu, imagine-se, neste tão inesperado 2020, ainda por cima numa modalidade que me permitiu realizar o meu sonho sem necessidade de me meter num avião e ir para o outro lado do mundo a pensar no peso médio de um elefante adulto e a quantos quilómetros do santuário seria o hospital mais próximo. Foi através de uma publicação nas redes sociais que conheci o projecto A Quintinha da Liz e logo que li a descrição pensei this must be the place. Fica bem perto de Mangualde e é um santuário de animais, um projecto amigo do ambiente e que pretende ser autosustentável. Não há consumo de qualquer produto de origem animal, o que para mim é a mais elevada recomendação que poderia existir. Também não há televisão, nem internet.