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Cantinho do João João Correia

CANTINHO DO JOÃO

João Correia

O dilema social

Não sou um fã incondicional da “netflix” e confesso que só num passado recente é que aderi à mesma. Aquando dessa adesão pedi, naturalmente, conselhos sobre o que ver e como navegar nesta plataforma (acho que é assim que se chama …) tendo recebido as recomendações habituais. Entre essas surgiu o documentário sobre as redes sociais - o dilema social - o qual eu tive o cuidado de assistir.

É impossível não gostar do documentário e não aderir às suas ideias, sobretudo no que respeita à componente aditiva das redes sociais e a qual, quem as frequenta, já a sentiu certamente na pele. É igualmente interessante o efeito que tais redes têm nos adolescentes, nos seus hábitos de consumo e na sua auto-estima. Sobretudo, quem vê o documentário fica com a percepção que as redes sociais representam um perigo. Um perigo para a saúde, para a nossa privacidade, para a autoestima e, porque não dizê-lo, para a democracia.

Assumindo esta premissa, escuso de salientar os potenciais danos das redes sociais e, prefiro assim relembrar alguns casos positivos que nos permitem, quiçá, colocar as coisas em perspectiva.

Lembro-me há uns anos, durante o Verão, de viajar sozinho até à Galiza onde fiquei durante uns dias, sob o pretexto de mergulhar. Uma vez lá, também passeei, fiz caminhadas, visitei os locais habituais e outros não tanto habituais, provei a gastronomia local, entre muitas outras coisas. Naturalmente, tirei umas fotos e publiquei-as nas redes sociais onde, por sua vez, dois colegas meus do norte do país as comentaram relembrando bons momentos que tinham, em tempos, passado naquela zona em concreto, aconselhando diversos locais, desde os restaurantes até às praias.

Até aqui nada de novo, porém, um mês após esta pequena viagem, um casal de amigos meus da zona de Lisboa concluiu que ainda lhes restavam alguns dias de férias e como tal, recordaram-se das minhas fotos da Galiza optando, face às mesmas, por fazer um percurso idêntico. De acordo com o que esse casal de amigos me transmitiu, foram ambos à procura das minhas publicações e registaram os locais e restaurantes que os meus dois colegas do norte aconselharam aquando dos comentários, usando-os como referência para umas boas férias.

Gosto de acreditar que, caso o casal fosse indiferente às redes sociais teriam na mesma gozado umas boas férias, porém, também gosto de saber que as minhas fotos, devidamente publicadas com os comentários de quem por lá passou, ajudaram a decidir sobre um local a descobrir.

Noutra ocasião publiquei a capa de um livro acompanhada de um comentário sobre este. Tal publicação mereceu diversos comentários, quer sobre o livro, quer sobre o escritor em questão (cujo nome não digo mas dou apenas uma pista: começa por Mário e acaba em Llosa …), ora de pessoas com as quais eu já me cruzei quer de outras que eu nunca conheci. Todavia, entre esses vários comentários, houve duas pessoas que recomendaram a leitura, cada uma delas, de um outro livro. Ou seja, registei os livros que me recomendaram e tratei não só de os adquirir como de os ler o mais rapidamente possível. Em suma, dois dos últimos livros que li foramno devido ao facto de mos terem recomendado nas redes sociais, um deles por uma pessoa com a qual nunca me cruzei. Talvez se não as frequentasse ainda assim os lesse, mas seja como for, foi um bom incentivo.

Por fim, resta-me relembrar uma amiga que partilhou, há muitos anos, umas fotografias de uns cachorros para adopção. Como uma tia minha, que reside no campo, mostrou interesse enviei uma mensagem para a amiga em questão a qual me indicou um número de telefone de uma outra senhora. Esta última transmitiu-me que os cães não estavam à sua guarda, mas sim com um outro seu amigo o qual recebeu a nossa visita. Escusado será dizer que adoptámos uma cadelinha que ainda hoje vive com a minha tia.

Enfim, componentes aditivas à parte, perigos para a saúde mental e para a democracia também, a realidade é que as redes sociais são aquilo

que nós queremos que elas sejam e, não tão poucas vezes quanto isso nos presenteiam com situações como as que descrevi. Só basta, para isso, que as procuremos.

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