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O Perfeito Nazi Duarte Rodrigues Nunes

Duarte Rodrigues Nunes

Bruno Langbehn, O Perfeito Nazi

O livro O Perfeito Nazi foi escrito pelo cineasta e escritor britânico Martin Davidson, filho de um escocês e de uma alemã .

Continuação...

Voltando ao livro que serve de base à presente reflexão, Bruno Langbehn, avô materno do autor, nasceu em 1906, sendo filho de um Kasernen Wachtmeister (um cargo híbrido militar/polícia, uma espécie de supervisor de quartel militar) do quartel militar de Perleberg, e, desde criança, viveu de perto o ambiente militar, fortemente imbuído do militarismo e do nacionalismo germânicos que caracterizavam profundamente a Alemanha do Kaiser Guilherme II. E assistiu, igualmente, à vaga de otimismo e de orgulho germânico de 1914 e ao desânimo subsequente à derrota alemã na I Guerra Mundial, tendo sido fortemente influenciado pelos efeitos psicológicos que a derrota e as “justificações” dessa mesma derrota inventadas pelos nacionalistas alemães (de que o mito da “facada nas costas”, da traição dos judeus à Pátria em prol da salvaguarda do seu património inventado por Adolf Hitler é um mero exemplo) tiveram na generalidade do povo alemão. O seu pai combatera na guerra e voltara a casa derrotado, humilhado pela débacle do seu país e do regimento de artilharia a que pertencia e revoltado com a queda do regime imperial e a instauração da República de Weimar, de conceção de esquerda, moderna e liberal (aliás, o primeiro regime verdadeiramente democrático que existiu na Alemanha) e totalmente oposta às conceções vigentes no II Reich dos Kaisers Guilherme I e Guilherme II e partilhadas pelos chanceleres Otto von Bismarck e Theobald von Bethmann-Hollweg, pela alta sociedade alemã e pelos marechais, generais e almirantes alemães. De resto, a nova República¹ contou, desde a sua instauração, com a feroz oposição dos nacionalistas alemães, apoiados por milícias armadas [primeiro os Freikorps² e, mais tarde, milícias como as SA nazis ou os Capacetes de Aço (Stahlhelm) ligados ao Partido Nacionalista Alemão³ , de Alfred Hugenberg]. E sofreu também forte oposição dos comunistas (através da Liga Espartaquista ou Liga Spartakus4 , sendo inicialmente liderados por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, assassinados em 1919), apostados em levar a cabo na Alemanha uma revolução similar à Revolução Bolchevique de outubro de 1917 e a instaurar um regime comunista, apoiados por milícias armadas. Foram inclusivamente estabelecidos conselhos de trabalhadores (Arbeiterräte) e de militares (Soldatenräte) ao estilo dos sovietes russos em várias cidades alemãs, sendo inclusivamente instaurado o Estado Livre (Freistaat) da Baviera, liderado por Kurt Eisner, assassinado em 1919 por um ultranacionalista alemão, Anton Graf von Arco auf Valley. As milícias nacionalistas (incluindo nazis) e comunistas espalharam o terror e a desordem no país entre 1918 e 19335 .

Do livro não resulta que o pai de Bruno Langbehn tenha feito parte dos Freikorps, embora a guarnição do quartel militar de Perleberg se tivesse convertido num Freikorps (Destacamento Stillfried, que integrava o Freikorps Hülsen, comandado pelo Tenente-General Bernhard von Hülsen), que combateu os comunistas insurgentes na passagem de 1918 para 1919 e que chegou a ter mais de 11.000 homens. Mas resulta que, muito provavelmente, terá feito parte de uma força popular de defesa (anticomunista) da cidade de Perleberg após a partida do Freikorps depois de ter derrubado o soviete da cidade e arriado a bandeira vermelha da Rathaus de Perleberg. E resulta, sobretudo, que o pai de Bruno Langbehn e o próprio Bruno Langbehn (que teria 12 anos quando a guerra terminou, sendo um adolescente nos anos dos golpes e contragolpes de extrema direita e extrema esquerda contra a República de Weimar e das reações violentas das autoridades para os conterem) guardaram forte ressentimento, por estarem convictos de que a guerra tinha sido nobre e justa e que a Alemanha só havia sido derrotada pela traição dos bolcheviques pró-Moscovo, que provocaram e ainda lucraram com a derrota alemã. E esse ressentimento foi ainda mais incendiado na sequência da assinatura do Tratado de Versalhes, desde logo considerado como um Diktat (imposição) das potências vencedoras à Alemanha (que não fora derrotada militarmente) e não um Tratado (Vertrag), sobretudo tendo em conta as suas duras e humilhantes imposições à Alemanha (incluindo o desmantelamento da marinha de guerra e da aviação, a redução das forças armadas – a Reichswehr – a 100.000 homens, a proibição de possuir aviões de combate, blindados, artilharia pesada e navios pesados de guerra como couraçados e cruzadores, bem como o pagamento de elevadas indemnizações aos países vencedores e a desmilitarização da Renânia). Todavia, ainda que dominados os espartaquistas e derrubados os últimos conselhos de trabalhadores e militares “vermelhos” nos inícios da década de 1920, os nacionalistas alemães instauraram um nacionalismo ainda mais agressivo do que o militarismo prussiano e apostado no ressurgimento alemão como uma grande potência militar e colonial, cuja voz principal começou por ser um antigo combatente altamente condecorado, Ernst Jünger, que, na sua obra seminal (para os nacionalistas e ressentidos da derrota alemã) In Stahlgewittern (Tempestade de Aço), baseado em anotações que coligira enquanto combatia na frente, que glorificava a própria guerra e a violência e a morte que lhe estão associadas; contudo, o livro de Jünger não continha quaisquer referências à política, aos impérios ou à invasão e conquista de países estrangeiros, lacuna que acabou por ser preenchida por outro nacionalista, Adolf Hitler, cuja obra fundamental Mein Kampf (Minha Luta) faz claras referências à política e à conquista do Lebensraum (Espaço Vital), que mais não era do que os territórios de países estrangeiros (Áustria, Checoslováquia, Polónia, URSS, Estónia, Letónia e Lituânia), e à superioridade racial alemã face às raças inferiores, onde se incluem os judeus, que são igualmente acusados de terem traído a Alemanha e o Exército alemão em prol dos seus interesses económicos.

Primeiro Jünger e depois Hitler terão influenciado de tal forma o adolescente/ jovem adulto Bruno Langbehn que este, após se ter mudado com os pais para Berlim, em 1922, aproximou-se de um pequeno partido nacionalista e antissemita, o DVFP (Deutschvölkische Freiheitspartei, Partido Alemão Völkisch7 da Liberdade), liderado por um general nacionalista alemão e ídolo dos alemães pelos seus feitos na Grande Guerra, Erich Ludendorf, e por um membro do Partido Nazi (então ilegalizado na sequência do Putsch de novembro de 1923 em Munique), Gregor Strasser. Todavia, procurando ação em vez de apenas retórica (a que se limitava o DVFP), Bruno Langbehn afastou-se do DVFP e, aos 18 anos, alistou-se num movimento Völkisch, dirigido por um membro do Partido Nazi e anterior comandante-chefe das SA, Ernst Röhm: o Frontbann8 , que era constituído por cerca de 30.000 homens. Tendo o Frontbann sido reabsorvido pelas SA na sequência da revogação da proibição destas após o falhanço da tentativa de Putsch nazi de 9 de novembro de 1923 e da condenação e prisão de Adolf Hitler e de outros líderes nazis, Bruno Langbehn não transitou de imediato para as SA, mas deixou-se enfeitiçar pelo carisma de Hitler, que acabara de derrotar a sua oposição interna no Partido liderada por Gregor Strasser. No fundo, seguindo as palavras de Martin Davidson, o que começara por ser um anseio político amorfo de Bruno Langbehn, transformara-se no

1- Que deveu o seu nome ao nome da cidade onde foi aprovada, em 1919, a nova Constituição (Weimarer Verfassung), que vigorou até 1949 (ainda que tendoa sido suspensa durante o regime nazi), sendo então substituída pela Lei Fundamental de Bona (Bonner Grundgesetz), que ainda vigora na atualidade. 2- Grupos paramilitares constituídos por veteranos inconformados com o regresso à vida civil e chefiados por oficiais que, tendo alcançado postos elevados na hierarquia militar, desejavam continuar a exercer esses postos, ainda que de modo não oficial, e onde se incluíam alguns futuros altos dignitários do regime nazi e líderes militares do período do III Reich. 3- Deutschnationale Volkspartei (DNVP). 4- A Liga Spartakus (Spartakusbund em alemão) foi criada na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial (designando-se inicialmente "Grupo Internacional"), sendo liderada por Rosa Luxemburg, Karl Liebknecht, Clara Zetkin, Franz Mehring, etc. (embora com predominância dos dois primeiros) e constituindo a oposição à esquerda no interior do SPD (Sozialdemokratische Partei Deutschlands), o Partido Social-Democrata. Durante a Grande Guerra, a Liga organizou greves e manifestações contra o militarismo alemão e disseminou propaganda revolucionária (fazendo circular panfletos ilegais), ocorrendo confrontos violentos com as forças da ordem. A partir de 1917, a Liga associa-se ao USPD (Unabhängige Sozialdemokratische Partei Deutschlands), o Partido Social-Democrata Independente, que era formado por antigos deputados do SPD que haviam sido expulsos do SPD na sequência de, sob a liderança de Hugo Haase, se terem manifestado contra a guerra em pleno Parlamento (Reichstag). Contudo, tendo-se constituído como uma organização partidária independente e com programa político próprio, a Liga rompe com o USPD e adere à Internacional Comunista (Komintern) em dezembro de 1918, participando no congresso em que foi criado o KPD (Kommunistische Partei Deutschlands), o Partido Comunista Alemão, entre 30/12/1918 e 01/01/1919. Em janeiro de 1919, a Liga, o KPD e o USPD tomam parte em grandes manifestações de rua contra o governo de Weimar (liderado por Friedrich Ebert, o líder do SPD), que, auxiliado pelos Freikorps (que combatem juntamente com as forças governamentais), põe fim a uma tentativa de greve geral e de instauração de uma revolta comunista em Berlim para derrubar o regime. E Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht são assassinados por membros de um Freikorps. 17

Bruno Langbehn, O Perfeito Nazi

Duarte Rodrigues Nunes

embrião de um culto da liderança, primeiro adulador e posteriormente obsessivo por força do seu entusiasmo pelas dimensões das ambições nazis e das promessas de Hitler.

Com a estabilização do regime de Weimar com o fim da hiperinflação e o decurso dos anos (que ia apagando progressivamente as lembranças da Grande Guerra) e com a recuperação da respeitabilidade das Alemanha por via dos acordos de Locarno e da adesão/aceitação da Alemanha como membro da Sociedade das Nações (SDN), muitos alemães começaram a pôr de lado o seu radicalismo (de extrema-esquerda ou de extrema-direita) e a sua visão antirregime de Weimar e adaptaram-se ao regime instituído, usufruindo das sensíveis melhorias daa condições de vida sob a égide do regime democrático após a contenção da inflação galopante que atingiu o país até 1924. Todavia, ao contrário dessas pessoas (muitas delas da sua geração), Bruno Langbehn, que apesar da sua pertença ao Frontbann, não era ainda um membro efetivo do Partido Nazi nem das SA, em 17 de maio de 1926 (quando contava apenas 19 anos), atraído pela amálgama de ideologia, violência e antissemitismo que caraterizava os nazis, aderiu ao Partido Nazi e às SA, fazendo questão de envergar o uniforme castanho das SA. Desconhecem-se pormenores acerca da participação de Bruno Langbehn nos frequentes confrontos de extrema violência que, naquele tempo, opunham membros das SA e membros de milícias de partidos rivais (maxime do Partido Comunista), mas sabe-se que, juntamente com outros antigos membros do Frontbann, integrou o Sturm 33 e, mais tarde, o Sturm 31 (criado em virtude do grande aumento de efetivos do Sturm 33, que, em 1930/31, teve de criar uma unidade “subsidiária” para absorver os “excedentes” ), ambos sedeados no bairro de Charlottemburg, onde Bruno residia. O Sturm 33, comandado pelo Standartenführer Friedrich (Fritz) Hahn , foi um dos grupos mais violentos das SA. De todo o modo, tudo indicia que, como membro do ultraviolento Sturm 33 e, mais tarde, do Sturm 31 (cujas façanhas não terão atingido a gravidade das do Sturm 33, embora também tendo perpetrado atos de extrema violência), comandado pelo Sturmführer Heinrich Kuhr, Bruno Langbehn tenha tomado parte em atos de violência extrema contra comunistas (sobretudo nas “expedições punitivas” a bairros operários, como Neukölln e bairros operários da zona de Charlottemburg, ou em comícios organizados pelo Gauleiter do Partido em Berlim, Josef Goebbels, que terminavam frequentemente em rixas com comunistas que invadiam os comícios). Ao mesmo tempo que participava nas arruaças e nos atos de violência em que intervinham as SA, Bruno Langbehn terminou a sua formação como Dentist (odontologista), o que lhe permitiu ascender a uma elite minoritária da sua unidade das SA, cujos membros eram, essencialmente, operários e desempregados. Bruno Langbehn viu-se envolvido numa luta de poder entre alguns líderes das SA (Walther Stennes e Franz Pfeffer von Salomon) e Adolf Hitler, pugnando aqueles pela tomada do poder pela força (e não através de eleições, como pretendia a liderança do partido) e a subordinação do Partido Nazi às SA (que seriam um novo modelo de exército, que deveria tomar o poder pela força) em lugar daquilo que sucedia (i. e. a subordinação das SA ao partido), pois uma das unidades que apoiavam a revolta desencadeada por Stennes (na sequência da demissão de Pfeffer por Hitler) era o Sturm 31 (que chegou a ocupar a redação de um dos jornais nazis, Der Angriff, em Berlim). Como se manteve fiel à liderança de Adolf Hitler, Bruno Langbehn, foi alvo de tentativas de expulsão por parte de Heinrich Kuhr. Todavia, tendo-se queixado perante

6- Nos anos finais da República de Weimar, ainda que tendo desparecido os Spartakistas, grupos armados comunistas lutavam frequentemente com grupos armados das SA. 7- Correspondente à nossa Câmara Municipal 8- Não existe uma tradução específica da palavra para o português. Apesar de, em termos literais, possa ser traduzida como “popular” ou mesmo “populista”, o sentido com que é utilizada em alemão refere-se à pertença ao povo (Volk), mas num sentido nacionalista e racista, considerando que os judeus não fazem parte da comunidade popular nacional alemã (Volksgemeinschaft). 9- O Frontbann, organização nazi de que pouco se fala surgiu com a finalidade de contornar a proibição do Partido Nazi e das suas organizações (mais concretamente as SA). Com efeito, na sequência do Putsch (golpe de Estado) falhado de 9 de novembro de 1923 (conhecido por “Putsch da Cervejaria”, por ter tido início na Bürgerbraukeller, uma cervejaria de Munique frequentada pelos líderes nazis), que visava derrubar o Governo do Estado da Baviera e que valeu a morte a 16 nazis (abatidos pela polícia na sequência de um tiroteio entre a polícia e os revolucionários nazis) e a prisão de vários líderes do Partido, incluindo Adolf Hitler, o Partido Nazi e as SA foram ilegalizados pelo Governo. Para contornar a proibição, o Partido Nazi (NSDAP: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) foi substituído pelo Partido Nacional-Socialista da Liberdade (Nationalsozialistische Freiheitspartei) e as SA, lideradas por Ernst Röhm, foram substituídas pelo Frontbann. O Frontbann existiu entre abril de 1924 e fevereiro de 1925, sendo incorporado de novo nas SA, cuja ilegalização havia sido revogada. O mesmo sucedeu com o Partido Nacional-Socialista da Liberdade, que existiu igualmente entre abril de 1924 e fevereiro de 1925, sendo reabsorvido pelo Partido Nazi, cuja proibição também havia sido revogada, por se entender que Adolf Hitler, que fora condenado a uma pena extremamente exígua e que havia sido libertado da prisão em dezembro de 1924, aprendera a lição e não voltaria a atentar contra a República de Weimar. Pura ilusão. . 18

a USchlA , as tentativas de Kuhr fracassaram e Bruno manteve-se nas SA. Com a nomeação de Adolf Hitler como chanceler do Reich em 30 de janeiro de 1933, iniciou-se uma nova etapa na vida de Bruno Langbehn, transformando-o, aos 26 anos, num membro da nova raça de iniciados do regime nazi, acabando por usufruir da fidelidade demonstrada desde os tempos do Frontbann. Após o incêndio do Reichstag, em 26 de fevereiro de 1933, o Sturm de Bruno transformou o bairro de Charlottemburg no seu feudo, dirigindo-se os seus membros sempre que queriam e para onde queriam, embora, não já numa longa sucessão de rixas com comunistas, mas numa campanha organizada e metódica, executando planos previamente definidos nos bairros comunistas de Berlim e detendo um grande número de opositores do regime hitleriano, que eram presos e sujeitos a tortura (e mesmo mutilados e assassinados) nos bares, apartamentos e escritórios que serviam como posto de comando das unidades das SA (que, só em Berlim, totalizavam cerca de 200), antes de serem enviados para outros centros de detenção maiores e, com a criação do campo de concentração de Dachau em 1934, para os campos de concentração. Tal barbárie, em vez de ser objeto de severas punições, era elogiada pela liderança nazi, sendo prestadas homenagens e atribuídas condecorações a muitos dos perpetradores. Embora a maioria dos líderes e inúmeros outros membros das SA tivessem sido assassinados na Noite das Facas Longas (Nacht der langen Messer) de 30 de junho de 1934 para 1 de julho de 1934 e, nos tempos que se seguiram, o número de membros das SA tivesse diminuído abruptamente (de quase 4.000.000 para pouco mais de 2.500.000 em setembro de 1934), Bruno Langbehn, que não fora minimamente molestado pela repressão exercida sobre as SA, manteve-se nas fileiras das SA. E, mais do que isso, foi agraciado com a medalha de Honra de Ouro (que requeria uma filiação longa e ininterrupta no Partido e um número de militante inferior a 100.000, conferindo um estatuto de elite dentro do Partido) e nomeado para o Tribunal de Honra das SA (Ehrengericht), que se destinava a punir e expulsar os elementos “indesejáveis” das SA, designadamente os que tivessem alguma relação com o (pseudo)Putsch de Ernst Röhm ou que levassem uma vida inadequada em termos de imoralidade, carreirismo, materialismo, fraudes, furtos, excesso de bebida, gabarolice e dissipação de bens (mas não torturas, detenções arbitrárias intimidações ou homicídios). Todavia, o grande objetivo do Ehrengericht era justificar os homicídios da Noite das Facas Longas e garantir a credibilidade da versão (inventada) dos factos veiculada por Hitler junto do povo alemão. Desta forma, Bruno Langbehn transformou-se num verdadeiro Apparatchik do regime nazi, tirando claros benefícios pessoais dessa condição. Contudo, as SA já não mereciam a confiança da liderança do Partido e, em particular de Hitler, tendo perdido, de forma irrecuperável (a favor das SS) o prestígio e a influência que haviam tido no passado e, por isso, já não podiam proporcionar a Bruno Langbehn a “realização política” que ele tanto prezava. Por isso, Bruno Langbehn, que chegara a Sturmführer das SA, decidiu, no final de 1936, abandonar as SA e ingressar nas SS, que haviam sido as grandes vencedoras da Noite das Facas Longas e gozavam de um grande prestígio junto de Hitler.

Continua...

10- Os Stürme das SA eram constituídos, em regra, por cerca de 60 membros, sendo que, com o rápido aumento das adesões às SA na sequência da Crise de Wall Street de 1929 e do desemprego que gerou na Alemanha, o número de efetivos duplicou e, nalguns casos, triplicou, obrigando a uma reorganização das SA, quer criando novas unidades quer dividindo as já existentes em subunidades. 11- Patente que, nas SA e nas SS, equivalia à de coronel (Oberst) ou de capitão-de-mar-e-guerra (Kapitän zur See) nas forças armadas. 12- Fritz Hahn, um indivíduo extremamente violento, teve de fugir da Alemanha em 1931 para escapar à punição, em virtude de ter morto um comunista (fugiu para a Holanda, apenas regressando após os nazis terem tomado o poder). Foi substituído por outro indivíduo, também ele extremamente violento, Hans Maikowski, morto em 31 de janeiro de 1933 numa rixa entre membros das SA e comunistas durante as comemorações da nomeação de Hitler como chanceler. 13- Patente que, nas SA e nas SS, equivalia à de 1.º tenente (Oberleutnant) nas forças armadas. Mais tarde, esta patente foi substituída pela de Obersturmführer.

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