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Cantinho do João João Correia

Foto João Correia

As ilhas

Não são propriamente ilhas oceânicas, mas, contudo, não deixam quem por lá passa indiferente.

Podia passar horas a falar de Olhão, mas resumo-me a duas histórias verídicas:

Existe uma pequena ilha barreira de seu nome Culatra a qual, na realidade, pertence ao concelho de Faro. A mesma está, numa perspectiva geográfica, mais próxima de Olhão do que de Faro e tem uma população residente desde o século XIX, com uma pequena capela e uma escola primária. Conhecida pelos seus boicotes eleitorais e por questão relacionados com a falta de água potável.

Existia também uma professora primária que

estava colocada em Trás-os-Montes e que, farta do frio, achou que era uma boa ideia concorrer para uma escola no Algarve desconhecendo as condições agrestes da ilha barreira em questão (salvo para quem se desloca à mesma para usufruir da sua belíssima praia).

Assim, a professora foi colocada na escola primária da ilha da Culatra, rodeada de areia e mar, com pouca ou nenhuma vegetação rasteira e com uma população composta por pescadores e mariscadores (segundo algumas teses, piratas também).

A senhora não desmoralizou e agendou uma

reunião de pais à qual ninguém compareceu, pois, a mesma coincidiu com o período da maré baixa e durante a maré baixa as mulheres estavam ocupadas na apanha da amêijoa (escusado será dizer que os homens não consideravam a reunião na escola dos seus filhos incumbência sua).

A senhora não desmoralizou e arranjou um mapa das marés, reagendando a reunião de pais (ou

CANTINHO DO JOÃO

João Correia

“Em suma, seja numa ilha ou algures num centro urbano onde nem tudo se resolve com um mapa das marés não há que desmoralizar(...)”

melhor, de mães) para uma hora que coincidisse com a maré alta. Pelo que sei, o insucesso escolar continuou a ser a regra, porém, a boa relação da professora com os seus alunos também.

De resto, há ainda uma outra história verídica na qual um rapaz residente numa destas ilhas barreira (francamente não me recordo se vivia na Armona ou Culatra) envolveu-se em tempos idos com a filha de alguém de boas famílias o qual não gostou da brincadeira, sobretudo quando soube que a rapariga estava grávida.

Por outro lado, o rapaz não perdeu tempo e, juntamente com a rapariga grávida embarcou num saveiro mínimo e insignificante rumando para o meio do oceano com intenções de chegar ao Brasil.

Pelo que sei, foram resgatados por um navio mercante que os transportou até Cabo Verde e, muito mais tarde, após largos anos, foram condecorados por um nosso Presidentes da República, o qual reconheceu a audácia e coragem dos (então) miúdos.

Em suma, seja numa ilha ou algures num centro urbano onde nem tudo se resolve com um mapa das marés não há que desmoralizar pois, basta esperar

pela maré alta para que tudo faça mais sentido.

É só esperar.

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