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Ré em causa Própria Adelina Barradas de Oliveira

A guerra nunca partiu filho. As guerras são como as estações do ano: ficam suspensas, a amadurecer no ódio da gente miúda. Mia Couto “ O Último Voo do Flamingo”

Amaior potência mundial, um exército de ciber soldados, o maior arsenal nuclear do Mundo... estou aqui a pensar que a Rússia tem, certamente, alguma tática de sobrevivência ao tal arsenal nuclear. Assim como uma espécie de veneno e antídoto.

Há dois dias achávamos que haveria o perigo de um acordo entre a China e a Rússia, vimos, depois, em Bruxelas, que a China não tomou posição, fez um discurso morno e que, quando chegou a hora de votar, absteve-se.

Todos nos lembramos das demonstrações do poderio bélico de ambas as potências em festivais de exercícios militares como em Vostok em 2018, que decorreu na Sibéria Oriental e no Extremo Oriente russo com a participação como convidada, da China... São jogos de Guerra....

Mas agora, os jogos de guerra estão já no nível de ameaça nuclear e Putin parece estar sozinho, mas pouco preocupado com isso.

Que pretende Putin? Defender as suas fronteiras ou recriar o seu Império? Ou tornar a Ucrânia num Estado falido para poder avançar? A independência das duas regiões que a Rússia reconheceu não fragilizam a Ucrânia? Provavelmente acabará por fazer com que a Ucrânia deixe de ter interesse estratégico, no seu ponto de vista, para a NATO porque, para si, é indiscutível que é importante.

Chegar a Odessa e fechar a Ucrânia ao mar, fragilizando-a economicamente, ....já está. O que Putin pretende mesmo é mostrar poder recuperar tudo aquilo que provocou o desmantelamento da União Soviética e para ele foi o maior desastre geopolítico do século XX.

Mas então porquê esta passagem súbita em 3 dias para a prontidão do armamento nuclear?

Putin não achou piada às sanções que lhe estão a ser aplicadas mas, será que o Homem que tem a quarta maior reserva financeira do mundo, está preocupado com estas sanções?

Será por causa disso a prontidão da reserva nuclear?

Tudo isto é violento para a Ucrânia, péssimo em termos futuros para o Ocidente! A Europa está desnorteada. A França tem eleições na Primavera, não vai arriscar. A Alemanha está a resolver a questão do gás com a Rússia sob o mar báltico .... E não é só a Polónia que se sente ameaçada com a possível invasão e desestruturação da Ucrânia.

Putin “desatou a avançar”, anexando e repondo o seu império, ou será que quer expandir-se ainda mais?

E volto a pergunta: Porquê a prontidão da reserva nuclear? Em 3 dias ele desenvolveu uma Guerra preparada há anos. Não tenhamos ilusões, este conflito tem vindo a ser preparado com a frieza e a estratégia que só um Chefe de Estado com as características de Putin tem.

Esta imagem triste de conquistar povos e território devia pertencer ao Império romano ... e esse já caiu há séculos.

RÉ EM CAUSA PRÓPRIA

A AMEAÇA NUCLEAR QUE VEIO DO FRIO

A Rússia sabe que é um País Gigantesco...tem armamento nuclear e já o publicitou, tem uma lógica completamente diferente da lógica do Ocidente. Kiev foi alvo de avanços Russos ainda esta semana que passou: Se Putin nada quer a não ser afastar uma possível “estadia” das forças da Nato nas suas fronteiras, ... porque entra pela Ucrânia em tantas frentes e fala de prontidão do arsenal nuclear?

Nós não somos Russos dizem os Ucranianos. Nós falamos a mesma língua, nós temos as mesmas origens... mas não somos russos. Não queremos ser Russos.

Mas passando os olhos pela história deparamonos com laços Históricos e Culturais entre a Ucrânia e a Rússia que nos mostram um leste europeu de bárbaros, de origem iraniana, e lendárias amazonas no leste do mar negro, na Ucrânia, e em Kiev povos como os Rus que se misturam com os Eslavos.

Kiev (quase na posse da Rússia hoje), tornou-se assim, naquela altura, o primeiro Estado russo unificado onde nasceu a identidade Russa.

A União do primeiro grande principado de Kiev surge no séc. IX e decorre até o século XIII com os vikings vindos do Norte, do cristianismo chegado de Bizâncio, a sul, e do Leste através dos tártaros mongóis, pelos quais foi derrotada. E sob o domínio dos mongóis o Principado muda para Moscovo.

Mas não vou continuar a desenrolar história por aqui, quem o entender que a leia. O que me preocupa são os alertas vermelhos do lado da Rússia.

Não sei o que nos trará março, a primavera e a mudança da hora lá para o final do mês quando a primavera chegar... Não sei se destas mudanças que se avizinham com o gás a ser cortado à Europa, faremos negócios com a Argélia ou criaremos a hipótese de Espanha , Portugal e França terem o seu próprio negócio de gás. Sinceramente acho que Sines continuará à espera que reparem na região.

Os Portugueses que já correram muito mundo, colaboraram no tratado de Nerchinsk (tratado de paz celebrado entre Pequim e a Rússia Czarista e que durante 171 anos delimitou a fronteira entre os dois Estados), assinado a 27 de Agosto de 1689, com tradução de um português -Tomás Pereira, jesuíta do Norte de Portugal , um dos dois jesuítas que integraram a delegação chinesa que o negociou, estarão atentos ao que a história lhes poderá trazer na Europa depois desta viragem que se avizinha?

Talvez Portugal volte a ficar na História como importante em resoluções internacionais, quem sabe, seria pedir muito, num novo acordo de paz.

Mas a única coisa que tenho certa e em nada resolve o que se está a passar, é que a 24 de Fevereiro de um ano que parecia querer darnos Paz, do lado Bielo russo da fronteira, perto de Kiev, a nordeste da Ucrânia ( com as bases militares ucranianas como pontos estratégicos,) acordou-se pelas 5h00 da manhã, não para apanhar um avião para uma qualquer viagem mas, para partir, ao que parece, para mais uma guerra

E continuo como sempre, a não entender esta divisão de território no sentido de deter, possuir, dominar. Habitamos todos o mesmo espaço no Universo Mas foi assim sempre pela história fora, numa repetição circular de cegueira, de ditadores que se apelidam de líderes, de viragens exacerbadas que não passam de impulsos cegos.... Os Egos são nós cegos.........

E morre-se... porque, de um momento para o outro alguém decide que não importa como, nem porquê, nem quem vai morrer como um dano colateral inevitável, necessário, ...sem importância

A guerra é sempre uma reação irracional, um impulso de vingança, teimosia, falta de razão, plena de razões,

Mas, independentemente das razões, Guerra, NUNCA!

Eu percebo tudo, o alargamento da NATO e a falta de senso na extensão até ao Leste depois do fim do pacto de Varsóvia... Eu percebo os jogos e os interesses económicos, percebo a Soberania dos Estados que querem escolher por razões de conveniência quase sempre política, quase sempre económica... Percebo que na altura a Rússia foi humilhada, que se ajustou à criação de Estados independentes apesar das convulsões que vieram a ser resolvidas com diplomacia...

A NATO nunca disse que aceitava a Ucrânia e, o facto de esta querer entrar na Aliança Atlântica, não implica a sua entrada... Ninguém foi claro...? Talvez não... Foi a Ucrânia que esticou a corda... pode ter sido...

Mas Guerra, Não.

A única coisa que queremos é viver Todos, por esse Mundo fora... só queremos viver e em Paz. Até os Ucranianos que há muitos anos procuram fora da sua Pátria uma vida melhor. Será que alguns egos não têm mais nada para fazer?!

Cheguem-se à frente e avancem na primeira linha... Serve para ambos os lados...

E os outros deixem-se de discursos, inflamados e voluntariosos, de gabinetes microfones e gravatas. Somos todos tão pequeninos e quanto mais agressivos, mais pequenos.

Às vezes compreendo porque é que alguns vão ao confronto por vontade própria, é que é tudo tão ditatorial que até a alma se revolta.

Ganhámos o Direito à Paz. Não abdicamos dele.

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