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a flor de hiroshima

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ainda no éden

ainda no éden

Seus olhos são expressivos e delineados. A boca, pintada de vermelho, contrasta com a pele clara e os cabelos negros. Margarida é delicada, como a Branca de Neve tatuada em seu braço direito. Os desenhos marcados em sua pele, aliás, são uma das coisas favoritas da moça, que atua para alguns amigos como modelo de tatuagens. Dentre as figuras espalhadas pelo corpo, a menina abraçada a um cacto é a que carrega mais significado para ela, isso porque o desenho representa a si mesma perante o seu atual relacionamento com S.

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Ela explica, com a feição triste, que sempre foi muito paciente com o seu parceiro. Ele, por outro lado, “sempre foi uma pessoa muito difícil de lidar”. Margarida conta que apesar dessa tatuagem representar resistência, o desenho já a abalou muito no passado, sendo um dos principais motivos de suas crises de choro. “Apesar de tudo, eu gosto muito dela, porque quando eu a olho, eu vejo que a menina está dentro do vaso, então ela criou raízes, significa que eu sou muito forte, apesar de estar segurando um cacto, a pessoa mais forte não é o cacto, sou eu”, explica.

Sob uma luz fraca em um café movimentado no centro de São Paulo, a mulher de 29 anos esclarece que apesar de S. ser o seu caso mais recente de abuso, não é o primeiro e que tudo começou com o abandono de seu pai. “A minha relação com o meu pai sempre foi muito difícil, eu sempre fui muito apegada a ele desde criança, mas isso é o que a minha mãe diz, porque eu não lembro muito. A relação deles sempre foi muito conturbada. Ele trancava a gente em casa, porque a achava muito bonita. Eu tinha uns quatro ou cinco anos quando minha mãe tentou fugir e, depois disso, ele resolveu abandonar a gente. Meu pai foi a primeira pessoa que me abandonou e nunca voltou atrás, nunca foi me visitar nem nada”, conta, com a voz trêmula.

Depois desse dia, ela passou a se perguntar se o motivo do abandono era ela. “Eu cresci com essa falta e ele teve outra família, outra filha e dessa filha ele cuidou, de mim não”, relembra, angustiada. Ela afirma que na época, chegou a quebrar a porta de vidro de sua

casa, ao bater nela com força, desejando a volta do pai. “É a única lembrança que eu tenho, porque eu queria tanto que ele voltasse que eu bati e bati até quebrá-la”. Margarida salienta que sofre com essa ausência até hoje, “eu nunca admiti para todo mundo que eu tinha problema com isso, mas para mim, o problema estava lá. Eu me sentia culpada por ele ter me deixado”.

Nos tempos de escola, a mulher comenta nunca ter tido nenhum namorado porque segundo os padrões, não era bonita o bastante. Ela se lembra, no entanto, de sentir um enorme desejo de suprir a falta deixada pelo pai, “eu vivia com esse negócio de que eu precisava ser aceita por homem”. Logo após finalizar seus estudos, “finalmente” conseguiu o seu primeiro namorado e, por ser o seu primeiro relacionamento sério, ficou maravilhada com a forma superprotetora que M. a tratava. “Ele era muito protetor e eu achava isso muito bonito. Quando a gente não tem a presença de um pai, a gente leva isso para a vida inteira e acha que precisa ser protegida. Mas a proteção que o M. tinha comigo na verdade, era doentia”, desabafa.

Assim que o casal completou dois meses de namoro, M. deu a Margarida uma aliança de noivado, “eu aceitei”, confessa, enquanto ri. A moça alega que, a partir desse ponto da relação, os abusos ficaram mais nítidos para ela. “Na época eu era virgem e na minha cabeça, eu queria casar assim, então eu não dava nenhum tipo de liberdade para ele. Porém, ele forçava muito e me chantageava com: ‘ah, eu te dei uma blusa e agora você não vai fazer isso por mim?’”. Ela afirma que, apesar das chantagens, nunca permitiu que ele consumasse a relação, mas diz que sempre foi muito ingênua durante o tempo em que ficaram juntos. “Eu nunca tinha ido ao cinema, ele me levou pela primeira vez e desde então eu achava que estava em dívida com ele e que se eu não fizesse o que ele queria, ele iria embora também”.

A gota d’água para Margarida foi no velório de seu primo, com quem era muito apegada. “A gente foi para o velório e eu beijei o meu primo morto e daí o M. começou a fazer um escândalo, dizendo que não beijaria alguém que tinha beijado um morto, isso na frente da minha família. Ele saiu correndo, fazendo um barraco e eu tive

que ir atrás dele. Eu não sei explicar, mas foi o pior dia da minha vida, porque eu tive que me desculpar por um erro dele”, relembra, inquieta. A moça ainda conta que enfrentou uma de suas piores crises de depressão nesse período, chegando a ficar com falhas em seu cabelo, devido a doença.

Em consequência do ciúme excessivo do rapaz, Margarida foi manipulada a se afastar de sua família e também do emprego que tinha na época.“Ele começou a me cercar, a colocar coisas na minha cabeça, a falar que a minha família não era boa para mim e que a minha patroa não queria o meu bem”, relata.

Suspirando, ela confessa que não sabia o que era um relacionamento abusivo, mas sentia que “tinha alguma coisa errada”, principalmente porque os seus colegas de trabalho a alertavam sobre isso. Mas, após uma série de acontecimentos traumáticos, a moça diz que finalmente conseguiu dar um fim a relação. Ele, no entanto, não soube lidar com a decisão da moça, chegando a ameaçá-la de morte com uma arma de fogo, em sua casa. “Ele foi com uma arma na porta da minha casa dizendo: ‘se você não ficar comigo, eu vou te matar’, então eu disse: ‘eu não vou voltar com você’ e ele retrucou: ‘então eu vou me matar na sua frente’. Eu comecei a gritar, meu padrasto apareceu e a gente foi para a delegacia, eu tive medida protetiva, mas ele me persegue até hoje”, desabafa.

Visivelmente tensa, Margarida conta que o rapaz não foi preso pois segundo a delegacia “se não tem flagrante, não pode prender”, porém M. continuou a persegui-la. “No início, quando eu comecei a trabalhar novamente, ele ficava do outro lado da rua me olhando e a delegacia era na mesma rua, então eu ia lá, denunciava, mas a polícia parecia não ligar”. Depois de conseguir a medida protetiva ela ressalta que voltou para a delegacia mais quatro vezes. “Era sempre a mesma coisa: ‘mas ele te ameaçou?’, ‘te apontou uma arma?’, ‘alguém viu?’, fora que você fica quatro horas esperando só para responder perguntas rasas e então você diz não para todas e eles dizem: ‘então não tem o que fazer’”.

Dez anos se passaram desde o término do namoro e Margarida ainda recebe mensagens dele, “ele nunca desistiu e já tentou todo tipo de aproximação, ele é a pessoa que eu mais tenho medo na vida.”

Depois do término com M., ela conta que sentiu muita dificuldade em conseguir engatar um novo relacionamento, “passei muito tempo sozinha porque eu fiquei com trauma, não tem como não ficar”, foi somente aos vinte e dois anos que se sentiu pronta. Ela iniciou um relacionamento com K., que nas palavras de Margarida, chegou a ser tão tóxico quanto o anterior. “Começou com uma amizade e a gente nunca pensou em namorar nem nada, só que essa amizade foi crescendo e crescendo, então a gente começou a namorar”, declara, lembrando-se de que o primeiro ano do relacionamento foi um dos melhores anos de sua vida amorosa. “Tudo o que eu queria ele me dava, não material, mas sim carinho e atenção”, ela conta que a princípio ambos eram um casal digno de causar inveja, “mas aos poucos eu comecei a sentir o peso”, declara.

Os abusos de K. se manifestaram logo após Margarida afirmar que não se sentia à vontade para ter relações sexuais, “eu era virgem e não conseguia de jeito nenhum, até que um dia eu consegui, só que não foi bom, nunca foi bom e então eu comecei a criar um bloqueio nisso e passei a fazer por obrigação, sempre doía muito”.

Em decorrência disso, Margarida acabou ficando muito doente, uma vez que K. havia machucado o seu útero. Devido a isso, a moça afirma que precisou realizar uma cauterização para tratar os machucados internos. “Como eu posso dizer, eu era abusada, mas eu consentia, porque eu não queria perder o meu namorado, então eu deixava, só que isso me causou doenças gravíssimas, chegou um momento que eu nem conseguia urinar”.

Durante um ano e meio Margarida não podia ter relações sexuais devido aos ferimentos, mas de acordo com ela “ele ainda forçava a barra várias vezes e quando eu dizia não, ele me trancava no banheiro. Eu já fiquei um dia inteiro trancada, não só uma vez, nem duas, mas várias”. Nessas situações, ele retirava o celular dela, alegando que o objeto era um presente dele e que, enquanto estivesse trancada, não deveria conversar com ninguém, “eu tinha várias crises e ele não me tirava de lá, ele só me tirava quando queria, e dizia: ‘Ah, tá mais calma agora? então pode sair’, por incrível que pareça, eu não fazia nada, absolutamente nada”. Esses abusos se tornaram cada vez mais recorrentes na vida da mu-

lher, caso ela negasse ter relações sexuais com K., terminava o dia presa no banheiro por tempo indeterminado. Se “aceitasse”, era machucada pelo companheiro.

No terceiro e último ano de relacionamento, K. pediu Margarida em casamento, “eu carentíssima, aceitei. Pensei que casando ele fosse melhorar”. Tempo depois do pedido, ela relembra de uma das noites mais humilhantes de sua vida - que aconteceu durante uma viagem em família para a cidade de Guararema - São Paulo. Margarida resolveu passar o final de semana no sítio de sua tia, acompanhada dela, de suas primas, amigos dos parentes e seu noivo.

Chegando ao destino, a tia de Margarida pediu aos jovens que se comportassem. K., porém, pareceu não entender bem o recado, “ele levou cigarro e narguilé, começou a beber e fumar muito”, lembra. Nervosa, a moça declara que pediu a ele que parasse e K. concordou em se comportar, mas não por muito tempo. “Eu estava sentada na rede com as minhas primas e ele começou a falar que tinha me traido, muito alto, para todo mundo escutar. Eu fiquei com vergonha e disse: ‘não faz isso’, ele gritava: ‘Eu transei com a fulana, você conhece fulana?’ falou com a minha prima: ‘Então, transei com ela’. Eu fiquei chocada, porque eu não sabia”.

A moça afirma que desconfiava de uma possível traição, mas nunca pode comprovar, já que K. a proibia de usar redes sociais e aplicativos de bate-papo.

Depois dos xingamentos, Margarida conta que chamou K. em um canto afastado dos demais para pedir que ele que parasse de insultá-la, pois a situação era muito vergonhosa. Ela segue dizendo que todos na chácara se sentiram desconfortáveis e logo concordaram em ir dormir. K. concordou e assim, foram para os seus quartos. No meio da noite Margarida resolveu sair para tomar um ar em cima de um barranco que dava vista para um lago. “Eu estava olhando e pensando, de repente ele chegou em mim e disse: ‘Você quer me dar sermão, mas você é a maior vagabunda’. Sabe quando você só fica perplexa?”

Em seguida, K. segurou Margarida pelo pescoço e a jogou com força sobre uma mesa de bilhar próxima a eles e em seguida, a desferiu uma sequência de socos no rosto, “eu não gritei porque fiquei

com vergonha, tinha muita gente que eu não conhecia direito para pedir ajuda, então ele começou a me bater e apertar o meu pescoço. Ele me levou para a beira do barranco e falou: ‘Eu vou te jogar daqui porque você é uma vagabunda, você não presta’. Então a minha prima apareceu e ele soltou o meu pescoço”, relembra.

Quando sua prima a questionou sobre o que estava acontecendo, Margarida, com o rosto avermelhado, respondeu que estava tudo bem. “É uma situação que você não pode falar, me dizem: ‘Ah, você deveria ter falado’ mas você não consegue dizer nada, eu só fiquei repetindo: ‘Está tudo bem, a gente só estava conversando’, só que ninguém acreditou naquilo e quando eu entrei, comecei a chorar e a minha prima falou: ‘Ele bateu em você, não é? Porque todo mundo escutou’, e eu confirmei, então ela me chamou para dormir com ela”. Mesmo assim, K. invadiu o quarto chamando por ela, alegando que deveria dormir com ele, por ser “sua mulher”.

Margarida relata que seus familiares o trancaram para fora, para que ele deixasse de causar transtorno. “Ele começou a bater nas portas, empurrou a minha prima que estava grávida e disse que ia embora” Em seguida, ele pediu o celular e a aliança de volta para Margarida, mas a moça se recusou a entregar o aparelho. K. tentou agredi-la novamente, mas foi impedido pela tia da moça que havia despertado em meio a confusão, a tia então pediu para que ele fosse embora do local.

No dia seguinte, o pai de K. apareceu na chácara para conversar com Margarida, “o pai dele era policial e foi até lá falar que K. só estava bêbado, que não era pra eu denunciar. Ele conversou comigo por horas e por fim, eu falei que não iria fazer nada. E ficou por isso mesmo”.

Com vergonha de tudo que aconteceu, a moça decidiu dar um fim a relação, mesmo com K. insistindo para reatar com ela. “Eu não cedi porque nessa mesma época, conheci o S., meu atual namorado, então eu só falei que não iria mais sair com ele. K. me pediu perdão e depois disso nunca mais me procurou, só que ele conta para as pessoas que eu nunca apanhei, que isso era invenção da minha cabeça e que eu inventei toda a história. Para piorar tudo, as minhas primas

que me viram toda machucada, hoje acreditam nele”, desabafa.

Quando questionada sobre como se sentiu após o término, ela reflete “eu acho que se ele não tivesse me batido eu teria me casado com ele, apesar de todos os abusos”, conta. Para Margarida, a falta de informações sobre o que é um relacionamento abusivo a fez crer que tudo estava normal. “Precisou ele me agredir pra eu perceber que, se eu casasse com ele, ele iria surtar e me matar”, conclui.

De volta ao presente, Margarida se emociona e após soltar um longo suspiro, conta que a sua relação com S., é de longe a que mais a feriu psicologicamente. “Eu consigo falar para vocês detalhes de como eu apanhei, mas eu não consigo contar detalhes da minha relação com o S., tem muita coisa que eu não consigo contar, porque não sai, eu acho que foi a relação que mais doeu porque ele foi quem eu mais amei”, desabafa.

Ela conta que o conheceu pouco tempo depois de terminar com K.“Eu nunca vou esquecer, ele me mandou um e-mail no dia 17 de setembro”, na mensagem ele pedia o número de telefone da moça em meio a elogios sobre a sua beleza. Ela lembra que se sentiu muito lisonjeada, “eu acabei passando meu número e a gente começou a conversar todos os dias”.

Porém, os pequenos problemas não demoraram a surgir, “começamos a sair todo o final de semana, mas não namorávamos, ele não queria o rótulo de namorados porque ele ficava com outras pessoas também, mas eu achava que não”, explica.

Margarida reforça que durante seis meses, ele sempre a incentivou a fazer coisas que os seus ex-namorados não permitiam que ela fizesse, “ele me incentivava a ser livre, a fazer coisas sozinha, me incentivou a entrar na faculdade e nossa, para mim ele era um príncipe. ‘Como assim ele não quer me prender, como assim ele quer que eu seja livre e independente?’ Eu pensava: ‘Esse é o homem certo para mim’”, relembra.

Depois de alguns meses juntos, ele comentou que faria um intercâmbio de dois anos para a Irlanda e questionou se ela desejaria manter a relação, mesmo com a distância os separando. Apaixonada, Margarida prontamente respondeu que sim.

Com a ida de S. para o outro país, a moça afirma que permaneceu

fiel a ele durante todo o tempo em que ficaram afastados, mas que ele aparentava não fazer o mesmo. “No começo, ele me falava onde estava e o que estava fazendo, mas então ele começou a sumir e eu perguntava: ‘Você tá saindo com alguém?’ e ele negava.” Devido às suspeitas de Margarida, S. a bloqueou em todas as suas redes sociais e também a humilhou repetidas vezes, “eu sofri muito psicologicamente, vocês não sabem o que é a manipulação de um homem na sua cabeça, eu não sei explicar, mas nesse relacionamento, eu sofri muito. Eu chorava todos os dias. Ele fazia eu me sentir a pior pessoa do mundo, eu não tinha mais autoestima, eu implorava para ele vir falar comigo, ligava várias vezes e ele desligava na minha cara, ele me bloqueava e depois desbloqueava e, no dia seguinte, vinha com: ‘E aí? Está mais calma?’ ele me fazia de gato e sapato”, admite com os olhos marejados.

Ela recorda que quando ele estava prestes a retornar para o Brasil, ambos voltaram a conversar regularmente e durante a reaproximação, S. a pediu em namoro. Chorando, Margarida diz que aceitou, “eu esperei isso a vida inteira”, confessa.

Abalada, a moça enfatiza que todos os seus amigos foram contra a sua decisão, “todo mundo à minha volta via o que ele estava fazendo comigo, só eu que não. Eu dizia: ‘é porque eu amo muito ele, então vou aguentar’”. Porém, quando S. retornou, ela não foi recebida da maneira que esperava, “ele ainda era estranho comigo, mas mesmo assim eu disse para mim mesma: ‘Não, se ele me pediu em namoro, eu vou continuar’, porém S. me desmerecia e me humilhava muito”.

Com a voz anasalada, ela se lembra de quando encontrou uma carta em cima da mesa na casa de S. “Eu abri e era a carta romantica de uma menina que ele tinha conhecido na Irlanda, então eu questionei se eles namoravam e ele disse: ‘não, eu nunca fiz nada, é só uma carta’ e negou, negou e negou”. Em seguida, Margarida procurou pela menina da carta no Instagram, a fim de esclarecer os fatos. “Eu sabia quem era ela desde o começo, então mandei uma mensagem dizendo: ‘Eu não sou sua inimiga, eu preciso que você me ajude’, então eu contei o que eu tinha achado e ela me contou a história inteira.” Durante a conversa, foi esclarecido que S. namorava as duas ao mesmo tempo, porém, nenhuma sabia da outra até então. “S. dizia

para ela que eu era uma ex com sérios problemas de depressão e que só ficava comigo por dó, pois caso não ficasse, eu iria me matar. Mentira, porque eu nunca disse essas coisas”, afirma.

Margarida conta que, em meio à confissão, a menina esclareceu que havia terminado com S. porque havia sido traída também.

A flor estava no trabalho quando descobriu toda a verdade e decidiu telefonar para ele, dizendo que havia conversado com a garota da carta. “Ele não falou uma palavra e eu fiquei em choque, então eu disse: ‘Você não vai falar nada?’ sabe quando tudo o que você imagina desmorona? Eu fiquei dois anos esperando alguém, para essa pessoa chegar no Brasil e me quebrar inteira. Ele falava que iria se casar com a menina, ela me mandou prints, ele era muito carinhoso com ela e comigo não. Não tem explicação”, admite.

Depois dessa discussão, Margarida resolveu terminar o namoro e em meio a isso acabou adoecendo porque na época havia parado de tomar seus antidepressivos, “só que você não pode simplesmente parar, é muito perigoso. Eu fiquei perturbada e doente mesmo, de ter que parar no hospital, e quem foi lá? Ele. Todas as crises que eu tive, ele foi me ajudar, todas às vezes”.

Depois do ocorrido, Margaria recebeu inúmeras mensagens de S. com lamentações e promessas de mudança. Logo, eles se reaproximaram e, por fim, reataram, “o nosso relacionamento de hoje não é mais como antes, porque eu já não sou mais tão entregue a ele, mas o S. ainda mexe comigo, então eu posso dizer que eu ainda nao consegui terminar esse ciclo, ele ainda é a minha ferida super aberta”.

A moça admite que, de todos os seus relacionamentos, a relação com S. é a que mais a afeta. Ela explica que S. nunca a agrediu e tão pouco a forçou fazer algo que não queria, mas o poder que ele tem sobre ela a fere muito. “Ele tem a capacidade de me enganar como nenhum dos outros conseguiu, ele sabe ser muito doce”.

Atualmente, Margarida se declara totalmente descrente sobre relações plenamente saudáveis. “Se eu ficasse solteira agora, eu não iria conseguir me relacionar com mais ninguém. Eu tenho quase trinta anos, mas eu sei que eu não teria tempo, nem psicológico para me relacionar com outra pessoa, eu não tenho mais aquela disposição de

começar ‘vou paquerar, vou sair’, não tenho mais paciência”.

Quando questionada sobre o porquê de ainda estar com S., ela esclarece: “é prático para mim estar com ele, eu gosto dele, ele é bonito, ele é engraçado, inteligente, ele me dá presentes, ele é gentil”, responde, ríspida.

Refletindo sobre relacionamentos de modo geral, Margarida afirma que não existem contos de fadas, como a história que tem tatuada no braço. “Não existe nenhum, se alguém te falar que existe, é mentira, você precisa ser esperta, pode amar, mas precisa ser esperta”, afirma.

Quando perguntada sobre o que deseja aos homens que sempre a feriram, com os olhos marejados, Margarida não se abstém ao dizer, “meu pai se suicidou, eu só tenho a desejar coisas boas, espero que o plano que ele esteja seja muito bom, porque ele foi muito triste nesta vida”. Já sobre o seu primeiro namorado, a moça alega querer distância, “não consigo desejar coisas boas, porque eu tenho medo dele, sinceramente”. Ao seu agressor físico e segundo namorado, Margarida deseja o melhor, “ele é uma pessoa muito mesquinha que não pensa em crescer na vida, ele precisa muito de ajuda, ele apanhava muito quando era criança, a mãe dele era alcoólatra, então ele tem traumas que eu acho que ele deveria ter cuidado antes de se envolver com outras pessoas que também têm traumas, como eu”.

Por fim, ela deseja a S., seu último e atual relacionamento, o melhor, “eu não quero que aconteça nada de ruim com ele, eu não quero que ele se dê mal, mas não quero ele melhor do que eu, porque quando é o caso, ele pisa em mim. É muito difícil falar sobre o S., eu não consigo dizer muito sobre dele. Lidar com traição e mentira e ainda continuar com a pessoa é um exercício muito grande que eu não desejo a ninguém”, declara.

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