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o último sorriso de sakura

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epílogo

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em memória

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No dia 9 de abril de 2018, jornais do Brasil todo estampavam o rosto de Sakura, uma jovem de 22 anos que foi morta, vítima de uma asfixia mecânica, pelo namorado de 30 anos. A jovem deu entrada em um hospital em Nova Iguaçu de madrugada, mas não resistiu. Sakura, infelizmente hoje faz parte dos índices que apontam que o Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo. Crime que em 2015 recebeu o nome de Feminicídio.

Mas, além de um número estatístico, Sakura era uma jovem com sonhos e uma família que fazia de tudo para que ela se tornasse médica. Por isso, a família mudou-se para o Japão para que pudesse financiar o sonho da moça. Bastante quieta e estudiosa, ela sempre foi uma pessoa muito próxima de L., seu irmão caçula. "Nós fazíamos coisas juntos, éramos muito unidos. Acho que como irmãos normais, talvez. Porém, quando ela começou a namorar, ela se afastou bastante de mim", conta o rapaz, de 19 anos.

Ele diz que a princípio, nem ele e nem a família suspeitavam de algo estranho naquele relacionamento, apesar de verem as agressões psicológicas, nunca imaginaram que ele a agredia fisicamente. “A gente não tinha noção do que acontecia no relacionamento até a morte dela, sinceramente. Para mim, nem passava pela cabeça”, relata. Ele afirma que, com o passar do tempo, eles presenciaram momentos em que ele a ofendia verbalmente. “Como estudante de medicina, ele a inferiorizava e fazia constantes comparações entre eles. Ele também impunha as vontades dele para ela”, diz L..

Sakura conheceu A. no ensino médio técnico e o namoro durou seis anos. E, como explicou o irmão, os familiares não viam nada de anormal no relacionamento, mas todos, principalmente ele e a mãe de Sakura, sentiam que havia algo de errado. “A gente não gostava dele. Minha mãe conversava mais com ela, questionava sobre se ela realmente queria ficar no Brasil com ele; mas não tinha o que a fizesse mudar de ideia. Sabe quando a pessoa sabe que não está tudo bem e, mesmo assim, permanece naquilo?”.

A família mudou-se para o Japão para financiar o estudos de

Sakura, que resolveu morar com A..“ Era muito estranho, pois ela parecia pressionada por ele, mas ao mesmo tempo, parecia feliz com o relacionamento”, conta.

Antes de decidir morar junto, o casal morava em cidades diferentes. Sakura em Sorocaba-SP e A. em Porto Feliz-SP. “Tudo tornava-se briga por culpa dele. Lembro-me de uma discussão que tiveram uma vez por horários. Eles se falavam muito por Skype e ele começou a não deixar ela sair para almoçar ou dormir. Eram coisas constantes, sabe?”, afirma.

Para o irmão, um dos momentos mais marcante envolvendo os dois, foi quando ela começou a trabalhar e eles brigavam quase diariamente por atenção. “Ele coagia ela para ir até a casa dele. Ela pegava dois ônibus para isso, mas ele não podia”.

Na noite do crime, A. afirmou para a Polícia Militar que espancou Sakura depois de uma discussão, porém, depois, tentou socorrê-la. Ele foi preso no Rio de Janeiro, no presídio de Benfica, cerca de 40 km de distância do local do crime.

Ele conta que se lembra nitidamente da noite em que tudo aconteceu. Era manhã no Japão e ele estava fora de casa. Os pais estavam trabalhando e estariam fora até a tarde. Um tio ligou avisando que ela estava internada. “A gente não sabia que tinha sido ele. Por mais que a gente desconfiasse dele, desde que o vimos no Brasil, como a gente não sabia de nada que acontecia no relacionamento dela, nunca havia me passado pela cabeça que o motivo da internação dela fosse ele.”, conta.

O tio não sabia direito o que tinha acontecido, mas afirmou que ela estampou as manchetes dos jornais de todo o País “Ninguém sabia direito o que tinha acontecido, nem mesmo meu tio, que só sabia que ela tinha sido internada em um hospital em Nova Iguaçu”, enfatiza. Desesperado, o menino voltou para a casa, sem conseguir almoçar, e começou a pesquisar. Para ele, o mais doloroso foram as críticas feitas à família. “Os sites começaram a mostrar como se a gente tivesse abandonado ela no Brasil, que não tinha ninguém para reconhecer o corpo, sem procurar entender o porquê estávamos aqui”, afirma, com a voz trêmula.

Embora o tio ainda não soubesse, ela já estava morta. E, quando

ele descobriu, retornou a ligação, afirmando que não conseguiria dar a notícia para a minha mãe. “‘Você precisa ser forte’, ele me disse. Eu os esperei chegar e disse que ela tinha sido assassinada. O sentimento de impotência nos corroía. Foi muito dramático e a pior noite da minha vida”.

Questionado sobre Sakura, o irmão se emociona ao contar que, nos últimos meses em que estiveram juntos, antes da partida da família para o Japão, eles quase não conversavam. “Éramos como dois estranhos vivendo sob o mesmo teto. A amizade bonita que a gente tinha parecia ter morrido”, lamenta.

Quando perguntado sobre os momentos que guarda com carinho da irmã, ele mostra uma foto onde está com Sakura, ainda crianças, sobre uma ponte de madeira. “Nesse dia, a gente estava no Maeda 7 e eu comecei a chorar de medo porque não conseguia atravessar a ponte. Ela voltou, me pegou pela mão e disse que passaria comigo”, conta, com voz trêmula.

“Eu não sou mais o mesmo. Tratamentos contra a depressão não a trarão de volta. Minha mãe, eu vejo sofrer todos os dias. Vi muita gente nos culpando, falando que a abandonamos e o pior, a culpando pela própria morte. No Brasil, as pessoas não entendem muito bem o conceito de feminismo ou até mesmo machismo. Feminismo é necessário e machismo mata. Infelizmente eu e minha família sentimos isso na pele”, finaliza.

7 De acordo com o site do parque, o Maeda é um complexo turístico localizado em Itu, que mescla atrações e cultura oriental.

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