FERNANDO BRAGA: O ADEUS À JOIA RARA DA LITERATURA MARANHENSE ROGÉRIO ROCHA Fernando Braga dos Santos nasceu em São Luís do Maranhão em 29 de maio de 1944. Formou-se pela Faculdade de Direito do Distrito Federal, com pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), tendo feito estágio em Direito Penal Comparado na Universidade de Paris-Sorbonne. Publicou em poesia: Silêncio Branco, 1967; Chegança, 1970; Ofício do Medo, 1977; Planaltitude, 1978; O Exílio do Viandante, 1982; Campo Memória, 1990; O Sétimo Dia 1997 e Poemas do tempo comum, 2009; O Puro Longe, 2012; Magma, 2017. Após fixar-se no DF, passou a integrar-se dentre os autores que firmaram suas marcas literárias por aquelas terras, fato que o levou a figurar na obra Antologia dos Poetas de Brasília, publicada em 1971 e que incluía nomes como Abgar Renault, Antonio Carlos Scartezini, Clemente Luz, Lenine Fiuza, bem assim a participar, no ano de 1982, da obra Brasília na Poesia Brasileira, da Editora Cátedra, ao lado de Affonso Romano de Sant Anna, Cassiano Ricardo, Domingos Carvalho da Silva e outros mais. O panorama de imersão na riqueza de seus versos pode ser ampliado tanto com a leitura de seus livros dos anos 70 e 80 quanto com de seus dois últimos trabalhos, onde os versos transcritos não nos deixam dúvidas quanto ao fato de estarmos diante de alguém que compreendeu muito bem o poder da palavra (até mesmo de sua leveza), avançando àquele ponto onde vemos somadas a experiência de vida e o amadurecimento do escritor, no que tange à compreensão de sua técnica e estilo, em consonância com a fluidez singular que lhe deu a exploração dos caminhos da forma livre. Muito presentes no temário de Braga, as ideias de finitude e morte andam lado a lado com sua lírica refinada, o sentimento de aproximação e descortino de uma verdade íntima que assiste aos acontecimentos do mundo com a intencionalidade da angústia. Sentimento este que moveu seu olhar crítico em direção a tudo aquilo que é humano, tendo sido tocado muito fortemente pela visão atenta aos meandros da existência social, já observáveis em poemas de seus primeiros livros. Fernando foi daqueles escritores que, embora detentores de grandes virtudes, acabam por se tornar ilustres desconhecidos em suas próprias terras. Nesse sentido, em que pese a inegável qualidade literária, que lhe rendeu não só prêmios, mas também a estruturação de uma obra de perceptível densidade, com lançamentos que surgiam um tanto quanto espaçadamente, dentro da linha temporal integrada pelos seus livros, o poeta não conseguiu alcançar junto ao público maranhense a visibilidade que merecia, sobretudo dentre os leitores deste século. Razão que, penso, deva impor, nos próximos anos, a necessidade da sua verdadeira descoberta e, igualmente, a obrigação da leitura dos textos e reedição de tudo o que produziu essa joia rara de nossa literatura. O que mais posso dizer acerca dele? Afirmo que Fernando Braga exerceu o ofício de escritor com a alta qualidade de sua poesia, herdeira da grande tradição lírica portuguesa e tributária de momentos tão tocantes e sinceros quanto os de um outro Fernando: o Pessoa. Some-se a isso o belo itinerário realizado com o trabalho de burilamento de reminiscências, feito nas envolventes histórias do seu “Conversas vadias” (antologia inédita de textos em prosa), verdadeira máquina do tempo para quem sofre da nostalgia de uma São Luís que não existe mais, como ele mesmo disse em um de seus belos poemas (Poema Insulano, in: Poemas do Tempo Comum, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura, 2009), e em suas crônicas, achadas aqui e ali, em postagens esparsas na internet e em páginas de jornais.